JOE BAIXOU a tela do laptop. Deus, ele tinha sido reduzido a um
escritor de pura porcaria. Lixo. Odiou aquilo. Odiava a história, odiava a
banalidade emocional bobinha vomitando em sua tela.
Ele se levantou e começou a caminhar pelo escritório. Os tons de
cinza-estanho do cômodo falharam em acalmá-lo, bem como a vista do janelão que
dava para o bosque. Normalmente a visão da folhagem densa o confortava. Era seu
santuário. Agora era uma chatice.
Ele cogitou descer até a cozinha para beber ou comer alguma coisa.
Para pegar a enorme faca de açougueiro. Mas seria apenas um pretexto para
evitar lidar com o lixo que ele tentara passar como obra literária.
Joe se jogou no sofá preto de couro e colocou um dos braços sobre
os olhos. O que deveria fazer? Gary o estava perturbando para distribuir as
emoções que havia colocado na cena de sexo ao longo da história. O sujeito
tinha enviado o material para o novo editor dar uma olhadinha e ele adorara.
Delirara mesmo. Joe não tinha certeza de como se sentia a respeito. Um elogio
era sempre bom, mas isso significava que ia querer mais.
Será que ele era capaz de fazer mais? Não se aquela porcaria em
seu computador servisse de parâmetro.
Ele nunca ficara tão grato por ouvir o telefone tocando como
naquele instante. E estava desesperado a ponto de atender mesmo depois de ter
visto o identificador de chamadas.
– Jonas – respondeu ele.
– Joe? Ligue para seu agente e diga a ele que pode jogar fora os
originais de Jeremy – pediu a mãe dele. – O casamento está cancelado.
– Você está brincando, certo?
Foi como abrir uma torneira no jato máximo. Ela começou a verter
lágrimas, lamentando a indiferença insensível de seu mais novo amor, sobre a
ruína de sua vida, sobre o futuro horrendo que a aguardava por causa do coração
partido que provavelmente a mataria.
Joe suspirou e seguiu para o andar de baixo. Ele sabia que tinha
tempo para pegar uma maçã, talvez até mesmo para preparar um sanduíche, antes
de ela se cansar. Exatamente sete minutos depois, Joe pôs um prato de frutas e
um sanduíche de carne assada com pão de centeio em sua mesa, se jogou na
cadeira e pegou o telefone.
– O que vou fazer? – choramingou ela, bem na hora.
Aquela era, Joe sabia, sua deixa para oferecer alguns murmúrios
patéticos de compaixão. Só que ele estava cansado daquilo. Cansado da
montanha-russa emocional, cansado de tocar a mesma música.
– Pare de fazer joguinhos e vá conversar com ele. Aguente firme
pelo menos uma vez na vida e dê uma chance ao homem. – Ai, droga. Por acaso ele
estava bêbado? Ele sabia que não era prudente oferecer opinião.
Joe olhou para seu refrigerante. Não, ele estava bem sóbrio e,
obviamente, burro. Não era sua função se envolver no drama emocional da mãe.
Ele deveria escutar, emitir um som aqui e ali, e não se meter.
– Olhe – disse ele, incapaz de recuar agora que havia aberto sua
boca grande –, você amava o sujeito o suficiente para querer se casar com ele,
e ele não pode ter mudado tanto assim nos últimos dias. Quando fomos almoçar,
ficou óbvio que ele beija o chão que você pisa. Se ele quer que você saia com
ele e com a filha para almoçar uma vez por mês, eu não acho que isso seja
motivo para dispensá-lo.
– Mas...
– Pare de tratar relacionamentos como se eles fossem pratos
descartáveis, Lori. Se quer que esse funcione, desfaça suas malas, pare de de
chorar e faça o que ele deseja de vez em quando. Ele faz por você, então é
simplesmente justo.
Silêncio.
Joe deu uma mordida em seu sanduíche, a mostarda picante tirando o
amargor de sua boca.
– Como você sabe que arrumei as malas? – murmurou ela finalmente.
– Você sempre faz isso. Desde que eu era criança e seu segundo
marido gritou por você ter batido o carro na porta da garagem. Você arrumou as
malas e fomos embora. – A mala dela. Não a dele. Joe teve de abandonar todos os
seus brinquedos, roupas e seu primeiro melhor amigo.
– Eu não telefonei para receber um sermão – disse ela, depois de
fungar algumas vezes. Pelo seu tom ofendido, ela estava superando o choque. –
Eu ia para São Francisco na semana que vem e queria te ver. Você consegue
arrumar tempo para mim?
Ótimo. Mais baboseira emocional. Joe quase respondeu que, se ela
precisava de dinheiro, era só pedir e poupar o tempo dos dois. Mas aquilo seria
desagradável.
– Que tal um almoço? – perguntou ele, em vez disso.
Cinco minutos e todos os beicinhos que ele conseguia tolerar
depois, Joe desligou e suspirou. Apoiando a cabeça nas mãos, ele se perguntava
se meio-dia e meia era cedo demais para beber. A mãe sempre o deixava daquele
jeito. Extenuado, chateado e, pior de tudo, vulnerável.
Joe franziu a testa, abriu seu laptop e leu a cena de morte outra
vez. Vulnerável era uma boa palavra para descrevê-la. Ele se abriu para emoções
e o que recebeu? Um tiro na barriga.
Com um sorriso de escárnio, apertou a tecla “delete”. Se perdesse
a aposta com Demi, teria de escrever aquele tipo de porcaria. Não, obrigado.
Ter colocado emoção nas cenas de sexo já havia sido o suficiente. Teria de
sê-lo.
Ele tateou os ingressos para o baile Exótico Erótico na beirada de
sua mesa. Estava pensando em não ir. Afinal, definitivamente não era o tipo de
coisa que Demi apreciava. Mas tinha muita coisa em jogo. Precisava vencer.
Com um suspiro determinado, ele abriu o e-mail e enviou uma
mensagem para Demi, dizendo a ela para não marcar nada naquela noite. Tinha uma
surpresa para ela.
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