JOE OBSERVAVA o rosto de Gary em busca de alguma pista sobre o que
o agente pensava, obcecado de um jeito que não ficava desde seu primeiro livro.
Deus. O que ele estava pensando ao tentar escrever aquele tipo de porcaria? Ele
era mais esperto que isso. No entanto, depois de conversar com Demi, de
escutá-la, ele teve esse sentimento insano de esperança.
Aquilo provavelmente iria arruiná-lo.
– Bem? – perguntou ele, incapaz de suportar mais um minuto.
– Calma – instruiu o agente. O sujeito mais velho apontou para o
frigobar no canto do escritório, sem tirar os olhos dos originais.
– Está cru ainda – explicou Joe. – Não editei nem nada. Pensei em
pedir sua opinião antes de ir longe demais com isso.
Ele tinha ficado muito desesperado para escrever quando desligara
o telefone com Demi. O desespero viera do fato de ser inspirado por ela,
diferentemente da frustração que ele normalmente sentia quando conversava com a
mãe. Ele ficara surpreso quando terminara de redigir a cena. Aquilo, amigo, era
emoção. Pelo menos o mais perto que ele já havia chegado dela. Talvez ele
pudesse fazer aquilo? Conciliar tudo? Fazer seu editor feliz, acalmar os fãs e
ainda manter Demi por perto, então que se danassem as apostas. Era um pouco
assustador perceber o quanto aquela ideia o atraía.
Quando Gary nem sequer o reconhecia. Joe se levantou e caminhou
até o frigobar. Vasculhou seu conteúdo e então bateu a porta. Abriu o armário
de guloseimas disfarçado de gaveta de arquivo e fuçou até encontrar uma barra
de chocolate. Mas ele estava empolgado demais para comer. Jogou a barra de doce
no armário e começou a passear pela sala.
– Cara, qual é o seu problema? – perguntou Gary finalmente, quando
jogou as páginas impressas sobre a mesa. – Você está mais nervoso que uma
virgem na noite de núpcias.
Joe fez uma careta.
– Alerta vermelho do clichê.
– Certo, e é por isso que eu não sou o escritor aqui. – Gary
cutucou a pilha de papéis com um dedo carnudo e ergueu uma sobrancelha grisalha
espessa. – Quer conversar a respeito?
– Não. Só quero saber o que você acha.
Gary se recostou na cadeira e olhou para Joe por cima das mãos
unidas, como se estivesse rezando. Era sua pose típica de reflexão.
– Eu acho...
Joe queria bater na cabeça do sujeito com o mata-borrão. Mas ele
sabia, por experiência própria, que não seria bom, então simplesmente resmungou.
– Acho que você está no caminho certo – disse Gary finalmente.
– É isso? No caminho certo? Eu escrevi… – Joe cutucou os originais
e fez uma careta. – Coloquei emoção aqui. Isso é mais do que o caminho certo.
– Não, Joe. Você escreveu uma das cenas de amor mais quentes que
já li aqui. E, devo dizer, provavelmente a primeira cena já escrita por você
que pode ser de fato chamada de cena de amor, em vez de cena de sexo. – Gary
balançou a cabeça e deu de ombros. – É ótimo. É mais profunda que tudo que você
já fez, é forte. Você criou uma ponte até aquela distância típica que costumava
manter nas cenas de intimidade, o que leva sua escrita a um nível totalmente
novo.
– Mas...?
– Mas é uma cena. A emoção, a promessa de emoção, não aparece no
restante do livro. Ainda não. Coloque emoção aí e estamos no páreo.
Joe então se sentiu tão confiante em seu sucesso em colocar emoção
ali quanto teria sentido se Gary tivesse pedido a ele para fazer o parto de uma
ninhada de cães raivosos.
Fascinado pelo movimento da luz da vela brincando sobre o rosto
dela num brilho dourado, Joe observava Demi rindo do outro lado da mesa. Um
tipo estranho de alegria o preencheu ao constatar a satisfação dela. Era tão
diferente das mulheres que ele conhecera. Honesta, sem joguinhos, você levava o
que comprava. Era estimulante e sedutor. Talvez ele fosse ter mais facilidade
para tecer emoções, pelo menos as superficiais, em sua história do que tinha
pensado.
– Você tem fãs que o perseguem, como os artistas de cinema? –
perguntou ela. Estavam falando sobre uma convidada do Wake Up California que
tinha o hábito de perseguir seus astros de TV favoritos até conseguir o
autógrafo deles.
– Perseguindo? – refletiu Joe. – Não. Tive alguns que mandavam
e-mails regularmente, esse tipo de coisa. Uma vez, em uma convenção literária,
uma mulher ficou esperando na porta do hotel. Mas ela só queria que eu lesse
seus originais.
Demi lançou um olhar demorado e contemplativo, então balançou a
cabeça.
– Não, não acredito que isso tenha sido tudo. Deve ter sido um
pretexto, mas aposto que ela queria mais do que sua opinião.
Queria mesmo, mas Joe não era do tipo que se gabava, então
simplesmente deu de ombros.
Ele meneou a cabeça em direção à pista de dança, onde casais
estavam agarradinhos à meia-luz.
– Quer dançar? – perguntou ele.
O olhar de Demi varreu os casais e a banda, e então se voltou para
ele.
– Nunca terminamos aquela última dança, não é? Acho que lhe devo
uma.
– Não sei se me deve uma, mas eu adoraria ter você em meus braços.
E, já que você pareceu de fato querer sobremesa, esse é o único jeito de isso
acontecer nos próximos minutos.
Demi sorriu e piscou quando colocou seu guardanapo sobre a toalha
branca, ao lado do prato.
– O melhor dos mundos. Boa comida, chocolate clássico e você.
Joe se levantou e estendeu a mão. Quando ela se ergueu, ele deu um
passo adiante, ínfimo, de modo que ela roçou no peito dele quando se pôs de pé.
Ele lhe ofereceu um sorriso malicioso bem lento, para informá-la de que tinha
sido um gesto proposital.
– Esse não é um daqueles gestos de cortejo pré-sexo? – perguntou
ela, em tom de improviso. Ele sabia que Demi havia sido afetada, no entanto,
por causa do subir e descer daqueles seios deliciosos.
– É? Isso significa que vai ter sexo se eu fizer direitinho? – Com
a mão de Demi na sua, Joe a guiou para a pista de dança.
Ela riu quando se posicionou nos braços de Joe. Ele quase gemeu
quando percebeu o quanto Demi se encaixava perfeitamente. Aquilo era insano.
Ela, o livro, Gary, toda a emoção exigida. E Joe, desejando se render a ela.
Insano.
– Eu quis dizer que é o tipo de coisa que, se você crê que a
luxúria leva a relacionamentos, cairiam no esquecimento depois do primeiro
encontro sexual. Não acha?
– Acho que fico excitado quando você fala deste jeito todo
intelectual.
– Ahhh, então a luxúria ainda está guiando este relacionamento –
brincou ela. Algo lampejou nos olhos dela, no entanto, derrubando o sorriso de Joe.
– Você fala como se fosse uma coisa ruim – protestou ele,
verdadeiramente confuso. – Por quê? Pensei que você tivesse problemas apenas
com meus livros. Mas agora que nos conhecemos vejo que não é isso. Você
realmente é tão contra a luxúria assim?
– Você é realmente tão contra as emoções assim?
– Emoções inevitavelmente levam à dor – observou ele.
– Essa opinião é baseada em experiência pessoal? – perguntou ela
suavemente, a mão acariciando o ombro dele de forma reconfortante, num gesto
que ele interpretara como provavelmente inconsciente.
Proposital ou não, aquilo o fez sentir-se bem. Seguro era a
palavra que lhe vinha à mente, por mais bobo que soasse. Ele tentou afastar
aquele sentimento estranho.
– É claro que não – mentiu ele. – Eu lhe disse. Não lido com
emoções.
– Nunca? – O olhar que ela lhe lançou o perfurou até a alma,
tornando impossível mentir mais.
Joe bufou e meneou um ombro.
– Digamos que não lido mais.
Demi parecia querer perguntar o motivo. Joe enrijeceu, sem desejar
entrar em detalhes, mas sem ter certeza se iria responder a qualquer pergunta
que ela fizesse.
Porém, Demi apenas comprimiu os lábios e assentiu, então
aconchegou a cabeça no peito dele quando a música os inundou.
Que bom. Assunto encerrado, com cutucadas mínimas na psique ferida
dele. Abraçando a cintura dela com mais intensidade, Joe continuava a franzir a
testa. Por que ela não insistira no assunto? Porque estava perfeitamente
satisfeita com o sexo, sexo incrível, e não se importava o suficiente com ele
como pessoa para querer saber mais? Ele iria ignorar o fato de ela ter colocado
aquele sexo incrível em espera. Seu frágil ego masculino proclamava que aquela
era uma manobra para vencer a aposta.
Ou ela não o estava pressionando porque, apesar de ele se sentir
mais íntimo dela do que qualquer mulher que conhecera, ela achava que ele tinha
a profundidade emocional de uma poça de lama.
Joe revirou os olhos. Droga, fora só abrir a porta para as emoções
e ele estava péssimo, se preocupando como um adolescente no auge dramático de
sua primeira paixão. Estúpido, inútil e, considerando a mulher sensual se
movimentando tão sedutoramente em seus braços, completamente louco.
Assim, em vez disso, ele começou a se concentrar na sensação de
ter Demi nos braços, enquanto seu corpo esguio se moldava de encontro ao dele.
Os dedos dele alisaram o tecido diáfano do vestido dela bem no ponto onde o
caimento formava uma cachoeira plissada sobre os quadris. Ele ergueu a mão
dela, a qual estava segurando, e levou à boca, dando uma série de beijos
delicados nos nós dos dedos. Quando ela recuou para lhe oferecer um sorriso,
ele deslizou a língua por entre os dedos. Demi arfou, os olhos se arregalando,
e então se anuviando. O desejo naquelas profundezas castanhas enviou o desejo
dele a outro patamar.
Joe os conduziu até a beirada da pista de dança, onde as luzes
estavam mais fracas, apertando Demi contra si com uma das mãos. A música mudou,
ficando mais sombria, mais triste.
Ainda segurando a mão dela junto à boca, Joe sugou um dedo,
brincando com a língua em seu comprimento. Ao mesmo tempo, afrouxou um pouco o
contato com ela, para deixar um espaço bem pequeno entre os corpos. Enquanto se
movimentavam, eles se roçavam em contraponto um contra o outro. Quando os
mamilos de Demi, rijos e afiados, deslizaram sobre o peito dele, Joe teve
vontade de gemer. Sim, ela estava tão excitada quanto ele.
Remexendo-se só um pouco, ele deslizou a perna por entre as dela e
agradeceu por ela ser tão alta. Incapaz de evitar, ele pôs a mão dela em seu
ombro, então levou ambas as mãos aos quadris de Demi. Ele enterrou o rosto nos
cachos de Demi, aninhando o nariz no cabelo até chegar à lateral do pescoço e
na orelha. O perfume dela, um tempero sutil, preencheu os sentidos de Joe
quando ele beijou a pele sedosa.
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Mais um por favor
ResponderExcluirpor favor
ResponderExcluirSó mais um
ResponderExcluirporfavorzinho
ResponderExcluirpelo amor de Deus posta eu necessito eu to implorando por mais
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