– MAS… MAS, isso não pode estar certo – gaguejou Demi. Ela
encarava o banco de dados do computador, os olhos voando de um monitor a outro,
como se os resultados fossem aparecer diferente em algum deles.
– Estou surpreso, para ser sincero – disse Sean. – Pensei que você
teria uma vitória esmagadora. Quero dizer, sua resenha de O efeito Michel Angelo
teve 70 por cento de aprovação. Sua resenha de Verão da Magnolia tem menos de
30 por cento.
– Não posso acreditar. – Demi desabou na cadeira e ficou olhando
para o vazio. Curiosamente, tal livro fora aquele sobre o qual ela e Joe
concordaram depois que ela enviara a primeira resenha. Demi ficara
originalmente encantada com a escolha dele. De um escritor altamente engenhoso
de ficção sulista, o livro deveria ter sido garantia de oferta de profundidade
emocional e de um enredo intrigante. Mas, quando Demi conseguira um exemplar,
fora uma triste decepção. A emoção estava lá, claro. Mas era afobada e
artificial. E, embora ela odiasse escrever resenhas negativas, precisava ser
honesta. A resenha fora publicada no domingo, um dia depois de o livro chegar
às prateleiras. Hoje era sexta-feira e estava bem claro que os fãs do escritor
eram furiosamente leais a ele.
– Olhe, não leve tão a sério – consolou Sean. – O alto escalão
está surpreso com seu quadro, para falar a verdade. Você está atraindo
espectadores, recebendo toneladas de e-mails. Eu soube ontem que eles
provavelmente vão oferecer a vaga a você permanentemente.
A preocupação dela a respeito do fracasso da resenha esmoreceu
juntamente às palavras de Sean. Demi irrompeu em uma gargalhada levemente
histérica.
– Você está brincando?
– Não. E isso também nem tem a ver com o ponto de vista de Joseph
Jonas. Quero dizer, foi assim que você manteve o trabalho originalmente, foi
baseado no poder de atração. Mas está se saindo muito bem sozinha, apesar da
aposta.
Demi balançou a cabeça, perplexa. Televisão? Ela, em tempo
integral? Claro que estava começando a gostar do trabalho. Por que não
gostaria?
Ela finalmente podia focar em sua verdadeira paixão: ficção
comercial.
– Isso é lisonjeiro, Sean, mas só vou ficar aqui durante o verão.
– Por quê? Se eles oferecerem, seria um excelente contrato. O
programa tem chances sólidas de começar a ser exibido regionalmente no ano que
vem.
– Preciso voltar à minha vida de verdade – disse ela, dando de
ombros. Uma pontada de pesar lhe atingiu, forte e inesperada. Ela realmente
sentiria saudade de fazer o quadro.
É claro, antes de começar a sentir saudade, ou de voltar ao seu
emprego antigo, ela precisava vencer naquela resenha.
Ela podia até considerar sua aposta particular com Joe um jogo
puramente selvagem, mas e a aposta original? As resenhas? Ela faria aquilo com
total confiança em suas habilidades.
Demi se recordou de sua opinião inicial, de que Joe havia criado a
aposta paralela a fim de distraí-la da aposta feita no ar. Fosse esse o motivo
ou não, aparentemente tinha funcionado. Tinha como sendo a palavra de ordem.
Não mais.
Tinha muita coisa em jogo para perder. Mesmo para o homem por quem
estava se apaixonando.
A NOITE negra se fechava em torno deles como um sudário. Os únicos
sons eram as alegres sentenças de morte dos grilos e a respiração ofegante
dele.
– Mas eu amo você – disse ele, a voz vibrando com as emoções que
ele finalmente se permitira libertar daquela abóbora escura em seu coração.
– Eu sei que ama – disse ela, afastando uma mecha de cabelo sedoso
do ombro e oferecendo a ele aquele sorriso que prometia o paraíso. – Mas não
posso permitir que isso mude as coisas.
– Mude as coisas? Eu me abri para você. Compartilhei meu mundo,
meus segredos. – Meu coração, gritou a mente dele. Mas ele não disse em voz
alta. Ela já detinha muito poder. Mesmo quando ele vacilou por causa da dor ao
perceber quem, o quê, ela era, seu condicionamento ajudou.
Os olhos desviaram para a esquerda. Para a direita. A floresta se
fechou ao redor deles. A rota de fuga estava ali, era decisão dele encontrá-la.
Libertar-se da armadilha na qual ele adentrara conscientemente.
– Você foi ótimo também – disse ela a ele, com uma espécie de
risada perversa. – Fiquei sabendo que você era um grande leigo, mas de fato
superou a própria pressão. E os segredos, bem, é por isso que estou terminando
com você. Tenho tudo de que preciso e agora vamos acabar com você.
– Você é a viúva-negra? – Já que seria eliminado, que pelo menos
fosse nas mãos de uma das criminosas mais famosas do país. Seu chefe gostaria
disso.
Dessa vez a risada dela foi puro deleite. Aquela risada rouca de
prazer pela qual ele se encantara. Diversão e satisfação se misturavam naqueles
olhos castanhos de corça enquanto ela balançava a cabeça para ele.
– Não. Sou apenas uma mulher.
– Eu amo você – disse ele a ela.
– Eu sei – respondeu ela.
E então atirou nele.
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