21.9.14

Capítulo Trinta e Um - Maratona (2/3)







DOIS DIAS depois e Joe ainda estava se recuperando da intensidade do encontro deles, além da despedida audaciosa de Demi.
Ele estava saltando da raiva para o desprezo e depois de volta à raiva tão frequentemente que se sentia como uma bolinha de pingue-pongue.
Covarde emocional uma ova. Só porque ele confrontara suas mentiras e se recusara a continuar fazendo jogo, aquilo não significava que ele tinha medo.
– Joe, o que vai pedir?
Ele olhou para sua mãe do outro lado da mesa, e então para o garçom.
– O frango frito – pediu ele, com um sorriso irônico.
A última coisa que queria fazer hoje era encontrar Lori para almoçar. Mas ele imaginara que os dramas dela poderiam ajudar a banir de sua memória aquele olhar de partir o coração dado por Demi antes de ir embora.
– Joe, você continua se distanciando – acusou Lori, franzindo a testa. – Está pensando em uma de suas histórias outra vez?
Ele deu de ombros e tentou se concentrar na mulher à sua frente. Ela parecia bem. Longe de se parecer a mãe de alguém, ela era magra, bronzeada e ostentava cachos louros platinados que iam até os ombros cobertos de seda. Endinheirada e mimada, ela definitivamente não parecia ter idade suficiente para ter um filho da idade dele. Mas adoraria ouvir esse tipo de coisa, então Joe guardou as impressões para si.
– Você está bem diferente daquela chorona com quem falei ao telefone há algumas semanas – disse ele, em vez disso.
Lori o olhou feio.
– Só porque uma traição e um divórcio litigioso não perturbam você não significa que não ferem pessoas de verdade, que têm coração. Eu estava passando por um momento difícil, mas já superei tudo.
Joe zombou do comentário dela sobre sua falta de sensibilidade. Ele não queria que fosse verdade?
– Claro que superou.
– Não seja um grosseirão, Joseph. – O olhar amuado no rosto da mãe o informava de que ela começaria a chorar em seguida.
– Tudo bem – murmurou ele, uma palavra vazia simplesmente para impedi-la de dar um ataque à mesa. – Eu estava errado. Tenho certeza de que você está muito bem e que não tem nenhum problema de relacionamento para superar.
Até parece.
– Não. – Lori olhou para o próprio colo, então lançou um olhar envergonhado para Joe. – Você estava certo. Eu tenho problemas, é claro. Mas quando telefonei eu estava sendo irracional. Eu estava com medo de a filha de Jeremy influenciá-lo, de que ele resolvesse me preterir por ela. Mas eu amo Jeremy. Não quero estragar tudo. Aceitei seu conselho e desfiz as malas. Nós conversamos. As coisas estão bem.
Joe só podia encará-la. Será que todas as mulheres do mundo tinham ficado malucas? A mãe dele tomando decisões afetivas maduras? Demi atacando a inteligência dele em público, e então o desafiando a crescer e enfrentar suas emoções?
Será que 11h30 era cedo para um uísque?
– Quando foi que você ficou tão esperto em relação a assuntos emocionais, Joe? Para um sujeito que não tem coração, você definitivamente sabe do que está falando.
– Não sou sem coração – disse ele, incapaz de se conter.
Dois meses atrás, Joe teria dado de ombros para o comentário, concordando vagamente. Mas agora a ideia de ter a própria mãe considerando-o insensível era dolorosa. Ele revirou os olhos. Mais um ponto para Demi... agora ele era um menininho chorão com sentimentos feridos.
– Eu não quis dizer “sem coração” – disse Lori distraidamente, sua atenção voltada para o almoço que o garçom estava servindo. – Quis dizer que você não permite que as coisas o magoem. Você sempre foi fechado. Não fica emotivo nem investe em relacionamentos. Eu ficaria louca se fosse tão solitária assim. Tenho medo de ficar sozinha, é claro. Mas você?
Você abraça sua vida solitária.
Joe mal a ouviu, concentrado apenas na frase medo de ficar sozinha. Era por isso que ela pulava de relacionamento em relacionamento?
Ele franziu a testa quando Lori cravou o garfo em seu macarrão. Por que não tinha enxergado isso antes? Estava tão ocupado culpando-a por suas cicatrizes emocionais que não se dera o trabalho de perceber que ela exibia as suas.
A percepção não ajudou a abrandar a frustração dele em nada, embora tivesse anestesiado sua raiva. Sentia-se vazio sem Demi, mas não podia arriscar procurá-la. Ele se abrira e acabara se dando mal. Por que aquilo só o deixava triste agora, em vez de furioso? Se estivesse furioso, seria muito mais fácil de lidar.

*****

Joe caindo na real, finalmente! 

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