3.8.14

Capítulo Quatro






DEMI RECITAVA mentalmente as obras de poetas americanos de épocas anteriores para evitar babar diante da visão de Joseph Jonas, mestre do suspense erótico, a poucos centímetros de distância. Se ela o havia considerado quente quando ele estava do outro lado da sala, agora era um incêndio. A sexualidade masculina pura a chamava, diferente de tudo que já havia sentido. Queria arrancar as roupas dele com os dentes. Uma imagem surgiu na cabeça dela: os dois, alguns metros de corda e uma banheira cheia de sorvete de chocolate.
– Joe, eu gostaria que você conhecesse o mais novo membro do Wake Up California, Demetria Devonne. Demi, creio que você já leu as obras de Joe.
As visões do sorvete derretiam enquanto Demi encarava o olhar azul penetrante de Joe. Ela congelou ao captar aquelas profundezas intensas, então lembrou a si de que aquela era a nova Demi. A Demi transformada, sofisticada, que merecia atenção.
Mesmo que o olhar dele dissesse que sabia como ela ficava nua, Demi só estava imaginando que Joe percebia seu nervosismo. Não deixe que notem que você está suando, ensinara Miley. Quando estava no ar, Demi se recordava de todos os conselhos da amiga para controlar o nervosismo, e descobriu que eram ainda mais adequados agora. Contanto que mantivesse sua expressão impassível no lugar, ela ficaria bem.
Para uma mulher que adorava a palavra escrita, conhecer um autor sempre era um prazer. Conhecer o autor responsável por seu último orgasmo era tão fabuloso quanto um pouco constrangedor. Especialmente considerando que o olhar dele, aquela análise sombria e sensual, a fazia se perguntar se ele tinha ciência de que lhe dera tal prazer.
Provavelmente. Joe tinha muita autoconfiança.
A velha Demi teria se sentido humilhada ao encarar aquele olhar analítico. Teria fugido, sem dúvida. Mas a nova Demi? A Demetria Devonne, supercrítica literária? Ela aprumou os ombros, exibindo seus seios inflados pelo sutiã com enchimento para ficar em sua melhor posição sob a blusa vermelha de seda, e ergueu uma sobrancelha em desafio.
– É um prazer – disse ela, orgulhosa por seu tom suave. – Li todos os seus livros.
– Leu? – Ele arqueou uma sobrancelha perfeita, o sorriso predatório. Como um tubarão charmoso e sensual... pronto para dar uma enorme mordida no traseiro dela. – E o que achou deles? Ah, espere, acho que já li sua opinião, não li?
Sem ter muita certeza de como responder, Demi lambeu os lábios, desconcertada ao notar os olhos de Joe semicerrando enquanto seguiam o movimento de sua língua. Após um segundo, ele levantou o olhar para encontrar o dela outra vez. O calor sombrio emanado pela beleza dele a deixava nervosa.
– Pelo seu olhar, Joe, você não é um grande fã de críticas... – comentou ela, retornando para sua prática em debates a fim de esconder o nervosismo. – Ou seu problema é apenas com os críticos que dizem coisas que você não quer ouvir?
Ela o observava com fascinação, as expressões mudando no belo rosto de Joe, primeiro choque, depois graça, e finalmente estima.
– Não tenho problemas com críticos, ou com resenhas – disse Joe, a voz grave e retumbante. Demi sabia que ouviria aquela voz durante o sono. – O problema é quando inserem seus preconceitos infundados na resenha.
– Tais como pedir por envolvimento emocional em suas histórias?
– Este seria um bom exemplo.
– Mas é isto que seus leitores estão pedindo.
– Eles não estavam, até você incitá-los – observou ele.
– Ah, por favor – zombou ela, deixando o nervosismo de lado. – Você está me responsabilizando por seus leitores exigirem emoções em seus livros?
Acha que meu único comentário mudou a opinião de milhares de leitores?
– Milhares?
– Eu recebo e-mails sobre esse assunto.
– Eu também.
– Quer comparar volumes?
Sean reprimiu visivelmente uma risada. Demi percebeu que ele e o produtor estavam acenando sutilmente para a frente e para trás. Sean sacudia a mão para indicar calor, o produtor indicava que era para esquentar mais as coisas. Demi sufocou sua risada cheia de pânico. Esquentar uma ova! Se as coisas esquentassem mais ali, ela derreteria sobre as coxas musculosas de Joseph Jonas.
Joe captou a atenção dela novamente, que não conseguiu conter um sorriso em resposta.
– Falando sério – disse Demi, se inclinando para a frente a fim de enfatizar seu ponto de vista. O olhar dele baixou, apenas por um segundo, em direção ao decote em “V” da blusa dela. Demi agradeceu silenciosamente pelo reforço do sutiã em gel e fingiu não estar excitada quando o olhar dele retornou ao dela. – Você não sente que tem uma obrigação com seus leitores? Ouvi tanto que eles estão clamando por emoções nessa aventura selvagem à qual você os leva. Isso não o influencia de jeito algum?
– Eu já transmito muitas emoções. Medo, adrenalina, luxúria. Até você estimular esse comentário, meus fãs estavam bastante satisfeitos. Principalmente com o sexo – declarou Joe. Ele fez uma pausa, pensou um pouco, então acrescentou: – Uma crítica anterior a você disse certa vez que o único jeito de alguém ficar insatisfeito com meu trabalho seria se tivesse alguma disfunção sexual.
– Então você está alegando que o único motivo de alguém odiar seu trabalho seria no caso de ter uma disfunção sexual? – Demi soltou uma risada perplexa. – Você está brincando, certo?
– É claro que não. Eu nunca brinco quando se trata de sexo. – As palavras dele foram provocantes, no entanto, a intensidade nas entrelinhas proclamava que Joe, de fato, levava o sexo muito, muito a sério. Demi se remexeu na cadeira dura, tentando ignorar o calor úmido em sua calcinha.
– É por isso que estou aqui – continuou Joe. – Como eu discordo fortemente de sua visão sobre o modo como lido com o sexo, imaginei que poderíamos discutir a questão.
– Quer dizer que está aqui para me fazer mudar de ideia?
– Ou você pode me fazer mudar de ideia.
Ela comprimiu os lábios, tentando enxergar a armadilha. Havia uma, Demi tinha certeza disso.
– Está com medo? – murmurou ele, em um tom grave e rouco.
Diabos, sim. Demi encarou o rosto pretensioso. Joe sabia que ela ficaria intimidada. Tinha ido até ali com sua figura sensual, postura arrogante e disposta a desafiá-la. Intimidá-la, fazê-la parecer estúpida.
Ela semicerrou os olhos. Ele provavelmente achava que, se a fizesse parecer burra, seria capaz de refutar seus comentários na entrevista da Risqué.
– Na verdade, não – disse ela lentamente. – Confio plenamente em minhas avaliações. Após anos resenhando, acredito que as opiniões que compartilho geralmente refletem o consenso público.
– Você está alegando ser a voz do leitor médio?
Ela pensou no assunto. Nunca tinha sido “média” em nada, então o conceito era intrigante. Mas sempre vira suas resenhas refletirem consistentemente nas vendas, e isso sem mencionar os e-mails recebidos.
Após alguns segundos, ela assentiu lentamente.
– Se você usa a definição de médio como o consenso de leitores de um determinado gênero, então sim. Estou segura em afirmar que minhas resenhas tendem a se encaixar na norma.
Ele franziu o cenho. Demi se perguntava se havia ido longe demais na terra da intelectualidade. Ela umedeceu os lábios subitamente secos e esperava não ter estragado seu disfarce.
Definitivamente, não seria aceitável se qualquer um associasse Demetria Devonne, vencedora de um concurso de transformação e crítica literária de ficções populares, à Doutora em Literatura D. D. Lovato, professora adjunta, conhecida como a Mulher Invisível.
Demi tinha a sensação de que, qualquer que fosse o jogo que Joe estivesse fazendo, ele poderia comprometer seriamente seu anonimato e muito possivelmente arruinar suas chances de ser promovida.
Mas ela não iria recuar. Havia algo naquele sujeito que exigia que ela mantivesse a firmeza, desse tudo de si. Ela gostaria de ser capaz de descobrir o que era. Assim, poderia descobrir como ignorá-lo.
– Se você tem tanta certeza – falou Joe afetadamente, com um sorriso satisfeito que dizia a Demi que, em vez de pisar na terra da intelectualidade, ela havia, na verdade, pisado na armadilha dele: – Que tal se fizermos uma pequena aposta?


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