21.9.14

Capítulo Trinta - Maratona (1/3)







PROFESSORA?
Como ele descobrira? E por que, diabos, ele estava tão bravo por causa disso? Demi baixou a saia para cobrir seu traseiro nu. Vendo a raiva fria no rosto dele, ela desejava desesperadamente recuperar sua calcinha.
De repente, a multidão, tão distante minutos antes, pareceu estar pressionando-os do outro lado da cortina do palco. Quando eles tinham chegado ali, ela estava segura de si, pronta para abraçar a sensualidade do evento e para mostrar a Joe a paixão entre eles. Agora só estava confusa.
– Percebo que é uma questão de semântica, mas eu não escondi minha profissão, eu simplesmente a omiti.
– Semântica uma ova. Você sabe tudo a meu respeito. Os altos e baixos de minha carreira, minha família, minha vida. Tudo que você contou sobre si era uma farsa cuidadosamente apresentada para conseguir alguma promoção. – Ele conteve as palavras em um rosnado baixo.
– Farsa?
Demi sabia que sua risada tinha sido amarga, mas não se importava. Seu choque estava esmorecendo, deixando para trás a percepção de que ele havia feito aquilo de propósito. Joe tentara deliberadamente transformar o que havia entre eles em algo feio. A raiva estalou em sua cabeça.
– Eu não procurei o sr. Escritor querendo provar meu ponto de vista. Você veio atrás de mim. Você propôs não apenas a primeira aposta, como a segunda também. Não alegue que eu usei você, pois foi você quem veio atrás de mim com sua pauta egoísta.
– Ah, não – disse Joe, o rosto uma rígida máscara de gelo. – Você não vai virar o jogo. Foi você quem pressionou por emoções, para todos os lados. Insistindo sobre como elas fazem um relacionamento, sobre como são importantes. Que monte de bobagem, considerando que está me usando o tempo todo. Usando sua aposta, nosso relacionamento, para alavancar sua carreira. Não vamos nem mencionar o que fez com meu estilo de escrita...
– Ah, não, nem vem – interrompeu ela. – Quaisquer mudanças que tenham ocorrido em seu estilo são provenientes das descobertas que você fez. Não tem nada a ver com o fato de eu ser professora de Literatura.
– Descobertas? Você quer dizer “mentiras”, não é?
A raiva, que cintilava faíscas instantes antes, se transformou em uma chama.
– Mentiras? Você não conseguiria escrever uma mentira nem se alguém colocasse uma arma na sua cabeça. Você escreveu a história. Minhas resenhas, nosso período juntos, até mesmo o sexo que fizemos, incrível como foi, não tinham nada a ver com o que colocou naquelas páginas.
Uma fúria moralista revestia as palavras dela, mas Joe não estava escutando.
Ele a encarou e estendeu a mão.
– Eu não quero ouvir mais nenhuma palavra sobre meu estilo literário. Esqueça minha menção a ele. Esqueça que você já leu meu trabalho. Eu me recuso a ouvir mais uma palavra de um desses apelos por emoção de alguém que não consegue nem mesmo ser honesta a respeito de si mesma.
Ela queria refutar as palavras dele. Jogá-las na cara dele. Mas não conseguiu. Porque, mesmo estando errado sobre tudo a respeito da honestidade dela em relação a emoções ou sobre o próprio estilo literário, ele ainda estava certo. Ela havia se escondido atrás da transformação de visual, tentado manipular a situação para manter o interesse dele. Para evitar perdê-lo.
E agora? Demi percebia que tentar convencê-lo do contrário era inútil. Ao contrário de seu pai, que era simplesmente desacostumado a expressar emoções, Joe se recusava a abrir seu coração. Ele estava usando o emprego dela como pretexto para destruir qualquer possibilidade de existir algo mais entre eles. Demi poderia até ter usado uma máscara, mas pelo menos tinha percebido quem era debaixo dela.
Joe não conseguiria esquecer isso.
– Talvez você esteja certo – cedeu ela pesarosamente, se abaixando para pegar a bolsa onde havia caído, sobre o piso de cimento. – Eu não contei sobre meu emprego. Mas não pelos motivos que você pensa, embora você provavelmente não vá acreditar nisso.
Ela o encarou, o coração doendo diante da raiva nas profundezas azuis dos olhos dele.
– Para ser sincera, não sei se faria diferente. Porque eu tinha medo. Não de sua reação ao meu emprego, mas de sua reação em relação a mim. Eu tinha medo de você me enxergar realmente. De eu não estar à altura, de não ser mulher suficiente para segurar seu interesse.
Ela estava nua agora. Sem máscara, as emoções nuas e escancaradas para a avaliação dele. Pela primeira vez, Demi desejava até mesmo uma porção daquela invisibilidade que ela passara a vida odiando. Mas ela pedira aquilo. Seu estômago revirava. Ela queria ser vista, o que significava permitir a ele enxergar. E aceitar sua reação.
Só que ele não disse nada. Joe só ficou encarando, o rosto petrificado, as mãos enfiadas nos bolsos dianteiros da calça jeans.
– Por mais que eu tenha pressionado por emoções, eu tinha medo de confiar nelas – admitiu ela. – Mas estou disposta a tentar agora. E você?
O olhar dele foi resposta suficiente.
– Que pena – murmurou ela, tentando impedir que o som de seu coração partido se refletisse em suas palavras. – Você tem tanto a oferecer, e eu acrescentaria mais à sua vida do que você pode imaginar. Se conseguir superar esse seu medo, me procure. – Demi assumiu o risco, apostou tudo, embora soubesse que a rejeição era inevitável. – Sou a melhor coisa que poderia acontecer a você, Joe. E sabe do que mais? Aposto que, se você nos desse uma chance, ficaria surpreso com o quanto somos fantásticos juntos.
– Outra aposta? – Ele estava boquiaberto com ela, claramente chocado. – Você está de brincadeira comigo. O quão estúpido eu pareço para você?
– Daqui deste ângulo? – Demi lançou um olhar de pena. – Você realmente não vai querer ouvir minha resposta.
O desprezo dele acertou o coração dela, mas Demi empinou o queixo mesmo assim.
– Desde que conheci você, comecei a perceber que eu costumava ter medo – disse ela suavemente. – Não de sexo, mas de rejeição. De me abrir, abrir meu “eu” verdadeiro para você e ser rejeitada. Contudo, por mais que tenha sido difícil lidar com isso, é ainda mais difícil perceber que você prefere rejeitar a emoção por si só do que arriscar e ver o que poderíamos representar um para o outro.
Ela verificou sua bolsa para ter certeza de que tinha dinheiro, então ofereceu a Joe seu melhor sorriso televisivo. O sorriso plástico que dizia que ela sabia que ele não tinha dado a mínima para o que ela dissera, e que ela não se importava com isso.
– Bem, foi ótimo então. Obrigada pela noite. Eu diria que provei meu ponto de vista aqui e venci nossa aposta paralela, mas estou vendo que você é um covarde emocional muito grande para admitir isso, então eu diria que houve um empate.
Ela ignorou o resmungar dele e se virou para ir embora. Sabia que seu coração estava em seus olhos quando se virou para olhar sobre o ombro, mas ela não ligava. Se ele não era esperto o suficiente para valorizar o amor no olhar dela, então ele não valia a pena.
– Vou pegar um táxi para casa. Ligue-me se estiver disposto para minha aposta.
Ela afastou a cortina, as luzes pulsantes cegando-a momentaneamente. Demi piscou e continuou andando. Seguiu em meio à multidão de corpos, contornando vibradores imensos no caminho, e correu para a saída.
Foi necessária toda sua coragem, e um fluxo constante de palestras mentais sobre sua autoestima, para Demi conseguir sair do Cow Palace e chegar à fila do táxi. Só quando o taxista lhe lançou um olhar questionador é que ela percebeu que seu rosto estava coberto de lágrimas.
E que tinha perdido sua máscara em algum lugar lá dentro.

*****

Juro que meu coração se partiu junto com o da Demi. :'(

3 comentários:

  1. Meu deus,coitada da Demi! Porta mais,tipo agora!!!!!!!

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  2. Tadinha da Demi!!!! Vc PRECISA postar mais!!!!! POSTA POSTA POSTA POSTA!!!!!!!

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  3. Tadinha sa Demi, ainda falou pra ele ir atrás dela :( eu deixava ele com remorso :(

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