16.9.14

Capítulo Vinte e Três






A PERGUNTA de Demi martelava Joe mais tarde naquela noite, quando ele se sentou para escrever. Ele era capaz de recitar, cantar e versar todos os seus motivos para evitar aquela besteira emocional em suas obras.
Mas eram motivos, ou pretextos?
Aquilo fazia diferença? Gostasse ele ou não, Demi havia aberto uma porta. Agora a história que estivera tão sólida e viável em sua cabeça girava em um milhão de direções, e ele sabia que o único jeito de recuperar o controle seria simplesmente se sentando e escrevendo.
Conforme seus dedos voavam pelo teclado, a cena se solidificava em sua mente. Aparentemente ele estava prestes a ver, de uma vez por todas, se a pressão de Demi por emoções em seu trabalho iria aprimorar sua escrita.
Ou arruiná-la de uma vez por todas.
– Acho que estou encrencada – disse Demi, enquanto cavoucava seu bolo de chocolate com o garfo.
– Se você não parar de brincar com esse bolo e comê-lo, o chef provavelmente vai vir aqui e realmente lhe mostrar o que é encrenca – advertiu Miley, com um gesto para o balcão do restaurante de sobremesas.
Demi deu uma olhada e captou a carranca no rosto do dono. Ops. Ela acenou com o garfo e pegou uma boa quantidade da sobremesa classicamente saborosa. Porém, a meio caminho da boca, ela suspirou e retornou tudo para o prato.
– Então Joe é quente, meigo e mais do que sexy na cama – disse Miley impacientemente. – Essas não são consideradas coisas ruins em um cara.
– Podem muito bem ser – disse Demi. Ela encarou as espirais e linhas que havia feito no bolo confeitado, então encontrou o olhar de Miley. – Acho que estou me apaixonando por ele.
– Droga.
– Eloquentemente falando – disse Demi.
– Mas isso é loucura.
– Aí está a encrenca que mencionei.
Miley fez uma careta. Ao contrário de Demi, ela lidava com suas preocupações do jeito consagrado: estava comendo o chocolate. Em mordidas imensas e contemplativas. Demi foi esperta o suficiente para permitir que ela terminasse seu doce com recheio de musse sem interrupções. Voltou a fazer arte culinária em seu bolo enquanto aguardava.
– Tudo bem, talvez seja simplesmente sexo ótimo – disse Miley, comendo o último pedaço.
– Melhor que ótimo, mas não é isso.
Miley balançou a cabeça e, afastando seu prato, tão limpo que ela poderia tê-lo lambido, apoiou os cotovelos na mesa.
– Não, você nunca fez sexo do tipo “Ai, meu Deus” antes. Isso mexe com seu cérebro. Faz você pensar maluquices, tipo fazer pedidos ao arco-íris e besteiras do gênero.
Demi fez uma pausa na transformação da cobertura em uma flor para olhar para a amiga, boquiaberta.
– Arco-íris e besteiras do gênero?
– Você entendeu. Sexo ótimo, do tipo que faz você ficar acordada a noite inteira se lembrando de como foi, revivendo, esse o tipo de coisa que faz você pensar em “felizes para sempre”.
– Ou talvez em simplesmente fazer de novo, com algumas novidades e atualizações.
– Dava para melhorar e atualizar o sexo com ele? – A boca de Miley formou um “O”, os olhos azuis ficaram reluzentes com o choque. – Mas... mas você disse que foi incrível. Como se melhora isso?
– Referi-me a melhorias de minha parte – admitiu Demi. – Você sabe, brinquedos, acessórios, coisinhas pervertidas de fetiches.
Miley abriu e fechou a boca algumas vezes, mas não fez nada além de emitir chiados. Aquilo divertiu Demi o suficiente para fazê-la finalmente garfar um bocado da cobertura do bolo.
– Bem, então – disse Miley finalmente. Ela bufou, daí deu de ombros. – Se é isso que você quer, o que a está impedindo de fazer? A aposta?
– Não sei. Talvez, no começo, a aposta tenha sido para provar meu argumento. Agora minha carreira depende dela. – Sorrindo, Demi cutucou a cobertura ferozmente com o garfo.
– Não essa aposta. A particular. Você está preocupada de que vá perder se ceder e for para a cama com ele outra vez?
Estava? Luxúria versus intimidade. O limite, outrora tão claramente definido em sua cabeça, borrara até ficar imperceptível. Ao se abster, será que ela estava provando seu ponto de vista conforme pretendia? Ou aquilo simplesmente só servia para enlouquecer a ambos?
– Vamos fazer de novo – defendeu ela. – Quero dizer, quando insisti para nos segurarmos e fazermos a coisa de ficar só saindo, foi para frisar meu argumento, sabe? Para provar que a conexão, a coisa de se conhecer, acrescentaria um elemento emocional ao encontro sexual. No entanto, eu não percebi que seria tão complicado prosseguir sem o sexo.
Como Miley atualmente estava nessa mesma situação, ela simplesmente revirou os olhos.
– Com vocês vão saber quem venceu?
Antes que Demi pudesse dar uma resposta, o dono da confeitaria retirou o prato dela, resmungando. Ops. Ela fez uma careta para Miley, que estava tentando segurar uma risada.
– Não sei – disse Demi finalmente. Ela pôs os cotovelos na mesa, apoiou o queixo nas mãos e começou a cogitar a ideia de perder.
– Acho que vai ser uma decisão difícil. Quanto mais penso no assunto, menos penso ser possível haver um vencedor claro.
– Então por que vocês não estão transando feito coelhos? – perguntou Miley, jogando as mãos para o alto em exasperação.
Demi lambeu os lábios, baixou o olhar para a mesa e então encarou Miley.
– Não tenho medo de perder a aposta – disse ela lentamente – tanto quanto tenho medo de Joe enxergar meu “eu” verdadeiro. Sem essa transformação, essa máscara, ele não teria interesse nenhum por mim.
Miley exibiu aquele olhar “que idiota”, mas Demi simplesmente balançou a cabeça.
– Sério, será que ele teria tido qualquer interesse por mim, por nossa aposta paralela, se não por causa da transformação?
– Você não pode perguntar isso – insistiu Miley. – É como perguntar quem veio primeiro, o ovo ou a galinha.
– Hein?
– Ele conheceu você, deu em cima de você porque se sentiu atraído, certo? – Demi assentiu, mas, antes que pudesse retrucar, Miley prosseguiu: – Ele veio para o programa especificamente para conhecer você, por causa das suas resenhas sobre os livros dele, certo? – Demi assentiu outra vez, abrindo a boca para esclarecer, mas Miley balançou a cabeça. – Você ofereceu a resenha como parte da sua entrevista sobre a transformação de visual, do mesmo modo que foi fazer o programa de TV por causa da transformação. – Demi nem mesmo se deu o trabalho de tentar dizer algo dessa vez, então simplesmente assentiu.
– Você passou pela transformação porque queria sua parcela de atenção por direito, assim poderia conseguir o cargo que merece, certo? – Demi apenas ergueu as sobrancelhas, a cabeça começando a doer. – E seu emprego é algo que você ama, certo? Você é uma ótima professora, manda bem nos cursos de literatura. Então, realmente – resumiu Miley, sem fôlego por falar tão depressa –, Joe sente atração por você pela pessoa que você é, e não por causa da cor da sombra nos seus olhos.
Demi contou até dez. Então, com a cabeça ainda girando, contou até 20. Finalmente, balançou a cabeça.
– Talvez queira considerar refazer as disciplinas de pensamento lógico e desenvolvimento de argumentação racional. Acho que você me perdeu na primeira rodada.
– Você só não quer admitir que estou certa – disse Miley, impávida.
– Não poderia nem se quisesse. Eu ainda não estou entendendo o que você quer dizer.
A loura deu um suspiro demorado e sofrido.
– O que quero dizer é, você é quem você é. Tudo que trouxe até este ponto, até esta mesa, a esta conversa comigo, é parte do todo. Joe está atraído pelo todo. Não apenas pela embalagem.
Demi ouviu as palavras, mas eram apenas sons sem significado algum. Ela havia passado 27 anos sentindo-se invisível. Sendo ignorada. Até mesmo seu pai a considerava insignificante demais para prestar alguma atenção a ela.
Toda sua carga atual de popularidade, de atenção, tudo resultava da transformação de visual. Claro, ela era inteligente o suficiente para perceber que nenhuma quantidade de maquiagem ou produtos para cabelo, ou mesmo um maravilhoso sutiã com enchimento, poderia transformá-la em uma mulher forte, confiante... Mas... bem... transformou.
– Demi?
– Entendi o que você disse.
– Mas não acredita em mim? – Miley sacudiu a cabeça, a confusão enrugando seu rosto. – Como uma mulher tão inteligente como você pode pensar que o valor de uma pessoa na verdade é baseado na aparência física?
– Não questiono meu valor – defendeu Demi. – Mas você não pode desprezar os resultados da transformação, a qual você sugeriu. Eles são diretamente responsáveis por todas as mudanças que estão acontecendo na minha vida agora.
– Você faz tão pouco dele também – desafiou Miley –, ou só de si mesma?
– Nenhum dos dois, é claro. – Demi havia feito muitos cursos de psicologia para cair tão facilmente na armadilha.
– Por que então simplesmente não deixa que ele enxergue seu “eu” verdadeiro? Você é a mesma pessoa, com ou sem maquiagem, vestindo aquele terninho medonho de lã ou roupas elegantes de linho.
E arriscar arruinar a última rodada de sexo quente, selvagem e provador de argumentos? Diabos, não.
– Acho que aí desaba o verdadeiro alicerce da nossa aposta – disse Demi, em vez disso. – A luxúria é baseada em aparência, em atração explosiva e desejo ardente. Intimidade é mais, são todas essas coisas que você citou. É conversa na cama e mau hálito de manhã. É aquela chama que queima lentamente, que dura depois do fogo da atração inicial. São as emoções. – Demi exibiu um sorriso triste e deu de ombros. – O fato é:
Joe não acredita em nada disso.
Por bons motivos, considerando a infância dele. E, assim que ela voltasse a ser a verdadeira Demi e Joe descobrisse que ela era uma farsa, ele iria embora.
Então, apesar de a frustração sexual a manter acordada à noite, eles poderiam muito bem dormir juntos mais uma vez, em nome da comprovação do argumento dela, e então Demi retornaria ao seu mundo real e Joe continuaria no dele.

Demi tinha certeza de que, por melhor que fosse ser o sexo com conexão emocional, ela daria qualquer coisa por um encontro guiado pela luxúria, o ato pela simples diversão. Afinal de contas, o próximo iria deixar seu coração em frangalhos.


*****

Agora é definitivo, estou de volta. Bom, lembram-se que meu computador estava formatando e eu estava usando o do meu pai? Então, não sei se comentei que o teclado não pegava, mas enfim, tínhamos que usar o virtual e, devido a isso, meu pai mandou arrumar. Resumindo, eu não tinha nenhum computador pra postar.. Agora, finalmente, ficou pronto e vou poder voltar a postar, não sei se alguém ainda lê, e peço desculpas pela demora, eu realmente não tinha o que fazer. Amanhã eu posto mais, beijos. s2

3 comentários:

  1. Ainda bem que voltou, achei que tinha desistido. Que tal uma maratona? Posta mais!!!!

    ResponderExcluir
  2. Oi, leitora nova.... seu blog tem histórias ótimas, estou amando a fic..... nao pare de postar, pfvr!
    Pede pra alguns blogs te divulgarem, isso ajuda bastante a ter novos leitores .....

    Essa fic tem quantos caps?
    Bjs lua

    ResponderExcluir
  3. Tenta desativar a confirmação de comentários.... fica melhor de comentar bjs

    ResponderExcluir