7.8.14

Capítulo Oito






NA SEXTA-FEIRA, Demi se sentia uma esquizofrênica. Ela se alternara tanto entre empolgação e pavor naquele início de noite que seus nervos estavam estalando. A única coisa que a impedia de cancelar era a confiança no próprio sucesso. Demi não sabia o quanto de seu desejo de vencer tinha a ver com ego e o quanto era causado pela crença em seu posicionamento. Ela só sabia que precisava vencer.
Havia passado toda a vida aprimorando seu intelecto. E aquela era sua arma secreta. Porque, ao passo que tinha pesquisado e aprendido tudo que fosse possível saber sobre Joseph Jonas, graças à transformação e à sua personagem sexy, Joe não faria ideia de quem ela realmente era. Ele só enxergaria a máscara.
E que máscara! Ainda sem acreditar que ela era mesma, Demi olhou para o espelho, que Miley havia insistido para ela instalar na porta do guarda-roupa para conferidas de última hora no visual, e expirou. Joe não era o único ignorante. Demi mesmo estava tendo dificuldades incalculáveis para aceitar que ela era aquela ruiva esguia e sexy com cachos volumosos.
A sombra esfumada contornava seus olhos castanhos, e um toque de iluminador nos cantinhos lhes conferia um brilho extra. Apenas ela reconheceria o brilho neles como pavor, em vez de expectativa. Passou a língua pela boca reluzente pintada com batom bordô, e precisou se esforçar para não morder o lábio, temendo arruinar o visual molhado que Miley criara usando gloss.
Com sua maquiagem estilo “me leve para a cama” e o cabelo sensualmente desalinhado, ela realmente fazia jus ao minúsculo vestido de seda verde-garrafa com recorte baby-doll e corpete bordado. Queria usar preto, achando que ficaria sofisticado, porém Miley a demovera da ideia. A loura de fala rápida insistira que a tonalidade verde intensa a faria se destacar.
Aquilo fora mais eficiente para convencer Demi do que qualquer argumentação sobre as tonalidades da temporada ou dizer que o preto não ia combinar com ela. Se ia vencer aquela aposta, teria de dominar todos os segundos da atenção de Joe, disse a si assim que a campainha tocou.
Demi pôs a mão sobre a barriga e respirou profundamente. Usando o mesmo método que Sean lhe ensinara na TV, ela se concentrou na respiração, deixando que os blocos de gelo de medo derretessem.
Hum. Quem diria: o “Cantinho da crítica” já estava valendo a pena. Talvez ela fosse se dar bem, afinal. Com uma risadinha, Demi abriu a porta e esqueceu todo o medo, inquietação e preocupação. No entanto, sua cabeça foi tomada por pensamentos sobre “se dar bem”.
Ai. Meu. Deus. O sujeito estava delicioso. Demi teve vontade de mordiscá-lo. Ela corou diante da ideia, tão sexy e ousada, tão diferente dela.
– Olá, Demi.
– Oi – respondeu rapidamente, esperando distraí-lo antes que ele pudesse fazer algum comentário sobre as bochechas vermelhas dela.
Demi não precisou se preocupar, no entanto, uma vez que Joe estava ocupado analisando o restante de seu visual. Aparentemente, as pernas longas e desnudadas até a metade da coxa atingiram o topo da lista de inspeção dele. Uma sensação de vaidade que Demi nunca tinha sentido a invadiu.
E com certeza ela gostava disso também. Resistiu à urgência de puxar a bainha do vestido; em vez disso, deu o mesmo tratamento a Joe.
Ele já estava sexy o bastante no estúdio, mas vestido para seduzir? Deus do céu, se ela havia achado que ele pegaria leve com ela, iria com calma, ela se iludira. O sujeito só tinha uma coisa em mente, apenas uma coisa. Vencer.
Graças aos ensinamentos durante a transformação, ela reconhecia as roupas dele como sendo de grife. Lembrou-se da explicação do figurinista da revista sobre como funcionava o corte e caimento do material no caso das roupas mais caras. Considerando o jeito como o tecido preto estava acariciando seus ombros, e como o jeans envolvia seu... suas coxas, ela imaginou que os trajes tivessem custado uma pequena fortuna.
Os olhos dela encontraram os dele. Em vez de parecer confuso por causa da avaliação óbvia da parte dela, Joe ostentava um imenso sorriso de agradecimento.
– Você está linda – comentou Joe, a voz um ronronar rouco que a deixou arrepiada.
Ela empinou o queixo e se lembrou de manter o foco na competição.
– Estou ansioso por esta noite – disse ele a ela. – Espero que você goste de tudo que planejei tanto quanto espero que vá gostar.
Definitivamente, concentrar-se na competição. Era uma disputa que ele aparentemente pensava estar dominando com tranquilidade. Será que ele tinha tanta fé assim em sua hipótese? Ou apenas tinha certeza de que era capaz de subjugá-la com seu charme e carisma?
Demi franziu a testa e inclinou a cabeça para o lado, os cachos balançando sobre o rosto durante o movimento. Os olhos de Joe deslizaram pelo cabelo dela, quase como uma carícia. Suave, leve, gentil.
Dessa vez era mais fácil ignorar a reação de seu corpo. Claro, os mamilos dela ficaram intumescidos e o estômago dera um nó. Talvez a respiração tivesse se acelerado um pouquinho diante da ideia de tê-lo correndo os dedos por seu cabelo. Mas os anos de invisibilidade física estavam prestes a valer a pena. Tudo que ela precisava fazer era se lembrar de que ele estava atraído por sua personagem pós-transformação, e não pela Demi de verdade. Se mantivesse isso em mente, bancasse a mulher fatal e colocasse em prática alguns dos truques que havia pesquisado nos livros de paquera e sedução, ela ficaria bem.
Bem uma ova. Ela venceria. Arqueando uma sobrancelha, Demi deu um passo à frente, ficando perto o suficiente de Joe para tocar a lapela do casaco dele. O coração dela acelerou ao sentir o peito esculpido sob seus dedos, mas ela manteve o olhar divertido e levemente distante e fez um tsc.
– Se está tentando me influenciar, não vai funcionar. Ainda tenho certeza de que vou vencer a aposta das resenhas – disse ela, com um sorriso. –
Mas definitivamente estou ansiosa por esta noite... e para ver o que você pensa ser suficiente para me convencer a aceitar sua aposta paralela.
Joe gargalhou.
– Não posso dizer que não pensei em convencer você quando planejei a noite. Para ser sincero, tem sido um desafio intrigante. Fiquei pensando em uma série de ideias para provar que o sexo bom é totalmente físico.
Ele colocou a mão sobre a dela, mantendo-a presa entre seus dedos grandes e os contornos rijos de seu peito. O sorriso de Demi endureceu, mas ela se obrigou a mantê-lo, assim como manter a mão onde estava.
– A aposta verdadeira, se é que você se lembra, é para provar que as emoções deixam o sexo melhor.
– Paráfrase interessante – refletiu ele, os dedos se entrelaçando aos dela agora. – Meu conceito nessa aposta, é claro, é que o sexo não precisa do verniz bonitinho das emoções para ser incrível.
Demi deu de ombros e, necessitando de distância, removeu os dedos do aperto dele.
– Tudo é discutível, a menos que você me convença a aceitar o desafio, é claro – contestou. Afinal, ela ainda não havia concordado, não totalmente. Porém, se o corpo dela tivesse algum direito de se manifestar, ela já estaria jogando Joe no chão e mandando ver antes mesmo de a noite começar. Mas ele não sabia disso. Ela se sentiu reconfortada ao percebê-lo franzir a testa sutilmente. Demi tinha esperanças de estar deixando-o confuso.
– Pronto? – perguntou ela, erguendo a capa pesada das costas do sofá. A lã preta e densa era forrada de cetim, criando uma silhueta elegante. Melhor ainda, seria quente. Parecia perfeita, afinal as noites de São Francisco eram frias, mesmo no verão.
– Pronto – concordou ele, posicionando a capa nos ombros dela. Demi enrijeceu, mas ele não fez mais do que ajeitar o tecido, e então se afastou.
Joe lhe entregou um envelope. Demi apertou a cartolina grossa entre os dedos e lançou um olhar questionador.
– Sua lista de leitura – informou ele, com um sorriso malicioso. – Eu quis deixar você dar uma espiadinha antes de enviá-la para o produtor do programa.
Demi correu o polegar sob a aba e a mão de Joe disparou para detê-la. Ela arfou quando o calor intenso de seus dedos fez seu estômago revirar.
Ele exibiu um olhar travesso e balançou a cabeça.
– Depois – disse Joe.
Ela passou a língua no lábio inferior, provando o gosto doce do gloss reluzente. Depois?
Depois do quê? Imagens dos dois juntos se contorcendo em êxtase, os gemidos de prazer preenchendo o ambiente, passaram pela mente dela. Se o cérebro era o órgão sexual mais potente, ela já a estava a meio caminho de ter um orgasmo enlouquecedor com Joe. E isso só de olhá-lo.
Controle-se, Demi. Ela precisava manter a cabeça fria. Ele obviamente lhe entregaria a lista com instruções para não ler, como parte de sua estratégia para deixá-la confusa. Provavelmente supusera que, se fizesse desse jeito, ela ficaria mais suscetível aos jogos travessos dele.
Com isso em mente, ela mandou um olhar do tipo “eu vou vencer” outra vez e inclinou a cabeça.
– Tenho certeza de que terei outras coisas em mente... depois. Mas vou deixar isso para mais tarde.
Ele arregalou os olhos azuis, que brilharam com um calor agradecido logo em seguida. Antes que ele pudesse fazer algo a respeito da promessa latente, Demi gesticulou para a porta:
– Vamos começar, certo? Eu detestaria me atrasar.
Joe sufocou seu sorriso diante do desafio nos olhos da ruiva sexy. Pela postura dela, Demi realmente pensava ter alguma chance de fazê-lo mudar de ideia a respeito das emoções. Aha, tão provável quanto ver a “ex” dele oferecendo amor incondicional a alguém um dia.
Era como tirar doce de criança. A aposta estava no papo.
A lista de livros que ele escolhera garantia que ela ficaria mexida, tanto sexual quanto emocionalmente. Ele tinha certeza de que Demi ia ficar toda moralista na hora de escrever as resenhas, desanimando os leitores. Especialmente os leitores dele, que conheceriam a situação na semana seguinte, quando ele anunciasse a disputa de resenhas em seu site. Joe tinha certeza de que sua base de fãs iria se juntar e, depois de ler as resenhas arrumadinhas e emocionalmente exigentes de Demi, votaria contra ela.
– Certamente, vamos começar – concordou ele, ansioso para dar início à noite. Afinal, com a aposta das resenhas já acertada, ele poderia se concentrar na aposta que realmente queria vencer. Aquela que iria colocar a mulher mais intrigantemente sensual que ele já conhecera em sua cama. Ele gesticulou para a porta.
– Tenho um carro aguardando por nós.
Demi franziu a testa de leve, como se de repente tivesse percebido que ele estava armando alguma coisa. Passou a língua rosada sobre os lábios fartos e desfrutáveis. Joe queria fazer o mesmo para ver se a carne densa e reluzente tinha um sabor tão bom quanto aparentava.
– Um carro?
– Imaginei que você gostaria de um jantar com vinho. Mais tarde, pensei em pararmos em uma boate da qual gosto, mas eles só trabalham com consumação mínima. Tenho uma política restrita em relação a beber e dirigir. É mais simples ter um motorista e um carro à disposição. Assim podemos fazer o que quisermos sem nos limitar.
O olhar demorado e entorpecido que ela arremessou daqueles olhos imensos o fez desejar poder se ajoelhar apenas pelo prazer de beijar o corpo dela, começando de baixo até em cima. Longe de ser um monge, ele havia desfrutado da companhia de uma série de mulheres ao longo dos anos. Mas nenhuma, nunca, o intrigara e desafiara igualmente, ao mesmo tempo em que o deixava tão excitando quanto um adolescente de 16 anos com passe livre para o esconderijo das revistas Playboy do pai.
Controle-se, Jonas. Fique firme.
– Provavelmente eu deveria avisar – disse ele a Demi, dando sua advertência padrão do primeiro encontro quando saíram do apartamento – que, de algum modo, tudo na minha vida acaba indo parar nos meus livros. Há uma boa chance de essas apostas acabarem lá também.
Ele aguardou pela reação dela. Uma empolgação bajuladora ou indignação eram típicas.
Mas Demi era tudo, menos típica. Ela deu um olhar espantado, então riu. Não uma risada feminina, contida. Uma gargalhada profunda, rouca, que o fez pensar em lençóis de seda negros, luz da lua e champanhe.
Joe semicerrou os olhos enquanto fitava o rosto dela. Demi era linda, é claro. Mas, quando ria, perdia aquele ar de sofisticação cheio de “não me toques”.
– Suponho então que você não tenha objeções? – perguntou ele, segurando a porta do elevador aberta.
Demi entrou, então aguardou que ele se juntasse a ela antes de balançar a cabeça, um sorriso ainda brincando sobre aqueles lábios macios dignos de serem beijados.
– Objeção? Só se acabarmos sendo perseguidos por malfeitores nefastos que querem nos machucar. Ou... – Ela veio com mais um olhar entorpecido. – Se você me transformar na heroína e o sexo do nosso livro for impessoal, cansativo e desprovido de emoção, usado apenas para excitar em vez de aprofundar a trama.
Ele precisou de meio segundo para decifrar aquilo. Para uma mulher que parecia uma das gatas mais sensuais que ele já conhecera, ela certamente se expressava como alguém bem cerebral. Não que Joe tivesse alguma coisa contra mulheres inteligentes. Era que a maioria das mulheres inteligentes tinha alguma coisa contra ele. Joe não tinha certeza se era uma reação ao seu gênero ou ao seu cinismo.
– Duvido que sejamos perseguidos – respondeu, se apoiando na parede de metal do elevador.
– E quanto ao sexo?
Joe percorreu o olhar sobre as formas sedosas do corpo dela. A pele, tão exposta pelo corte simples do vestido verde, reluzia, convidativa. Os dedos dele coçavam para trilhar um caminho pela clavícula, descendo até o limite do corpete, rumo aos seios.
Joe encontrou os olhos dela. Havia um traço de desconforto nas profundezas castanhas. Ótimo.
– Bem, coloquei limites na minha perseguição a você por isso – disse ele, e ficou apavorado ao perceber que não estava falando sério.


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Um comentário:

  1. Ai que nervoso pra saber o que vai acontecer........posta mais......faz maratona por favor..........

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