Capítulo Dez
DEMI
SE espreguiçou, rolou e se encolheu de encontro a Joe. Não havia qualquer
confusão a respeito de onde ela estava ou com quem estava. E pela primeira vez
desde que foi embora de Paris, muitos anos atrás, ela sentiu como se não
tivesse cometido um erro ao confiar em um homem. Aconchegou-se mais junto dele,
inalado o perfume amadeirado da loção pós-barba, o cheiro duradouro da brisa do
mar na pele dele e a fragrância sutil de sexo.
Ele a
apertou com força e esfregou a mão nas costas dela em uma carícia demorada e
lânguida. Ocorreu a Demi que se eles ficassem ali no mar pelo restante de suas
vidas, tudo ficaria bem. Eles só tinham problemas quando estavam cercados pelos
outros. Mas a avó dela sempre a alertara a respeito de se esconder da verdade.
Havia
um motivo para Demi querer se esconder e era… ela não sabia. Talvez estivesse
com medo ou apegada demais a Joe. Talvez não quisesse que ele soubesse que era
capaz de fazê-la se sentir tão bem quanto fazia. Porque ela ainda tinha medo de
confiar nele de verdade. Podia estar se sentindo bem agora, mas sua mente
estava ativa, e as dúvidas começavam a vir à tona.
A
tensão se instalou e lhe roubou a luz do sol com a mesma certeza que as nuvens
faziam em um dia de verão.
– Em
que está pensando?
– Em
levantar – disse ela, porque era a resposta mais segura.
– Ah,
claro. Venha cá… em quê está pensando de verdade? Você me deve isso.
Ela
percebeu que ele estava certo. Só não estava muito segura se podia contar a
ele. Simplesmente não sabia se podia jogar suas malas à porta dele e ser a
mulher que poderia fazer um relacionamento com Joe funcionar.
– Se
você pudesse ver seu rosto agora – disse ele.
– O
que eu veria? – perguntou ela.
– Uma
mulher que está com medo.
Exatamente
o que ela temia, mas Demi sempre soubera que não sabia disfarçar suas
expressões. Ela não conseguia ser falsa com as pessoas uma vez que começasse a
se importar com elas. E por mais que quisesse negar, ela se importava com Joe.
– Eu
fico rodando e sempre volto ao mesmo ponto na coisa de confiar em você – disse
ela. – Mas agora eu preciso me proteger…
–
Não, não precisa. Estamos nisso juntos, você e eu. Não precisamos nos proteger
um do outro.
Ela
puxou o lençol junto ao corpo quando se sentou ao lado dele. Enfiando o cabelo
atrás das orelhas, o encarou com olhos semicerrados.
– Só
posso presumir que você nunca teve um coração partido.
Ele
deu de ombros daquele jeito gaulês dele, e não era tão charmoso vê-lo tendo uma
atitude casual quando ela estava sentindo tudo de forma tão intensa.
– Eu
costumo manter as coisas casuais, porque é meu jeito de ser. Meu trabalho exige
demais de mim.
–
Sim, mas você está na entressafra agora. Então por que manter as coisas tão
discretas desta vez? – perguntou ela.
–
Estamos longe de casa, é um lugar diferente – explicou ele. – Não é a norma.
Ela
arqueou as sobrancelhas, e ele sacudiu um dedo para ela.
– Não
fique brava. Você sabe muito bem que não teria olhado para mim se não
estivéssemos aprisionados aqui. Este programa está nos dando um alívio da nossa
rotina. É sua oportunidade para confiar em um homem e a minha para desacelerar.
– O
que vai acontecer quando esse alívio terminar? – indagou ela, temendo já saber
a resposta. Joe era o tipo de cara que sabia seguir em frente. Ela precisava se
lembrar das palavras dele. Eles não estavam no mundo real agora. Ela não podia
se apaixonar por um homem que estava tirando férias de sua vida.
– Eu
não sei, ma chère. Não tenho todas as respostas. Eu não esperava conhecer você
ou me sentir como me sinto sobre isso tudo, mas aí está, eu querendo ou não. Se
eu pudesse fugir de você, então as últimas duas semanas teriam sido uma
tranquilidade total.
Ela
não disse palavra.
–
Para nós dois. Negar não vai mudar a verdade. Existe algo entre a gente que não
podemos negar. Você sabe que é verdade, ou não teria ficado tão tensa nas
últimas duas semanas.
Ele
estava certo, mas ela odiava isso. Não queria que ele estivesse certo ou que
aquela situação estivesse fora de seu controle. Mesmo assim estava, desde que
ela tropeçara na entrada do elevador e caíra nos braços dele.
Ele a
fisgou, e ela teve que se perguntar se era por isso que pensava que podia
confiar nele. Se esse era o motivo real pelo qual ela queria fazer aquilo
funcionar.
Ela odiava
a fraqueza dentro de si que tornava impossível para ela não esperar que… bem,
que aquilo iria durar.
–
Vamos parar de falar sobre isso.
– Por
quê? Você vai continuar ruminando o assunto, não vai?
–
Sim. Mas falar sobre ele não vai ajudar em nada – disse ela.
–
Vai, ma chère. Vai ajudar você a perceber que não está sozinha. Eu também estou
inseguro – disse ele.
–
Alugar um iate e me seduzir no convés ensolarado não parece inseguro para mim.
Ele a
puxou para seus braços.
– Eu
queria mostrar a você que sou um cara para algo além de um encontro de uma
noite só.
Ela
teve que rir, porque nunca havia pensado isso sobre Joe. Até mesmo a primeira
vez que fizeram amor tão intensamente não soou casual. Nada soava casual com
ele, e ela sabia que se não quisesse enlouquecer teria de começar a se esquecer
do medo de ele não ser um homem de palavra.
Afinal,
tudo o que Joe tinha feito desde que se conheceram provara a ela que ele não
estava mentindo sobre seus sentimentos.
– O
que mais você tem planejado para hoje?
– Eu
esperava que pudéssemos cozinhar juntos na cozinha do navio. Eu me assegurei de
que teríamos utensílios top de linha. Então podemos comer no convés, sob a luz
da lua, talvez dançar um pouco de rock cajun e então vou te seduzir outra vez
antes de voltarmos à casa.
–
Estou vendo que você planejou isso com cuidado.
– Sim
– disse ele. – Eu queria… Ainda quero conhecer a mulher por trás de todas estas
defesas, Demi. Eu me importo com você. Não consigo parar de pensar em você.
Ela
compreendia o que ele estava dizendo. Joe estava verbalizando o que ela sentia.
Demi sabia que, se baixasse a guarda, poderia aproveitar o restante de seu
tempo com ele. E, para ser justa, provavelmente iria ser mais fácil para ele;
ele poderia parar de se preocupar, achando que não estava fazendo jus às
necessidades dela.
–
Tudo bem, mas eu fico no comando da cozinha.
–
Como se não tivesse feito isso antes – falou ele.
– Ha.
Desta vez, você acata as ordens e age como meu subchef – disse ela, ficando de
pé e pegando a calcinha do biquíni.
–
Como desejar – falou ele.
– Até
parece. Você vai me deixar achar que estou no comando, não é?
–
Pode apostar – disse ele com um sorriso. – Vamos tomar um banho, eu tomei a
liberdade de providenciar roupas para você.
–
Providenciou? – perguntou ela. – Quem faz isso?
– Um
homem que deseja impressionar a mulher dele.
A
mulher dele. Ela era mesmo a mulher de Joseph Stephens? Queria ser? Demi sabia
que sim. E era por isso que estava elucubrando sobre tudo o que ele dizia e
fazia. Ela queria que aquilo fosse real. Mais real do que seu desejo de que seu
pai aparecesse, quando ela era criança. Mas de certo modo era errado que um
homem ainda tivesse a chave para a felicidade dela, por isso tinha medo de que
ele visse o quanto significava para ela.
–
Bem, estou impressionada – disse Demi. – Vamos tomar banho juntos?
–
Não, vou deixar que você vá primeiro. Preciso falar com o capitão e avisar a
ele que não vamos pescar – falou ele.
–
Duvido que em algum momento você tenha tido a intenção real de pescar – retrucou
ela.
– Por
quê?
–
Acho que você só disse isso para eu não ficar me perguntando se você iria armar
para mim.
–
Você está certa. Eu queria que você relaxasse. Acho que me saí bem.
Ele
fizera muito bem.
–
Obrigada, Joe.
–
Pelo quê?
–
Pela massagem, pela compreensão. Eu sei que tem sido complicado…
–
Nada que vale a pena vem facilmente – disse ele antes de vestir o short e sair
da cabine.
DEMI
RECUPERAVA o equilíbrio na cozinha enquanto Joe tomava banho. Ela picava
legumes, deixando o som da faca na tábua acalmá-la. O capitão e a tripulação
ainda estavam fora de sua vista, o que Demi agradecia verdadeiramente. Ela se
sentia crua e exposta depois de fazer amor com Joe, e precisava se recompor.
Estava
acostumada a sempre ser a pessoa forte, aquela durona que sempre fazia todo
mundo se sentir melhor. Até mesmo Selena permitia que ela fosse a durona. Era
ela que sempre lidava com os funcionários difíceis das agências de crédito à
pequena empresa, com os clientes excessivamente zelosos e, certa vez, lidara
até mesmo com um suposto arrombador na loja.
Mas
naquele momento, ela se sentia totalmente incapaz de fazer qualquer coisa senão
trabalhar na cozinha.
– O
que posso fazer? – perguntou Joe quando entrou e parou ao lado dela.
Ele
usava calça jeans e uma camisa branca de linho cuja gola estava desabotoada. O
cabelo ainda estava úmido do banho, e o linho branco deixava o tom de pele dele
ainda mais moreno. Vendo-o agora, Demi se perguntava como um homem tão
organizado e bem-sucedido como Joe poderia estar desempregado. Ele se
assemelhava mais a um abonado dono de restaurante.
– Eu
não tinha muita certeza do que íamos cozinhar, então estou simplesmente picando
os legumes – disse ela. – Já fiz alguns cupcakes para a sobremesa… estão no
forno, assando.
–
Garota do Cupcake, estou lisonjeado – disse ele, e deu um beijo no pescoço
dela. – Vire para cá para eu saber se o vestido que comprei fica tão adorável
em você quanto ficou na modelo.
Ela
largou a faca. Achava que aquilo também era parte do problema.
Normalmente
vestia jeans e uma camiseta. O vestido era um modelo simples de verão amarrado
na nuca. A saia batia nos joelhos e não era rodada ou fluida, algo que teria
feito a estrutura pequena dela parecer menor ainda. Ele havia escolhido bem,
pensou ela. Mas agora que ele estava parado ali esperando para ver como ela
estava, Demi se viu nervosa.
Para
o diabo com isso. Ela nunca havia sido uma pessoa tímida antes, por que estava
se comportando como uma agora?
Ela
se virou em direção a ele e pôs as mãos nos quadris, encarando-o de forma
desafiadora.
– O
que acha?
Ele
inclinou a cabeça para o lado e a espiou pelo que pareceu uma eternidade.
–
Linda. Mas por que você está brava?
– Não
sei. Essa não sou eu. Sou uma pessoa de jeans, não de vestidos chiques. E esse
lugar é legal, mas fora da minha zona de conforto.
–
Desculpe. Pensei que você fosse gostar de tirar uma folga de tudo.
– A
casa em Malibu também é assim. Sinto como se isso fosse somente mais uma ilusão
– disse. Sabendo que estava se referindo aos próprios sentimentos. Havia algo
dentro dela que estava tão amedrontado e tão inseguro. E todos os movimentos de
Joe apenas faziam reforçar o quanto ela estava fora de controle.
–
Isto é real – disse ele. – Embora eu esteja desempregado agora, eu tenho
dinheiro.
Aquilo
a deteve. Ainda que fizesse perfeito sentido. Ele ficava totalmente confortável
em qualquer situação. Era algo que ela havia notado em seus amigos ricos.
– Ah,
tudo bem.
– Demi,
nós vamos nos conhecer lentamente, em passos cuidadosamente medidos. Você e eu
estamos criando um novo prato, e toda vez que fizermos algo certo ou tentarmos
passar para o ingrediente seguinte, vamos ter que reajustar o tempero.
Ela
concordou.
– Não
sou rica, mas o negócio dos cupcakes tem sido próspero para mim e para Selena.
Temos um investidor interessado em transformar a Sweet Dreams em uma cadeia de
lojas. Se isso acontecer, nós duas ficaremos milionárias.
– Bom
saber. Você vai expandir?
Demi
deu de ombros.
– Não
tenho certeza. Tenho cogitado fazer outras coisas, mas nós duas estamos tão
acostumadas à confeitaria… o que nós duas faríamos sem a Sweet Dreams?
–
Tenho certeza de que qualquer investidor adoraria se vocês duas continuassem
trabalhando lá – disse ele, se aproximando dela e assumindo o corte dos
legumes.
– Mas
nós estaríamos trabalhando para outra pessoa. Isso não parece certo.
Ele
riu, e ela retribuiu o sorriso.
– Eu
sei que sou mandona, o que posso dizer?
Eles
trabalharam juntos, preparando um quiabo com frutos do mar que ela ficou
morrendo de vontade de experimentar e que, com o toque dado por ele, ela achou
muito gostoso. Quando os cupcakes esfriaram, ela os colocou sobre o balcão, ao
lado do glacê que havia preparado.
–
Então nós podemos decorar o próprio cupcake ou decorar um para o outro – disse
ela.
– Eu
voto em um para o outro. O que temos aqui?
–
Creme de manteiga, fondant, açúcar colorido… o de sempre – disse ela,
entregando a Joe um conjunto de espátulas.
– Vai
ter algum tema? – perguntou ele.
–
Acho que você está no Premier Chef há tempo demais. É um jantar de namorados,
Garoto Sulista. Você faz o que quiser – disse ela.
–
Você está certa. Tudo bem, prepare-se para ser surpreendida – disse ele.
– Eu
fui surpreendida o dia todo – admitiu ela. – Acho que estava tão amuada antes
porque pensei que decifraria você, mas mais uma vez você me fez reavaliar suas
atitudes.
–
Ótimo – disse ele. – Você ainda é um grande mistério para mim, ma chère. Não
importa o quanto eu pense que te conheço, continuo percebendo que não a conheço
o suficiente.
Ela
estava feliz por isso. Não queria achar que Joe havia descoberto muitos de seus
segredos. Havia partes dela que até mesmo ela não queria conhecer. Cada um
pegou um cupcake na bancada e se sentou em lados opostos. Ela trabalhava com o
corante alimentício e diferentes coberturas para criar uma imagem de Joe em
cima do cupcake. Havia ganhado diversos prêmios por seus desenhos artísticos e
achava que ele ficaria impressionado. Ela usou uma tigela emborcada para
esconder o cupcake, assim ele não poderia ver o produto final até a hora da
sobremesa.
Joe
pegou outra tigela e colocou seu cupcake embaixo. Foi difícil, mas Demi
resistiu à tentação de espiá-lo por diversas vezes enquanto ele estava
trabalhando. Finalmente eles limparam a cozinha. O relógio de Joe despertou, e
ele olhou para o pulso.
–
Está quase na hora. Vou pedir à equipe para terminar de preparar nosso jantar e
levá-lo ao convés enquanto bebemos drinques e vemos o sol se pôr.
–
Parece ótimo – disse ela. E foi. Tudo o que Joe dizia parecia se encaixar
direitinho. Logo eles estavam no convés com French Martinis nas mãos, o drinque
com sabor de licor de framboesa tão perfeito quando a brisa leve que os
cercava.
Demi
estremeceu, e Joe pôs o braço em torno do ombro dela. Eles beberam seus
coquetéis enquanto o sol descia lentamente, desaparecendo além do horizonte. O
convés não ficou escuro em momento algum, pois minilâmpadas foram acesas, e ela
ouviu os passos da tripulação trazendo o jantar para o convés.
Era
uma refeição simples, mas Demi raramente desfrutava de uma. Joe conversou mais
com ela a respeito de suas viagens e sobre as pessoas que conhecera. Mas ele
fez de um jeito que não causou ciúme ou inveja. Eles conversaram sobre Paris, e
Demi sentiu aquela pontada agridoce que sempre sentia, mas que se foi assim que
Joe e ela começaram a comparar seus locais e refeições favoritos lá.
Demi
estava com medo de admitir até mesmo para si, mas, quando o jantar terminou e a
música lenta e sensual começou, soube que estava se apaixonando por Joe. Ele a
tomou nos braços e dançou com ela pelo convés, sob o luar. Ela apoiou a cabeça
no ombro dele, segura de que naquela noite poderia permitir que ele visse que
ela nem sempre era durona.
Claro
que ela podia se permitir aproveitar o luar, o homem e as lembranças que
pareciam feitas para durar para sempre. Mas como era Demi, ela não podia evitar
senão se preocupar com a presença de mais uma surpresa, tal como havia ocorrido
em relação ao dinheiro dele. Aquilo desgastava um pouco da felicidade, roubando
um pedacinho dela. E se a próxima coisa que ela descobrisse a respeito de Joe
não fosse tão agradável quanto esta?
JOE
ESTAVA relutante em ir embora do iate. Ele não era um sujeito que normalmente
se escondia da vida, então o dia de hoje havia sido uma mudança revigorante
para o personagem que ele vinha mantendo nas últimas semanas. Mas ele também
sabia que mostrar a Demi que era um homem rico era bem diferente de contar a
verdade sobre quem ele era.
Ele
estava fazendo todo o possível para prepará-la para a verdade, uma vez que esta
viesse à tona. Quanto mais cozinhava, considerando o modo como as coisas
estavam fluindo ultimamente, mais tinha certeza de que poderia vencer aquela
coisa. E quando vencesse, e os episódios começassem a ir ao ar, o nome
verdadeiro dele seria revelado.
–
Obrigada pelo dia maravilhoso – disse ela, enrolando em torno dos ombros o xale
de grife que Joe havia lhe dado.
– Não
há de quê. – Ele se sentia tão seguro ao lado dela que, se não fosse pela
mentira sobre sua identidade, já a teria levado para sua mansão no Garden
District em Nova Orleans.
Mesmo
que isso fosse possível, Demi não iria cegamente para onde ele quisesse. Joe
admirava a força e independência dela. E um lado dele temia que aquelas seis
semanas se resumissem às duas únicas que eles teriam juntos.
– Não
comemos a sobremesa – disse ela.
–
Você está certa. Vou pedir para trazerem o café e então podemos sentar no
convés e saborear nossa sobremesa.
A
tripulação levou um bule de prata de café e colocou uma xícara diante de cada
um deles. Então os pratos com os cupcakes foram colocados sobre a mesa. Joe foi
o primeiro a admitir que não sabia nada sobre decoração de bolos. Eles tinham
um confeiteiro em Gastrophile, o primo dele, Helene, que era um gênio das
sobremesas, mas ele queria impressionar Demi.
Ele
sempre queria impressioná-la? Havia algo nela que… ou talvez fosse algo nele e
o fato de ele saber que não podia ser totalmente sincero com ela, aquilo sempre
o fazia se esforçar para impressioná-la sempre.
Ela
sorriu quando entregou o cupcake confeitado a ele.
–
Abra.
– Tudo
bem – disse ele, e então ficou sentado encarando o cupcake. Demi havia
capturado a imagem dele na pequena sobremesa. Era fantástico e um pouco
desconcertante. – Eu devo comer meu próprio rosto?
Ela
gargalhou.
– Eu
sei que é esquisito. Você pode tirar o fondant e guardá-lo se não conseguir
comer.
– Por
que você não fez uma sobremesa no concurso? – perguntou ele. – Você tem muito
talento.
– Eu
sei que tenho, mas ainda não houve nenhuma prova adequada para demonstrar isso.
Se houver, vou fazer o máximo para vencer.
–
Tenho certeza de que você vai vencer facilmente – disse ele. – Agora abra a
minha. Não se esqueça de que não sou confeiteiro.
Ela
lançou um daqueles olhares enigmáticos sob os cílios.
–
Está nervoso? Não me diga, Garoto Sulista. Pensei que você tivesse um ego
imenso.
– Eu
tenho, mas também sou realista. Vamos encarar, eu não tenho suas habilidades
para fazer doces.
Ela
ergueu a tampa de mentirinha e prendeu a respiração. Pegou o cupcake lentamente
e o colocou no prato diante de si.
–
Você fez um lírio d’água para mim.
–
Sim, fiz. Só depois do jantar eu soube que você gostava de Monet. Então acho
que vamos ter que creditar isto a uma química muito boa entre nós.
Ela
segurou a mão dele quando o encarou com aqueles lindos olhos acinzentados.
– É
perfeito. E eu não acho que você deva se preocupar com nenhuma prova de
sobremesas no concurso.
–
Contanto que eu possa fazer algo simples, tudo bem – disse ele. Mas Joe não
queria falar sobre o Premier Chef. Queria que aquele dia e aquela noite fossem
sobre eles dois.
–
Você realmente gostou?
Ela
levou a mão dele à boca e beijou os nós dos dedos antes de soltá-la.
–
Sim, gostei.
Eles
comeram a sobremesa demoradamente.
– Por
que você fez meu cupcake assim? – perguntou ele.
– É
algo para você se lembrar de mim – disse ela, dando uma olhadela para ele.
Ele a
encarou. Parecia que o tempo em si estava parando. Joe não era um romântico,
não de fato, mas esta noite ele achava que poderia sê-lo.
– Eu
preferiria ter você em vez de precisar me lembrar de você.
Algo
cintilou no rosto dela, e Demi desviou o olhar antes de voltar a ele com um
sorriso sem graça.
– Mas
nós dois sabemos que não vou durar. Com você.
– Por
quê? – questionou ele, com medo de já saber a resposta. Ainda assim, queria
ouvir dos lábios dela. Queria ter uma chance de se defender. Mostrar a ela que
era diferente dos outros homens da vida dela. Mas ele tinha medo de que, não
importando o quão diferente fosse, a consequência da presença dele na vida dela
fosse a mesma. Estava determinado a fazer com que não fosse.
–
Você disse mais cedo. A casa do Premier Chef é uma ilusão. Perdendo ou
ganhando, nós dois vamos voltar para nossas vidas de verdade. E eu moro aqui.
Meus amigos e familiares estão aqui, e eu não tenho muita certeza se um dia
realmente confiaria em você o suficiente para abrir mão disso tudo.
– E
se eu abrisse mão de Nova Orleans? – perguntou ele.
–
Você abriria? – perguntou ela. Então balançou a cabeça. – Não sei. É muito
investimento em um relacionamento. Se você se mudasse para cá e as coisas não
dessem certo… Eu acho que é mais provável que isso seja um caso doce que vai
terminar quando o concurso acabar.
Joe
se recostou na cadeira e cruzou os braços. Sabia que deveria dizer alguma coisa
para abrandar o clima. Não queria que o dia terminasse num tom amargo, mas não
conseguia aceitar a versão de Demi. Ele sabia que ela estava certa, pensou, que
era por isso que estava tão bravo por ela ter apresentado a situação tão
claramente. Porque ela não sabia quem ele era e que ir embora de Nova Orleans
era impossível para ele.
– Eu
nunca considerei você uma desistente. Eu vi você recuperar pratos praticamente
perdidos que deveriam ter sido jogados no lixo – disse Joe. – Por que viveria
sua vida com menos paixão?
Ela
colocou seu guardanapo sobre a mesa depois de dobrá-lo cuidadosamente. – A
comida não destruiu meu coração.
– Nem
eu – falou ele.
–
Ainda não – concluiu ela, ficando de pé.
Ele
quase desistiu, mas não podia fazê-lo. E essa era a parte que o incomodava. Não
queria verbalizar que aquilo era apenas um caso, uma parte dele desejava mais
ao lado daquela mulher complexa e sensual.
Ele
se levantou rapidamente, derrubando sua cadeira no processo. Ela parou e se
voltou para ele.
– Joe…
– Não
diga. Não vou magoar você. Eu prometi a você que não magoaria. É verdade, há
coisas a meu respeito que você não sabe. Mas tudo o que mostrei a você… É mais
do que ofereci a qualquer outra mulher. Não estou brincando com você, Demi.
Ele
recolheu a cadeira e ficou parado esperando para ver se ela iria embora, mas em
vez disso Demi retornou para o lado dele.
–
Você me assusta. Não consigo ser tão aberta a isto quanto você. Eu sei que não
é justo, mas foi isso que a vida me ensinou.
Ele a
puxou para seus braços porque estava com muito medo, não importando agora o
quanto a preparasse, de que quando a verdade a seu respeito fosse revelada, ela
ficaria muitíssimo magoada. Se ele era um homem mais forte agora, um homem
melhor, sabia que deveria deixá-la ir.
E
como tinha apenas aquelas seis semanas em Malibu, estava determinado a
transformá-las nas melhores seis semanas da vida de Demi.
Capítulo Onze
QUANDO
ELES chegaram à casa, não houve tempo para uma despedida demorada, mas tudo
bem, pensou Demi. Nick estava esperando na sala de estar com dois dos outros
finalistas, Liam e Whit.
– O
que houve? – perguntou Joe quando eles se acomodaram nas poltronas.
– Um
anúncio especial – respondeu Nick. – Estamos esperando os últimos participantes
aparecerem. A propósito, aproveitaram o dia de folga? – perguntou Nick a eles.
Demi
teria gostado de poder trocar de roupa para usar seu jeans e camiseta de sempre
diante dos outros participantes. Ela não queria que eles a vissem arrumada, e
aquilo a estava deixando desconfortável.
– Foi
muito bom e relaxante – disse ela, esperando conseguir externar tranquilidade.
– Posso ir trocar de roupa? – perguntou ao produtor.
–
Desculpe, não pode – disse Nick.
–
Agradeça porque não passou o dia todo andando de skate e está cheirando a suor
– observou Liam.
Todo
mundo riu por causa do modo como ele falou. Demi notou que as mãos de Joe
estavam apoiadas nos joelhos. Ela queria tanto esticar sua mão e ser lembrada
de como era tocá-lo.
Por
fim, o restante do grupo chegou, e quando estavam todos sentados na sala, Nick
se levantou.
–
Agora que chegamos a meio caminho do concurso, vamos subir o nível do jogo. Os
carros estarão aqui para buscá-los amanhã, às 6h. Vocês vão precisar arrumar as
malas e trazer suas roupas formais. Homens devem trazer ternos e gravatas, e
mulheres, vestidos. Vamos levá-los para Nova York. Sugiro que durmam bem porque
vocês irão enfrentar um desafio-relâmpago assim que pousarem.
–
Durante quanto tempo ficaremos em Nova York? – perguntou Joe.
– Uma
semana. Vamos retornar diretamente para a mesa dos jurados, para a eliminação
na noite de sexta-feira – disse Nick. – Então vocês não precisam levar todos os
pertences.
–
Haverá algum jurado convidado? – perguntou Liam.
–
Sim. Mas não posso dar nomes. Digamos assim, haverá mais de um jurado
convidado, e ambos são famosos mundialmente. Mais alguma pergunta?
Um
milhão delas, mas nenhuma na qual Demi pensava poderia ser respondida esta
noite.
–
Ótimo. Veremos vocês amanhã de manhã. E, como sempre, boa sorte.
Nick
saiu e, assim que o fez, houve um burburinho.
–
Nova York… você chegou a voltar lá depois da visita com sua mãe? – perguntou Joe
a Demi.
–
Não. A menos que você considere a escala de quando voei para Paris. Mas eu não
saí do aeroporto Kennedy, então não acho que alguém consideraria válido –
disse. Demi se perguntava quem seriam os jurados convidados. Agora que Nick
tinha ido embora, queria retornar ao seu quarto e ficar um pouco sozinha.
– Eu
estava lá pouco antes de vir para o teste do programa. Vai ser legal retornar –
disse ele.
–
Tenho certeza de que sim. Vou arrumar minhas malas e me preparar para dormir –
falou Demi.
– Vou
subir com você.
Ela
balançou a cabeça.
–
Fofocas.
–
Todo mundo aqui sabe que vocês estão ficando – berrou Sarah. – Não tem nada de
mais e é até bonitinho.
Demi
resmungou.
–
Tudo bem. Você pode subir comigo.
Joe
riu, mas ela sabia que a cabeça dele não estava naquela casa.
–
Você está preocupado com a etapa em Nova York?
Ele
balançou a cabeça.
– Só
não tenho certeza de quem serão os jurados convidados. Fico incomodado por não
terem nos contado quem são.
– Por
quê?
– Há
alguns chefs que eu preferiria não encontrar – explicou ele.
–
Rancor? – perguntou ela. O mundo culinário gourmet era repleto de sua parcela
de… bem, divas, na falta de palavra melhor. As prima donnas que sempre ouviam
que eram os melhores e raramente ouviam a palavra “não”. Do jeito que Jean-Luc
Renard havia sido. Mas Demi era jovem, e ele se mostrara tão ardente que ela
facilmente confundira luxúria com amor.
Só
agora estava percebendo o quão errada estivera a respeito de seu ex. Os
sentimentos que ela nutria por Joe eram cem vezes mais poderosos do que aqueles
que tivera por Jean-Luc.
Aquilo
deveria chateá-la mais do que chateava de fato. Joe pareceu distraído quando
ela se sentou silenciosamente em seu quarto. Algo obviamente o estava
incomodando.
–
Mais ou menos – disse ele finalmente. – Eu só não sei se estou imaginando
problemas onde não haverá nenhum.
Aquilo
soou vagamente sinistro. Ela se perguntava sobre que tipo de problema ele
estaria falando e lembrou a si que só conhecia Joe com base no que ele havia
lhe contado. Ela queria acreditar que ele era o homem que demonstrava ser, mas
e se ele estivesse fazendo algo para enganá-la?
–
Quer conversar a respeito? – perguntou Demi. – Costumam dizer que sou uma boa
ouvinte.
–
Estou vendo. Uma das coisas que notei sobre você durante o concurso é o quanto
você é perita em ajudar os outros concorrentes. E isso vem de prestar atenção
às pessoas.
–
Obrigada pelo elogio – disse ela. – É assim também que fico sabendo como as
pessoas estão. Se você prestar atenção às pessoas, elas não têm como
surpreender você.
–
Mesmo? – perguntou ele. – Isso funciona?
–
Normalmente, sim… Então… Você quer conversar sobre o que quer que esteja se
passando na sua cabeça?
–
Não.
–
Bem, essa foi bem direta – disse ela. – Eu diria que você está com medo de
alguma coisa ou de alguém. Estou certa?
–
Talvez – falou ele. – Mas se isso fosse verdade, eu nunca admitiria para a
única chef no concurso capaz de me superar.
–
Você acha que eu poderia vencer? – perguntou ela, interessada em ouvir o que
ele pensava sinceramente sobre a culinária dela. Era a única coisa que Demi
achava realmente capaz de defini-la.
–
Sim. Você também sabe que poderia.
Ela
era esperta o suficiente para não se mostrar pretensiosa.
–
Você acha que pode perder?
Ele
suspirou e passou as mãos pelo cabelo, desalinhando-o e deixando os cachos
espetados antes de ajeitá-los de volta ao lugar.
– Não
tenho certeza, mas eu simplesmente não gosto de não saber.
–
Concordo que é desconcertante, o que provavelmente explica por que fizeram
isso. Provavelmente o chef é algum amigo de Hamilton – disse ela. –
Provavelmente vai ser alguém que possui um programa na mesma emissora.
Você
sabe o quanto estas coisas podem ser torpes.
– Por
que você está tão tranquila a respeito?
Ela
sorriu para ele.
–
Porque você não está. Qualquer coisa que mexa com nosso atual campeão tem que
ser boa. Meio que equilibra o jogo para mim.
–
Danadinha – disse ele.
–
Tanto faz. Tem uma coisa pela qual não estou ansiosa – disse ela quando o olhar
desviou para Joe. Era complicado se concentrar em qualquer coisa que não fosse
ele. Ele estava sentado na cama que havia sido de Vivian, e embora estivessem
conversando como amigos, Demi ainda conseguia sentir a atração física
subjacente.
– O
que é? O fato de sermos barrados na segurança do aeroporto por tentar carregar
nossas facas? – perguntou ele, sorrindo.
–
Não, mas isso seria engraçado. Você deveria ir e falar com Nick para pensar
nisso. Poderíamos fazer a divulgação com o programa sobre policiais. – Ela
simplesmente era capaz de imaginar Nick cogitando aquela ideia se fosse uma
opção real. Havia ficado sabendo que o produtor passava a maior parte do tempo
analisando níveis de audiência e tentando descobrir como conseguir conquistar
uma parcela maior de público. Daí o motivo pelo qual permitiu que todos saíssem
de casa naquele dia.
Joe
gargalhou.
–
Você está aprendendo que tudo envolve níveis de audiência.
– E
você não? Eles só parecem motivados por isto. Os jurados estão aqui pela comida
e pela culinária, mas os produtores obviamente querem um espetáculo televisivo.
–
Sim, querem – falou Joe, se levantando e se aproximando para se sentar ao lado
dela. – Você estava prestes a me contar sobre a coisa pela qual não estava
ansiosa.
Isso
mesmo, ela estava…
–
Hum… Eu meio que gosto de ter vantagem sobre você.
– Eu
não vou contar a ninguém, seja lá o que for que esteja incomodando você – disse
ele.
– Eu
não gosto de voar. Normalmente tomo remédios para enjoo, para apagar, mas como Nick
disse que vamos enfrentar um desafio-relâmpago assim que pousarmos…
Joe
pegou a mão dela e segurou.
–
Estarei bem ao seu lado…
As
palavras não deveriam ter sido tão reconfortantes quanto foram, mas Demi sabia
que se Joe estivesse ao seu lado, ela poderia se sair bem em qualquer situação.
JOE
SEGUROU a mão de Demi quando eles se sentaram lado a lado na cama e soube que
era hora de ele lhe contar a verdade sobre quem realmente era. Sabia que havia
uma boa chance de o jurado convidado em Nova York acabar sendo seu tio ou um de
seus diversos parentes.
Ele
também tinha a sensação de que deveria conversar com Nick a respeito. Não
queria que seu tio ficasse esperando no desafio-relâmpago, o visse e revelasse
quem Joe era de fato. Ele sabia que, espetáculo televisivo à parte, aquele tipo
de coisa realmente iria magoar Demi e provavelmente arruinaria as chances dele
de vencer o programa.
Porém
Demi se encolheu junto a ele, aconchegando a cabeça em seu ombro, e a última
coisa que Joe desejava fazer era perturbá-la. Até parece, pensou ele. Desde
quando ele começara a mentir para si? Talvez este novo personagem estivesse
sendo uma influência ruim para ele.
–
Todo mundo foi legal a respeito de sermos um… – Um casal? – indagou ele.
Ela
assentiu, mas não disse mais nada. Deus, aquela mulher com todo seu ceticismo e
problemas de confiança precisava de um homem que fosse honesto com ela. Demi
não conseguia nem mesmo verbalizar que eles estavam em um relacionamento porque
possivelmente não iria durar, e Joe estava… bem, ele estava simplesmente
abraçando-a e permanecendo em silêncio, porque sabia que, se mencionasse que
seu sobrenome não era Stephens, ele a perderia.
Era
simples assim. Joe podia fingir que havia contado a ela verdades suficientes
sobre si para compensar sua única mentira, e aquela mentira tinha sido contada
antes mesmo de ele conhecê-la, mas ele sabia que estava criando pretextos para
si. E eram pretextos que ela não iria aceitar.
Ele
se remexeu na cama de modo que pudesse apoiar as costas contra os dois
travesseiros encostados na cabeceira, e puxou Demi para si. Não podia evitar
senão notar que ela na verdade permitira que ele o fizesse, se aninhando junto
a ele confiantemente.
–
Obrigada por hoje.
–
Você já me agradeceu – disse ele. Ele iria estimar aquele dia pelo restante de
sua vida. Em sua mente, aquele dia era o qual havia feito amor com Demi pela
primeira vez. Havia sido mais do que sexo e o fizera mudar de diferentes
maneiras. Antes de hoje, ele teria sido capaz de manter a ilusão de que era
simplesmente um chef desempregado, mas agora queria que ela o conhecesse
completamente. Na verdade, ele precisava que ela o conhecesse.
Porque
enquanto a abraçava, Joe reconhecia que a queria ao seu lado pelo resto de sua
vida. Por dentro, um lado dele que nunca se sentira vivo acordou, e ele
percebeu que a amava.
Dormir
ali naquela noite, com Demi nos braços, podia ser algo do qual ele necessitava,
mas um outro lado dele sabia que, se o fizesse, perderia toda a esperança de
proteger uma parte de si que ele nunca soubera ser tão vulnerável.
Até
ele abrir o jogo com Demi e lhe contar tudo sobre o Gastrophile. Até ela saber
tudo a respeito dele, e ele a respeito dela, Joe não poderia lhe contar como se
sentia. Ele não estava totalmente seguro se as emoções dela eram recíprocas. E
por mais cautelosa que ela fosse com o sexo oposto, uma boa parte dele
acreditava que ela nunca seria capaz de perdoá-lo.
E ele
precisava descobrir como contar a ela sobre quem era de fato e convencê-la de
que ele não estava mentindo o tempo todo enquanto eles estavam se conhecendo.
Ele jogou tais sentimentos recém-descobertos para o fundo da mente, sabendo que
as pessoas que tomavam decisões baseadas em qualquer coisa além da lógica
frequentemente se arrependiam delas.
Quando
saísse do quarto, telefonaria para Nick e iniciaria o processo de revelação de
sua identidade real.
– Em
quê está pensando? – perguntou Demi a Joe.
– Em
culinária – disse ele, e em parte era verdade. – Eu nunca conheci ninguém como
você.
– Eu
não queria confiar em você, Joe, mas uma parte de mim não consegue evitar. Toda
vez que começo a achar que você está mentindo para mim sobre alguma coisa, você
prova que não está…
As
palavras dela foram como um punhal no coração dele, e ele sabia que se fosse um
homem mais corajoso, mais forte, confessaria tudo ali e agora. Mas não era.
Nunca havia visto aquele olhar específico de Demi e, quando ela o encarou com
toda confiança e devoção, ele não pôde evitar senão querer se deleitar nele.
Querer fingir que era o homem que ela achava que ele era.
Diabos,
ele pensava ser aquele homem. Pelo menos, havia sido até agora.
–
Você me faz querer ser melhor do que já sou.
–
Você já se provou ser um homem honrado – disse ela, tocando o rosto dele levemente
e então se inclinando para beijá-lo.
Ele
aprofundou o beijo, tentando mostrar com ações o quanto ela significava para
ele, e o quão profundamente se importava com ela. E embora soubesse como se
sentia a respeito dela, as palavras estavam distantes, e era complicado para
ele pronunciá-las.
– Por
favor, não – disse ele finalmente.
– Não
o quê?
– Não
faça parecer que sou algo que não sou – disse ele.
– O
que quer dizer com isso? – indagou ela, recuando para encará-lo. – O que é que
você não é?
Ele
buscou um jeito de responder. Sabia que estava em terreno pantanoso.
– Não
sou nada além do que sou.
–
Isso é muito zen da sua parte – disse ela.
Ele
suspirou e esfregou os olhos.
–
Acho que estou um pouco cansado.
– Eu
sei que eu estou – admitiu ela. – O que é que você está tentando me contar?
Ele
segurou as mãos dela e as levou à boca. Beijou-lhes as costas das mãos, a
abraçou e a apertou. Joe não queria ver o olhar dela agora, porque Demi parecia
enxergar através dos subterfúgios e do coração dele.
– Eu
me importo com você, ma chère. Mais do que já me importei com qualquer outra
mulher, e isso me assusta.
Ela
retribuiu o abraço apertadamente, dando-lhe um beijo delicado no pescoço antes
de encará-lo.
– Eu
me importo mais com você do que já me importei com qualquer outro homem. Na
verdade, o único com quem cheguei perto de me importar quase arruinou o
universo culinário para mim. É por isso que tenho sido tão rebelde com você.
–
Rebelde? Mesmo? – perguntou ele, concentrando-se na personalidade dela em vez
de no fato de que ele pudesse ser responsável por fazer o mesmo a ela e à sua
paixão por comida. Se ele arruinasse o universo culinário dela, nunca se
perdoaria.
–
Tudo bem, eu tenho sido teimosa e difícil. Selena diz que eu só sei ser desse
jeito.
Ele
poderia acreditar naquilo facilmente. Só que a natureza dela era exatamente
oposta.
–
Acho que você é apaixonada.
– Ha.
Você diz isso agora porque estou deitada em seus braços, mas aposto que nas
últimas duas semanas você achou que eu fosse bem diferente.
–
Você está certa, eu achei.
–
Está vendo? Mas você me conquistou. Não posso evitar. Estou cansada de lutar
contra nós dois. Se você consegue nos considerar um casal, bem, acho que eu
também consigo.
Ele a
abraçou quando ela o encarou, e Joe soube que precisava dizer alguma coisa. No
entanto, as únicas palavras que teria a dizer seriam mentiras, então ele a
beijou e fez amor com ela até as primeiras horas da manhã, quando Demi
finalmente adormeceu, e ele se esgueirou de volta ao seu quarto. Ele não
telefonou para Nick ou conversou com qualquer pessoa sobre seu segredo, mas
sentiu que o tempo estava se esgotando. E Joe só esperava ter feito o
suficiente para convencer Demi de que, embora estivesse fingindo ser outro
homem, o sujeito que ele verdadeiramente era a adorava.
DEMI
ACORDOU sozinha, e aquilo pareceu definir o ritmo da manhã inteira.
Havia
algo de distante a respeito de Joe, embora ele tivesse sido fiel à sua promessa
e tivesse segurado a mão dela durante a decolagem e pouso do voo. Quando eles
saíram do avião e do aeroporto, Fatima e Nick os aguardava com dois carros.
A
equipe estava esperando por eles também, e logo todos estavam devidamente
maquiados e usando seus microfones de lapela.
–
Certo, pessoal, espero que estejam todos prontos para se divertir na Big Apple
– disse Fatima. – Vocês serão levados ao hotel Time Square Marriott Marquis,
onde deixarão suas bagagens ao balcão da recepção e terão uma hora para comprar
a comida que representa a empolgação desta viagem e como vocês se sentem por
ter chegado à última etapa do programa.
– Daí
vocês terão 30 minutos para fazer o prato na cozinha do centro de convenções do
Marquis. Estão prontos?
–
Sim! – gritou Demi junto aos outros participantes remanescentes.
Eles
foram divididos em grupos, Joe em um grupo adversário ao de Demi, e então
seguiram para a Times Square. Receberam o endereço de um supermercado e foram
levados para comprar os ingredientes. Demi tentou se aproximar de Joe, mas ele
havia entrado no “modo competição”, sendo assim ela decidiu que deveria fazer o
mesmo também.
Ela
não o deixara influenciá-la tanto assim desde a primeira semana do
concurso,
e concluíra que iria fazer da culinária sua prioridade até o fim do concurso.
Deixou que a essência e vibração da cidade afundassem em sua alma enquanto caminhava
até o local de compras e retornava. Quando chegou à cozinha e seguiu para sua
estação de trabalho, começou a preparar seu prato mentalmente, seguindo cada
passo na cabeça, já que só teria 30 minutos para cozinhar de verdade.
Fatima
e Nick estavam lá, afinal todos estavam mais uma vez apresentáveis para as
câmeras e tinham sido informados para se prepararem para conhecer o jurado
convidado. Demi esperava que fosse Bobby Flay ou alguém igualmente famoso. Ela
não poderia ter ficado mais chocada quando Jean-Luc Renard adentrou a cozinha.
O jurado convidado definitivamente era alguém de quem Demi já tinha ouvido
falar.
Ela
sentiu o sangue drenar do corpo e literalmente sentiu-se fraca. Ai, não, por
que não previra aquilo?
Todo
mundo estava conversando, e ela ergueu a mão rapidamente.
– Nick,
preciso de um minuto.
–
Corta – gritou o diretor.
Todos
olharam para ela. Demi sabia que não havia jeito delicado de fazer o que
precisava ser feito. Nick foi até a estação dela, mas Jean-Luc já havia notado
sua presença ali.
– Ma
petite, Demi. Que bom te ver outra vez – disse ele com seu leve sotaque
francês.
–
Você conhece o chef Renard? – perguntou Nick.
–
Sim. Desculpe, eu não tinha certeza se você precisava saber disso antes de
começarmos a cozinhar para este desafio – disse Demi.
–
Obrigado por avisar. Vou conversar com os outros jurados e nossos produtores e
voltar a falar com você. Todo mundo, por favor, dirija-se à sala de espera
provisória – disse ele.
Todos
saíram da cozinha, e Demi teve o cuidado de não encarar ninguém diretamente,
mas quando chegaram à porta, Joe segurou o braço dela, fazendo-a sobressaltar.
–
Aquele é o sujeito do seu passado?
– Sim
– disse ela.
– Por
que você não falou nada? – perguntou ele. – Eu estava pensando que seu
ex-amante era algum… – Que diferença isso faz?
–
Agora eu compreendo melhor o que você quis dizer quando falou que ele arruinou
seu universo culinário. Você vai ficar bem tendo que cozinhar para ele?
– Sim
– respondeu ela, e percebeu que era verdade. Há algumas semanas, sua resposta
poderia ter sido diferente, mas agora Jean-Luc era para ela apenas um namorado
antigo, nada mais. Ele não causava mais o efeito de antes. – Vou, de verdade.
–
Ótimo. Eu ainda vou superar você – disse ele, gesticulando para ela seguir para
a sala de espera.
–
Acho que não, Garoto Sulista. Planejei um prato que vai deixar os jurados
extasiados.
–
Está tudo muito bem e tal, Demi, mas como você conhece o chef Renard? –
perguntou Quinn. – Não parece justo se você tiver vantagens.
– Eu
trabalhei sob a supervisão dele em seu restaurante em Paris há quase seis anos.
Tivemos um breve envolvimento, e eu fui embora – disse ela. Era mais fácil
falar sobre o passado se ela simplesmente lidasse com os fatos. Ninguém
precisava saber que Jean-Luc havia partido seu coração quando a dispensou para
iniciar um caso com a nova confeiteira do restaurante. Ou, pelo menos, ela
esperava que não soubessem. Já era complicado o suficiente estar se esforçando
ao máximo na cozinha contra Joe, por quem ela definitivamente sentia alguma
coisa, e saber que seria julgada por Jean-Luc.
–
Bem, isso é interessante. – disse Whit. – Acho que você foi mais surpreendida
do que a gente quando entrou por aquela porta. Eu nem mesmo sabia quem ele era.
– Ele
é um dos melhores chefs do mundo – disse Demi.
–
Imaginei que fossem escolher algum francês. Acho que a próxima prova será
realizada no restaurante de Ramsfeld aqui – disse Liam. – Ele é o único jurado
que tem um restaurante em Nova York. E o cardápio dele é inspirado na cozinha
francesa.
A porta
foi aberta antes que qualquer um pudesse comentar, e Nick estava parado lá.
–
Precisamos falar com você, Demi.
Ela
se levantou e seguiu Nick. Esperava que eles não fosse penalizá-la por aquilo.
Mas como ela poderia saber que Jean-Luc seria convidado para ser jurado? Ela
havia colocado em sua ficha de inscrição que trabalhara em Paris antes de abrir
a própria confeitaria.
–
Estou encrencada? – perguntou ela.
– De
jeito nenhum – informou Nick. – O chef Renard ficou surpreso, e você não teria
como prever. Justo. Os jurados simplesmente querem conversar com você antes do
desafio-relâmpago.
Ela
adentrou na salinha onde Fatima, Hamilton, Pete e Lorenz aguardavam. Eles
gesticularam para que ela se sentasse.
–
Conversamos com Jean-Luc, e ele sente que não vai ser tendencioso em relação a
você de forma alguma. Você acha que poderia cozinhar para ele? – perguntou
Lorenz.
–
Sim. Não sinto que tê-lo como jurado vá me influenciar de um modo ou de outro.
Foi um choque encontrá-lo – reconheceu Demi. – Eu só queria me certificar de
que vocês todos soubessem que trabalhei para ele.
–
Você fez a coisa certa – disse Fatima. – Nós vamos revelar que você trabalhou
para ele em uma narrativa à parte, durante a versão editada do programa. Há
quanto tempo vocês não se veem?
– Há
pouco mais de seis anos – disse ela.
–
Ótimo. Acho que estamos prontos para prosseguir com o concurso – anunciou
Hamilton. – A menos que você tenha outras preocupações, chef Lovato?
– Não
tenho – respondeu Demi.
–
Ótimo – repetiu Hamilton. – Por favor, volte para lá e aguarde com seus
colegas.
Ela
assentiu e fez o que ele lhe pediu. O corredor estava vazio, e Demi fez uma
pausa enquanto ainda estava sozinha. Seu desafio havia terminado, mas uma
pequena parte dela se sentia completamente traída outra vez.
Aquilo
a fazia gostar de Joe mais ainda. Demi tinha sorte por tê-lo em sua vida. Ela
cresceu um pouco quando desceu o corredor, determinada a apresentar um prato
que fizesse o chef Renard perceber o quanto ela era boa culinarista, e possivelmente
se arrepender por obrigá-la a sair de sua cozinha há todos aqueles anos.
A
mente dela estava concentrada na comida quando retornou à sala de espera
provisória. Joe aguardava bem à porta e segurou a mão dela, apertando-a
imediatamente. Instantaneamente, Demi abandonou todos os pensamentos do passado
e, em vez disso, se concentrou em seu futuro. Ela não precisava cozinhar para
provar nada para Jean-Luc, precisava cozinhar pela alegria que isto lhe
proporcionava. Cozinhar para a vida nova que estava esperando por ela quando
aquele concurso chegasse ao fim.
*****
Gente, não pude postar ontem, então compensei hoje.. Como eu disse, vocês são espertinhas, e adivinharam que o ex da Demi apareceria de novo, ahsuas..
Falam só mais quatro capítulos pra acabar, e eu já sei qual vai ser a próxima fic, depois dou mais info pra vocês aoisia
O QUE VOCÊS ACHARAM DE UP? GENTE EU TO ESTIRADA NO CHÃO, AMEI AMEI
\O/ \O/
Comentem pra mim postar mais logo, quero que vocês conheçam a nova fic, estou animada, iajsioaj
Vocês tem wpp, twitter, etc? Quero conversar com vocês!
Vocês tem wpp, twitter, etc? Quero conversar com vocês!
Beijos, love u ♥
Essa fic é um amor, não é todo hot quando a outra, mas é apaixonante. Bom, pensei que a Demi iria surtar vendo o Jean, mas dps com a noite com Joseph acho que nem tem como pensar muito sobre outro cara ne? Falar em Joseph, ele precisa revelar o quanto antes, imagina como a Demi irá se sentir..... dicas da nova fic pfvr, eu mereço.
ResponderExcluirLuaaa, com esse Joseph amorzinho, lindo, gostoso e tesudo, como pensar em outro mesmo né? Hahaha, bem, vcs nem imaginam a forma como ela vai saber da verdade ajsba, mas espero que gostem! Sobre a nova fic... Ops, não posso contar jjaja beijinhos e não me mate <3
ExcluirQue vontade de enforcar o Joe, abre logo essa boca cara.... os momentos dos dois juntos é tão lindooooo.... continua.....
ResponderExcluirPois é, vontade matar esse Joe 😒 afuu! São uma fofura né? Já já eu posto, bjs
ExcluirAposto que algum familiar do joe vai ser jurado do programa, e a demi vai descobrir da pior maneira possível. Roendo as unhas de ansiedade.....
ResponderExcluirAjsbajsaj adoro tds as suposições de vcs, mas minha boca é um túmulo kajs ja posto, beijos sz
ExcluirSerá que esse jean luc vai tentar se reaproximar de demi? E o joe vai ficar com ciume?
ResponderExcluirSerá, será, será? A gigi está ansiosa pra vocês saberem, mas não pode contar aijsai e porque eu to me referindo a mim mesma em terceira pessoa? Socorrinho aksjak beijoooos sz
ExcluirEu também achei que a Demi ia se prejudicar com a aparecimento do ex dela, mas pelo jeito ela não ficou graças a Deus. O Joseph tem que contar a verdade para a Demi logo. Eu ainda to em dúvida se ele vai contar a verdade para a Demi ou se ela vai acabar descobrindo de alguma forma, o que vai ser pior ainda. Tenho certeza que ela não vai reagir bem quando souber a verdade sobre ele.
ResponderExcluirPosta logo
Beijo ♥
Ainda bem né, com o Joe ali também é difícil se abalar por outro hahah, ai, adoro vocês curiosas, da vontade soltar tudo kkkkk
ExcluirVamos ver como a Demi lida com isso! Se cuide, ja posto Vi, beijosss <3
VO DA NA SUA CARA CADE O CAP
ResponderExcluirNão da não amore ajsbajs eu juro que tentei postar ontem, mas o blogger tava dando erro, não ia de jeito nenhum, sorry 😔
ExcluirQue legal, como que faz isso? ashjaiosja
Excluirmorta!!! gente posta logo!!!
ResponderExcluire da umas dicas sobre a nova fic pfvr!!!
http://humbu-g.blogspot.com.br/
Vou postar amorrrrr, nunca te vi aqui, então bem vinda ♥ adorei seu blog, por mais que não goste de fic lésbica, uahsua.. Beijos.
Excluir