DEMI ESTAVA sem fôlego. Ela sabia que precisava ser esperta, se
agarrar a qualquer coisa semelhante a controle. Mas era quase impossível, pelo
jeito como Joe a fazia se sentir: o corpo dele roçando contra o dela, o peito
pressionando seus mamilos, a perna dele fazendo uma fricção deliciosa contra
seu centro feminino úmido...
– Saindo – arfou ela, quando ele lhe deu mais beijos quentes e
úmidos na orelha.
– Hein?!
– Nós deveríamos estar apenas saindo. Conhecendo-nos. Provando... alguma
coisa.
Deus a ajudasse, ela mal conseguia se lembrar do próprio nome,
muito menos do argumento que estava tentando provar.
– Luxúria versus intimidade – respondeu ele. Havia humor na voz
dele apenas o suficiente para suplantar a frustração que também havia ali e
evitar fazer Demi se sentir culpada. Ela engoliu em seco, encontrando os olhos
dele quando Joe levantou a cabeça. Ela deu um sorriso débil, aliviada quando Joe
retribuiu.
– Certo – concordou ela. – Em minha defesa, definitivamente estou
me sentindo passional agora.
Ele riu e então se afastou. Assim que o fez, o corpo dela ansiou
pelo calor dele assim como um viciado ansiava por uma dose. Com uma necessidade
desesperada, mordaz.
Sem fôlego, quase imprudente, ela ficou feliz ao sentir a mão de Joe
guiando-os de volta à mesa. Assim que ele a pôs na cadeira, o garçom chegou com
a sobremesa.
Necessitando de algum tipo de satisfação, Demi mergulhou o dedo na
mousse cremosa que decorava o bolo de chocolate e levou à boca. O sabor
explodiu em sua língua, quase tão delicioso quanto Joe tinha sido.
Ela ergueu o olhar e flagrou o dele. Gargalhadas explodiram.
– Parece que você está prestes a chorar – provocou ela. – Quer
provar?
– Quero provar você, definitivamente. O bolo, nem tanto.
Ela riu. Então cavucou o bolo, dessa vez com o garfo. Demi se
concentrou na sobremesa de propósito, precisando daquele tempinho para limpar a
mente. Ou melhor, para recuperar seu bom senso. Sem querer pensar no que quase
havia acontecido na pista de dança ou decifrar como aquilo influenciava a
aposta deles, isso sem mencionar em seu sistema de crença pessoal, ela olhou ao
redor do restaurante.
O olhar pousou sobre um casal, provavelmente alguns anos mais
jovem que ela e Joe. Eles estavam sentados, de mãos dadas e encostando suas
cabeças. A alegria em ambos era óbvia. Ela apostava que eles nunca haviam
cogitado uma escolha entre amor e luxúria. Era óbvio que simplesmente tinham
adotado os dois.
Ela suspirou, chupando o chocolate do garfo enquanto observava o
sujeito beijar a mão da loura bonita. Parecia meigo quando ele o fazia; porém,
quando Joe beijara a mão dela, fora apenas um estímulo erótico.
– Meigo – disse Joe, ecoando o pensando dela inconscientemente.
Ele havia seguido o olhar dela. Demi franziu a testa para ele, sem ter muita
certeza se Joe ele estava sendo sarcástico ou não, dadas suas opiniões sobre as
emoções mais sutis. Mas ele pareceu sincero.
Ele captou a especulação nos olhos semicerrados dela e riu.
– Eu sei apreciar o romance, mesmo quando escolho não fazer parte
dele.
Demi pegou mais um bocado de chocolate para apontar que um
encontro que englobava jantar, dança e nenhuma possibilidade de sexo poderia
ser considerado romance em alguns meios.
Houve um gritinho empolgado e então uma explosão de risadas. Demi
e Joe se viraram para olhar para o casal que estiveram observando, e que agora
estava abraçado. A loura olhava para a própria mão, por cima do ombro do rapaz,
lágrimas escorrendo pelo seu rosto.
– Ahhhh, eles acabaram de ficar noivos – disse Demi, emocionada,
afirmando o óbvio. – Agora isso é meigo.
Joe riu. Com um gesto, chamou o garçom. Demi não conseguiu ouvir o
que ele murmurou, mas o garçom sorriu e assentiu.
– Meigo. Louco, mas meigo – concordou Joe.
– Você é realmente tão cínico? – desafiou ela. – Não conhece
nenhum casal que tenha um relacionamento sólido e duradouro?
Ele esfregou o queixo, como se pensando na pergunta. Então balançou
a cabeça.
– Não, desculpe. Não consigo pensar em ninguém que conheço
pessoalmente que tenha escapado incólume do campo minado emocional.
– Não foi isso que perguntei – observou ela, apontando o garfo em
direção a ele para reforçar seu argumento. – Conhece alguém, em qualquer
circunstância, que seja feliz em um relacionamento?
– Defina feliz.
Demi revirou os olhos. Antes que pudesse começar seu sermão, no
entanto, o garçom se aproximou do casal que comemorava com uma garrafa de
champanhe. Pelo modo como arregalaram os olhos, deveria ter sido um champanhe
muito caro.
Quando o garçom apontou para a mesa deles, as desconfianças de Demi
foram confirmadas. O casal articulou um “obrigado” para Joe, que simplesmente
sorriu e assentiu antes de voltar a olhar para Demi.
Ele arregalou os olhos ao flagrar o olhar dela.
– O quê? – perguntou ele, o tom defensivo.
– Você é uma fraude. – A alegria borbulhava dentro dela como o
champanhe com o qual o casal agora brindava o futuro.
– Perdão?
– Seu falso. Você alega ser antirromance, no entanto mandou para
completos estranhos uma garrafa do que suponho ser o melhor champanhe da casa?
Uma pessoa totalmente desprovida de sentimentos simplesmente não faz isso –
declarou ela, colocando as mãos sobre a mesa e se inclinando para a frente para
frisar seu ponto.
Joe cruzou os braços, o movimento esticando o casaco sobre os
ombros largos. O olhar dele combinava com o empinar teimoso do queixo dela.
– Bobagem.
– Eloquente, sr. Escritor.
– Bobagem completa – esclareceu ele.
– Não me diga.
Dava para ver que ele de fato estava rangendo os dentes.
– Só porque sou um cara legal e gosto de ver outras pessoas
felizes, mesmo que por um motivo totalmente condenado, não significa que sou
sentimental.
– Tudo bem – disse ela agradavelmente.
Ele a encarou.
– Talvez eu simplesmente estivesse tentando impressionar você –
ofereceu ele.
Ela não conseguiu conter a gargalhada. Rindo, simplesmente
balançou a cabeça e ergueu as sobrancelhas, com se dissesse “até parece”.
Após alguns segundos, a teimosia de Joe pareceu derreter em meio a
risadas.
– Tudo bem. Pense o que quiser.
– Pensarei.
– Eu poderia usar isso como trama nas histórias, sabe.
Assim que Demi terminou de comer a sobremesa, Joe começou a criar
uma história sobre uma garrafa de champanhe envenenada enviada para o casal
errado. Quanto mais ele falava, mais animada a história ficava.
Quando parou para respirar, deu um sorriso tímido.
– Você quer escrever isso enquanto está fresco em sua mente? –
perguntou ela, fascinada com sua invenção improvisada.
– Não, já está tudo na minha cabeça. – Ele lançou um olhar para o
casal, que estava com as mãos entrelaçadas enquanto se fitava nos olhos. Então Joe
deu uma piscadela para Demi. – Você estava correta, de certo modo. Mesmo que eu
não me abra pessoalmente para minas terrestres emocionais, ainda sou capaz de
apreciar a beleza da ideia.
Antes que ela pudesse responder, o casal recém-noivado se
aproximou para se apresentar e agradecer.
A beleza na atitude de Joe mexeu com Demi. Não apenas seu gesto
gentil, mas a maneira amigável e encorajadora com que estava agindo para com o
casal. Ele podia até desprezar a expressão de emoções em suas histórias, mas
tinha tanto dentro de si! Ela comprimiu os lábios para conter as lágrimas.
Porque ali dentro era o lugar onde ele continuaria a mantê-las.
Não havia nada de belo no que ela estava sentindo enquanto o
observava aceitar a gratidão do casal e papear com eles. Para eles,
apaixonar-se deveria ter sido meigo e divertido. Para ela, Demi percebeu quando
seu coração deu uma cambalhota, era o inferno total.
O olhar de Demi trilhou pelos traços de Joe: a linha firme do
queixo, o sorriso devastador. A intensidade azul de um laser de seus olhos. Ele
era lindo. Mas era o som da risada dele que a cativava.
Não era horrível o fato de o homem por quem ela estava se
apaixonando apresentar uma garantia fidedigna de nunca amar, ou aceitar amar a
si mesmo?
*****
Nenhum comentário:
Postar um comentário