Capítulo Quatro
JOE
SE certificou para que não seguisse no mesmo carro que Demi quando saíssem do
estúdio e fossem levados para a casa do Premier Chef, em Malibu. Eles ficariam
em uma casa luxuosa com vista para o oceano Pacífico.
A
água era mais azul do que seu amado Golfo do México, mas o perfume do sal no ar
o fazia se lembrar de casa. Havia assistentes de produção na casa quando
chegaram. E todos foram instruídos a respeito de quais dormitórios deveriam
ocupar na casa de oito quartos. A divisão seria de duas pessoas por quarto no
início, e os produtores já haviam designado as duplas. Joe estava em um quarto
com vista para o oceano, juntamente a Quinn Lyon.
–
Cara, você se importa se eu ficar com esta cama? – perguntou Quinn.
Joe
deu de ombros.
–
Tudo bem. De onde você é?
–
Seattle. Sou chef executivo no Poisson… um palpite para adivinhar nossa
especialidade.
Joe
sorriu. Havia uma natureza fácil de lidar em Quinn que fazia Joe se lembrar de
um de seus tios cajun, que era pescador de camarão.
–
Peixe, certo?
–
Diabos, sim. Seu sotaque me diz que você é do sul… onde?
–
Nov’leans – respondeu Joe.
–
Onde você trabalha?
–
Atualmente, estou na entressafra – respondeu. Meio que era verdade desde que
ele tirara licença do Gastrophile.
–
Isso é legal. Eu vi você trabalhando hoje, sua estação é impecável – disse
Quinn.
– Eu
comecei a cozinhar com meu pai, e ele é um tirano na cozinha.
Quinn
riu.
– Meu
velho era um madeireiro, não entendia nada sobre comida.
–
Como você se tornou chef?
–
Larguei a escola no ensino médio – respondeu Quinn. – Comecei como lavador de
pratos e fui subindo. Quando criança nunca pensei que seria chef. Quero dizer,
eram as garotas que cozinhavam no lugar de onde vim, sabe?
–
Não, não sei. As mulheres na minha família sabem cozinhar, mas a cozinha sempre
esteve repleta de homens. Não consigo me lembrar de uma época em que qualquer
pessoa achasse que eu seria outra coisa senão um chef.
– O
que sua família acha do seu desemprego? – perguntou ele.
– Não
gosta muito. Mas entrar nesse programa provavelmente vai ajudar a
tranquilizá-los – disse ele. A verdade era que os pais não sabiam onde ele
estava agora. Mas ele imaginou que a família de Joseph Stephens ficaria feliz
por ele estar cozinhando sob a chance de ganhar um emprego ao final do
programa. – E sua família?
–
Minha esposa é ótima. Meu pai se mudou para o Alasca, então não está tão
envolvido na minha rotina diária – explicou Quinn. – Não sei se devia desfazer
as malas ou não.
– Eu
vou desfazer as minhas – disse Joe. – Minha avó é supersticiosa e sempre disse
que se você acredita que vai ser bem-sucedido, então será, e vice-versa.
– Ah,
isso é confiança, não superstição – retrucou Quinn, abrindo sua mala e
começando a desfazê-la. – Mas acho que você está certo. Melhor agir como se eu
fosse ficar aqui por um longo período.
–
Definitivamente – concluiu Joe.
Quinn
tinha uma foto da esposa e uma dele com o pai segurando o maior peixe que Joe
já vira. Quinn ficou mantendo uma conversa tranquila enquanto se movimentava
pelo quarto, e Joe soube que o outro tinha 38 anos e estava contemplando uma
oferta para se tornar chef proprietário do Poisson. Algo que Joe não tinha
certeza se gostaria de fazer.
Joe
não deu nenhum conselho ao colega de quarto. Ele havia aprendido que decisões
tão significativas precisavam ser tomadas intuitivamente. Do contrário, haveria
dúvida e ressentimento depois.
O
celular de Quinn tocou, e ele sorriu.
– É
minha esposa.
– Vou
te deixar a sós com ela – ofereceu Joe.
Todos
os quartos ficavam no segundo andar da casa, que se localizava em um penhasco
com vista para o oceano Pacífico. Joe desceu para o primeiro piso e viu todos
aqueles participantes fumando na varanda. Mas não viu a Garota do Cupcake. Não
estava procurando por ela, pensou, mas parte dele sabia que estava procurando
sim.
Ela
havia se saído bem na cozinha hoje, e ele estava muito feliz pelo fato de a
liderança dela ter rendido uma vitória, mas só poderia haver um vencedor no
Premier Chef – Os Profissionais, e ele tinha que ser aquele vencedor.
Na
cabeça dele, o futuro dependia disso. Ele invejava Quinn e sua facilidade de se
relacionar com o pai. O velho Lyon não o pressionara e intimidara para Quinn
aprender a cozinhar. Nos seus 20 e poucos anos, Joe teria ficado mais feliz em
poder decidir sozinho e encontrar seu caminho. Em vez disso, o caminho fora
escolhido por ele. Por isso, ele tinha dúvidas agora.
Joe
seguiu em direção à cozinha para pegar uma garrafa de água. Quinn seria um
adversário difícil em qualquer desafio com frutos do mar, mas Joe tinha
crescido no Golfo, então não estava muito preocupado, mas queria ter uma ideia
de quem mais eram seus oponentes.
–
Você fuma? – Um homem muito tatuado com sotaque de Nova Jersey perguntou quando
Joe chegou ao pé da escadaria.
Não –
respondeu ele.
–
Ótimo. Até agora todo mundo que veio aqui para baixo é fumante. Sou Tony. Tony
Montea – apresentou-se ele, estendendo a mão.
– Joseph
Stephens – respondeu, apertando a mão do outro. – Imagino que você seja de Nova
York ou Nova Jersey.
–
Jersey… Nascido e criado. Mas trabalho em Manhattan. Você poderia achar que
minha especialidade é comida italiana, mas minha avó é francesa.
– A
minha também… bem… francesa-creole – admitiu Joe.
–
Legal. Ela cozinhava?
– Sim
– respondeu. – E a sua?
–
Sim. Foi ela que me ensinou a cozinhar. Mas quando se cozinha em casa não dá
para ir muito mais longe – disse Tony.
–
Verdade. Você tem treinamento formal?
– CIA
– respondeu ele com um sorriso. – Provavelmente este é o único lugar onde não
preciso explicar que é o Culinary Institute of America e não a Central
Intelligence Agency. Para ser sincero, há um pessoal na minha vizinhança que
acha que sou do governo.
Joe
riu.
–
Onde você trabalha?
– No
Dans La Jardin – respondeu, dando o nome de um dos restaurantes franceses mais
populares da cidade.
–
Chef principal?
–
Não, júnior, mas espero aprender algumas coisas aqui que me deem um impulso
quando eu chegar em casa.
– Não
está aqui para vencer? – perguntou Joe.
–
Claro que quero vencer, mas já ouvi falar de alguns desses outros chefs aqui –
disse Tony. – Eles podem ser difíceis de superar.
–
Devem ser – concordou Joe, considerando Tony um cara legal, mas um competidor
não muito forte. Alguém que estava mais preocupado com o que iria acontecer
quando chegasse em casa em oposição ao que precisava acontecer ali não iria
vencer. E Joe definitivamente estava ali para vencer.
–
Você não está preocupado? – perguntou Tony.
–
Não, mas já convivi com chefs-celebridades antes – disse Joe.
– Eu
também – disse uma garota alta e magra com pele cor de cappuccino, se juntando
a eles. – Sou Vivian Johns.
–
Tony Matea – disse Tony. – Este é Joseph Stephens. Com quem você trabalhou?
– Com
Troy Hudson – disse Vivian, lançando um sorriso a ambos. – Trabalho no The Rib
Mart, em Austin. Ele veio para cá para uma de suas exibições culinárias.
– E
como é? – perguntou Joe.
–
Interessante. Ele é um cozinheiro consistente, mas muito de seu talento se
perde durante a filmagem do programa. Ele tinha uma equipe consigo durante o
desafio – disse Vivian.
–
Você venceu? – quis saber Tony.
–
Claro que sim – respondeu ela. – É difícil superar as costelas de Austin
estando em Austin, mas meu prato era bom. Realmente bom. É interessante como as
pessoas agem quando estão perto dos chefs-celebridade. Com quem você trabalhou,
Joe?
– Com
Paul Jonas – disse ele. O avô era uma dos chefs mais famosos a sair de Nova
Orleans.
–
Sim, já ouvi falar dele. É um cara durão na cozinha.
–
Sim, é. Ele não tolera erros – disse Joe. – No entanto, compartilhar a cozinha
com ele fez eu perceber que até os maiores chefs erram algumas vezes. É por
isso que não ligo para a reputação de ninguém.
– E
nem precisa – disse Tony.
– O
que você quer dizer com isso? – quis saber Joe, se perguntando se, de algum
modo, ele havia revelado seu nome e linhagem verdadeiros.
–
Você venceu hoje. Acho que isso significa que a maioria dos participantes vai
estar mirando em você.
– Não
só em mim – disse ele. – A Garota do Cupcake também foi bastante
impressionante.
– Não
acho que ela vá encarar bem ser chamada desse jeito – disse Vivian com um
sorriso.
Joe
também achava que não, mas faria o que fosse necessário para evitar a química
entre eles. E para preservar algum tipo de vantagem sobre ela. O apelido a
incomodava, então ele continuaria a usá-lo.
–
Precisamos de todos reunidos na sala de estar – anunciou o diretor.
Todos
foram para a sala espaçosa que tinha uma televisão enorme na parede e três
sofás longos, além de um número variado de poltronas posicionadas casualmente
em pequenos grupos. Joe viu a Garota do Cupcake do outro lado da sala e se
obrigou a desviar o olhar dela.
– Os
vencedores do desafio de hoje vão sair para jantar esta noite no Martine’s,
onde farão uma visita particular à cozinha e conversarão com o chef e o subchef
deles. O restante de vocês vai participar de uma oficina de grelhados.
Joe
balançou a cabeça. A última coisa que queria era mais tempo a sós com Demi. Se
ele fosse tão supersticioso quanto sua avó, acreditaria que o destino estava
unindo os dois.
Mas
não estava. Mesmo.
JANTAR
A sós com Joe e com o chef Ramone não era o que Demi previra quando começara o
dia derramando chá naquele bonitão no elevador. Entretanto, ela estava bem
feliz por isto agora. Colocou um belo vestido que havia trazido na mala.
As
instruções do Premier Chef foram bem explícitas. Ela precisava trazer seu dólmã,
mas também calças jeans, um vestido, uma saia, um traje de banho e uma
infinidade de outros itens. Ainda assim, lhe pareceu engraçado o pedido sobre
peças de roupa específicas.
Ela
sabia que era um programa de TV e que eles queriam que todos apresentassem
determinada imagem, mas não pensou muito mais sobre seu vestuário. Agora que
estava a caminho de um dos melhores restaurantes de Los Angeles, ela estava
feliz por ter feito compras com Selena no fim de semana anterior.
Demi
gostava de passar tempo com sua sócia na Sweet Dreams, principalmente porque Selena
andava bem atribulada, ocupada com seu casamento iminente e ativamente
determinada a expandir o negócio dos cupcakes. Demi havia resolvido tirar uma
folga da correria diária na confeitaria para se preparar para o programa. Porém
era a primeira admitir que agora seus
sonhos
seguiam uma direção diferente.
A
confeitaria salvara sua sanidade quando ela retornara à Califórnia, mas isso
tinha sido há cinco anos e, considerando que estava com quase 30, Demi sentia
que era hora de descobrir o que ela queria da vida. E não conseguiria até
consertar seus erros do passado. Até analisar suas dúvidas remanescentes sobre
suas habilidades como chef. Este programa era sua chance para fazer tudo isso.
Ela
verificou a maquiagem mais uma vez, embora soubesse que uma pessoa da produção
iria reaplicá-la e deixá-la pesada para se adequar às câmeras.
–
Você está bonita – disse Vivian, sua colega de quarto.
–
Obrigada. Eu não tinha certeza se usaria este vestido na TV. Acha que está
muito decotado? – perguntou ela. Ela o havia experimentado na loja, mas estava
usando um sutiã esportivo na hora, então não notou o quanto o decote revelava.
– De
jeito nenhum. O sensual vende, baby. E também distrai. Se Joe ficar olhando
para seu peito, você vai ter uma vantagem sobre ele.
Ela
suspirou por dentro. Era um concurso, afinal. Queria Joe distraído e fora do
jogo. Mas ao mesmo tempo, usar seu corpo para vencer, bem… por que não? Joe não
tinha hesitado em utilizar seu sotaque sulista sensual para distraí-la.
Ela
pegou a bolsa e se certificou de que seu diário de receitas estava lá. O
bloquinho já havia visto dias melhores e estava abarrotado de fotos e páginas
que ela acrescentara. Demi nunca ia a lugar algum sem seu caderninho. Ela
gostava de fazer anotações sobre as refeições que comia e achava que comer fora
era sempre inspirador para seu paladar.
–
Acabe com eles – disse Vivian.
–
Espero que sim – respondeu Demi quando saiu do quarto. Ela estava acostumada a
morar sozinha, a cozinhar sozinha e a passar a maior parte do tempo sozinha,
então morar com outros participantes seria tenso.
Joe
estava esperando no vestíbulo com Nick, o diretor e um dos produtores. Ela
quase tropeçou na escada ao olhar para Joe. O cabelo negro espesso estava
penteado para trás. Ele usava uma camisa social branca casualmente aberta no
pescoço e um paletó azul-marinho com calça cinza. Ele olhou para o relógio e
então para as escadas, ficando boquiaberto quando a viu.
Ela
se deu um “toca aqui” mental e se obrigou a sorrir para ele de um jeito
que
esperava parecer casual. Para ser honesta, Joe estava escorrendo sensualidade
em seu traje para o jantar, então Demi não tinha muita certeza de qual
impressão estava passando.
–
Agora que vocês dois estão aqui, vamos para o restaurante. Não vamos filmar até
chegar lá, assim vocês podem relaxar.
–
Obrigado – disse Joe. – Nós mesmos vamos dirigir?
–
Não. Temos um assistente de produção que vai levar e buscar vocês. No decorrer
do programa, você sempre estarão sob nossa responsabilidade. O chef Ramone não
gosta de telefones celulares e pediu que os aparelhos fossem deixados conosco.
–
Tudo bem – disse Demi, abrindo a bolsa para pegar o celular, o qual entregou
para Nick.
– O
que é este caderninho em sua bolsa? – perguntou o produtor.
– É
só meu diário de receitas. Eu gosto de anotar os pratos que como.
–
Acho que não vai ter problema. No entanto, vamos verificar com o chef antes de
vocês chegarem lá e, se não puder, você vai ter que entregá-lo a um dos membros
de nossa equipe na locação.
Ela
não gostava da ideia de deixar outra pessoa ficar com seu caderno, mas não iria
discutir sobre isso agora. Nick os incitou a sair e os levou a um sedã.
–
Quantos carros vocês têm? – perguntou Joe.
– O
suficiente. A montadora está patrocinando um de nossos futuros desafios e dando
este carro como prêmio.
–
Legal. Espero que eu vença – disse Demi. – Tenho andado de ônibus por tempo
demais.
Joe
gargalhou.
– Ah,
sem o ônibus eu nunca teria tido uma ótima primeira impressão de você.
Ela
balançou a cabeça, lembrando-se de como pousara nos braços dele.
– Eu
poderia ter passado sem essa.
Logo
ambos estavam no banco de trás e sendo levados pela cidade em direção ao famoso
restaurante. Em vez de pensar na noite ou até mesmo no concurso, os pensamentos
de Demi não conseguiram ir além do homem sentado ao lado dela.
Ela
queria ter deixado uma primeira impressão mais agradável nele, mas sabia
que
suas habilidades na cozinha compensavam seu tropeço. E, sendo realmente
honesta, ela não teria trocado o primeiro encontro deles por nada neste mundo.
–
Nervosa? – perguntou ele.
– Um
pouco. Mas não muito – disse ela. – Você?
–
Não. Estou curioso para ver as técnicas dele. Não cozinhei muito fora do sul.
– Eu
fui treinada em Paris – disse ela.
–
Mesmo? Confeitaria? – perguntou ele.
–
Sim, e todo o restante – admitiu ela.
–
Então por que você é coproprietária de uma loja de cupcakes? Você deveria estar
trabalhando nas melhores cozinhas do mundo.
– É
uma longa história – disse ela.
–
Bem, temos um longo trajeto de carro – respondeu ele.
O
CALOR dentro do carro fazia o ambiente parecer um casulo íntimo, e teria sido
fácil para Demi se esquecer de que Joe era seu concorrente. No entanto, aquela
situação logo foi substituída pelas noções dela sobre a vida. Joe podia ser um
chef fora do mercado de trabalho, mas estava claramente acostumado ao luxo. Ele
estava relaxado ao lado dela em suas roupas caras.
Qual
era o histórico dele? Será que ela queria mesmo saber? Muitas pessoas diziam
que era melhor conhecer seu inimigo, mas dada a personalidade falha dela no que
dizia respeito aos homens, Demi achava que um pouco de mistério provavelmente
era bom.
–
Você estava me contando como uma chef do Cordon Bleu terminou dona de uma loja
de cupcakes – disse ele com aquele sotaque sensual.
Seria
fácil considerá-lo inocente, não fosse por aquele olhar astuto dele. Ela não
precisava tentar adivinhar para saber que Joe era um dos adeptos da teoria
conheça seu inimigo.
–
Estava? – perguntou ela, se virando em direção a ele. O tecido do vestido
deslizou perna acima, e ela esperou para ver se ele tinha notado.
Tinha.
Mas Joe arqueou uma sobrancelha para ela para informá-la de que sabia que Demi
o havia feito de propósito. Ela deu de ombros, e ele sorriu.
–
Está claro que nenhum de nós dois vai se esquecer de que isso é um concurso –
disse ele.
–
Estou aqui para vencer – reiterou ela. – E tenho que presumir que você também
esteja.
– De
fato. Por que outro motivo eu cruzaria o país trazendo apenas minhas facas e
meus conhecimentos culinários?
–
Onde você estudou? – perguntou ela, virando a mesa contra ele.
– No
CIA. Mas vamos ficar sabendo disso ao longo do concurso. Eu quero saber mais
sobre você. As coisas que você não vai revelar diante das câmeras –
provocou
ele enquanto se remexia para esticar o braço ao longo das costas do banco. Os
dedos ficaram a apenas centímetros do ombro dela, Demi sentia o calor do corpo
dele contra sua pele.
– Mas
estes são fatos que não entrego por nada. O que você vai me oferecer em troca,
quais são seus segredos, Garoto Sulista?
Ela
percebeu que a atração era recíproca e que Joe não tinha medo de virar a mesa e
acuá-la. Demi pigarreou.
–
Mostre-me o seu que mostro o meu – disse ele.
–
Isso não parece justo, a não ser que eu saiba o quê exatamente você está oferecendo
– disse ela.
–
Tudo bem. Conte-me como foi que você começou a cozinhar. Onde sua jornada
culinária começou? – perguntou ele, roçando o dedo no rosto dela.
Ela
virou o rosto para se desvencilhar do toque dele.
– E
você vai fazer o mesmo?
–
Oui, chère – disse ele.
Ela
roçou um dedo no queixo com barba por fazer apenas para tentar desequilibrá-lo,
e também porque estava ansiando para sentir como era. Joe parecia simplesmente
esticar a mão e tocá-la sempre que tinha vontade.
–
Ótimo. Cresci aqui no sul da Califórnia. Sou filha única e sempre ficava na
cozinha com minha avó, que praticamente me criou – contou ela. – Sua vez.
–
Cresci em Louisiana. Embora eu more e trabalhe em Nova Orleans agora, passei
muito tempo no pântano quando garoto, com o pessoal da minha avó. Aprendi a
pescar camarão e a preparar o que encontrávamos todos os dias. Não percebi que
grande dádiva isto seria quando eu fosse chef.
–
Aposto que sim. Minha avó costumava comprar o que quer que estivesse à venda no
armazém quando íamos lá. Ela nunca tinha um cardápio, e quando chegávamos em
casa ela combinava os ingredientes de diferentes maneiras.
–
Parece que crescemos de um jeito bem parecido – disse ele.
–
Talvez. Você parece muito à vontade cercado pelo luxo – falou ela.
–
Pareço?
–
Sim. Provavelmente este é o melhor carro no qual já entrei, a não ser que você
conte a limusine que peguei para ir ao baile de formatura da escola. Não acho
que esse seja seu caso.
Ele
riu.
– Com
quem você foi à formatura?
– Com
um garoto que pensava que me amava – respondeu ela.
– Por
que ele pensava que te amava? – questionou Joe.
Ela
não iria começar a falar sobre seu passado pedregoso e sobre os supostos
amores.
– Não
evite a pergunta.
–
Qual foi a pergunta?
Ela
franziu a testa para ele.
–
Você é difícil e reservado. O que exatamente está escondendo, Joseph Stephens?
–
Acredito que algumas coisas não deveriam ser reveladas. Mas você está certa. Eu
cresci em um lar financeiramente confortável. No entanto, isto não é tão
interessante quanto o rapaz que pensava amar você. Você não o amava?
– Não
estou falando disso – protestou ela. Demi não havia se permitido se importar
com ninguém quando era mais jovem porque tinha grandes sonhos de ir embora da
Califórnia e morar em Paris. Ela iria ser a próxima Julia Child.
– E
emocionalmente? Sua casa era tão confortável nesse sentido quanto era
financeiramente? – perguntou ela. Já havia encontrado mais de uma pessoa que
costumava se esconder detrás da evasão e tinha crescido em um lar complicado.
Ter
dinheiro nem sempre significava passar por uma educação tranquila.
– Era
bom. Minha família é toda formada por cajuns e franceses, então há muita paixão
e temperamentos explosivos, mas eu sempre soube que era amado. – A voz dele
revelava a verdade daquelas palavras. E ela imaginava como ele havia sido na
cozinha. Havia algo muito contido sobre Joe. Ela duvidava que ele fosse do tipo
de homem que deixava a paixão por uma mulher interferir em seu desejo de
vencer.
Demi
precisava se lembrar disso.
–
Mimado? – perguntou ela.
– Um
pouco. Mas não posso culpar meus pais por isto. Eu gosto das coisas do meu
jeito – explicou ele.
– Do
mesmo jeito que você fez no concurso desta tarde. Fazendo o que você achava ser
o melhor em vez de seguir o que eu disse para fazer.
Ele
deu de ombros outra vez.
–
Preciso dar tudo de mim na cozinha. Mesmo que isso signifique enfurecer outro
chef.
– É
por isso que você está desempregado agora? Tem dificuldade para receber ordens?
– perguntou ela.
Joe
esfregou o nariz e tirou o braço do encosto do banco, colocando-o no colo. Demi
suspeitou ter feito uma pergunta que se aproximava demais do que quer que ele
estivesse escondendo. De qualquer que fosse o ponto vulnerável do emocional
dele. Interessante.
–
Talvez – disse ele. – Principalmente porque tenho sido elogiado pelos meus
dotes culinários, mas só por aqueles que me conhecem por toda minha vida. Quero
saber se sou realmente bom.
– Por
quê? Aconteceu alguma coisa para abalar sua confiança? – perguntou ela.
–
Aconteceu alguma coisa com você? – questionou ele, focando o olhar azul intenso
no dela. – Aposto que sim. Ninguém sai de Paris para uma loja de cupcakes sem
que haja um grande evento para obrigar a tal mudança.
–
Verdade. Acho que nós dois temos nossos segredos – respondeu ela. – Mas
deixe-me dizer uma coisa, eu nunca duvidei da minha habilidade de servir um bom
prato. Quando termino de prepará-lo, sei que a pessoa que provar minha comida
vai ficar extasiada.
–
Sabe?
–
Sim. Acho que você deve ser como eu – falou ela. – Do contrário, por que viria
para cá?
–
Realmente.
Ela
se recostou contra o banco de couro e olhou pela janela outra vez. Desta vez,
as respostas que buscava nada tinham a ver consigo, mas com ele.
–
Você quer elogios externos.
– E
você não? – perguntou ele.
–
Acho que sim. Eu realmente quero uma chance de retornar ao ponto onde já estive
uma vez – respondeu, sendo totalmente sincera.
Por
mais que o sucesso de Demi com a Sweet Dreams a validasse como chef e
empresária, ela queria saber se tinha talento para ser páreo aos melhores chefs
do
mundo.
Anos atrás, disputara o cargo na cozinha de um famoso chef parisiense, e então
jogara tudo para o alto por amor. Não, isso não estava certo. Não havia amor
entre eles, mas sim paixão e perigo, pensou ela. Foi muito perigoso para ela se
render às suas paixões.
Sim.
Era isso que estava faltando na vida dela. Era isso que Demi tinha medo de não
encontrar nunca mais. A paixão por viver e por cozinhar. Só quando abraçou
ambas é que realmente se equilibrou. No entanto, aquela também era a coisa que
mais a apavorava.
–
Você parece ter acabado de resolver todos os problemas do mundo – comentou Joe.
–
Não, só os problemas de uma mulher. É engraçado como você encontra respostas
quando não sabia nem que havia uma pergunta – falou ela.
– O
que você descobriu, ma chère? – indagou ele, levando o braço ao encosto do
banco outra vez e tocando a lateral do rosto dela.
De
jeito nenhum ela iria compartilhar a verdade com ele, mas Demi sabia que se
iria recuperar sua paixão na cozinha, teria que recuperar sua paixão na vida
também. Precisava descobrir um jeito de equilibrar as paixões pessoais com as
profissionais, e um lado dela sentia que talvez pudesse fazê-lo com Joe. Mas
outro lado advertia que, na última vez em que tentara fazê-lo, saíra queimada.
Será que ela seria capaz de sobreviver a mais uma dança da paixão com um chef?
JOE
TINHA vindo para cozinhar, mas descobriu que na maior parte do tempo, até
então, seus pensamentos estavam tomados pela mulher sexy sentada a seu lado. O
perfume dela era indescritível, porém tentador, e ele achava o aroma
perturbador enquanto ambos trabalhavam ao lado de chef Ramone na cozinha. Joe
balançou a cabeça, obrigando a atenção a retornar à tábua de corte diante de
si. O chef executivo se afastou para cuidar de uma emergência do outro lado da
cozinha, e Demi se aproximou de Joe.
– Ele
é tão retraído que quase não consigo acreditar que seja capaz de preparar estes
pratos espetaculares.
– Sei
o que você quer dizer. Eu nunca conheci um chef que nunca berra –
comentou
Joe. – Certamente nunca trabalhei com um que não berrasse.
– Nem
eu. Até mesmo Selena e eu berramos uma com a outra na confeitaria.
– Ela
é sua sócia? – perguntou ele.
–
Sim. Ela é divertida. Normalmente ficamos compartilhando histórias uma com a
outra da noite anterior, ou eu fico dando ordens para ela – disse Demi.
–
Você faz muito isso? – questionou ele. Joe havia terminado de cortar em cubos
os legumes designados pelo chef. Demi ainda tinha metade da pilha para
finalizar. Ele esticou a mão e pegou as cenouras dela.
Ela
sorriu em agradecimento.
–
Sim, eu dou muitas ordens a ela. Mas não só a ela, a qualquer um que precise de
meus conselhos.
– Eu
preciso?
– Não
sei. Um lado de mim diz que sim, mas não conheço você bem o suficiente. Você é
habilidoso com esta faca.
–
Habilidades com facas são umas das melhores armas em um arsenal de um chef –
disse Joe.
–
Sim, são, Joe – disse o chef Ramone, voltando-se para eles. – Você se saiu bem
na tarefa que lhe passei. Está pronto para montar seu prato?
Joe
estava achando tão agradável trabalhar na cozinha com Demi e chef Ramone quanto
em sua cozinha em casa. Era notável ele considerar que aquele ambiente era sua
casa, embora estivesse a milhares de quilômetros de Nova Orleans.
E Joe
não tinha certeza se era capaz de encontrar seu rumo. Demi bagunçava a
concentração dele, e aquilo o intrigava. Ele já havia tido casos amorosos. Era
ardente demais e sua pulsão sexual era muito intensa para não tê-los. Mas ele
nunca se permitira ter um caso com outra chef. Para ele, a vida parecia melhor
quando se mantinha a parte profissional e pessoal separadas.
Agora
já não tinha mais tanta certeza. Ele observou Demi mergulhar a colher no molho
que ela estava preparando, mirou em seus lábios fartos e viu os olhos dela
brilharem. Ele reprimiu um gemido. Em sua cabeça, ele se aproximava dela e
provava o molho, não da colher, mas dos lábios dela.
–
Quer provar? – perguntou ela.
Ele
retornou ao presente e assentiu. Desejava muito mais do que uma
provinha,
mas aquele seria um bom começo. Ela estendeu a colher para ele, mas em vez de
pegá-la da mão dela, Joe envolveu o pulso de Demi com seus dedos e a puxou para
si.
Ele
ergueu a mão de ambos e então se inclinou para passar a língua no molho,
mantendo contato visual com Demi o tempo todo. Ela entreabriu os lábios, e a
língua ficou exposta outra vez, exatamente como já havia ocorrido.
As
pupilas dela dilataram, e um leve rubor lhe tomou o rosto.
–
Delicioso… – disse ele, deixando a mão cair e retornando à sua estação.
–
Obrigada – agradeceu ela, a voz esganiçada, até mesmo rouca, e ele percebeu que
havia vencido uma rodada no jogo da conquista.
Foi
aí que Joe soube que não iria embora da Califórnia sem levar Demetria Lovato
para sua cama. Ele achava que ela o distraía da culinária, mas estava começando
a perceber que, se não a possuísse, aquilo seria muito mais do que uma
distração.
Ela
era a tentação encarnada, e ele era da Louisiana. Fora criado para se render às
paixões na cozinha e fora dela, e embora aquela fosse ser a primeira vez que Joe
combinaria as duas, achou a expectativa maravilhosa.
– Joe?
– chamou Demi.
Ele
olhou para ela e flagrou a confusão em seus olhos. E, por um segundo, se
perguntou se havia interpretado mal as atitudes dela, mas aí ela lambeu os
lábios outra vez, e ele sorriu. Sabia que não tinha errado.
Demi
parecia estar lidando com alguns problemas naquele concurso, assim como o
restante dos participantes. E embora naquela noite fossem apenas os dois, ele
sabia que qualquer informação que colhesse a respeito dela seria útil durante
as semanas que estavam por vir.
Ele
reduziu o espaço entre eles. Colocou a mão nos ombros dela e se abaixou quando
se aproximou. Roçou os lábios sobre os dela e sentiu o gosto da doçura
amanteigada do molho, mas também o sabor indescritível de Demi. Era único,
misterioso e tão viciante que ele não queria parar de beijá-la.
No
entanto, sabia que precisava parar. Deu um passo para trás e a viu observando-o
com uma expressão insondável. Joe a chocara. Diabos, e também surpreendera a si
mesmo, porque pensava que o jovem impulsivo que ele tinha sido havia ido embora
para sempre. Mas Joe estava feliz por ele estar
de
volta.
Ele
achava que precisava ser um pouco impulsivo se pretendia buscar o rumo certo
para se encontrar e para o Gastrophile.
Teve
uma ideia em relação ao tempero a ser acrescido ao prato e se afastou de Demi,
retornando à estação de trabalho. Cozinhando com entusiasmo renovado, assim que
Joe terminou e ambos apresentaram seus pratos ao chef, ele soube que havia
criado algo diferente.
Algo
único e que ele não teria sido capaz de inventar se não tivesse beijado Demi.
Era como se ela fosse uma musa inspiradora.
Ela
estava calada e roubava olhares de soslaio dele, mas ele não a encarou.
Aguardou o veredito sobre os pratos, nada surpreso quando foi declarado
vencedor.
Sentiu
um bálsamo de satisfação e percebeu que devia um enorme agradecimento a Demi,
mas, mais do que isso, ele queria continuar cozinhando com ela ao seu lado.
Hoje, mais cedo, ele se sentira ofendido por ter que ouvir outra pessoa dando
ordens na cozinha, mas esta noite ele reconhecia que só poderia chegar ao nível
seguinte com um impulso externo.
Chef
Ramone se afastou outra vez, e Demi colocou as mãos na cintura quando se virou
para Joe.
– O
que foi aquilo?
– O
quê?
–
Beijar-me daquele jeito. Pensei que ambos fôssemos profissionais – protestou
ela.
– Nós
somos – admitiu ele. – Aquele beijo não teve nada a ver com nossa culinária e
tudo a ver com o fogo entre a gente. Pensei que seria perturbador… – E não foi?
– questionou ela. – Para mim, foi.
– Não
– retrucou ele. – Não foi perturbador. Foi inspirador. Ele se inclinou e a
beijou outra vez.
–
Obrigado.
Demi
semicerrou os olhos, e ele sentiu o desprazer dela.
– Não
há de quê, acho. Não quero que você faça isso outra vez.
– Não
vou prometer – disse ele.
DEMI
MANTEVE distância de Joe durante a volta de carro para casa. Ela havia pensado
que flertar com ele lhe daria uma vantagem e se surpreendera com a facilidade
com que ele havia invertido a tática contra ela. Mas quando o observou se
movimentar tranquilamente pela sala da casa e conversar com os outros
competidores, soube que havia mais além daquilo.
Havia
algo em Joe que mexia profundamente com ela. Demi precisava andar com cuidado.
Enquanto o beijo estimulara e inspirara Joe a fazer um prato criativo e único,
só servira para derrubá-la, fazendo-a apresentar algo medíocre. Ela teve sorte
por não haver julgamento naquela noite. Teve sorte por ter sido meramente uma
experiência para aprendizado. E também não iria esquecê-la.
–
Como foi? – perguntou Vivian, aproximando-se dela e lhe entregando um taça de
vinho.
Demi
deu um gole no vinho branco seco enquanto pensava no que dizer para Viv. Eram
colegas de quarto, então o impulso de compartilhar o que havia acontecido era
forte, mas ela também sabia, pela experiência de assistir a reality shows como
aquele, que relacionamentos íntimos normalmente eram um tiro pela culatra. Até
mesmo amizades.
– Foi
fantástico – respondeu. Também sabia que nunca iria emitir uma opinião negativa
sobre coisa alguma.
– Eu
sabia. Vou vencer o próximo desafio – disse Vivian.
–
Vai?
–
Claro que sim. Eu não me importaria em ser levada para um jantar particular com
o gato do Joe.
– Ele
pode não ser o vice-campeão da prova – avisou Demi.
– Por
quê? Ele demonstrou alguma fraqueza esta noite? – perguntou Vivian.
Não,
ela pensou. Ela mesma demonstrara alguma fraqueza e sabia que precisava
descobrir como transformar aquilo em resistência. Era capaz de fazê-lo. Só
precisava se lembrar… do quê? Não fazia ideia de como lidar com Joe e tinha
consciência disso.
Soubera
no instante em que caíra nos braços dele no elevador. Ele mexeu com ela, e Demi
tinha pensado que, ao ser ousada como sempre, iria assumir a posição de
controle. No entanto, Joe virou aquilo contra ela. Como ele sabia que
funcionaria? Mas Demi achava que talvez Joe não estivesse tão seguro
assim
e tivesse apenas arriscado… Espere um segundo, pensou ela. Ele não tinha
percebido que havia mexido com ela. Estava absorto demais nos próprios
problemas.
Demi
precisava se lembrar de como a avó a advertira diversas vezes quando ela estava
crescendo. Nem tudo gira em torno de você.
–
Então?
–
Desculpe, Viv. Ele é um ótimo chef e vai ser necessário muita habilidade para
superá-lo – disse ela. – Ele pegou o prato do chef e deixou com um sabor ainda
melhor. Você sabe que isso diz muita coisa.
–
Droga. Bem, te digo que Dave não tem nenhuma habilidade com corte de carnes.
Ele fez uma bagunça com o peixe esta noite. Não conseguia tirar um filé de um
salmão. Tipo, isso é ensinado no primeiro ano de curso, certo? – perguntou
Vivian.
–
Sim, é. Mas ele fez aquele molho que Lorenz gostou. Temos de tomar cuidado com
os sabores que ele cria.
–
Verdade. Estou pronta para os desafios individuais, mas os de equipe me
preocupam – admitiu ela.
– A
mim também – disse Demi. – Odeio ter que depender de qualquer pessoa além de
mim.
Elas
conversaram mais um pouco a respeito do concurso até todo mundo, um a um, ir
seguindo para a cama. Vivian colocou os fones de ouvido do mp3 player e apagou
a luz individual. Virou-se para dormir pouco depois da meia-noite, mas Demi
ainda estava bem acordada.
As
perguntas percorriam sua mente, e imagens dos pratos que ela havia comido
naquela noite passavam em lampejos na cabeça. Ela pegou o diário de receitas e
saiu da cama. Vestindo um suéter, caminhou pela casa até a varanda com vista
para o mar. A lua estava cheia, oferecendo alguma luz à noite, e ela se sentou
em uma das espreguiçadeiras, deixando que o som calmante do oceano abrandasse
sua confusão.
Abriu
o caderninho e começou a anotar o que havia comido e cozinhado naquela noite.
Não estava muito surpresa por ver Joe sendo destacado em suas anotações. Ela se
concentrava nele, detectando a parte que fazia sentido e as muitas coisas que
não faziam. O molho dela tinha sido um fracasso. O beijo…
não,
foi isto que a tirou do jogo. Até então, ela estava ótima.
Ela o
provocara, e o tiro saiu pela culatra. Mas só porque não estava preparada para
a ousadia dele, tão grande quanto a dela. E aquele seria um erro que ela não
voltaria a cometer.
–
Posso me juntar a você?
Ela
olhou ao redor e viu Joe parado à porta. Ele vestia jeans desbotado e uma blusa
preta de mangas longas que lhe moldava o torso. Tinha uma caneca nas mãos e
estava descalço.
Demi
assentiu e gesticulou para a cadeira ao seu lado.
Ele
sentou-se, recostando-se na espreguiçadeira e ficando calado durante um longo
minuto ou dois. Deu um gole na bebida quente, e Demi achou que ele estivesse
brincando com ela, mas quando olhou para ele, notou que não estava.
Nem
tudo gira em torno de você, ela lembrou a si outra vez.
– Por
que não consegue dormir? – perguntou ela.
–
Quinn ronca – respondeu ele. – Mas estou muito agitado depois de cozinhar esta
noite. Se eu estivesse em casa, estaria tentando fazer todos os pratos
diferentes que estão na minha cabeça.
– A
mesma coisa aqui. Foi inspirador ver o que chef Ramone fez. Quero dizer, ele
tem raízes bem humildes.
–
Sim, tem. Meu avô diz que toda boa cozinha vem do coração – disse Joe.
– Foi
isso que inspirou você esta noite? Eu nunca havia provado aquela combinação de
temperos.
Ele
deu de ombros e bebericou mais um pouco da caneca.
–
Acho que fui inspirado por algo um pouco mais abaixo do meu coração.
Aquilo
a sobressaltou, e Demi olhou para o espaço entre eles, tentando descobrir se Joe
estava falando a verdade ou não. E viu nos olhos dele que estava. Ele a
desejava.
Demi
largou o caderno, levantou-se e trocou de cadeira para sentar de frente para Joe.
–
Está tentando me dizer que sua virilha inspirou o prato? – perguntou ela,
firmando as mãos nas costas da cadeira dele, uma de cada lado do rosto de Joe.
–
Sim, estou. Havia alguma coisa ardente naquele beijo que roubei de você –
respondeu ele. – Meu prato foi uma imitação pálida dela. – Ele se inclinou,
enveredando os dedos no cabelo dela e puxando a cabeça de Demi até ele, e desta
vez, quando os lábios de ambos se encontraram, ela abriu a boca por sobre a de Joe,
passando a língua pela fenda dos lábios antes de investir a língua de maneira
provocativa na boca dele.
Joe
gemeu, virando a cabeça para a direita para aprofundar o beijo. As mãos dele
deslizaram sobre os ombros dela até a cintura, e ele a puxou para mais perto. Demi
montou sobre o colo dele, tentando provar mais. Deus, ele era viciante.
E
vícios raramente eram uma coisa boa, Demi tentava lembrar a si, mas, naquele
instante, a lógica não estava mais no controle, e ela desejava mais da paixão
que Joe inspirava.
Capítulo Cinco
TER UMA mulher sensual em seu colo não era bem o que Joe tinha previsto para esta noite, mas, para ser honesto, não havia nada que ele desejasse mais. Estava no auge da euforia por causa do prato que havia criado. Sentia como se tudo dentro dele estivesse seguindo em direção àquele interlúdio. Não tinha todas as respostas que estava buscando, mas felizmente, em parte por causa de Demi, havia encontrado algumas delas.
Tendo
Joe deslizando os braços nas costas dela, Demi se movimentou para acomodá-lo,
as mãos ainda emoldurando o rosto dele. Os dedos dela eram delicados e frios em
contato com o queixo com barba por fazer. Ela acariciou o rosto de Joe,
cortando o contato com a boca.
Exalou
longa e lentamente quando mudou de posição para se apoiar nos tornozelos.
– O
que vou fazer com você? – perguntou ela.
Mas Joe
sabia que Demi não estava, de fato, esperando uma resposta dele. Estava mais
para uma pergunta que, ele apostava, ela não estava nem mesmo ciente de ter
verbalizado. Ele passou as mãos pelas costas dela, e Demi parecia tão etérea em
seus braços. Como as fadas que sua irmã caçula colecionava quando eles eram
crianças. Demi não pertencia a este mundo, embora houvesse algo de muito real a
respeito dela.
Ele
sentia que o movimento errado poderia fazê-la correr para dentro de casa e se
refugiar em um retiro permanente.
Ele
não era muito propenso a ser hesitante. Ia contra sua natureza esquentada de
cajun. Mas estava disposto a fazer o que fosse necessário para manter Demi ali
nesta noite. Ele precisava dela. Não tinha certeza de como ou por que, mas
sabia que ela o inspirara naquela noite e queria manter aquela energia rolando.
–
Beije-me outra vez – pediu Joe enquanto a brisa do Oceano Pacífico os cercava.
Ela
inclinou a cabeça para o lado.
–
Você gostaria disso, não é?
–
Claro que sim, afinal sou homem.
Ela
sorriu para ele, mas a expressão não alcançou os olhos, e ele sentiu uma
tristeza nela. Lembrou-se do rapaz que ela mencionara, aquele que pensava
amá-la.
Joe
queria saber mais a respeito de Demi. Precisava disso, embora ao mesmo tempo
reconhecesse que, se iria vencer o concurso e provar a si o que precisava ser
provado, ele não podia permitir que ela fosse a primeira pessoa a fazê-lo
recuar diante de um desafio.
Mesmo
que aquela ação fosse impossível. Houve outras mulheres na vida dele, mas
nenhuma delas o inspirara a cozinhar do jeito que ele havia feito naquela
noite. Não havia como negar. Ele só podia esperar ser capaz de controlar seu
desejo por Demi. Sabia que homens que brincavam com fogo acabavam queimados.
– Mas
você também gostaria porque sabe que somos concorrentes e viu o jeito como me
derrubou na cozinha esta noite – disse ela.
Ele
não precisou fingir surpresa. Genuinamente, não fazia ideia de que o
envolvimento entre eles a havia abalado. Mas agora que sabia, ele arquivou
aquela informação para mais tarde.
–
Não, não vi.
–
Mesmo? – perguntou ela, trilhando os dedos pelo restolho de barba dele.
Joe
fechou os olhos e inclinou a cabeça para o lado, se deleitando no toque de Demi
enquanto a sensação se espalhava pelo seu corpo. O sangue dele pareceu fluir
mais pesadamente nas veias antes de se concentrar entre as pernas. A ereção
dele ficou mais rija, e ele quase projetou os quadris para frente.
–
Sim. Fui inspirado pelo nosso beijo. Houve algo tão sensual naquele contato com
você que pensei que fosse explodir bem ali na cozinha do chef Ramone, mas daí
canalizei no prato… Eu nunca havia feito isso. Sempre cozinho seguindo a
receita. Pratos são feitos do jeito que sempre foram.
– Por
quê? – perguntou ela, percorrendo as mãos pelo pescoço e pelos ombros de Joe, e
o calor começando a fluir através dele. Não era diferente do que ele havia
sentido mais cedo na cozinha de Ramone. Aquela mulher, Demi, o fazia
sentir coisas que ele sabia que iriam arrematar a situação deles. Ele deveria
tirá-la de seu colo e sair… mas sabia que não iria fazê-lo.
Ele
segurou o pulso dela e guiou a mão de Demi mais para baixo, para massagear o
tórax e peitoral dele. As mãos dela eram pequenas e delicadas, como ela. Demi
despertava a natureza selvagem da alma dele, e Joe era impotente para ignorar
isto. Ele a desejava, mas, mais do que isso, queria ser o homem que afugentaria
a obscuridade dos olhos dela.
Ela
esticou os dedos, e então ele sentiu o cravar das unhas dele através do tecido
da blusa.
Joe a
abraçou, ela era tão quente quanto a pimenta mais forte no jardim dele, e uma
provinha simplesmente não era o suficiente.
Joe
envolveu os quadris dela, colocando-a em contato com sua ereção.
Demi
suspirou. O som do nome dele nos lábios dela o fez estremecer. Ele gostava.
Queria ouvir outra vez quando ela estivesse ofegante e no auge do prazer.
Ele
investiu de encontro a ela enquanto os dedos de Demi continuavam a acariciá-lo.
Como ele desejava aquela mulher.
Hoje
à noite, tendo apenas a lua e o mar como testemunhas, Joe se sentiu livre para
se render aos seus desejos. Necessitava reivindicá-la para si… sua musa. Ele
enredou uma das mãos no cabelo curto dela e puxou sua boca de volta à dele. Os
beijos dela eram viciantes, e ele estava ávido por mais. Roçou os lábios nos
dela até ela entreabrir a boca, então deslizou a língua para a boca de Demi.
Estava desesperado para encontrar aquele sabor indescritível que tanto o
intrigara mais cedo.
Ela
se remexeu outra vez, a língua brincando com a dele. Joe não se cansava dela. E
se perguntava se ela seria tanto sua salvação quanto seu declínio. Porém
afastou tal pensamento. Só um tolo se prolongaria em pensamentos quando tinha
uma mulher como Demi nos braços.
Nesta
noite, ela era um presente enviado pelos deuses para inspirá-lo, e não havia
como ele ultrapassar o limite. Ela era dele, pensou Joe. Apenas mais um
elemento do novo conhecimento que ele adquirira em seu primeiro passo naquela
jornada.
Ele
encontrou a bainha da blusa dela e deslizou as mãos por baixo, subindo
pelas
costas. Ela não estava usando sutiã, o que o deixou ainda mais excitado do que
já estava. A pele dela era tão macia que ele simplesmente continuava
acariciando enquanto lhe devorava a boca. Ela estava balançando no colo dele,
as mãos caçando a bainha da blusa dele e erguendo-as até as axilas.
O
primeiro roçar dos dedos dela contra a pele dele o fez arder por mais. Joe
puxou a blusa dela para cima, e Demi afastou a boca da dele, encarando-o. Então
tirou a blusa e a jogou no piso, perto da cadeira. Joe fez o mesmo com a
própria blusa e ajeitou Demi sobre a espreguiçadeira de modo que ele pudesse
puxá-la para mais perto. O centro da feminilidade dela estava aninhado perto da
virilha dele, os cumes dos seios firmes roçando no peito dele.
Os
mamilos dela estavam rijos e contundentes, pressionando a pele dele, e
Joe
mantinha a mãos nas costas dela, bem entre as escápulas, pressionando-a contra
si para continuar se deleitando naquela sensação. Ela ergueu a cabeça em
direção a dele e logo as mãos dela estavam em seu rosto outra vez, puxando-o
até as bocas se encontrarem.
O
beijo foi descaradamente carnal desta vez, e ele queria que nunca findasse.
Deixou as mãos explorarem o corpo dela do mesmo jeito que a língua fazia com a
boca. Lentamente, com varreduras demoradas e lânguidas, como se eles tivessem
todo tempo do mundo. Como se aquele momento fosse durar para sempre.
Ele
levou uma das mãos ao traseiro dela e a incitou a roçar a pélvis contra a dele.
Demi o fez. O movimento lento ecoou nas línguas de ambos. Ele sentiu um toque
leve feito pluma nas costas, surpreso com a rapidez com que ela o estava
decifrando. Não se sentia assim tão no limite por causa de um carinho desde que
era um adolescente excitado.
Ela
roçou os seios contra o peito dele, e Joe tirou uma das mãos das costas dela
para abarcá-la e provocar o mamilo com o polegar. Ela agarrou a parte de trás
da cabeça dele, beijando-o apaixonadamente, fervorosamente.
Os
quadris de Demi começaram a se movimentar mais rapidamente em cima dele, e Joe
soube que ela estava na iminência do orgasmo. Ele passou a unha na auréola do
seio e sentiu os arrepios se espalhando, então Demi parou de repente.
Ela
projetou os quadris para frente, e ele lhe agarrou o traseiro ao mesmo
tempo
que levantou seus quadris, e a segurou daquele jeito, sua ereção bem de
encontro ao centro feminino dela, até ela gemer. Ele teve certeza de que Demi
havia chegado ao clímax assim que ela desabou contra o peito dele, descansando
a cabeça em seu ombro.
Ele a
abraçou, querendo mais, porém feliz por ter aquele momento apenas para
envolvê-la. Para fingir que havia capturado sua musa e que ela nunca o
abandonaria. Os sentidos dele estavam altivos enquanto ele acariciava o cabelo
de Demi e sussurrava ao ouvido dela.
ELA
ESTAVA lânguida demais para se mexer, e ainda assim desejava mais. Aquele
orgasmo tinha sido ótimo, mas nada a satisfaria verdadeiramente até ela sentir
o membro rijo e quente dele dentro de si. A mão dele apoiou no alto da cabeça
dela, nas costas, e então na cintura. Os dedos mergulharam sob o cós da calça
de pijama.
Demi
esfregava o peito dele, trilhando a fileira de pelos que iam rareando
lentamente caminho abaixo, desaparecendo por sob o cós do jeans. Ela espelhou o
movimento dele, os dedos sob o cós, e sentiu a pontinha da ereção dele.
–
Acho que você gostou disso.
– Não
tanto quanto você – disse ele com um sorriso malicioso. – Mas, sim, eu
definitivamente gostei disso.
Ela
se reposicionou no colo dele até ser capaz de desabotoar-lhe a calça. Ele
movimentou os quadris e então seu membro estava exposto para ela. Ela o
envolveu e começou a acariciá-lo da base à ponta. Joe estremeceu, e Demi
aumentou a pressão.
Ele
passou as mãos pelo torso dela e reacendeu os fogos que haviam sido meramente
abrandados, mas não extintos, pelo primeiro orgasmo dela. Abarcou ambos os
seios, mas ela manteve a pressão, se movimentando de modo que ele pudesse
tocá-la do jeito que ela gostava.
Demi
arqueou os ombros para trás e viu quando Joe se inclinou para frente. Sentiu o
calor do hálito dele contra sua pele, então o roçar da língua. Ele circundou o
mamilo dela uma vez, duas, fechou a boca em torno dele e sugou intensamente.
Ela o
acariciava lentamente, então acelerou até sentir os quadris dele sendo
projetados em sua direção, em contraponto à mão. Ele gemeu, e a boca abandonou
o seio. Joe pôs a mão sobre a nuca de Demi e levou sua boca à dele, desta vez a
língua investiu tão profundamente dentro dela que Demi pensou que ficariam
grudados para sempre.
Joe
puxou o tecido da calça de pijama dela, e Demi a deslizou para baixo, passando
pelas coxas e, por fim, livrando-se dela. Imediatamente, as mãos dele foram
para os quadris dela, incitando-a de encontro ao membro dele. Ela não tirou a
mão dali, exceto para guiar a ponta da ereção para penetrá-la. Só a ponta, já
que ela mantinha a mão segurando-o intensamente.
–
Coloque-me dentro de você.
–
Você está dentro – disse ela.
–
Inteiro.
Ela o
acomodou, e ele xingou baixinho no dialeto cajun. Demi riu para si, se
deleitando por senti-lo e pelo poder que exercia sobre ele. Mas então Joe
levantou a cabeça e provocou o mamilo dela com a boca outra vez, e Demi
estremeceu.
Era
hora de acabar com o joguinho no qual ela havia entrado.
Ela
se inclinou e sussurrou palavras íntimas e pesadas ao ouvido dele. Dizendo o
quanto se sentia extasiada e o quanto adorava o que ele estava fazendo com ela.
Um segundo depois, Joe a preencheu completamente.
Ela
projetou a pélvis para frente, tentando levá-lo mais fundo, mas ele já estava o
mais fundo possível. As mãos dele encontraram as nádegas nuas dela, e Joe a
puxou para frente. Deus, ela amava a sensação de ter aquelas mãos enormes em
seu quadril. Ele entreabriu as duas partes carnudas, e Demi sentiu um dedo
deslizando pelo sulco, se contorcendo para mais perto dele.
Cada
centímetro dela ansiava mais pelo toque dele. A boca de Joe deixou a dela,
mordiscando o pescoço e tentando-a sem reservas. Ela estremeceu do mesmo jeito
que antes e sentiu que tudo em seu corpo mais uma vez seguia em direção ao
clímax. Mas não queria que acontecesse logo. Queria que aquilo durasse o máximo
possível.
A
aspereza do queixo com barba por fazer contra o rosto de Demi a levava mais
perto do limite. Ela enterrou as unhas nos ombros dele enquanto rebolava
os
quadris com mais força de encontro aos dele, e quando Joe gritou o nome dela,
ela derreteu. O orgasmo a invadiu enquanto ela continuava a projetar os
quadris.
Os
quadris dele se movimentavam em sincronia com os dela, então ela o sentiu
enrijecer e, por fim, relaxar. Ele sussurrava o nome dela sem parar. Ela, por
sua vez, não conseguia parar de pressionar o corpo contra o dele, enquanto
estimulava seu segundo orgasmo.
Ofegando
suavemente, a respiração dele formigava pelos nervos sensibilizados quando Demi
caiu para frente. Ele pôs um braço sobre o ombro dela e outro sobre a cintura.
Ela estremecia de frio agora, e Joe se abaixou para pegar sua blusa,
colocando-a em torno de Demi.
Ela
não queria se mexer ou encará-lo naquele instante. Queria fingir que nada havia
mudado e que ainda seria capaz de enxergá-lo como só mais um concorrente. E ela
quase se convenceu a respeito disso, até ele beijá-la gentilmente na testa.
Aquele
gesto doce não deveria ter significado nada, mas, em vez disso, fez o coração
dela acelerar, e houve uma esperança de que talvez aquilo fosse mais do que
mera luxúria. Ela não queria que fosse. Abraçar sua paixão era uma coisa, mas
se apaixonar por um concorrente seria um desastre e um erro.
Um
que ela não queria cometer. Ela se desvencilhou do abraço e do colo dele. Puxou
a calça do pijama para cima e jogou a camisa de Joe para ele antes de vestir o
próprio suéter.
–
Hum… Estou tomando pílula, não que você tenha perguntado, mas estamos protegidos.
Ele
assentiu enquanto abotoava seu jeans e se levantava, colocando-se ao lado dela.
– Eu
não estava pensando em nada, senão em você.
As
palavras dele causaram arrepios nos braços dela, mas Demi endureceu o coração
contra elas. Era quase como se ele soubesse as palavras certas. Para fazê-la se
esquecer. Para distraí-la. Joe estava brincando com ela.
E ela
não poderia culpar mais ninguém, senão a si, se não desse atenção àquela
advertência e não fosse embora.
JOE A
observou indo embora, sabendo que Demi pensava que aquilo tudo tinha sido um
erro. Esfregou a mão no rosto e não a seguiu para dentro da casa.
– Eu
deveria pedir desculpas?
– Não
– respondeu ela, olhando para ele por cima do ombro. – Eu deveria saber.
–
Saber o quê? – perguntou ele. O arrependimento o atingiu com força, e ele não
queria pedir desculpas, embora soubesse que deveria fazê-lo. Ele a possuíra
porque desejara, e ela o desejara também. E, sim, ele havia experimentado algo
novo e inspirador na paixão dela, mas também a magoara. Algo que ele nunca
queria que acontecesse.
–
Você deu um beijo em mim – apontou ele gentilmente.
– Eu
sei – respondeu ela. – Não me arrependo. Estou brava comigo mesma. Continuo
cometendo os mesmos erros.
–
Como o quê?
Ela
balançou a cabeça.
–
Acho que já me desnudei para você o suficiente esta noite.
Ela
seguiu para dentro da casa e, desta vez, só restou a ele vê-la ir embora. O que
Demi quis dizer com aquilo? Joe deixaria para descobrir em outra ocasião. Esta
noite, ele se dedicaria completamente a se descobrir. Encostado no gradeado da
varanda, vestiu sua camisa. Sempre tivera um caminho bem definido diante de si,
até o ano anterior, quando ouviu um crítico de restaurante dizendo que aquela
última geração dos Jonas era preguiçosa.
Aquele
único comentário abalara a confiança dele e fizera parecer que ele tinha tudo
na mão sem esforço. Agora ele estava ali e, esta noite, sentira-se um pouco
como seu velho eu outra vez, mas a que custo?, pensou ele. Ganhou sua nova
autoconfiança à custa de Demi. Ela estava lutando contra os próprios demônios, Joe
sabia disso, mas ainda assim não gostava do jeito como aquele sentimento lhe
pesava os ombros. Ele tinha uma parcela de culpa em relação ao que estava
acontecendo com ela.
E
realmente não queria aquilo. Mais do que qualquer coisa, Joe precisava de um
conselho. Apesar da hora, ele entrou e cruzou com Dave na sala de estar
principal.
–
Pensei que fosse o único acordado a essa hora da noite – comentou Dave.
Joe
achou sorte Dave não ter se levantado antes, quando Demi estava em seus braços.
Ele não deveria estar surpreso por não ter cogitado ser flagrado enquanto
estava com ela. Naquele momento, ele só conseguia pensar em Demi.
–
Parece que muitos de nós estamos com problemas para dormir esta noite – disse Joe.
– É.
– Dave esfregou a nuca. – Fui o pior do dia hoje… Estou agitado e nervoso em
relação ao dia de amanhã.
Joe
assentiu. Era exatamente assim que ele se sentia. Cada nova fase iria desafiar
uma ideia pré-concebida que ele tinha a respeito de si na cozinha. Ao mesmo
tempo que estava ansioso para descobrir qual era, outra parte dele se
preocupava com a possibilidade de cometer mais um erro.
Dormir
com Demi tinha sido um erro colossal. Ele não queria que ela tivesse a impressão
de que ele era do tipo de homem que usava alguém para conseguir o que queria.
–
Você? Os juízes praticamente choraram quando provaram seu prato – observou
Dave.
– Nem
tanto. Além disso, foi um desafio em grupo. O que vão achar de um prato que eu
preparar sozinho?
–
Você está realmente tenso? – perguntou Dave.
–
Não. Um pouco. Para ser honesto, esta noite, no restaurante do chef Ramone, eu
fiz um prato que provavelmente foi o melhor que já preparei na vida. Não tenho
certeza se consigo manter este padrão. Há chefs muito bons aqui.
Dave
sorriu.
– Não
consigo trabalhar tão bem quanto pensava que o faria sob pressão. Quero dizer,
na minha cozinha consigo preparar um jantar como um profissional, mas correr
contra o relógio e fazer algo novo… isso meio que acaba comigo.
Joe
relaxou enquanto conversava com Dave sobre culinária. Foi só então que percebeu
que a culpa que sentia em relação à reação de Demi também estava diminuindo.
Ele não a estava manipulando. Já era a segunda vez agora que ela iniciava algo
sexual com ele, e a segunda vez que ele ficava encantado com a própria reação a
ela.
Joe
avaliou o outro chef. Dave era mais jovem do que ele, provavelmente com 20 e
poucos anos.
– Não
pense demais nisso. Quando chegarmos às cozinhas amanhã, simplesmente relaxe e
imagine que está preparando uma refeição para alguém que você ama.
– Boa
ideia. Mas e se os ingredientes forem estranhos?
– E
provavelmente serão. Mas você deveria estar pensando nas suas habilidades com a
faca.
–
Você já ouviu rumores sobre isso? – perguntou Dave. – Eu nunca fui para uma
escola de culinária. Apenas aprendi trabalhando nas cozinhas.
–
Isso não é nada. Apenas compreenda suas fraquezas. Todo mundo que estiver
contra você vai achar que sabe destrinchar uma carne melhor do que você.
Se eu
fosse você, estaria na cozinha treinando isso o tempo todo.
–
Pode me ensinar como descamar um peixe? – perguntou Dave.
– Sim
– disse Joe. – Quer fazer isso agora? A geladeira está abastecida com tudo.
–
Certo. – concordou Dave. – Ah, Joe, por que você está me ajudando?
–
Porque você é um bom chef, e eu odiaria vencer você por causa de um detalhe
técnico.
Dave
riu e seguiu Joe até a cozinha. Joe olhou para a escadaria, na direção dos
quartos, e uma imagem de Demi nua lhe invadiu a mente. Ele tentou imaginá-la encolhida
debaixo das cobertas. Sabia que ela não estava dormindo e se sentia mal por
isso. Ela o revigorara nesta noite. Ele queria lhe dar alguma coisa também. Mas
só o tempo diria o que seria esta coisa.
Joe
passou a hora seguinte mostrando a Dave o jeito apropriado de descamar um peixe
e como cortá-lo em filés. O jovem era um aluno aplicado, e Joe sabia que havia
tomado a decisão certa ao ajudá-lo. Duas horas depois, ele seguiu para o
quarto, cheirando a peixe, e foi diretamente para o chuveiro. O perfume de Demi
também permanecia em sua pele, e ele não conseguia tirar da cabeça a imagem
dela em seus braços.
E
assim foi até a água esfriar, e ele gemeu, desligou o chuveiro e se secou. Por
fim, deitou-se para dormir apenas para ser atormentado por imagens de si na
cozinha do pai, tentando preparar um prato que agradaria ao pai enquanto uma
Demi
nua continuava a lhe roubar a atenção. Joe acordou em um estado de frustração.
Esperava que o dia trouxesse uma nova revelação na cozinha, porém os sonhos lhe
mostraram o que ele já sabia.
Suas
dúvidas e medos ainda estava firmemente enraizados dentro dele, e não importava
o que descobrisse ali sobre si: ele nunca encontraria paz até descobrir como
aceitar as próprias aptidões.
A
parte estranha daquilo tudo era que, em sua mente, a paz dele agora estava
atada a algo ligado a Demi. Estava uma bagunça. Ela era a última pessoa que o
ajudaria, depois do ocorrido da noite anterior, e, para ser honesto, ele não
podia culpá-la. O que parecera tão certo sob o luar não parecia muito sábio sob
a luz brilhante do sol da manhã.
DEMI
QUERIA cair no sono imediatamente, mas não conseguia, por causa de tudo o que
estava em sua mente. Tinha ido até ali por um motivo muito específico, e hoje à
noite pareceu claro que ela era capaz de se permitir ser levada pela distração.
Qual era o problema dela?
Parte
dela sabia que aquilo se devia ao fato de nunca ter tido um bom modelo de
figura masculina. Não precisava que o terapeuta lhe dissesse que, quando
conhecia homens poderosos, sempre se sentia atraída por eles. E, aparentemente,
quanto mais poder eles tinham sobre os sonhos e futuro dela, mais letal era a atração.
Mas Joe…
ele não tinha poder real sobre ela, que não fosse a atração. Ela pegou o
celular na bolsa e mandou um torpedo para Selena. Sabia que a outra estaria
acordada e, provavelmente, na cozinha assando cupcakes, pois o namorado de Selena,
Nick, estava trabalhando. O fuzileiro naval aposentado trabalhava para uma
empresa de segurança particular. E enquanto boa parte dos serviços dele o
mantinham na área de Los Angeles, recentemente ele havia aceitado uma
designação em Washington D.C. que o afastara de casa.
Demi:
Pode conversar?
Selena:
Sim. Um segundo. Brownies indo pro forno agora.
Demi:
Legal. Venci o primeiro desafio e fui a um restaurante maravilhoso essa noite.
Selena:
Legal. Mas não acho que vc possa ficar revelando isso.
Demi: Ah. Vc ta certa.
Tem um cara aqui q…
Selena: Bonito?
Demi:
Sim, mas esse nao eh o problema. Ele realmente me descontrolou na cozinha hoje.
To preocupada. E se eu estragar tudo?
Selena:
Talvez tenha te descontrolado pq vc não esperava. Veja o q vai acontecer
amanha, sacou?
Bom
conselho, pensou Demi.
Demi:
To tao insegura, e isso não combina comigo.
Selena:
Para com isso. Vc eh a garota mais poderosa e durona q conheço. Precisa parar
de pensar nele e pensar em vc.
Demi
sorriu para si. Estava um pouco tarde da noite para encarar a perspectiva louca
de Selena sobre a vida, mas ela sabia que a lógica da amiga era sólida.
Demi:
Valeu. Noticias do Nick?
Selena: Não desde ontem, mas ele disse q não ia poder mandar. Odeio
pensar q ele pode estar em perigo.
Demi:
Ele vai voltar. E vcs dois sabem disso.
Selena:
Eh. Vc ta bem agora?
Demi:
Sim. Valeu. Curta seus brownies.
Selena: Acho q vou comer todos. :)
Demi:
Suspeitei disso. Boa noite.
DEMI
LARGOU o telefone e virou para o outro lado na cama. O friozinho do
ar-condicionado circulava no quarto, fazendo-a se sentir de férias. Ela e avó
não tinham ar-condicionado na casa antiga de rancho. O imóvel havia sido
construído na década de 1950, e a avó tinha ido morar ali quando era
recém-casada. A cozinha fora a única coisa religiosamente modernizada pelas
mulheres na família.
O avô
havia morrido na Guerra do Vietnã, e o pai dela… bem, ela nunca o conhecera.
As
mulheres da família Lovato tinham o legado estranho de serem abandonadas por
seus homens. Demi esfregou os olhos e rolou na cama outra vez.
– Ei,
está com formiga na cama? – resmungou Vivian de sua cama.
–
Desculpe – murmurou Demi. Ela nunca havia dividido o quarto com ninguém. E
gostava das coisas assim.
O
único jeito de ter um quarto só para si seria eliminando os outros nas provas
do programa. Demi obrigou a mente a pensar em cozinhar e nos pratos que havia
comido naquela noite. A comida havia sido sua passagem para a liberdade antes e
seria outra vez. O WP24 tinha forte influência asiática, e os sabores eram
familiares a ela, por ter crescido na costa oeste dos Estados Unidos. Era bobo,
mas ela sonhava com comida e com culinária do jeito que algumas mulheres
sonhavam com sapatos e bolsas.
Com o
quê, perguntou-se ela, Joe sonhava? Será que ele era como ela e não conseguia
dormir quando algo novo era apresentado ao seu paladar? E por que isso era
importante? Ela rolou de novo e ouviu Vivian suspirar.
–
Coloque os fones de ouvido – sussurrou Demi. – Tenho um sono muito agitado.
A
outra resmungou quando pegou os fones do mp3 player e os enfiou nos ouvidos. Demi
pegou seu diário de comida enquanto pensava no vento noturno, na luz da lua e
no jeito quente como Joe a abraçara, a tocara. Ela canalizou aquela paixão para
a comida.
Ouviu
o barulho do mar e sentiu em sua mente o sabor de um novo prato com frutos do
mar e temperos fortes, mas não os mexicanos que ela utilizava normalmente, mas
sim os da China. Ela havia conhecido uma riqueza de novos temperos e sabores
naquela noite, e agora estavam todos vivos em sua mente.
Anotou
os ingredientes, esboçou variações e possibilidades, e então sua mente começou
a cozinhar. Ela adormeceu com a caneta e o caderno sobre o colo. Em sua cabeça,
estava na cozinha, preparando os ingredientes frescos. Ela sentia o cheiro do
óleo de gergelim aquecendo na frigideira e olhava para ver Joe ali parado,
aguardando.
Ele
havia fatiado o alho.
–
Vamos cozinhar juntos. Posso ajudar a deixar esse prato mais forte.
Ela
assentiu e começou a dizer a ele o que acrescentar, e ele fez exatamente o que
ela lhe disse para fazer. Eles se movimentaram juntos na cozinha que, ela notou
naquela visão terceirizada de si mesma, da mãe e da avó perto do fogão, era
dela. Joe estava conversando e sorrindo de um jeito que nunca havia feito
quando cozinharam juntos, e Demi começou a resistir ao sonho. Não era real.
Ela o
enxotou da cozinha e de sua mente, acordando e flagrando a lanterna e o caderno
no colo. Não queria ou precisava de Joseph Stephens cozinhando com ela. Na vida
real ou nos sonhos, ela precisava encontrar sua força sozinha. Era algo que
sabia muito bem ser capaz de fazer.
Demi
fechou o caderno e rolou para o lado para observar as sombras na parede. Dormiu
de modo picado, mas não foi repousante, então, de manhã, quando todo mundo
começou a se levantar, ela estava exausta.
Ela
se vestiu e se juntou às outras mulheres. Bebeu café e conversou sobre como
achavam que iria ser o desafio daquele dia. Ela quase se enganou, acreditando
que seria capaz de lidar com Joe e que o que acontecera naquela última noite
não significara nada. Entretanto, quando eles entraram nos carros para ir para
o estúdio de gravação, Demi acabou sentada ao lado dele e soube que estava
mentindo para si.
Ele
estava perfumado. Ela odiava isso. Não queria que ele fosse um daqueles homens
que a fazia ter vontade de se aproximar e inalar mais profundamente.
–
Temos de conversar sobre ontem à noite – falou Joe baixinho.
–
Agora não – respondeu Demi. – Temos que cozinhar.
Ele
assentiu, mas ela sabia que ele não ia protelar por muito tempo.
–
OLÁ, TODO mundo, sou Fatima Langrene e serei a apresentadora do programa. Toda
semana vamos começar com um desafio-relâmpago – explicava ela enquanto todos
recebiam seus microfones de lapela e eram maquiados.
Fatima
tinha pele morena e olhos amendoados. Joe notou que ela também tinha um belo
sorriso e, quando começou a descrever as regras desta fase do jogo, ele
percebeu que deveria prestar mais atenção, e o fez usando um lado do cérebro.
Mas o
outro lado queria um desfecho para o que acontecera entre ele e Demi.
Joe
precisava ter certeza de que não a havia magoado. E que, independentemente da
época, queria conhecê-la melhor.
–
Nosso jurado convidado desta semana é Marcel Roubin, crítico gastronômico do LA
Times. A montadora está patrocinando este desafio, então o vencedor ganhará as
chaves de um sedã novinho. Vou deixar que Marcel explique como será a prova.
Marcel
era magro e se vestia de preto desde as pontas de seus sapatos reluzentes até a
camisa. A pele era pálida, apesar do sol forte da Califórnia. – Eu sabia –
disse Dave, cochichando. – Ele é um vampiro.
Joe
sorriu.
–
Todos nós sabemos que vocês sabem cozinhar com ingredientes frescos e com uma
despensa lotada, mas muitos no país são obrigado a criar pratos para a família
usando apenas comida processada e industrializada. Muitas famílias precisam de
novas ideias para criar algo saudável e satisfatório para seus familiares
utilizando estes ingredientes – disse Marcel, tirando a coberta de uma mesa
repleta de sacolas com carne e legumes congelados.
–
Conforme mencionei, este desafio-relâmpago é patrocinado, e a montadora vai
fazer uma doação em nome do vencedor para nossa instituição local que fornece
comida aos necessitados. Vocês terão 30 minutos para criar uma refeição
principal com estes ingredientes. A contagem começa agora.
Joe
nunca havia feito pratos utilizando ingredientes congelados, mas esperava
encontrar camarão para poder inventar alguma coisa. Quando chegou à mesa,
percebeu que a maioria já estava empanada ou temperada. Tentou pensar em como
transformar aqueles ingredientes mundanos em um prato vencedor.
–
Minha avó costumava fazer palitos de peixe uma vez por semana – comentou Demi.
– A
minha também – acrescentou Vivian. – Não sei como vou conseguir dar um sabor
diferente a eles, mas estou começando aqui.
Demi
sorriu quando pegou os ingredientes escolhidos e então, quando flagrou Joe
olhando para ela, piscou.
–
Melhor correr, Garoto Sulista. Estou planejando superar você hoje.
–
Desafio aceito, Garota do Cupcake – disse ele. Joe gostava por eles ainda
poderem brincar na cozinha. Era assim que deveria ser. As coisas pessoais
teriam de esperar agora. Ele pegou um pouco de camarão e vieira congelada,
assim como pacotes de ravioli, e retornou à sua bancada. A despensa estava aberta,
mas as prateleiras estavam quase vazias, exceto por algumas ervas secas,
manteiga, leite e ovos. Não havia legumes frescos, então a ideia de Joe de
fazer massa à Florentina começou a morrer, até ele se lembrar de que havia
espinafre congelado. Pegou o que precisava e então correu para buscar o
espinafre.
Dez
minutos já haviam se passado, e ele nem mesmo tinha começado e remover a
cobertura empanada dos frutos do mar. Viu os outros chefs ao redor na mesma
batalha, mas alguns já estavam cozinhando. Incluindo Demi. Ele pensou na
experiência dela, em como ela contara sobre cozinhar com a avó, e percebeu que
a chave para aquele desafio estava em algo que ele nunca experimentara. Ele
cozinhava usando ingredientes frescos e locais porque eram a melhor fonte para
se fazer boa comida. Demi fazia o mesmo porque era mais rápido e provavelmente
mais barato.
Joe
jogou fora tudo o que havia aprendido na cozinha e analisou cuidadosamente os
ingredientes diante de si. Precisava fazer algo simples, saudável e, ainda
assim, gostoso. A massa à Florentina ainda era o objetivo, mas ele precisava
simplificar. Mudou o plano principal e descartou o peixe, optando por um prato
único feito com lasanha, em vez disso. Aqueceu o molho de tomate pronto, que
ainda estava com gosto muito sem graça, então retornou à despensa para pegar
mais condimentos até alcançar o sabor temperado que desejava. Arrumou o molho
em uma panela, formando camadas com o ravioli e o espinafre, e então esfarelou
um pouco de queijo por cima, colocando sob a grelha para aquecer e dourar.
Tirou
o prato da grelha faltando dois minutos para acabar o tempo. Provou e percebeu
que os temperos secos e o queijo processado tinham rendido algo muito saboroso.
Ele nunca se sentira tão livre na cozinha. Aquilo era algo que o avô, pai e
tios dele nunca haviam feito, e quando o alarme soou e olhou para as outras
estações, sentiu uma certa confiança em si e em seu prato.
Marcel
e Fatima começaram a três estações de distância da dele, e Joe olhou ao redor,
captando alguns aspectos interessantes do desafio de comida congelada. Seu
senso de orgulho não declinou. Ele sabia que suas habilidades e o prato que
havia criado atendiam às exigências do desafio.
Marcel
não gostou do prato que Max, na estação ao lado de Joe, havia preparado.
–
Isto demonstra pouca imaginação. É como se você tivesse derramado o pacote em
uma bandeja e seguido as instruções da embalagem. Eu esperava mais de você.
–
Tudo está bem cozido, e eu realmente gostei dos temperos que você acrescentou
às batatas – disse Fatima.
Agora
eles estavam diante da estação de trabalho de Joe, olhando para o prato dele.
– O
que você preparou?
– Uma
lasanha à moda Florentina, usando molho de tomate pronto e ravioli.
Marcel
não parecia esperar muito do prato, e Fatima apenas sorriu para ele. Joe
percebeu que aquele era seu primeiro grande desafio culinário solo. O mundo não
iria acabar se ele estragasse tudo, mas daí ele nunca seria mais do que mais um
em sua família, ele nunca…
–
Delicioso – disse Fatima. – O que você acrescentou ao molho?
–
Especiarias e alho – disse.
–
Está realmente bom – concordou Marcel. – Vejo que você tem frutos do mar em sua
estação. Por que não utilizou?
– Eu
ia tirar o empanado deles e então pensei que, se eu tivesse trabalhado o dia
todo e tivesse filhos com fome, a última coisa que iria querer fazer é remover
a massa do camarão congelado. Eu iria querer alimentar as crianças rápida e
nutritivamente. Eu teria usado espinafre fresco, mas o congelado ainda oferece
muitos nutrientes – disse Joe.
–
Sim, é verdade – assentiu Marcel.
O
chef e a apresentadora foram para a estação seguinte, e Joe flagrou Demi
olhando para ele. Ele piscou para ela, e ela franziu a testa para ele. Quando
os jurados terminaram de experimentar todos os pratos, Joe, Demi e Conner
ficaram entre os três primeiros.
–
Nossos três escolhidos fizeram pratos realmente gostosos e saudáveis, portanto
irão apresentá-los na Feira Gastronômica de Los Angeles no fim desta semana.
Mas hoje a vencedora do desafio é Demi.
Todos
aplaudiram, e Joe sentiu um pontada de ressentimento por não ter vencido, porém
o sorriso no rosto de Demi compensou. Ele não estava feliz por
perder,
mas gostava de vê-la feliz. Da próxima vez, no entanto, ele queria que ela se
contentasse com o segundo lugar.
ELES
FIZERAM uma pausa nas filmagens depois que a vitória de Demi foi anunciada. E o
estúdio foi esvaziado. Demi queria dividir aquela notícia com alguém. Embora,
conforme Selena a lembrara na noite anterior, ela não devesse compartilhar
todos os detalhes do concurso. Todos os episódios estavam sendo gravados e só
iriam ser exibidos depois que a disputa terminasse.
–
Mais um prato vencedor. Parece que devemos ficar de olho em você – disse Quinn,
se aproximando dela. Quinn havia ficado na estação ao lado dela durante o
desafio-relâmpago e tinha preparado um falso risoto, fervendo um saquinho de
arroz pré-cozido. Parecia uma boa ideia, mas não houve tempo suficiente para
cozinhar o arroz, que acabou virando papa.
–
Acho que cada novo desafio vai ficar mais arriscado. Até agora, eles têm sido
de acordo com as minhas habilidades.
– Que
sorte – disse ele. – Eu me pergunto qual vai ser o desafio de eliminação desta
semana.
–
Pelo que já assisti do programa, achei que eles já iriam nos contar, mas pelo
visto não – comentou Demi. Ela notou Joe de pé nos fundos da sala, conversando
com Marcel. Tinha ouvido, bem, todo mundo tinha ouvido, o quanto Marcel havia
gostado do prato dele, então Demi estava surpresa por tê-lo derrotado.
–
Qual é a história dele? – perguntou Quinn, gesticulando em direção a Joe.
–
Chef desempregado de Nova Orleans. Pergunto-me se foi resultado do furacão
Katrina. Sei que foi há anos, mas soube de amigos lá que até hoje não se
recuperaram.
–
Quem sabe? Ele é bom – disse Quinn.
Demi
estava ficando um pouco incomodada com o jeito como Quinn estava falando sobre
as habilidades de todo mundo, exceto sobre as próprias.
–
Todo mundo é bom, ou não estaria aqui. Você conquistou uma vaga exatamente como
todos os outros. Esqueça o que aconteceu e se concentre no que vai fazer a
seguir.
Ele
ofereceu um meio sorriso.
–
Desculpe. Não dormi bem na noite passada. Não gosto de dividir o quarto.
– Nem
eu – respondeu Vivian, se juntando ao grupo. – A mocinha com formiga na cama
aqui se revirou a noite toda. Mas parece que isso não afetou suas habilidades
culinárias.
– Não
preciso de muitas horas de sono – justificou Demi. – Sempre fiquei satisfeita
com cinco horas por noite.
Joe
estava se aproximando do grupo lentamente. Demi tentou ignorá-lo, queria
mostrar que ele não significava nada mais para ela do que qualquer outro chef
do concurso, mas o coração dela acelerou um pouco, e ela se flagrou
observando-o quando achou que ele não estava olhando.
– O
que vocês acham do desafio de eliminação? – perguntou Joe.
–
Bem, acho que vai ser uma prova externa – disse Vivian. – Vi que eles estavam
trazendo carros para nós. Além disso, eles sempre começam o programa com isso.
–
Começam? – perguntou Demi. – Eu só assisti a alguns episódios.
– Eu
não. Era viciada no programa desde o início. Adoro. – Vivian sorriu.
–
Talvez tenhamos que comprar nossos ingredientes – sugeriu Quinn.
– Eu
estava esperando algo como uma mesa misteriosa – disse Demi. Ela havia se saído
bem no primeiro desafio cego, afinal.
–
Duvido muito, depois de já terem feito isso nesse desafio-relâmpago – disse
Vivian.
– Não
ligo para o que seja, contanto que seja logo – falou Quinn. – Essa espera é um
inferno.
O
restante dos chefs continuou a conversar, e Joe segurou o braço de Demi,
levando-a para longe do grupo.
–
Parabéns pela vitória.
–
Obrigada – respondeu ela. – Eu não tinha certeza se poderia derrotar você.
Marcel
estava comendo na sua mão.
– Eu
fiquei surpreso. Críticos normalmente não gostam de comida caseira.
–
Não, não gostam, mas esse foi o espírito do desafio – disse ela.
– Seu
macarrão com queijo parecia bom – comentou ele.
–
Obrigada. Receita da família – disse ela com um sorriso breve.
–
Concluí que era mesmo. Ouça, Demi, quero conhecer você melhor. Eu gostaria de…
–
Para o concurso? – perguntou ela.
Ele
balançou a cabeça.
–
Para mim. Eu… Eu gosto de você.
Ela
se afastou dele.
–
Agora não. Eu disse que não quero conversar sobre nada pessoal enquanto
estivermos aqui. Preciso me concentrar no que estou fazendo. A noite de ontem
provou isto para mim. E estou aqui para cozinhar.
Ela
se perguntou o que Joe estava esperando encontrar na expressão dela, e então
imaginou se ele havia encontrado, pois ele pareceu assentir e dar um passo
atrás.
–
Tudo bem, mas quando voltarmos para a casa, quero que você venha passear na praia
comigo.
Ela
não queria se comprometer a fazer nada com ele. Queria que mantivessem
distância, mas então se lembrou de seu sonho na noite anterior. Joe estava
atrelado à culinária dela agora, e ela sabia disso. A paixão que ele acendera
nela na noite anterior foi o fogo responsável por guiá-la, quisesse Demi
admiti-lo ou não.
–
Tudo bem. Vamos voltar para ficar com os outros – disse Demi.
Logo
eles descobriram que Vivian estava certa. O desafio seria em área externa, e
eles foram levados para o campus da Universidade da Califórnia para servir o
almoço para estudantes famintos. Eles teriam de comprar os ingredientes e então
prepará-los em duas horas.
Demi
tentava pensar no que podia fazer para agradar a um bando de universitários e
aos jurados. Mas sua mente estava vazia. Ela estava pensando em Joe outra vez e
se perguntou se aquela era a estratégia dele. Ele certamente havia feito um bom
trabalho ao distrai-la. Argh, ela pensou. Precisava ficar longe dele. De agora
em diante, quando ele se dirigisse a ela, ela sairia de perto.
Eles
foram levados ao supermercado, e todo mundo estava berrando e correndo como
loucos, tentando encontrar o que iriam precisar para criar seus pratos. Demi se
sentia perdida e sabia que, depois de sua vitória, ela estava na mira dos
outros, então deu um tempo e saiu empurrando seu carrinho de compras para longe
do tumulto. Fechou os olhos e pensou na avó, em Selena e em todos os seus
amigos em San Diego. Ela se concentrava neles, mas aquilo não a estava
acalmando.
–
Você está bem, chère? – perguntou Joe, surgindo atrás dela com seu carrinho.
De
repente, ela teve uma ideia sobre o quê cozinhar, e uma nova chama se acendeu
em seu estômago. Não iria entrar em colapso. Estava determinada a vencer e a
superar Joe outra vez. Queria que ele a visse, que soubesse que ela era uma boa
chef e precisava que ele soubesse que ela era forte na cozinha e fora dela.
Ela
ofereceu a ele o mais sensual dos sorrisos.
–
Agora estou.
– Que
bom. Eu odiaria derrotar você se você não estivesse em sua melhor forma – disse
ele.
– Ah,
Garoto Sulista, você vai ter muita dificuldade para me derrotar – falou ela. –
Isto é uma promessa.
–
Parece-me mais um desafio – disse ele. – Um que fico feliz em aceitar. Então
independentemente de quem vencer esta tarde… O perdedor vai ter que fazer o
jantar para o vencedor.
–
Feito – concordou ela. – Estou pronta para ver você cozinhando para mim.
– O
orgulho precede a queda – disse ele, empurrando o carrinho para longe.
E Demi
simplesmente gargalhou quando o prato finalmente se formou em sua mente. Ela
não queria atribuir muita importância a Joe, só que em vez disso, concluiu que
ele era a chave para a culinária dela, tal qual um tempero secreto. Demi
percebeu que a vontade de superá-lo e de se mostrar digna aos olhos dele
tornava o concurso pessoal, e era disso que ela precisava.
*****
Demorei mas compensei né? Enfim, já to louquinha por uma nova fic, mas amo essa e também sinto falta da anterior aiojs.
Foi bem rapidinho o primeiro hot né? aisja o que acharam?
Sobre a formatura, foi do nono ano mesmo haha, e obrigada pelos parabéns ♥
Agora sobre essa fic: vou fazer uma maratona da seguinte forma -> a cada QUATRO comentários de pessoas diferentes, e os meus não contam, posto um capítulo, resumindo: a quantidade de capítulos por dia vai depender de vocês.
É isso, se cuidem, beijos.
Apaixonada nessa história..... esses desafios entre esses dois estão o máximo...... espero que a insegurança da Demi em relação ao amor não afaste os dois..... surtando pra saber quem vai cozinhar pra quem..... posta logoooo......
ResponderExcluirAaaah posta maais!!!!!
ResponderExcluirEstou adorandoo!! Da ate vontade de cozinhar kkkk posta maaais
ResponderExcluirTo adorando!!!! Posta maiiissss
ResponderExcluirChocada pq o hot veio super rápido... Demi super insegura ne, confesso que nesse desafio do torcendo pro Joe, esse desafio poderia esquentar ne há HH aha a
ResponderExcluirEssa fic é longa igual a anterior? Gente to só esperando por esses desafios que prometem
Amei essa ideia de 2 capítulos juntos, ansiosa para a maratona. Esses dois se inspirando um no outro para cozinhar é divo demais. Quero mais pegação kkkkkk.
ResponderExcluirCompensou bastante!! Eu amei os dois capítulos juntos.
ResponderExcluirEu to adorando os desafios entre os dois. Sinceramente não sei para quem torcer, tem hora que eu quero que a Demi ganhe mas que o Joe ganhe também, tô super confusa.
Também não esperava que o hot acontecesse tão rápido, realmente fiquei chocada onde ele aconteceu, mas eu amei muito. O tempo todo eu achei que apareceria alguém e os pagaria no flagra, mas graças a Deus não aconteceu.
Eu to simplesmente apaixonada por essa fanfic e super ansiosa para a maratona.
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