A PERGUNTA de Demi martelava Joe mais tarde naquela noite, quando
ele se sentou para escrever. Ele era capaz de recitar, cantar e versar todos os
seus motivos para evitar aquela besteira emocional em suas obras.
Mas eram motivos, ou pretextos?
Aquilo fazia diferença? Gostasse ele ou não, Demi havia aberto uma
porta. Agora a história que estivera tão sólida e viável em sua cabeça girava
em um milhão de direções, e ele sabia que o único jeito de recuperar o controle
seria simplesmente se sentando e escrevendo.
Conforme seus dedos voavam pelo teclado, a cena se solidificava em
sua mente. Aparentemente ele estava prestes a ver, de uma vez por todas, se a
pressão de Demi por emoções em seu trabalho iria aprimorar sua escrita.
Ou arruiná-la de uma vez por todas.
– Acho que estou encrencada – disse Demi, enquanto cavoucava seu
bolo de chocolate com o garfo.
– Se você não parar de brincar com esse bolo e comê-lo, o chef
provavelmente vai vir aqui e realmente lhe mostrar o que é encrenca – advertiu Miley,
com um gesto para o balcão do restaurante de sobremesas.
Demi deu uma olhada e captou a carranca no rosto do dono. Ops. Ela
acenou com o garfo e pegou uma boa quantidade da sobremesa classicamente
saborosa. Porém, a meio caminho da boca, ela suspirou e retornou tudo para o
prato.
– Então Joe é quente, meigo e mais do que sexy na cama – disse Miley
impacientemente. – Essas não são consideradas coisas ruins em um cara.
– Podem muito bem ser – disse Demi. Ela encarou as espirais e
linhas que havia feito no bolo confeitado, então encontrou o olhar de Miley. –
Acho que estou me apaixonando por ele.
– Droga.
– Eloquentemente falando – disse Demi.
– Mas isso é loucura.
– Aí está a encrenca que mencionei.
Miley fez uma careta. Ao contrário de Demi, ela lidava com suas
preocupações do jeito consagrado: estava comendo o chocolate. Em mordidas
imensas e contemplativas. Demi foi esperta o suficiente para permitir que ela
terminasse seu doce com recheio de musse sem interrupções. Voltou a fazer arte
culinária em seu bolo enquanto aguardava.
– Tudo bem, talvez seja simplesmente sexo ótimo – disse Miley,
comendo o último pedaço.
– Melhor que ótimo, mas não é isso.
Miley balançou a cabeça e, afastando seu prato, tão limpo que ela
poderia tê-lo lambido, apoiou os cotovelos na mesa.
– Não, você nunca fez sexo do tipo “Ai, meu Deus” antes. Isso mexe
com seu cérebro. Faz você pensar maluquices, tipo fazer pedidos ao arco-íris e
besteiras do gênero.
Demi fez uma pausa na transformação da cobertura em uma flor para
olhar para a amiga, boquiaberta.
– Arco-íris e besteiras do gênero?
– Você entendeu. Sexo ótimo, do tipo que faz você ficar acordada a
noite inteira se lembrando de como foi, revivendo, esse o tipo de coisa que faz
você pensar em “felizes para sempre”.
– Ou talvez em simplesmente fazer de novo, com algumas novidades e
atualizações.
– Dava para melhorar e atualizar o sexo com ele? – A boca de Miley
formou um “O”, os olhos azuis ficaram reluzentes com o choque. – Mas... mas
você disse que foi incrível. Como se melhora isso?
– Referi-me a melhorias de minha parte – admitiu Demi. – Você
sabe, brinquedos, acessórios, coisinhas pervertidas de fetiches.
Miley abriu e fechou a boca algumas vezes, mas não fez nada além
de emitir chiados. Aquilo divertiu Demi o suficiente para fazê-la finalmente
garfar um bocado da cobertura do bolo.
– Bem, então – disse Miley finalmente. Ela bufou, daí deu de
ombros. – Se é isso que você quer, o que a está impedindo de fazer? A aposta?
– Não sei. Talvez, no começo, a aposta tenha sido para provar meu
argumento. Agora minha carreira depende dela. – Sorrindo, Demi cutucou a
cobertura ferozmente com o garfo.
– Não essa aposta. A particular. Você está preocupada de que vá
perder se ceder e for para a cama com ele outra vez?
Estava? Luxúria versus intimidade. O limite, outrora tão
claramente definido em sua cabeça, borrara até ficar imperceptível. Ao se
abster, será que ela estava provando seu ponto de vista conforme pretendia? Ou
aquilo simplesmente só servia para enlouquecer a ambos?
– Vamos fazer de novo – defendeu ela. – Quero dizer, quando
insisti para nos segurarmos e fazermos a coisa de ficar só saindo, foi para
frisar meu argumento, sabe? Para provar que a conexão, a coisa de se conhecer,
acrescentaria um elemento emocional ao encontro sexual. No entanto, eu não
percebi que seria tão complicado prosseguir sem o sexo.
Como Miley atualmente estava nessa mesma situação, ela
simplesmente revirou os olhos.
– Com vocês vão saber quem venceu?
Antes que Demi pudesse dar uma resposta, o dono da confeitaria
retirou o prato dela, resmungando. Ops. Ela fez uma careta para Miley, que
estava tentando segurar uma risada.
– Não sei – disse Demi finalmente. Ela pôs os cotovelos na mesa,
apoiou o queixo nas mãos e começou a cogitar a ideia de perder.
– Acho que vai ser uma decisão difícil. Quanto mais penso no assunto,
menos penso ser possível haver um vencedor claro.
– Então por que vocês não estão transando feito coelhos? –
perguntou Miley, jogando as mãos para o alto em exasperação.
Demi lambeu os lábios, baixou o olhar para a mesa e então encarou Miley.
– Não tenho medo de perder a aposta – disse ela lentamente – tanto
quanto tenho medo de Joe enxergar meu “eu” verdadeiro. Sem essa transformação,
essa máscara, ele não teria interesse nenhum por mim.
Miley exibiu aquele olhar “que idiota”, mas Demi simplesmente balançou
a cabeça.
– Sério, será que ele teria tido qualquer interesse por mim, por
nossa aposta paralela, se não por causa da transformação?
– Você não pode perguntar isso – insistiu Miley. – É como
perguntar quem veio primeiro, o ovo ou a galinha.
– Hein?
– Ele conheceu você, deu em cima de você porque se sentiu atraído,
certo? – Demi assentiu, mas, antes que pudesse retrucar, Miley prosseguiu: –
Ele veio para o programa especificamente para conhecer você, por causa das suas
resenhas sobre os livros dele, certo? – Demi assentiu outra vez, abrindo a boca
para esclarecer, mas Miley balançou a cabeça. – Você ofereceu a resenha como
parte da sua entrevista sobre a transformação de visual, do mesmo modo que foi
fazer o programa de TV por causa da transformação. – Demi nem mesmo se deu o
trabalho de tentar dizer algo dessa vez, então simplesmente assentiu.
– Você passou pela transformação porque queria sua parcela de
atenção por direito, assim poderia conseguir o cargo que merece, certo? – Demi
apenas ergueu as sobrancelhas, a cabeça começando a doer. – E seu emprego é
algo que você ama, certo? Você é uma ótima professora, manda bem nos cursos de
literatura. Então, realmente – resumiu Miley, sem fôlego por falar tão depressa
–, Joe sente atração por você pela pessoa que você é, e não por causa da cor da
sombra nos seus olhos.
Demi contou até dez. Então, com a cabeça ainda girando, contou até
20. Finalmente, balançou a cabeça.
– Talvez queira considerar refazer as disciplinas de pensamento
lógico e desenvolvimento de argumentação racional. Acho que você me perdeu na
primeira rodada.
– Você só não quer admitir que estou certa – disse Miley,
impávida.
– Não poderia nem se quisesse. Eu ainda não estou entendendo o que
você quer dizer.
A loura deu um suspiro demorado e sofrido.
– O que quero dizer é, você é quem você é. Tudo que trouxe até
este ponto, até esta mesa, a esta conversa comigo, é parte do todo. Joe está
atraído pelo todo. Não apenas pela embalagem.
Demi ouviu as palavras, mas eram apenas sons sem significado algum.
Ela havia passado 27 anos sentindo-se invisível. Sendo ignorada. Até mesmo seu
pai a considerava insignificante demais para prestar alguma atenção a ela.
Toda sua carga atual de popularidade, de atenção, tudo resultava
da transformação de visual. Claro, ela era inteligente o suficiente para
perceber que nenhuma quantidade de maquiagem ou produtos para cabelo, ou mesmo
um maravilhoso sutiã com enchimento, poderia transformá-la em uma mulher forte,
confiante... Mas... bem... transformou.
– Demi?
– Entendi o que você disse.
– Mas não acredita em mim? – Miley sacudiu a cabeça, a confusão
enrugando seu rosto. – Como uma mulher tão inteligente como você pode pensar
que o valor de uma pessoa na verdade é baseado na aparência física?
– Não questiono meu valor – defendeu Demi. – Mas você não pode
desprezar os resultados da transformação, a qual você sugeriu. Eles são
diretamente responsáveis por todas as mudanças que estão acontecendo na minha
vida agora.
– Você faz tão pouco dele também – desafiou Miley –, ou só de si
mesma?
– Nenhum dos dois, é claro. – Demi havia feito muitos cursos de
psicologia para cair tão facilmente na armadilha.
– Por que então simplesmente não deixa que ele enxergue seu “eu”
verdadeiro? Você é a mesma pessoa, com ou sem maquiagem, vestindo aquele
terninho medonho de lã ou roupas elegantes de linho.
E arriscar arruinar a última rodada de sexo quente, selvagem e
provador de argumentos? Diabos, não.
– Acho que aí desaba o verdadeiro alicerce da nossa aposta – disse
Demi, em vez disso. – A luxúria é baseada em aparência, em atração explosiva e
desejo ardente. Intimidade é mais, são todas essas coisas que você citou. É
conversa na cama e mau hálito de manhã. É aquela chama que queima lentamente,
que dura depois do fogo da atração inicial. São as emoções. – Demi exibiu um
sorriso triste e deu de ombros. – O fato é:
Joe não acredita em nada disso.
Por bons motivos, considerando a infância dele. E, assim que ela
voltasse a ser a verdadeira Demi e Joe descobrisse que ela era uma farsa, ele
iria embora.
Então, apesar de a frustração sexual a manter acordada à noite,
eles poderiam muito bem dormir juntos mais uma vez, em nome da comprovação do
argumento dela, e então Demi retornaria ao seu mundo real e Joe continuaria no
dele.
Demi tinha certeza de que, por melhor que fosse ser o sexo com
conexão emocional, ela daria qualquer coisa por um encontro guiado pela
luxúria, o ato pela simples diversão. Afinal de contas, o próximo iria deixar
seu coração em frangalhos.
*****
Agora é definitivo, estou de volta. Bom, lembram-se que meu computador estava formatando e eu estava usando o do meu pai? Então, não sei se comentei que o teclado não pegava, mas enfim, tínhamos que usar o virtual e, devido a isso, meu pai mandou arrumar. Resumindo, eu não tinha nenhum computador pra postar.. Agora, finalmente, ficou pronto e vou poder voltar a postar, não sei se alguém ainda lê, e peço desculpas pela demora, eu realmente não tinha o que fazer. Amanhã eu posto mais, beijos. s2
Ainda bem que voltou, achei que tinha desistido. Que tal uma maratona? Posta mais!!!!
ResponderExcluirOi, leitora nova.... seu blog tem histórias ótimas, estou amando a fic..... nao pare de postar, pfvr!
ResponderExcluirPede pra alguns blogs te divulgarem, isso ajuda bastante a ter novos leitores .....
Essa fic tem quantos caps?
Bjs lua
Tenta desativar a confirmação de comentários.... fica melhor de comentar bjs
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