20.9.14

Capítulo Vinte e Sete - Maratona (1/3)






DROGA. JOE seguiu Demi pelo corredor em direção ao escritório. Quando passaram pela porta aberta do quarto, ele ficou tentado a agarrá-la e levá-la para uma rápida contenda suada na cama bagunçada. Os cobertores embolados e travesseiros espalhados fizeram Joe sorrir. Bom saber que ela não era totalmente organizada; ele estava começando a ficar paranoico.
O requebrar doce dos quadris dela, quase imperceptível sob o tecido da calça vermelha drapeada de moletom, o distraía. Normalmente, quando finalizava um rascunho, Joe precisava de um alívio físico para toda a energia reprimida que tinha acumulado durante sua jornada mental. Em outras palavras: sexo.
Agora não era diferente.
Exceto pelo fato de ele, pela primeira vez, desejar algo mais. Ele queria a aprovação de Demi.
Já havia encarado editores, seu agente, até mesmo os críticos mais rígidos com menos tensão do que enfrentava em suas entranhas agora.
– Posso pegar alguma coisa para você? – perguntou ela, assim que entraram no escritório. – Uma bebida, um lanche?
Ele quase pediu um uísque com gelo, porém balançou a cabeça. Entorpecer seu cérebro não iria facilitar as coisas. A contração de testa dela, tão linda e confusa, fez Joe sorrir um pouquinho. Sabia que estava sendo todo furtivo e insistente, mas não tinha palavras para descrever o quanto aquilo era importante para ele. O quanto significava saber o que ela achava. De suas palavras, de sua obra. De suas emoções.
– Você pode simplesmente, sabe... – ele apontou para os originais – …ler para mim. Agora, por favor.
– É claro. Você quer uma opinião ou uma crítica de verdade?
– O que você faz normalmente quando analisa?
– Faço anotações.
– Anotações então – disse ele, meneando a cabeça.
Demi lançou um olhar demorado, então assentiu e se acomodou na poltrona. Uma parte da mente dele tinha notado como o tecido vermelho e grosso do moletom combinava com ela, forte e intenso. Outra parte notava como ela ficava jovial e bonitinha sem maquiagem. O cabelo, todo desgrenhado e despenteado, o fazia pensar em noites longas e sensuais roçando nos lençóis. Ele permitiu que aquela cena o entretivesse por um minuto.
Então Demi pegou um bloco de notas e uma caneta na mesinha ao lado e começou a escrever.
Joe sentiu um aperto no estômago.
– Esse é o primeiro rascunho, só para você saber – defendeu-se ele.
Demi nem mesmo olhou para ele. Simplesmente acenou com a cabeça e continuou a fazer anotações.
Cinco minutos se passaram. Dez. Ele caminhava. Não conseguia se concentrar nem mesmo por tempo suficiente para olhar os livros reunidos na estante, exceto para perceber que a maioria dos títulos lançados por ele parecia estar ali.
Ele tentou se distrair olhando para o ambiente. Sensual e eficaz, concluiu. Linhas lascivas, texturas atraentes e superfícies regulares. Tudo bem típico de Demi.
Ele passou uma das mãos no cabelo e reconsiderou a oferta dela para um drinque. Considerando toda a atenção que ela estava dispensando a ele naquele instante, duvidava que ela fosse oferecer outra vez.
O olhar de Joe se voltou para o laptop dela. Aberto, monitor apagado. Mas ele sabia que estava ligado por causa da luzinha de stand by.
– Você se importa se eu entrar na internet para verificar meu e-mail? – perguntou ele. – Tenho estado atolado na última semana e não o me dei ao trabalho de parar para vê-los.
Ela sequer olhou para cima. Simplesmente acenou em concordância e continuou a fazer as anotações. Joe reprimiu o pânico.
Familiarizado com o modelo do computador, ele apertou a tecla prateada de stand by e aguardou o monitor se acender.
Demi já estava conectada. Ele pegou o mouse para abrir uma nova janela, mas, antes que pudesse clicar, o e-mail na tela captou sua atenção.
Professora?
Joe franziu a testa, porém continuou a ler.
Nossa senhora. A traição o atingiu como um caminhão de duas toneladas, deixando-o sem ar. Pontos pretos tomaram sua visão, já contornada por uma fúria rubra.
Ela o usara? Ecos das meias verdades e mentiras de sua ex-esposa e de sua mãe cochicharam em sua cabeça. Ela o usara sem cerimônias. E ele permitira. Diabos, ele facilitara para ela.
Demi não o queria. Ela só queria usar a carreira dele. Era tudo por causa de uma promoção em um emprego que ele, que abrira sua alma, para ela ao lhe entregar seus originais crus, cheios de emoção, nem mesmo percebera que ela possuía.
Joe sentiu o estômago se apertar, o maxilar latejando diante do ódio. Era tudo que ele podia fazer para não atirar o computador na parede.
Ela não se importava com ele. Joe não era nada para ela, exceto um meio para um fim.
Ele se levantou tão depressa que a cadeira elegante deslizou e bateu contra a parede.
O olhar de Demi se ergueu para o dele.
– Você está bem? – perguntou ela. Apesar da testa contraída, o tom dela deixava bem claro que ela só estava parcialmente focada nele. O restante de si encontrava-se concentrado nos malditos originais.
Diabos, não. Ele não estava bem. Mas seria uma desgraça se ele lhe desse a satisfação de expor sua frustração.
O que significava que ele precisava sair dali. Agora.
– Preciso ir – disse ele, seguindo em direção à porta.
– O que houve? – Demi se levantou depressa, o bloco de anotações e a caneta caindo no chão. As páginas que ela já havia lido caíram também, flutuando feito confete. Ela ficou vermelha, como se estivesse constrangida. Como poderia, no entanto? Qualquer pessoa capaz de mentir tão friamente na cara dele dificilmente ficaria constrangida por ser desajeitada.
– Preciso ir – repetiu ele, ignorando a pergunta dela. – Voltarei amanhã à noite para buscar você para o baile.
– Baile? – questionou Demi, a confusão óbvia no rosto dela. Seu olhar saltava entre ele e as páginas dos originais ainda em suas mãos, como se ela não soubesse em qual deles se concentrar. – Espere, você está indo embora? Não quer saber o que acho da história?

– Tenho ingressos para um baile erótico – rebateu Joe, ignorando a pergunta dela do mesmo jeito que ignorava as páginas que ela lhe estendia. Como se ele as quisesse agora. Ela havia acabado de provar a ele que era tudo uma grande bobagem. – Venho buscá-la às 19h. Não se esqueça de levar a máscara.

*****

Quem sentiu o sarcasmo do Joe na última fala levanta a mão \O/ auehaue. E ele finalmente descobriu! Gostaram? Ansiosas? Daqui a pouco tem mais 

Um comentário:

  1. Vishhhh! Quem será que ganha essa aposta?
    Pelo amor de Deus, esses dois só se metem em confusão jajajsjjs


    Ansiosa pro próximo.

    ResponderExcluir