31.3.15

Capítulo Cinco




Os óculos escuros não estavam ajudando.
Cambaleando, Joe fazia o possível para manter os olhos fixos na esteira. Assim que pegasse as malas, daria o fora dali. Vovó já era crescidinha, podia chegar sozinha ao hotel. Além disso, se precisasse encarar Demi mais uma vez, ele certamente perderia a cabeça e faria alguma maluquice, como ficar olhando fixamente para os lábios dela ou tentar estrangulá-la. Era difícil saber qual das duas opções era mais provável.
— Joe? — chamou vovó. — Joe, já encontrou minhas malas?
— Não — grunhiu ele, em resposta. — E creio que seja porque eu não estou procurando por elas. Estou atrás da minha bagagem. Você mesma pode encontrar a sua e ir para o hotel maravilhoso de sempre, no centro.
Nadine segurou a mão do neto e a apertou.
— Ah, na verdade, já tenho onde ficar!
— Ótimo.
Vovó soltou sua mão e pegou o celular.
— Sim, só a limusine, por favor. Perfeito. Sim, são dois passageiros.
Ela acenou para Demi e para a outra garota. Demi ignorou Joe, o que era ótimo: ele só queria esquecer aquele dia. Ele se afastou e observou enquanto as duas garotas pegavam suas malas e saíam. Já iam tarde. Tudo o que ele queria era dormir.
Olhando pelo lado bom, ao menos vovó tinha chamado uma limusine para ele. Não que Joe fosse pobre nem algo do tipo, mas não ter mais os direitos sobre uma empresa multimilionária estava longe de ser algo positivo, ainda mais considerando o estilo de vida que ele levara nos últimos cinco anos. Passara a faculdade em festas e gastara como se não houvesse amanhã, sem ligar para nada além de si mesmo. O que teria sido ótimo, se o dinheiro não tivesse acabado de repente. Bem, na realidade o dinheiro não tinha exatamente acabado: ele ainda era milionário, mas, sem a herança da avó, a grana diminuía. Teria de dizer adeus às viagens impulsivas às Ilhas Cayman, às coberturas de hotéis e às festas de aniversário nas quais esbanjava centenas de milhares de dólares.
Aquele deveria ser o ano em que assumiria os negócios da família.
Em vez disso, vovó desistira da aposentadoria e assumira novamente o controle do conselho da empresa, deixando Joe como mero vice-presidente. Sem o salário de CEO, ele se tornava um pouco... ingrato. Ou seria apenas irritado? Não tinha certeza. Mas precisava de uma bebida forte e de sexo antes de sequer pensar em aparecer no trabalho segunda de manhã. Talvez Sarah estivesse disponível. Ou Natasha. Tinha se divertido com ela, por um tempo.
— Ela está ali! — Vovó apontou a enorme mala rosa com estampa de oncinha. — Vá pegar! Depressa!
Resmungando, ele ergueu a mala da esteira e quase perdeu o equilíbrio.
— Meu Deus! O que você enfiou aqui?
— Ah, você sabe... — Vovó fez um gesto de indiferença. — Uma mulher nunca viaja sem roupas e maquiagem.
— Certo. — Ele encontrou a própria bagagem e a pegou. — Então, cadê a limusine?
— Que limusine? — A avó tirou os óculos de sol Chanel da bolsa.
— A limusine — repetiu Joe. Todo aquele suplício no avião o deixara exausto. — Você acabou de ligar pedindo uma limusine para duas pessoas. Cadê ela?
— Joe, tenho certeza de que existem muitas limusines, onde cabem bem mais que duas pessoas, mas, para ser sincera, não sei do que você está falando. Na realidade, mandei uma mensagem ao motorista, pedindo a ele que ligasse para Demi e a irmã dela.
— E por que você faria uma coisa dessas?
— Porque a pobrezinha estava exausta! — Vovó ficou boquiaberta, apontando para a cara de Joe. — Depois de tudo o que você a fez passar! E pensar! Um bilhete de agradecimento? Agradecendo o quê? Um orgasmo? É isso que os jovens fazem, hoje em dia? — censurou vovó. — A pobrezinha nem se lembra de ter dormido com você. Eu diria que você perdeu o jeito, mas duvido de que algum dia tenha tido, para começar.
— O quê? — explodiu Joe. — Do que você está falando? Posso dar prazer a qualquer uma, quando eu quiser! Sou muito bom em fazer com que as mulheres tenham orgasmos!
Ele ouviu alguns risinhos de desdém, ao que vovó deu tapinhas condescendentes em seu braço.
— Claro que é, meu bem! — respondeu ela. Então se virou para olhar as pessoas que estavam atrás dos dois, moveu os lábios para formar um “desculpe” e deu o braço a Joe.
Como assim Demi não se lembrava de ter transado com ele? Não se lembrava de nada? Sério? Será que ela era maluca? Ele tinha cada detalhe gravado na mente. O cabelo macio, com um aroma suave de lavanda, os gemidos que fazia no fundo da garganta quando ele a beijava. E o gosto... Droga! Homem nenhum conseguiria esquecer o gosto de uma mulher, e tudo em Demi era único, só dela. Levara meses para tirar da cabeça aquele gosto, o jeito como apertara os lençóis entre os dedos e depois o tocara com aquelas mãos habilidosas...
— Sei bem como se sente — sussurrou vovó em seu ouvido. — Também fico um pouco atrevida quando viajo de avião. Você vai superar. Agora, dá para irmos embora antes que todos percebam o efeito que a animação dos aeroportos produz em você? Já foi ruim o bastante ter de ficar aqui ouvindo você gritar “orgasmo”. Deus sabe como já fui paciente com você hoje!
— O quê?
— Joe, as avós sabem das coisas. Tudo bem. Veja só, quando eu tinha a sua idade... — Ela deu uma risadinha. — Uma vez, seu avô e eu fomos ao banheiro do aeroporto... Eles eram menores naquela época, sabe? Bem, eu estava de salto vermelho, na altura perfeita para...
— Vovó, por favor, eu imploro: não diga mais nada! Já é suficientemente ruim o fato de minha imaginação estar a toda. Eu só... só preciso que o dia de hoje acabe. Preciso dormir um pouco antes do trabalho, está bem? Vamos logo para onde quer que você vá ficar hospedada, para que eu possa ir para casa.
Vovó deu de ombros e passou depressa por ele, em direção à rua. Ela estendeu a mão para chamar um táxi e deu as instruções ao motorista enquanto Joe ajudava a pôr a bagagem no porta-malas.
Quando o táxi começou a andar, ele pôde, enfim, relaxar. Vovó estava em silêncio a seu lado, com os olhos fixos na paisagem de Seattle. Joe sabia que aquela era a cidade favorita dela. E por um bom motivo. O ar era fresco e, mesmo sendo uma metrópole, Seattle era cercada de florestas.
A pergunta lhe veio de repente: quando fora a última vez que fizera uma trilha ou apreciara a cidade em que vivia? Nunca. Droga, ele precisava de férias!
Em menos de dez minutos, vovó já estava roncando.
Assim, ao menos parava de gritar obscenidades. Com a sorte que ele tinha, era capaz de ela voltar a falar de orgasmos e saltos vermelhos. Ah, mas que inferno! Ele nunca mais veria sapatos de salto vermelhos da mesma forma.
Deu uma olhada nas mensagens de texto. Algumas eram de Aileen, que errara a grafia de palavras que qualquer pessoa da idade dela deveria saber. Se tinha dificuldades até para enviar uma simples mensagem de texto, talvez não fosse mesmo mulher para namorar. Não que pensasse em, algum dia, contar à vovó que ela estava certa, porque ela usaria a informação contra ele pelo resto da vida.
A última mensagem era de Nick.
Adiantamos a data do casamento. Não queremos esperar. Selena e mamãe estão indo à loucura. Esteja pronto em duas semanas, padrinho!
— Merda! — Joe jogou o celular no banco e xingou mais um pouco.
Vovó se mexeu, mas não acordou.
Como é que iria encarar Selena e Nick, depois de tudo o que tinha acontecido? Selena fora sua melhor amiga a vida inteira, até que... as coisas mudaram. Ele mudou, ela também. As pessoas mudam, não é? Era normal seguir em frente! Era normal deixar amigos para trás. O que não era normal era dormir com esses amigos e depois os abandonar. Joe com certeza tinha problema com compromissos. Odiava o modo como as mulheres reclamavam pela manhã. Pareciam armadilhas mortíferas e grudentas. Que o envolviam com as pernas, beijavam suas costas... Não. Odiava aquilo. Queria apenas um momento com elas. Recusava-se a dar mais que isso.
Porque quando se dava mais de si mesmo, acabava sendo abandonado. Foi assim com Selena e os pais dela.
Eles morreram na noite em que Joe tirara a virgindade da amiga, e ele nunca teve a chance de se desculpar de ter desrespeitado a filha dos dois. Mas, o que era pior, nunca teve a chance de se despedir das pessoas a quem devia tudo o que tinha no mundo. As duas únicas pessoas que sabiam o que ele tinha feito no colégio, que salvaram a vida dele. E então... elas se foram.
A ideia de ir ao casamento deixava Joe desconfortável. O pai de Selena não estava vivo para levá-la até o altar, como ela merecia — mais que qualquer outra pessoa. A pior parte era que Joe estava muito bem vivendo a própria vida, até cometer o erro de pedir a Selena que fingisse ser sua noiva durante um fim de semana. Não imaginara que seria tão afetado por ela.
Mas o golpe final em seu orgulho foi quando Selena se apaixonou por seu irmão mais velho — O que, quando criança, era gago e a infernizava. Era muito injusto!
Queria ajeitar a vida antes do casamento. Precisava.
Afinal de contas, aparência e dinheiro... eram as únicas coisas que tinha. Sabia que não merecia o amor de ninguém e, portanto, nunca pedira amor. Só torcia para que aquela sua falsa segurança durasse o bastante para que ele sobrevivesse às próximas duas semanas e cumprisse as obrigações de padrinho.
Merda! Precisava recomeçar e encontrar outra garota que pudesse levar ao casamento. A julgar pelo naipe das mensagens de Aileen, ela não era mais uma opção. A garota anterior fazia com que ele se lembrasse de Selena, então também não era opção.
Sentiu que uma dor de cabeça estava prestes a despontar, mas a ignorou. Foi quando o táxi virou na saída da rodovia. A saída para a casa dele. A saída para
Lake Washington. Deu de ombros: talvez vovó fosse deixá-lo primeiro.
Quando o táxi parou na casa de Joe, perto do lago, ele desceu, pegou a bagagem e foi se encaminhando para a porta. Não acordaria vovó. Não seria legal. Afinal, ela estava apagada.
Será que isso fazia dele uma má pessoa? Bem, o taxista não a mataria nem nada... Quem mataria uma doce velhinha com baba escorrendo pela...?
— Prontinho! Obrigada! — gritava vovó.
Joe se virou, rezando pela primeira vez em anos, e viu a avó — e as malas da avó — acenando para o táxi, que já desaparecia ao longe.
Quando ia abrir a boca, ouviu:
— Pegue minhas malas! Estou exausta! Onde está meu celular? Viu meu celular, Joe? — Ela vasculhou a bolsa enorme, da qual puxou um iPhone com capa de zebrinha.
Não. Não mesmo. Ela ia ficar na casa dele? Por quanto tempo? Deus, por favor, não permita que seja até o casamento!
— Meu Deus do céu! O casamento é daqui a duas semanas! Temos bastante tempo!
— Tempo? — Aquilo só podia ser punição divina. Ou isso, ou vovó estava possuída. Era impossível decidir a alternativa mais provável.
— Sim. — O sorriso de vovó se suavizou enquanto ela pegava uma das mãos de Joe e a beijava. — Tempo para arruinar sua vida.
— Arruinar? — Joe deu uma risadinha enquanto puxava a mão. — Prefiro ficar... hã... não arruinado. Mas obrigado mesmo assim.
— Como preferir. — Vovó deu de ombros. — Ah, Joe?
— O quê? — grunhiu ele, enquanto levava a pesada bagagem escada acima.
— Você está demitido.
Joe deixou as malas caírem.
— Demitido? — perguntou ele enquanto pontos negros surgiam em sua visão.

*****

Mais um pra vocês.. Acho que até domingo não vou conseguir postar, porque minha família chega aqui amanhã já, mas, de qualquer forma, vou deixar capítulos programados, ok?
Beijos, amo vcs.

9 comentários:

  1. EITA!
    nunca imaginaria que rolou algo entre a selena e ele, caramba... estou em choque até agora. CHAMEM O SAMU, mds
    vovó sendo prestativa com a demi foi muito fofo *o* e os saltos vermelhos? rachei
    casamento em 2 semanas... TRETA, TRETA, TRETA! ansiosa para a pegação jemi, se bem que vai demorar ( eu acho ) de qualquer forma... está tudo muito bom! ❤❤❤ poste quando puder ' bjos

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    1. PRIMEIRA, que milagre é esse? KKKKK
      espero que seja um bom sinal do divino ❤ TUTS TUTS TUTS o/

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  2. Nossa nunca imaginei também que tinha rolando alguma coisa entre Joe e Selena....por isso que to amando a vovó Nadine "ah Joe...você está demitido" kkk...
    Posta logooooooooooooooo

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  3. Cada dia que passa eu me mato mais de rir da vovó kkkkk ela ja deserdou ele e agora demitiu e ainda vai morar com ele isso vai dar muita confusão. Só quero ver o que vai rolar no casamento eu fico imaginando o joe e a demi no meio da festa fazendo barraco kkkkkk
    Gi essa é literalmente minha fic preferida das que tu ja postou ❤ posta mais quando der, bjus

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  4. Estou apaixonada por essa história :-) :-) :-).
    Beijos, Posta logooo.

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  5. Selena e joe nao dao match mas selena e nick, joe e demi dao. Uhulll amando

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  6. Adorei!! Qurto mais desta história, por favor!!
    Beijos ~
    Ass: Luu, do Connections'

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  7. Essa FIC ta demaaaaaais continua postantando acho que agora o bicho vai pegar! Essa vovó é demais

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  8. Achei seu blog por acaso e me surpreendi. Não gosto de jemi de modo que não leio, mas quando achei seu blog tive que abrir uma exceção. Enfim, tô amando essa fanfic <3
    Poste assim que puder!
    Um grande beijo :*

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