4.8.14

Capítulo Cinco






JOE SE recostou na cadeira, ignorando o calor dos refletores, e sorriu. Por mais que as luzes estivessem quentes, não eram nada se comparadas ao olhar de Demetria Devonne. O olhar furioso combinava com o cabelo ruivo flamejante, conferindo um rubor delicado à pele de porcelana. Olhos imensos de corça dominavam um rosto todo formado por ângulos e planos, bem-definido em vez de arredondado.
Sendo um sujeito que se orgulhava por suas pesquisas, Joe ficara surpreso por seu equívoco a respeito da criticazinha sensual. Ele havia lido todas as resenhas dela, assim como a entrevista para a Risqué e a reportagem sobre a transformação.
Aparentemente, deixara de enxergar alguns detalhes. Primeiro, a mulher era afiada. Segundo, e definitivamente mais importante, era muito sexy. Nas fotos do “antes” ela era uma tímida, mas aquilo obviamente era parte da estratégia da revista para valorizar a transformação. A srta. Devonne claramente era uma daquelas mulheres über sexy que tinham feito a tal transformação apenas para chamar a atenção. Ele conhecia muitas como ela... Sempre entediadas e buscando mudanças. Mudanças no visual, mudanças de emprego, mudanças de parceiro.
– Que tipo de aposta você tem em mente? – perguntou o engenhoso coapresentador louro. Joe conseguia enxergar as engrenagens na mente do sujeito se movendo, tentando encontrar um jeito de transformar a situação em um evento explosivo. Por ele, tudo bem: quanto mais pessoas assistissem ao seu triunfo, mais fácil seria para Gary convencer o editorial a disistir da pressão por causa da tal baboseira emocional.
– Minha opinião é que, apesar de seu apelo óbvio, a srta. Devonne não fala para o telespectador médio – reafirmou Joe. Ele não entendeu a surpresa no olhar de Demi, porém as sobrancelhas contraídas, deixaram claro que ela discordava de algo que ele dissera.
– Nas últimas semanas, fizemos enquetes com os telespectadores do Wake Up California através de nosso maravilhoso site, e lamento informar que eles não parecem concordar com sua avaliação. Demi tem uma base crescente de fãs – desafiou o coapresentador Sean “sei lá o quê” dando um sorrisinho exultante.
Joe lançou um olhar demorado e sombrio que fez o sujeito engolir em seco visivelmente. Lembrando a si o motivo de estar ali, ele mal conseguia refrear sua impaciência. A última coisa que havia planejado fazer era dar mais munição para a crítica literária gostosa dos infernos respaldar sua opinião sobre o trabalho dele.
– Dentro dos critérios que vocês estabeleceram, tudo se encaixa – falou Joe, em um tom que deixava claro o quanto considerava a tal enquetezinha deles inútil.
– Compreendo seu desconforto com meus comentários sobre seu livro – observou Demi, os lábios reflitindo as luzes intensas do estúdio. O olhar dele trilhou pelo lábio inferior dela, seu volume era um convite a mordiscadas. – Ninguém gosta de ter seus problemas de intimidade devassados publicamente. Mas você não parece ser o tipo de sujeito inseguro que se preocuparia com isso.
Ela se remexeu na cadeira, seu corpo berrava desafio. As curvas delicadas dos seios acentuadas pela blusa de seda, revelando a renda do sutiã. Mas era a expressão nos olhos dela, aqueles olhos de curiosidade inteligente, o que mais o excitava. O corpo de Joe não mentia, e o desejo se espalhava.
Espere... Problemas de intimidade?
– Eu não tenho problemas de intimidade.
– Não? Você está em um relacionamento emocionalmente maduro, comprometido?
O brilho naqueles olhos escuros deixou claro que ela o considerava encurralado.
– É a isso que você equipara a intimidade? A compromisso? Eu penso um pouco diferente.
Ela passou a língua, só a pontinha, sobre o lábio inferior. Os olhos de Joe seguiram o movimento, enquanto se perguntava se Demi havia aceitado o desafio. Ela deu um suspiro ínfimo. Obviamente sabia que precisava aceitar, no entanto, não estava entusiasmada.
– A definição do dicionário para intimidade é “uma relação pessoal íntima, ou conhecimento resultante de uma relação estreita ou do estudo de um assunto” – afirmou ela.
– O dicionário também define intimidade como um ato sexual – retrucou Joe, calando-a com um sorriso malicioso.
A careta dela, tão sutil que provavelmente as câmeras não captaram, demonstrou que ela havia imaginado que ele daria tal resposta. Droga, Joe não tinha certeza do que era mais atraente. O corpo curvilíneo dela e o lábio inferior sensual ou sua inteligência. Ele não queria nada além de debater semântica com ela. Desde que estivessem nus, é claro.
– Você alega, então, que relacionamentos sexuais desprovidos de emoção estão no mesmo nível de relacionamentos sexuais com comprometimento emocional?
– Você está comparando laranja com banana – declarou ele, dando de ombros. – Mas perceba que ambas são frutas.
– E você está a fim só da banana, aparentemente. Fato que está bem claro em seus livros. O foco único na luxúria, sobrepondo-se ao amor, parece destacar um aspecto unidimensional da intimidade.
– Eu não tenho a pretensão de escrever sobre intimidade – rebateu Joe. – Eu escrevo suspenses eróticos. Empolgação para fazer o coração acelerar, tanto no enredo quanto nas cenas de sexo explicitamente detalhadas.
Dificilmente pode ser considerado unidimensional.
Demi mordiscou o lábio com os dentes brancos perolados, obviamente pensando o quanto desejava levar aquela conversa mais adiante. Joe estava obcecado pela sua boca.
– Odeio discordar de um autor cujo trabalho sinceramente admiro muito – falou ela lentamente. Então meneou um dos ombros para informá-lo de que não era o tipo de mulher que evitava confrontos, por mais que os odiasse. – Mas se você analisar seus últimos... ah, digamos, três livros, só para nos determos aos recentes, então vai notar que as cenas de sexo são, de fato, unidimensionais.
Ela lançou o que quase podia ser tomado como um olhar de desculpas e prosseguiu:
– Até mesmo previsível.
Se Demi o tivesse acusado de ter um pênis pequeno, ele não teria ficado mais chocado.
– Óbvio que são – rosnou Joe. – Eu faço sexo de primeira. É quente, é selvagem. Nunca ninguém se queixou.
– Na verdade, estamos falando de escrever, não de transar. Embora ambos aparentemente sejam semelhantes no seu mundo, eu não critiquei suas proezas sexuais.
– Quando quiser uma chance para fazer essa crítica, é só me avisar – ofereceu ele, com seu sorriso mais malicioso. Seu humor, sempre explosivo, se acalmou.
O produtor estava praticamente dançando no lugar, a empolgação óbvia enquanto ele fazia mímica dizendo bobagens como “ótima tensão sexual” para o apresentador louro. Joe o ignorou, ao passo que Demi de fato parecia completamente alheia à equipe e à atmosfera carregada do estúdio. Ou ela estava fingindo?, pensou ele quando o olhar caiu sobre os dedos dela, cujos nós estavam brancos enquanto agarravam a beirada da cadeira.
A mulher era um mistério. Havia algo de intrigante na combinação entre o olhar inocente e a aparência sofisticada.
Um suspiro trêmulo assegurou a Joe que Demi não estava indiferente. Um plano maléfico até dizer chega se formou no fundinho da mente dele. Aquela gostosa com olhos de corça havia causado um monte de problemas. Ah, claro, ele percebia que ela só queria criticar seus livros; não era nada pessoal. Mas, na verdade, para ele era a mesma coisa. E toda aquela baboseira emocional tinha ultrapassado os limites para ambos.
Joe analisou seu plano em busca de falhas, mas não encontrou nenhuma. Perfeito. Ele poderia acabar com a credibilidade dela e se divertir ao mesmo tempo. Joe sorriu. Ao notar os olhos dela observando em volta nervosamente, sorriu ainda mais. Ah, sim. Aquela pequena aventura definitivamente iria valer a pena.
Enquanto Sean e Joe debatiam fora do ar os detalhes de algum tipo de competição para ela provar seu valor como crítica literária, e a garota do tempo surpreendia o público com sua bem-dotada reserva de massa densa, Demi tentava recuperar o fôlego.
Não importava a direção para a qual ela tentasse levar o debate, Joseph Jonas, escritor extraordinário, bloqueava suas tentativas e a reorientava. Se não fosse o fato de as cenas de sexo dos últimos livros dele ficarem lampejando em sua mente como uma apresentação de slides, talvez tivesse mais controle sobre a situação. Em vez disso, ficava imaginando Joe sobre o corpo dela fazendo coisas excitantes e selvagens.
Era quase o suficiente para fazer uma mulher ansiar por erotismo em vez de romance. Quase.
Ela não parava de amassar a barra da saia. Suspirando, notou o tecido claro todo amarrotado. Entre comer o batom dos lábios e amassar a saia, ela obviamente não estava lidando muito bem com essa coisa de “nova Demi”.
Olhou para os dois homens debatendo meios de provar seus pontos de vista. Mais uma vez, embora ela fosse o verdadeiro assunto em discussão, Demi estava invisível. A frustração fez seus dedos nervosos aquietarem.
Droga, aquela transformação deveria lhe render autonomia, e não simplesmente mudá-la de completamente invisível para bonitinha, mas ignorável.
Inspirando irritadamente, Demi aprumou os ombros e pousou as mãos abertas sobre as coxas. Se quisesse ser mais parecida com uma das heroínas de Joseph Jonas e agarrar sua promoção, não podia desaparecer no cenário. Sendo assim, ela ia falar. Mesmo que aquilo significasse a possibilidade de expor a “antiga Demi”.
– Cavalheiros, acho que vocês estão complicando tudo.
Bem, o que vocês sabem, afinal? As palavras dela, pronunciadas baixinho, mas com aquele tom subjacente de autoridade que usava com seus alunos, captou a atenção dos homens.
– O que disse? – perguntou Sean.
– Sua pergunta seria muito mais abrangente se simplesmente abordasse o assunto em questão. O sr. Jonas questiona minha habilidade de me comunicar com o leitor médio, correto?
Ambos assentiram, Sean franzindo a testa, Joe com um brilho nos olhos. Demi desvencilhou o olhar daquele calor de laser azul e respirou fundo para se concentrar.
– O esquema mais fácil para mim é resenhar uma série de livros e publicar as críticas no site do programa. Criar uma enquete com proteção encriptada para assegurar que não haverá trapaças e convidar os leitores a votar. Poderíamos ainda acrescentar mais duas resenhas, apenas para garantir anonimato e um voto imparcial. E aí saberemos se o público concorda com a minha análise ou não.
– Levar a decisão ao público – pensou Sean, o tom contemplativo. Ele esfregou o queixo, como que visualizando os desdobramentos, mas o fato de estar praticamente saltitando em seu assento indicava a Demi que ela atingira o ponto de satisfação dele.
– Acho que esse seria um ótimo meio de provar a solidez... – Ele olhou para Joe. – Ou a falta de consistência nas opiniões de Demi.
– Sei... Vocês consideram que será uma avaliação justa – zombou Joe.
– Ah, mas será – disse Demi, com doçura. – Contanto que você escolha os livros.
Ele semicerrou os olhos.
– Eu tenho que escolher?
– Claro. Precisamos de parâmetros sólidos, certamente. Você sabe, livros ainda em catálogo, assim os telespectadores podem adquiri-los, algo assim. Mas não tenho objeção se você escolher o assunto.
O sorriso dele, maliciosamente satisfeito, garantiu a ela que haveria bastante literatura erótica a caminho.
– E quando eu terminar – assegurou Demi –, terei provado que os leitores buscam emoção. Eles querem se excitar a cada página, sim. Mas querem ler sabendo que há sentimentos reais em jogo.
– É bem o contrário – disse Joe, estendendo a mão para firmar o acordo. – Tenho certeza de que você vai provar que os leitores são astutos o bastante para absorver emoções fortes sem precisar de água com açúcar.
Arqueando a sobrancelha, Demi segurou a mão grande dele. Tragada pela força rija, ela se perguntou se tinha acabado de cometer um erro enorme. Ou se simplesmente havia acabado de garantir bastante visibilidade.
De um modo ou de outro, as coisas não estavam nada entediantes. Isso era uma certeza.
– O que está em jogo? – perguntou ele, o brilho no olhar deixando claro que o acordo já estava selado.
Ela meneou a cabeça, indicando que ele poderia definir o prêmio.
– Se suas resenhas não vencerem, você vai admitir que estou certo – exigiu Joe. – E vai admitir aqui, na televisão.
Ahhhh, um golpe publicitário. Ele devia estar sofrendo uma pressão e tanta por causa dos comentários dela. Demi assentiu lentamente.
– Fechado. E se minhas resenhas vencerem...?
– Não vão vencer.
Ela ergueu uma sobrancelha.
– Que bom, você está bastante confiante de que não vou vencer, então não vai ter problemas em concordar em incluir em seu próximo livro um relacionamento verdadeiramente íntimo para John Savage.
Ela não sabia de onde aquela ideia havia surgido – talvez Demi estivesse mesmo canalizando uma das heroínas dele –, mas se inclinou para a frente e, com o que esperava ser um sorriso malicioso e um adejar de cílios, ela deu um tapinha no joelho dele.
– Ficarei feliz em ajudar você a escrever aquelas cenas de amor enfadonhas, é claro.


*****

Amores, eu gostaria tanto que vocês comentassem. Me digam o que estão achando da fic, eu adoraria conversar com vocês. E, já vou adiantar, o próximo capítulo maior e tem um pré-hot hahaha, espero que gostem, beijos.

2 comentários:

  1. Olá, estou amando!!!! Posta maratona por favor!!!! De preferência começando hj ainda..... kkkkkkk

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    1. Que bom que você está amando <3 Vou tentar fazer a maratona no sábado, ok?

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