4.9.14

Capítulo Dezoito






– MAS… MAS, isso não pode estar certo – gaguejou Demi. Ela encarava o banco de dados do computador, os olhos voando de um monitor a outro, como se os resultados fossem aparecer diferente em algum deles.
– Estou surpreso, para ser sincero – disse Sean. – Pensei que você teria uma vitória esmagadora. Quero dizer, sua resenha de O efeito Michel Angelo teve 70 por cento de aprovação. Sua resenha de Verão da Magnolia tem menos de 30 por cento.
– Não posso acreditar. – Demi desabou na cadeira e ficou olhando para o vazio. Curiosamente, tal livro fora aquele sobre o qual ela e Joe concordaram depois que ela enviara a primeira resenha. Demi ficara originalmente encantada com a escolha dele. De um escritor altamente engenhoso de ficção sulista, o livro deveria ter sido garantia de oferta de profundidade emocional e de um enredo intrigante. Mas, quando Demi conseguira um exemplar, fora uma triste decepção. A emoção estava lá, claro. Mas era afobada e artificial. E, embora ela odiasse escrever resenhas negativas, precisava ser honesta. A resenha fora publicada no domingo, um dia depois de o livro chegar às prateleiras. Hoje era sexta-feira e estava bem claro que os fãs do escritor eram furiosamente leais a ele.
– Olhe, não leve tão a sério – consolou Sean. – O alto escalão está surpreso com seu quadro, para falar a verdade. Você está atraindo espectadores, recebendo toneladas de e-mails. Eu soube ontem que eles provavelmente vão oferecer a vaga a você permanentemente.
A preocupação dela a respeito do fracasso da resenha esmoreceu juntamente às palavras de Sean. Demi irrompeu em uma gargalhada levemente histérica.
– Você está brincando?
– Não. E isso também nem tem a ver com o ponto de vista de Joseph Jonas. Quero dizer, foi assim que você manteve o trabalho originalmente, foi baseado no poder de atração. Mas está se saindo muito bem sozinha, apesar da aposta.
Demi balançou a cabeça, perplexa. Televisão? Ela, em tempo integral? Claro que estava começando a gostar do trabalho. Por que não gostaria?
Ela finalmente podia focar em sua verdadeira paixão: ficção comercial.
– Isso é lisonjeiro, Sean, mas só vou ficar aqui durante o verão.
– Por quê? Se eles oferecerem, seria um excelente contrato. O programa tem chances sólidas de começar a ser exibido regionalmente no ano que vem.
– Preciso voltar à minha vida de verdade – disse ela, dando de ombros. Uma pontada de pesar lhe atingiu, forte e inesperada. Ela realmente sentiria saudade de fazer o quadro.
É claro, antes de começar a sentir saudade, ou de voltar ao seu emprego antigo, ela precisava vencer naquela resenha.
Ela podia até considerar sua aposta particular com Joe um jogo puramente selvagem, mas e a aposta original? As resenhas? Ela faria aquilo com total confiança em suas habilidades.
Demi se recordou de sua opinião inicial, de que Joe havia criado a aposta paralela a fim de distraí-la da aposta feita no ar. Fosse esse o motivo ou não, aparentemente tinha funcionado. Tinha como sendo a palavra de ordem. Não mais.
Tinha muita coisa em jogo para perder. Mesmo para o homem por quem estava se apaixonando.
A NOITE negra se fechava em torno deles como um sudário. Os únicos sons eram as alegres sentenças de morte dos grilos e a respiração ofegante dele.
– Mas eu amo você – disse ele, a voz vibrando com as emoções que ele finalmente se permitira libertar daquela abóbora escura em seu coração.
– Eu sei que ama – disse ela, afastando uma mecha de cabelo sedoso do ombro e oferecendo a ele aquele sorriso que prometia o paraíso. – Mas não posso permitir que isso mude as coisas.
– Mude as coisas? Eu me abri para você. Compartilhei meu mundo, meus segredos. – Meu coração, gritou a mente dele. Mas ele não disse em voz alta. Ela já detinha muito poder. Mesmo quando ele vacilou por causa da dor ao perceber quem, o quê, ela era, seu condicionamento ajudou.
Os olhos desviaram para a esquerda. Para a direita. A floresta se fechou ao redor deles. A rota de fuga estava ali, era decisão dele encontrá-la.
Libertar-se da armadilha na qual ele adentrara conscientemente.
– Você foi ótimo também – disse ela a ele, com uma espécie de risada perversa. – Fiquei sabendo que você era um grande leigo, mas de fato superou a própria pressão. E os segredos, bem, é por isso que estou terminando com você. Tenho tudo de que preciso e agora vamos acabar com você.
– Você é a viúva-negra? – Já que seria eliminado, que pelo menos fosse nas mãos de uma das criminosas mais famosas do país. Seu chefe gostaria disso.
Dessa vez a risada dela foi puro deleite. Aquela risada rouca de prazer pela qual ele se encantara. Diversão e satisfação se misturavam naqueles olhos castanhos de corça enquanto ela balançava a cabeça para ele.
– Não. Sou apenas uma mulher.
– Eu amo você – disse ele a ela.
– Eu sei – respondeu ela.

E então atirou nele.

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