1.8.14

Capítulo Dois






– VOCÊ TEM que admitir, sexo vende – declarou Joseph Jonas, se recostando na cadeira macia e entrelaçando os dedos atrás da cabeça. – E eu vendo mais que a maioria.
– Claro, claro – concordou Gary Masters, agente literário de Joe, assentindo lentamente. – Ninguém está dizendo que você não escreve muito bem sobre sexo, Joe. O fato é que o editor quer mais.
Joe bufou. Aquela era a terceira reunião em dois meses a respeito de mudanças editoriais. Ele queria um relacionamento sólido com seu novo editor. Afinal de contas, creditava boa parte de seu sucesso profissional à sua editora antiga. Mas não importava o fato de ele não gostar de ela ter se aposentado.
– Mais sexo? – Ele franziu a testa, então deu de ombros. Contanto que não comprometesse o nível de suspense em seus livros, ele não se importava em incluir mais sexo. Tinha acabado de cortar as bobagens de preliminares, golpeando-as com força com uma pegada mais quente e selvagem. – Posso fazer isso.
– Não, mais sexo não – disse Gary, a voz um ribombar baixinho em contraste ao escritório reluzente e sofisticado. – Mais emoção.
Joe pôs os pés no chão e franziu a testa. Ele havia ido até Nova York para encontrar Gary, assinar a próxima rodada de contratos de publicação e acertar algumas coisas sobre suas funções e obrigações antes de retornar para São Francisco. Pelo modo como Gary estava batendo a caneta na pilha de contratos sobre a mesa, havia um probleminha ou cinco enterrados naqueles papéis.
– Ele está sugerindo mais emoção?
– Na verdade, “exigindo”.
Filho da mãe.
– Três livros na lista dos mais vendidos do The New York Times e ele quer mudar a essência do meu trabalho? Você está brincando, não é?
– Olhe, você não precisa aceitar a exigência. Podemos contrariar a cláusula do contrato. Ou podemos argumentar sobre sua qualidade e nível de vendas. Mas...
– Mas o quê?
– Bem, ele realmente está insistindo. Ele se apoiou em uma série de fatos e dados do setor, e até mesmo em alguns pedidos de fãs. Você está começando a perder sua base feminina de fãs, a qual, de acordo com os dados, compõe 30 por cento de suas vendas.
Joe fez uma careta mal-humorada. Ele escrevia suspense erótico, não suspense romântico. As únicas emoções em seus livros eram medo, empolgação e luxúria. Com o maxilar cerrado, bateu o punho no joelho.
– Olhe, esses números vieram do editor. Como você sabe que não estão distorcidos em favor dele?
Gary ergueu uma sobrancelha espessa.
– Em primeiro lugar, não sou um novato imaturo e sem noção... verifiquei com minhas fontes. Em segundo lugar, eu recebi ainda mais mensagens pedindo a você para abaixar o tom do sexo sem sentido e dar a John Savage um lado mais brando. As fãs desejam emoção. Até mesmo seus críticos estão começando a concordar a respeito disso. Um deles acabou de censurá-lo severamente em uma publicação nacional.
Joe deu de ombros com desinteresse. Críticos tinham seu lugar, mas não era atrás do teclado de um computador. Para começo de conversa, ele escrevia principalmente para si mesmo. Se tivesse cedido a todas as pessoas que desejavam que escrevesse de um jeito diferente, que ele fosse diferente, diabos, já teria desistido há muito tempo.
– Não ridicularize – advertiu Gary. – Eu sei que críticos não significam nada para você, mas esse se tornou assunto na internet. E seu editor está surtando. Ele tem certeza de que seu próximo lançamento vai fracassar. Na verdade, ele até mesmo me enviou uma cópia da revista com os comentários do crítico em destaque.
Joe franziu a testa.
– Quem, diabos, é esse cara?
– Garota.
Ele revirou os olhos. Já devia imaginar. Um crítico do sexo feminino, fãs do sexo feminino. Deixe a cargo das mulheres pedir por mais emoção. Por que tinham tanto essa necessidade de falar a respeito, e até mesmo de acreditar em contos de fadas no amor?
Joe zombou. Ele havia experimentado dor, manipulação e drama suficientes em nome daquela coisa nebulosa chamada amor para conhecer a realidade. Emoções eram simplesmente um rótulo para escolhas feitas no momento. Era o que as pessoas utilizavam para justificar o que quer que desejassem fazer.
Ele se orgulhava de sua honestidade brutal, apesar do que os outros pudessem pensar; logo no começo de todo relacionamento físico, sempre declarava que não fazia o jogo das emoções. E, além disso, tal como seu personagem John Savage, as mulheres sempre achavam que poderiam mudá-lo. As únicas que não tentavam, eram aquelas interessadas em usá-lo.
Exatamente como aquela crítica literária desgraçada. Provavelmente pensava que faria seu nome detonando o trabalho dele, pensando que, se Joe cedesse aos apelos da resenha, ela estaria feita na vida.
– Então alguma crítica bocuda quer usar meus livros como trampolim – resumiu Joe, dando de ombros. – Deixe que tente. Para mim, não importa, não vou mudar. John Savage é um personagem sólido. Ele é intenso, é um homem de verdade. A última coisa da qual as histórias precisam é de coisinhas amorosas fofinhas espirrando para todos os lados para estragá-lo.
– Na verdade, ela tem uma reputação sólida nos círculos de publicação. Ganhou um pouco de notoriedade nos últimos dois meses.
– Detonado meus livros – zombou Joe.
– Não, detonar você foi acidental. Ela atingiu a fama através de um concurso que acabou de vencer. A revista Risqué publicou a entrevista com ela no mês passado.
Quando Joe ergueu uma sobrancelha, Gary pegou uma pasta em sua mesa e lhe entregou. Joe folheou seu conteúdo.
Risqué. Uma das maiores revistas femininas do país, abordava de tudo, desde aventuras sexuais a saúde e moda. Olhos de corça enormes emoldurados por uma cabeleira ruiva sedosa captaram a atenção dele. Havia alguma coisa naqueles olhos cuidadosamente maquiados, uma vulnerabilidade que o atraiu. Mas, em vez de se deter naquilo, Joe ignorou as fotos reluzentes e foi diretamente para o texto.
Srta. Devonne, você não acha que a ficção moderna deixa um pouco a desejar?
Ah, não. Há tantas obras fabulosas nas livrarias atualmente. Os autores de hoje estão para os leitores assim como as irmãs Brontë estavam para os seus. Inspirados, divertidos, talentosos.
O estilo das Brontë poderia ser considerado como “o” romance?
Com certeza. Mas os outros gêneros também fazem jus ao termo.
O que você acha de, digamos, literatura erótica ou suspense?
Para quem gosta, um dos melhores autores para ler é Joseph Jonas. Ele tem feito um trabalho louvável ao combinar erotismo e suspense. É impossível ler os livros dele sem ter uma reação física. Definitivamente, é de acelerar o coração.
Joe sorriu. Ele se perguntou quantas vezes havia acelerado o coração dela.
Então, como especialista literária, você recomenda Joseph Jonas?
Se quiser uma leitura sem compromisso, definitivamente sim.
Joe franziu a testa.
Sem compromisso?
Bem, os livros dele são ótimos, mas não do tipo com os quais você se envolve emocionalmente. Ao mesmo tempo em que o sexo é um dos mais quentes dentro da literatura atual, é sempre dotado de distância. Não estabelece muita empatia ou envolvimento com o leitor. É como assistir a um programa de televisão com a tecla de aceleração apertada. Muito impacto em pouco tempo, mas sem profundidade suficiente para fazer o leitor se importar com os personagens. É similar a uma pornografia bem-feita. Quente e sensual, sim... Sou a primeira a levantar a bandeira de que ele atrai o leitor totalmente para o desfecho sexual. Mas é só isso. Sexo só por prazer. É uma pena que Jonas seja medroso em relação às emoções. Se ele ganhasse alguma profundidade, seus livros seriam fantásticos.
Medroso?, zombou Joe. Quem era medroso? Só porque abrir a porta para as emoções era o equivalente a ser empurrado para um poço cheio de piranhas comedoras de carne...
– Ela comparou meu livro à pornografia? – questionou ele, sem querer pensar nas outras acusações irritantes, para não mencionar evidentemente mentirosas. Não era a primeira vez que alguém comparava seu trabalho à pornografia. Mas era a primeira vez que aquilo o incomodava. Provavelmente por causa daqueles imensos olhos castanhos dela.
– Esta é a parte na qual todo mundo se fixou. – Os dedos magros de Gary tamborilavam ritmadamente sobre a pilha de contratos. Joe analisou o rosto do homem. Anguloso, quase erudito, o agente de cabelo grisalho se assemelhava a um monge sábio. Ele tinha o coração de um tubarão e conhecia o ramo como um mago. Era graças a ele que Joe estava onde estava, profissionalmente falando. O sujeito conhecia bem seu meio.
Ele também fazia um belo churrasco, mantinha a mãe de Joe longe de seu pé e havia tirado Joe do inferno terrível que fora sua vida depois que sua esposa o humilhara publicamente durante o divórcio. Joe devia muito a ele. Mais importante ainda, Joe confiava nele.
– Olhe, eu sei que você evita emoções. E tem bons motivos para isso, considerando seu passado – disse Gary, em um tom cuidadosamente calculado. Joe apenas o encarou. Ele não queria falar sobre Angelina. A mulher que o seduzira e então destruíra sua vida. Mesmo depois de descobrir sobre o caso dela com outro, ele desejara acertar as coisas entre eles. Angelina, porém, não, conforme havia provado depois, quando dera uma série de entrevistas para compartilhar com o mundo os segredos mais profundos e sombrios do casamento deles. E, mais especificamente, sobre a vida sexual deles. Graças a ela, as vendas dos livros subiram em velocidade diretamente proporcional à deflação do ego dele. E esse era certamente o objetivo dela, Joe tinha certeza, visto que Angelina conseguira uma boa fatia nos direitos autorais das vendas. Aquilo fora o necessário para Joe se assegurar de que se render às emoções era uma viagem só de ida rumo à desgraça.
– Eu não evito nada – negou ele veementemente. – Só acho que esse tipo de golpe publicitário é uma grande bobagem.
– Joe, apenas pense no assunto. Você sabe, crie um interesse amoroso para Savage. Deixe seu editor feliz. Satisfaça suas fãs. Resolva isso antes que o problema cresça.
– Meu personagem já está construído, Gary. Eu já escrevi oito livros. Está óbvio que ele não é um tipo emotivo. Ele funciona, as histórias funcionam. Você não pode simplesmente chegar no meio da série e rescrever sua história inteira e suas motivações. Eu perderia meus leitores principais.
– Acho que você precisa cogitar algumas mudanças, então. Mesmo que não sejam com o personagem principal. Talvez uma trama paralela?
Joe conteve o pânico furioso que lhe revolvia o âmago. Para criar um personagem, precisava entrar em sua cabeça. A última coisa da qual precisava era mergulhar em um poço emocional.
Ele olhou para a pasta e folheou o amontoado de recortes de jornal. Em vez de uma foto ao lado de sua assinatura, a tal Demetria Devonne exibia o desenho de um livro. Estranho. A maioria das mulheres que conhecia ansiava por atenção tanto quanto por ar para respirar. Era uma necessidade. Talvez aquilo fosse uma espécie de manobra para aumentar a fama em cima da transformação.
– Dê-me uma chance de cuidar disso – disse ele, ficando de pé. Pairando sobre a mesa do agente do alto de seus 1,88m, Joe enrolou a pasta e a enfiou no bolso traseiro da calça jeans.
– O que você vai fazer?
Joe andou até a porta. Com a mão na maçaneta, olhou para trás.
– Vou ensinar a srta. Devonne a pensar duas vezes antes de mexer comigo. Assim que eu acabar com ela, vai admitir publicamente que meu jeito de lidar com o sexo é simplesmente perfeito.


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3 comentários:

  1. Tem como você divulgar meu blog por favor? http://historiaslove.blogspot.com.br/

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    1. Tem sim, quando eu postar o próximo capítulo eu divulgo :)

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  2. Oie Gi!! Como você pode parar ai!? :-(
    Está incrível e eu estou super curiosa aqui!bju!!

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