3.11.15

Capítulo Trinta e Sete




Era isso.
O carma tinha vindo cobrar seu preço e deixara um coração de presente para Joe. Um coração tão mole e irritante que ele estava a ponto de enlouquecer.
Ela sorriu.
Ele ficou todo bobo, bobo de verdade, e seu coração pulou no peito. Quando Demi se ofereceu para ir com ele à cidade, Joe ficou animado. Sim. Animado por passar a tarde com Demi no cartório.
Mas o que estava acontecendo?
Dois meses antes, ele teria ficado com vontade de morrer.
Mas, no momento, estava ansioso por ficar perto de Demi, uma garota — ou melhor, uma mulher. Seu encontro mais longo em anos seria no cartório. Tinha de ser um mau sinal.
Vovó se esquecera de pegar a certidão de habilitação para o casamento depois que Selena e Nick haviam passado no cartório para provar que eram mesmo quem diziam ser.
De qualquer forma, tudo o que Joe precisava fazer, como padrinho, era pegar a habilitação e depois levar Demi para almoçar. Não parecia difícil. Tudo bem, era ridículo que ele, entre todos os outros, tivesse de fazer isso, mas vovó tinha dado um chilique tão grande no café da manhã que ele teria aceitado fazer qualquer coisa, até ir para a África lutar pelos direitos dos leões, só para que ela parasse de falar. Nick e Selena estavam ocupados resolvendo problemas de última hora com a banda e todos os outros estavam ajudando a arrumar o local, então só sobraram Demi e ele.
Demi estava louca para sair da casa, pois vovó a seguia por todos os cantos, dando ordens. Jace pedira para ir com eles.
A resposta de Joe? Sem chance. E vovó, bendita fosse, alegou que precisava dele bem na hora, o que com certeza era uma desculpa. Não que ele ligasse. A situação funcionara a seu favor.
O cartório não era muito longe da casa. Tinha acabado de abrir quando Joe e Demi chegaram e foram até o balcão.
— Posso ajudar? — perguntou a atendente, uma velha senhora. Os óculos quadrados estavam apoiados na ponta do nariz, e ela usava batom vermelho forte e uma blusa azul-royal. Parecia um clone de vovó.
— Sim — respondeu Joe, tranquilo. — Precisamos pegar a habilitação para o casamento dos Jonas.
— Ah. — A senhora pareceu desapontada. — Um momento. Só preciso... — Tremendo, ela murmurou alguma coisa enquanto procurava em uma pasta na mesa.
Demi mordiscou o lábio inferior, batucando no balcão com as unhas enquanto a mulher procurava. Joe, agindo como o lunático em que se transformara, ficou só observando Demi. O cabelo estava preso em um rabo de cavalo alto, dando uma visão perfeita das maçãs do rosto salientes e do pescoço delicado. Ele queria esticar a mão e tocá-la, sentir a pele suave sob os dedos.
— Então, tem um problema — começou a senhora, e pigarreou. — Não estou com ela.
— Como? — Joe desviou a atenção de Demi e olhou para a mulher. — Não está com a licença? Mas eles vão se casar no fim de semana!
— Certo... — A mulher sorriu, nervosa. Os dois dentes da frente estavam manchados de batom. — Tenho uma ideia, mas eu poderia ser demitida...
— Sou todo ouvidos. — Joe tentou se manter calmo.
— Porque eles precisam desse papel domingo à noite.
— Podemos acelerar o processo. Posso forjar a data, mas terei de deixar os nomes em branco no documento.
— Por quê? — perguntou Demi. — Não pode simplesmente digitar os nomes também, e forjar tudo?
— O pessoal iria descobrir — sussurrou a mulher, gesticulando para trás, indicando as outras pessoas que trabalhavam no escritório. — E, como disse, eu poderia ser demitida.
Joe grunhiu e olhou para Demi.
— O que vamos fazer?
— Bem, precisamos da habilitação! — exclamou Demi.
— Tudo bem, vamos fazer assim. Do que você precisa?
— Sally — disse uma mulher que se aproximava. — Tudo bem por aqui?
— Tudo ótimo! — exclamou Sally. — Esses dois vieram pegar a habilitação para o casamento! Vão se casar nesta semana! — Ela lançou um olhar suplicante aos dois.
— Isso mesmo! — Joe cutucou Demi. — Estamos tão felizes! Não é mesmo, docinho?
— Isso mesmo, chuchuzinho! — Demi cerrou os dentes. — Estou muito empolgada com essa união sagrada, muito mesmo!
— Diante de Deus — concordou Joe — e de nossa família.
Demi assentiu, enfática.
— Que pena que eu tenha engravidado antes do casamento, né?
— Não acho que seja uma pena. — Joe lançou um olhar significativo e apertou ainda mais o ombro de Demi.
— Na verdade, eu diria que foi muito, muito, muito bom.
Demi deu de ombros.
— Foi legal.
Sally e a mulher sorriram.
— Se entendem o que eu digo... — Demi piscou.
— Estamos tão apaixonados! — gritou Joe, tentando causar uma distração que fizesse Demi parar de falar de sua habilidade sexual.
— Ah! — Sally bateu palmas. — Quase esqueci. Vou precisar das identidades de vocês, só para ter a prova de que vocês são quem dizem ser.
Enquanto entregava à senhora sua carteira de identidade, Demi deu um chute e um pisão no pé de Joe.
Murmurando um palavrão, Joe pegou a dele.
— Tudo certinho! — exclamou Sally.
A outra mulher foi embora.
Todos suspiraram, aliviados.
— Sinto muito — disse Sally. — Sei que o que estou fazendo não é muito profissional. Não se esqueçam de que têm de preencher o nome das duas partes e das testemunhas, está bem?
— Perfeito. — Joe pegou o papel e deu uma piscadela. — Quanto custa a habilitação?
— Sessenta dólares em dinheiro — respondeu Sally, estendendo a mão.
Joe quase se engasgou.
— Sessenta dólares? Por um pedaço de papel? — Era impresso em ouro? Quem pagava 60 dólares por uma coisa que levava dois segundos para ser digitada?
Demi lhe deu uma cotovelada nas costelas. Por sorte, ele sempre carregava um pouco de dinheiro, então pegou três notas de 20 dólares e as entregou à mulher.
— Muito obrigada. — Sally sorriu. — E meus parabéns.
Joe a encarou por um momento. Por que ela lhe parecia tão familiar?
— Ora, vejam só, é hora do almoço! — Sally se levantou. — Podem ir, agora!
— São dez da manhã — comentou Joe.
— Eu gosto de comer. — Sally foi embora.
Joe ficou olhando para ela.
— Vamos lá. — Demi pegou o envelope pardo em que Sally guardara o documento. — Missão cumprida, e vovó prometeu que você iria me recompensar com um almoço.
Na verdade, o objetivo de Joe era levá-la a um encontro, mas Demi não precisava saber disso. Porque ela ficaria ansiosa. Ora, ele estava ansioso! Ia mesmo fazer aquilo. Será que estava pronto? Será que algum dia estaria pronto para correr esse risco?
Sua masculinidade tinha tirado férias, seu cérebro estava confuso, ainda sob os efeitos da noite anterior, e o short curto de Demi não estava ajudando.
— Alô? — Ela atendeu o celular. — Está bem. Certo. Sim, sem problema. Ok. — Ela corou e desviou os olhos. — Eu não acho que... — Ela fez uma careta. — Está bem, ok certo, ok.
— Tudo bem?
— Sim. — Demi o dispensou com um gesto. — Não era nada. Só trabalho.
— Eles sabem que você está de férias, né?
— Vovó e férias não combinam.
— Nem me fale — grunhiu ele, pegando o caminho para seu café favorito. — Posso falar com seu chefe se você quiser.
O carro mergulhou em silêncio por um tempo.
— Meu chefe? — Demi riu. — E você vai fazer o quê?
Invadir a sala dele, dizer seu nome algumas vezes e fazer meus problemas desaparecerem?
— Então ele está causando problemas?
— Deixe pra lá, Joe. Você não é meu irmão mais velho, tentando me proteger das crianças malvadas do parquinho.
— Não mesmo, não sou seu irmão. Estava pensando em algo mais na linha super-herói. Como o Super-Homem, chegando para resolver todos os problemas.
Demi revirou os olhos e riu. Ele ficou bobo outra vez.
— Então você seria o Super-Homem.
— Isso. — Joe suspirou e estacionou perto do café.
— No mínimo, para poder usar calças de lycra muito coladas, de modo que todo o mundo visse que eu não uso camisinhas PP.
Ele devia ter lembrado que o vidro estava aberto.
Uma mulher que passava na rua engasgou.
A criança que estava com ela perguntou:
— Mamãe, o que é uma camisinha?
Joe achou que não seria apropriado responder que era um brinquedo, então apenas sorriu e murmurou um desculpe para a mãe enquanto pensava que Deus devia mesmo odiá-lo.
— Acho que você deveria ter explicado. — Demi riu, desafivelando o cinto de segurança enquanto estacionavam.
Joe saiu do carro e bateu a porta com força.
— Sim, e então acabaria preso por ter falado a uma criancinha coisas impróprias sobre as partes erradas do corpo humano. Até consigo imaginar a manchete: “Joe Jonas mostra as partes íntimas para criancinha em estacionamento.”
— Ora, pare de besteiras! — Demi ergueu as mãos. — Você está exagerando. A imprensa não é assim tão ruim.
— Hã, é sim. — Joe abriu a porta do carro para que ela saísse, e o cheiro de café orgânico pairou pelo ar até alcançá-los no estacionamento. — E como é possível que você ainda defenda a imprensa? Sabe tão bem quanto eu que uma história sobre mim ajudando uma criancinha seria distorcida para algo sobre como eu roubei o sorvete dela, ou algo assim.
Demi segurou a mão dele e a apertou.
— A imprensa não está contra você.
— Desculpe, mas você assiste ao jornal? — Joe agarrou a mão dela e se recusou a soltar. Na verdade, ele a tomaria como refém para sempre. Muito maduro.
Enfim, entraram no bistrô que vendia café e sanduíches.
— Qual vai ser o pedido? — perguntou a garçonete, olhando-o de cima a baixo e ignorando por completo Demi e todos os demais ao redor. Por que de repente ele se sentia tão irritado com mulheres que o comiam com os olhos e ignoravam Demi abertamente?
Irritado, Joe mentiu.
— Minha noiva e eu... bem, nós acabamos de pegar a habilitação de casamento. — Ele deu um longo suspiro e fitou os olhos de Demi. — E, bem, quero comemorar com a bebida favorita do meu amor. Tem que ser bem doce, como ela. — Nossa, que meloso!
Com uma risadinha, Demi se virou para ele e envolveu seu pescoço com os braços, entrando na brincadeira, embora parecesse um pouco tensa. Joe sussurrou
“continue” em seu ouvido, e, antes que ele pudesse entender o que estava acontecendo, Demi disse:
— Mas, meu bem, só preciso de você.
Ela o beijou.
E de repente... Ah! Podia deixar a mão para lá: ele ia tomar aquela boca como refém. Com um gemido, Joe retribuiu o beijo, deslizando a língua para dentro da boca de Demi. Nunca se cansaria de sentir aquele gosto.
Desejava tudo nela, inclusive o modo como brincava com os fios de cabelo mais longos na base de sua nuca e o jeito como roçava os dentes nos lábios dele.
— Com licença? — interrompeu a garçonete, em voz alta. — Tem uma fila atrás de vocês, e crianças no recinto. Jesus, arrumem um quarto!
Reunindo uma força que nem sabia que tinha, Joe se afastou e olhou irritado para a garçonete.
— Já temos um quarto, mas obrigado pela sugestão.
Dois cafés gelados, por favor. — Sem soltar Demi, ele enfiou a mão no bolso e tirou uma nota de vinte. — Pode ficar com o troco.
A garçonete ficou vermelha e murmurou um “obrigada” enquanto Joe puxava Demi para longe do balcão, atacando sua boca outra vez.
Demi estava tentando dizer alguma coisa, mas ele não ligava.
Droga, se não estivessem em um lugar público, já teria arrancado as roupas dela! Ele se perderia nela, e não apenas uma vez. Não, seria uma maratona de proporções olímpicas. Ele a algemaria à cama, para que Demi não pudesse fugir, mesmo que quisesse.
Uau! Nunca tinha pensado que BDSM fosse o estilo dele! Até agora, quando o pensamento de que ela poderia rejeitá-lo e abandoná-lo havia se tornado uma potencial realidade.
— Joe. — Os lábios de Demi estavam vermelhos e inchados, por causa do ataque. — Ela não está olhando mais. Foi por isso que fez aquilo, não foi? Já pode parar.
— Está bem — murmurou ele. — Eu já imaginava. — Ele tentou manter a respiração sob controle enquanto ouvia o ar sair por entre aqueles lábios inchados.
— Mas você continuou a me beijar.
— Sim.
— Dois cafés gelados no balcão! — anunciou alguém.
Sem esperar que Demi fizesse qualquer outra pergunta, Joe pegou as bebidas. Depois de tomar um gole, Demi abriu a boca para falar, mas seu telefone começou a tocar outra vez.
— Alô, vovó? Sim, estamos com a habilitação. Não, não, nós não... — Soltando um palavrão, Demi pôs o telefone na mesa. — Você acha que eles colocariam uma dose de vodca aqui se eu pedisse?
— Será que precisamos procurar ajuda para esse seu problema com bebida?
— Quieto. Vovó precisa que a gente resolva os últimos detalhes para a festa conjunta de despedida de solteiro e solteira.
— Espere aí. — Joe hesitou, com o café a meio caminho da boca. — Conjunta?
— Isso mesmo.
— Por quê? Pensei que Nick fosse me deixar...
— Nick não manda mais nas próprias bolas. — Demi tomou um gole do café e mordiscou o canudo. — Acho que podemos concordar que vovó o tem sob controle. E as coisas vão continuar assim até que seu irmão se case.
— Pobre coitado!
— Nem me diga. — Demi sacudiu a bebida. — Se eu estivesse me casando, iria para um lugar bem distante.
Ou então não contaria a ninguém.
— Um ótimo plano. Só conte a vovó depois que se casar, e não se esqueça de dar a notícia pelo telefone.
Assim, quando ela sacar a arma, só vai conseguir atirar na parede.
O sorriso de Demi foi como um soco direto na boca do estômago. Ele precisou desviar os olhos.
— Então, para onde precisamos ir agora?
Ajeitando-se na cadeira, Demi tomou o restante do café e evitou contato visual.
— Bem, hã... Vovó tinha um chá da tarde planejado, mas cancelou hoje de manhã.
— Por quê?
— Petunia chegou.
— Ah! Tia-avó Petunia! — As lembranças que tinha de tia Petunia eram sempre boas: ela tricotava para ele os cachecóis mais feios do mundo a cada Natal, mas nunca deixava de mandar cartões de aniversário. Tinha ido a todas as suas formaturas e a alguns dos jogos de beisebol. Era uma pena que vovó e ela se odiassem. — Espere aí! Por que cancelaram o chá da tarde?
Demi fez uma cara estranha.
— Bem, parece que vovó planejou algo mais animado para a visita da irmã.
— Quão animado?
Demi não respondeu.

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Vou tentar postar todos os capítulo da fic essa semana. Amo vocês, obrigada por continuarem aqui. Beijos, anjos