28.1.15

Capítulo Quatro


Eu te amo com toda minha alma, anjo


Terça-feira, 28 de agosto de 2012
6h15

O alarme soa, e imediatamente penso em deixar para lá a corrida de hoje, até que lembro quem está me esperando lá fora. Eu me visto com a maior rapidez desde que aprendi a me vestir sozinha e vou até a janela. Há um cartão grudado na parte de dentro do vidro com a palavra “vagabunda” escrita com a letra de Miley. Sorrio, tiro o cartão da janela e o jogo na minha cama antes de sair de casa.
Ele está sentado no meio-fio, alongando as pernas. Está de costas para mim, o que é bom. Caso contrário, teria me visto franzir a testa ao perceber que estava de camisa. Ao escutar meus passos, ele se vira na minha direção.
— Oi, você. — Ele sorri e se levanta. Ao fazer isso, percebo que sua camisa já está encharcada. Ele veio correndo até aqui. Correu mais de 3 quilômetros até aqui, está prestes a correr mais 5 comigo e depois mais 3 para voltar para casa. Não consigo entender por que está fazendo tudo isso. Ou por que estou permitindo. — Precisa se alongar primeiro? — pergunta ele.
— Já me alonguei.
Ele estende o braço e toca minha bochecha com o polegar.
— Não está tão ruim — diz ele. — Está sentindo dor?
Nego com a cabeça. Ele realmente espera que eu verbalize uma resposta enquanto seus dedos encostam em meu rosto? É muito difícil falar e prender a respiração ao mesmo tempo.
Ele afasta a mão e sorri.
— Ótimo. Está pronta?
Solto o ar.
— Estou.
E então nós corremos. Corremos lado a lado por um tempo até o caminho se estreitar e ele passar a correr atrás de mim, o que me deixa incrivelmente constrangida. Costumo me sentir bem solta quando corro, mas dessa vez estou atenta a todos os detalhes, como o cabelo, o comprimento do short, cada gota de suor que escorre pelas costas. Fico aliviada quando o caminho fica mais largo e ele volta para meu lado.
— Você devia mesmo tentar entrar para a equipe de atletismo. — A voz dele está normal e não parece de jeito algum que ele já correu 6,5 quilômetros naquela manhã. — Tem mais resistência que a maioria do pessoal da equipe do ano passado.
— Não sei se quero — digo, ofegante e nem um pouco atraente. — Não conheço ninguém no colégio. Pensei em tentar, mas até agora a maioria das pessoas foi meio... malvada. Não quero ficar sujeita a eles ainda mais tempo por causa de uma equipe.
— Você só teve um dia de aula na escola. Espere mais um pouco. Depois de passar a vida inteira estudando dentro de casa, não dá para esperar que chegue no colégio e faça vários amigos no primeiro dia.
Paro imediatamente. Ele dá mais alguns passos antes de perceber que não estou mais ao seu lado. Ao se virar e me ver parada na rua, corre para perto de mim e agarra meus ombros.
— Você está bem? Ficou tonta?
Balanço a cabeça e afasto as mãos dele dos ombros.
— Estou bem — digo, com uma irritação bem audível na voz.
Ele inclina a cabeça.
— Eu disse algo de errado?
Começo a andar na direção da minha casa, então ele me acompanha.
— Um pouco — respondo, dando uma olhada nele. — Estava meio que brincando com a história de estar me perseguindo ontem, mas você admitiu que me procurou no Facebook logo depois de me conhecer. E depois insistiu em correr comigo, apesar de não ser seu caminho. E agora descubro que de alguma maneira você sabe há quanto tempo estudo na escola? E que eu estudava em casa antes? Não vou mentir, é um pouco assustador.
Fico esperando uma explicação, mas tudo o que ele faz é estreitar os olhos e me observar. Ainda estamos andando para a frente, mas ele fica me olhando em silêncio até dobrarmos a próxima esquina. Quando finalmente fala alguma coisa, as palavras são antecedidas por um longo suspiro.
— Perguntei por aí — diz ele, por fim. — Moro aqui desde os 10 anos, então tenho muitos amigos. Estava curioso sobre você.
Fico olhando-o por mais alguns passos, em seguida desvio o olhar para a calçada. De repente não sou mais capaz de olhar para ele, pensando no que mais esses “amigos” disseram sobre mim. Sei que os boatos têm se espalhado desde que Miley e eu nos tornamos próximas, mas é a primeira vez que me senti um pouco envergonhada ou na defensiva por causa disso. O fato de ele estar gastando tanta energia para correr comigo só pode significar uma coisa. Ficou sabendo dos boatos e está torcendo para que sejam verdade.
Ele percebe que estou constrangida, então agarra meu cotovelo e me faz parar.
— Demi.
Nós ficamos de frente um para o outro, mas meus olhos estão grudados no concreto. Hoje não estou só de top de ginástica, mas cruzo os braços por cima da camisa de qualquer jeito e me abraço. Não tem nada à mostra para ser coberto, mas por alguma razão estou me sentindo totalmente exposta.
— Acho que ontem começamos as coisas com o pé esquerdo no mercado — diz ele. — E aquele papo de perseguir você, juro que foi brincadeira. Não quero que fique constrangida perto de mim. Se sentiria melhor se soubesse mais sobre mim? Pergunte alguma coisa que eu respondo. Qualquer coisa.
Espero mesmo que ele esteja sendo sincero porque já consigo perceber que não é o tipo de cara pelo qual uma garota tem uma simples quedinha. É o tipo de cara pelo qual a gente se apaixona loucamente, e isso me deixa apavorada. Não quero de jeito algum me apaixonar loucamente por alguém, muito menos por alguém que só está perdendo seu tempo porque acha que sou fácil. Também não quero me apaixonar por alguém que já se considera um caso perdido. Porém estou curiosa. Tão curiosa.
— Se eu fizer uma pergunta, você vai ser sincero?
Ele inclina a cabeça para mim.
— Isso serei sempre.
A maneira como ele abaixa a voz ao falar faz minha cabeça rodopiar, e, por um segundo, fico com medo de acabar desmaiando outra vez se ele continuar falando assim. Por sorte, ele dá um passo para trás e fica esperando minha pergunta. Quero perguntar sobre seu passado. Quero saber por que foi preso, por que fez tudo aquilo e por que Miley não confia nele. Mais uma vez, no entanto, ainda não sei se quero saber a verdade.
— Por que desistiu do colégio?
Jonas suspira como se essa fosse uma das perguntas que estava querendo evitar. Ele começa a dar alguns passos para a frente, e, dessa vez, sou eu que vou atrás dele.
— Tecnicamente, ainda não desisti.
— Bem, é óbvio que faz mais de um ano você não aparece. Para mim isso é desistir.
Ele se vira e parece estar se sentindo dividido, como se quisesse me contar alguma coisa. Abre a boca, mas a fecha em seguida, após hesitar. Odeio não conseguir interpretá-lo. É fácil interpretar a maioria das pessoas. Elas são simples. Jonas é todo confuso e complicado.
— Eu me mudei de volta para cá só faz alguns dias — diz ele. — O ano passado foi péssimo para minha mãe e eu, então fui morar por um tempo com meu pai em Austin. Estava estudando por lá, mas senti que era hora de voltar para casa. Então aqui estou.
O fato de ele não ter mencionado o tempo na prisão me faz questionar a capacidade dele de ser sincero. Entendo que esse provavelmente não é um assunto do qual queira falar, mas ele não devia afirmar que vai ser sempre sincero quando obviamente não é isso o que está fazendo.
— Nada disso explica por que você preferiu desistir em vez de pedir transferência para cá.
Ele dá de ombros.
— Não sei. Para falar a verdade, ainda estou decidindo o que quero fazer. Este ano tem sido foda. Sem falar que eu odeio a escola daqui. Cansei de todas as palhaçadas e às vezes penso que seria mais fácil fazer outra coisa.
Paro de andar e me viro para ele.
— Que desculpa de merda.
Ele ergue a sobrancelha para mim.
— É uma desculpa de merda eu odiar o colégio?
— Não. É uma desculpa de merda você deixar um ano ruim determinar o resto de sua vida. Faltam nove meses para a formatura e vai desistir? É só... é burrice.
Ele ri.
— Bem, se está explicando com tanta eloquência.
— Pode rir o quanto quiser. Sair do colégio é simplesmente desistir. Está dando razão a quem quer que tenha duvidado de você. — Olho para baixo e reparo na tatuagem em seu braço. — Vai desistir e mostrar ao mundo que é mesmo um caso perdido? Que maneira de enfrentá-los.
Ele acompanha meu olhar até a tatuagem e a encara por um instante, cerrando os dentes. Não queria ter mudado de assunto, mas não se importar com os estudos é um assunto delicado para mim. Culpo Dianna pelos anos enfiando em minha cabeça que sou a única responsável pelo meu futuro.
Jonas desvia o olhar da tatuagem que estamos encarando, olha para cima e indica minha casa com a cabeça.
— Chegamos — diz ele, sem expressão alguma. Ele se vira sem nem sequer sorrir ou acenar.
Fico parada na calçada, observando-o desaparecer ao dobrar a esquina sem olhar para trás nenhuma vez.
E eu achando que hoje conversaria com apenas uma das personalidades dele. Não mesmo.

Terça-feira, 28 de agosto de 2012
07h55

No primeiro horário, entro na sala de aula e Nick está sentado mais no fundo com todo seu glamour rosa-choque. Realmente não entendo como não pude perceber esses sapatos rosa-choque e o garoto dentro deles antes do almoço de ontem.
— Oi, gatão — digo ao me sentar ao lado dele. Tiro o copo de café de suas mãos e tomo um gole. Ele aceita, pois ainda não me conhece tão bem para reclamar. Ou talvez esteja permitindo por saber as consequências de interromper uma viciada em cafeína.
— Ontem à noite descobri muita coisa a seu respeito — diz ele. — Pena que sua mãe não libera seu acesso à internet. É um lugar incrível para você descobrir coisas sobre si mesma que nem você sabia.
Eu rio.
— E será que quero saber? — Inclino a cabeça para trás, termino o café e devolvo o copo em seguida. Ele olha para o copo vazio e o deixa em cima da minha carteira.
— Bem — diz ele. — De acordo com minhas buscas no Facebook, alguém chamado Liam Hemsworth foi para sua casa na sexta à noite, semeando o medo de uma possível gravidez. No sábado, você transou com alguém chamado Zac e depois o expulsou. Ontem... — Ele tamborila os dedos no queixo. — Ontem você foi vista correndo com um cara chamado Joseph Jonas depois da aula. O que me preocupa um pouco, pois de acordo com os boatos... ele não é muito fã de mórmons.
Às vezes fico contente por não ter acesso à internet como as outras pessoas.
— Vejamos — digo, pensando na lista de boatos. — Nem sei quem é Liam Hemsworth. No sábado, Zac foi, sim, a minha casa, mas aquele pinguço mal me tocou antes que eu o expulsasse. E, sim, ontem corri com um cara chamado Jonas, mas não faço ideia de quem ele é. Foi pura coincidência estarmos correndo na mesma hora, e ele não mora muito longe de mim, então...
Na mesma hora, me sinto culpada por ter minimizado a importância da corrida com Jonas. É que ainda não entendi muito bem quem ele é, e não sei se já estou pronta para que alguém se infiltre na minha aliança de 24 horas com Nick.
— Se isso serve de consolo, descobri por uma tal de Shayna que sou herdeiro de uma enorme fortuna — diz ele.
Acho graça.
— Ótimo. Assim você não vai ter problema em trazer café para mim todos os dias.
A porta da sala de aula se abre, e nós dois erguemos o olhar no instante em que Jonas entra vestindo camisa branca casual e calça jeans escura, com o cabelo recém-lavado depois de nossa corrida. Assim que o vejo, o vírus estomacal/onda de calor/frio na minha barriga volta.
— Merda — murmuro.
Jonas vai até a escrivaninha do Sr. Mulligan, deixa ali um formulário e segue para o fundo da sala, mexendo no celular o tempo inteiro. Ele se senta na carteira bem na frente de Nick e nem nota minha presença. Depois, diminui o volume do celular e o guarda no bolso.
Estou chocada demais para falar com ele. Será que de alguma maneira consegui fazer com que mudasse de ideia sobre se matricular? Será que estou feliz por talvez ter feito ele mudar de ideia? Porque eu meio que só estou sentindo arrependimento.
O Sr. Mulligan entra na sala, deixa suas coisas na escrivaninha, segue para o quadro e escreve seu nome e a data. Não sei se ele realmente acha que já esquecemos quem é desde ontem, ou se simplesmente quer nos lembrar que nos considera burros.
— Joe — diz ele, ainda de frente para o quadro. Ele se vira e fixa o olhar em Jonas. — Bem-vindo de volta, com um dia de atraso. Presumo que não vai causar confusão esse semestre?
Fico boquiaberta com o comentário condescendente tão imediato. Se é esse tipo de merda que Jonas precisa aturar quando está aqui, não é de surpreender que ele não quisesse voltar. Pelo menos são só os alunos que pegam no meu pé. Professores jamais deveriam ser condescendentes, com aluno algum. Essa devia ser a primeira regra no manual dos professores. A segunda devia ser que os professores não têm permissão para escrever o nome no quadro depois da terceira série.
Jonas muda de posição na cadeira e responde o comentário do Sr. Mulligan com o mesmo tom de provocação.
— Presumo que não vai dizer nada que me faça causar confusão esse semestre, Sr. Mulligan?
Tudo bem, obviamente o “não estou nem aí para essa merda” é uma via de mão dupla. Depois de convencê-lo a voltar ao colégio, talvez minha próxima lição deva ser ensinar a Jonas um salutar respeito por autoridades.
O Sr. Mulligan inclina o queixo para trás e fulmina Jonas com o olhar por cima da armação dos óculos.
— Joe. Por que não vem para a frente da sala e se apresenta aos seus colegas? Com certeza há novos rostos desde sua saída no ano passado.
Jonas não reclama, o que com certeza era o que o Sr. Mulligan esperava que fizesse. Em vez disso, ele praticamente salta da cadeira e vai depressa até a frente da sala. O movimento brusco e cheio de energia faz o Sr. Mulligan dar um rápido passo para trás. Jonas vira-se, ficando de frente para a sala, sem um pingo de insegurança ou hesitação.
— Com alegria — diz Jonas, lançando um olhar para o Sr. Mulligan. — Meu nome é Joseph Jonas. As pessoas me chamam de Jonas. — Ele desvia o olhar do Sr. Mulligan para a sala. — Estudo aqui desde o primeiro ano, com exceção de um semestre e meio de período sabático. E, de acordo com o Sr. Mulligan, gosto de causar confusão, então essa matéria vai ser bem divertida.
Vários alunos riem do comentário, mas não entendo qual foi a graça. Já estava duvidando dele por causa de tudo que ouvi, e agora ele está mostrando quem realmente é pela maneira como está agindo. Jonas abre a boca para continuar sua apresentação, mas um sorriso surge em seu rosto assim que me vê no fundo da sala. Ele dá uma piscadela para mim, e imediatamente tenho vontade de me esconder debaixo da carteira. Dou um rápido sorriso tenso e fixo o olhar na minha mesa assim que os outros alunos começam a se virar para ver para quem ele está olhando.
Uma hora e meia atrás, ele se afastou de mim todo mal-humorado. Agora está sorrindo, como se tivesse acabado de ver sua melhor amiga pela primeira vez em anos.
Pois é. Ele tem problemas.
Nick inclina-se por cima da carteira.
— O que diabos foi isso? — sussurra ele.
— Conto no almoço — digo.
— É essa sabedoria que quer compartilhar conosco hoje? — pergunta o Sr. Mulligan a Jonas.
Jonas concorda com a cabeça e volta para sua carteira, sem desviar o olhar do meu nem por um segundo. Ele se senta e vira o pescoço, ficando de frente para mim. O Sr. Mulligan começa a aula, e todo mundo volta a prestar atenção na frente da sala. Todo mundo menos Jonas. Baixo o olhar para meu livro e o abro no capítulo em que estamos, esperando que ele faça o mesmo. Quando ergo novamente o olhar, vejo que ainda está me encarando.
— O que foi? — articulo com os lábios, erguendo as palmas no ar.
Ele estreita os olhos e fica me observando em silêncio por um instante.
— Nada — diz ele, por fim, virando-se na cadeira e abrindo o livro.
Nick bate o lápis nas juntas dos meus dedos, olha para mim interrogativamente e volta a atenção para o livro. Se está esperando uma explicação para o que acabou de acontecer, vai ficar desapontado quando souber que não sou capaz de explicar nada. Nem eu sei o que foi que acabou de acontecer.
Durante a aula, lanço vários olhares para Jonas, que passa o resto da aula sem se virar. Quando o sinal toca, Nick salta da cadeira e tamborila os dedos na minha carteira.
— Eu. Você. Almoço — decreta ele, erguendo a sobrancelha para mim.
Ele sai da sala, e eu desvio o olhar para Jonas, que está observando, com um olhar intenso, a porta da sala pela qual Nick acabou de sair.
Pego minhas coisas e saio pela porta antes que Jonas tenha a oportunidade de puxar papo. Estou feliz de verdade que ele tenha se rematriculado, mas fiquei perturbada com a maneira como me olhou, como se fôssemos melhores amigos. Não quero que Nick nem ninguém ache que não vejo problema algum nas coisas que Jonas faz. Prefiro simplesmente não manter nenhuma ligação, mas sinto que ele não vai aceitar isso muito bem.
Vou até o armário e troco os livros, pegando o de inglês. Fico me perguntando se Shayna/Shayla vai falar comigo na sala hoje. É mais provável que não, aquilo foi 24 horas atrás. Duvido que ela tenha células suficientes no cérebro para se lembrar de informações tão antigas.
— Oi, você.
Aperto os olhos apreensivamente, fechando-os, sem querer me virar e vê-lo parado com toda sua beleza.
— Você veio. — Ajeito os livros no armário e me viro para ele, que sorri e se apoia no armário ao lado do meu.
— Você fica bonita quando se arruma — diz ele, me olhando de cima a baixo. — Mas sua versão suada também não é nada mal.
Ele também fica bonito quando se arruma, mas eu é que não vou dizer isso a ele.
— Está aqui para me perseguir ou se rematriculou mesmo?
Ele sorri maliciosamente e tamborila os dedos no armário.
— Os dois.
Preciso mesmo parar com essas piadinhas de perseguição. Seria mais engraçado se eu não achasse que ele realmente é capaz de fazer isso.
Olho para o corredor que está se esvaziando.
— Bem, preciso ir — digo. — Bem-vindo de volta.
Ele estreita os olhos para mim, quase como se pudesse perceber meu constrangimento.
— Você está estranha.
Reviro os olhos com o julgamento. Como ele pode saber o jeito que estou me comportando? Nem sequer me conhece. Volto meu olhar para o armário e tento disfarçar os verdadeiros pensamentos que explicam minha “estranheza”. Pensamentos como: por que seu passado não me assusta tanto quanto deveria? Por que ele é tão esquentado a ponto de fazer o que fez com aquele pobre garoto no ano passado? Por que está gastando tanta energia para correr comigo? Por que saiu perguntando por aí sobre mim? Em vez de admitir que essas perguntas estão na minha cabeça, dou de ombros e digo:
— Estou surpresa por ver você aqui, só isso.
Ele apoia o ombro no armário ao lado do meu e balança a cabeça.
— Não. É alguma outra coisa. O que há de errado?
Suspiro e encosto no armário.
— Quer que eu seja sincera?
— É tudo que sempre quero que seja.
Aperto os lábios, formando uma linha firme, e concordo com a cabeça.
— Tudo bem — digo. Viro o ombro, encostando no armário, e fico de frente para ele. — Não quero que fique com uma impressão errada das coisas. Você dá em cima de mim e diz coisas como se tivesse certas intenções comigo, só que eu não quero que a recíproca seja verdadeira. E você é... — Paro, procurando a palavra correta.
— Sou o quê? — diz ele, me analisando atentamente.
— Você é... intenso. Intenso demais. E instável. E um pouco assustador. E tem mais outra coisa — digo, sem revelar qual é. — Não quero que fique com uma impressão errada.
— Que outra coisa? — pergunta ele, como se soubesse exatamente a que estou me referindo, mas quisesse me desafiar a dizê-lo em voz alta.
Solto o ar e pressiono as costas no armário, encarando meus pés.
— Você sabe — digo, sem querer mencionar seu passado, assim como ele provavelmente também não quer.
Jonas aproxima-se, põe a mão no armário ao lado da minha cabeça e se inclina para perto de mim. Ergo o olhar e vejo que ele está me encarando, a menos de 15 centímetros de meu rosto.
— Eu não sei, porque você está evitando falar qual é esse problema que tem comigo, como se tivesse medo demais de dizer o que é. Fale logo.
Ao olhar para Jonas então, me sentindo encurralada, o mesmo pânico de quando ele foi embora, após a primeira vez que nos encontramos, reaparece em meu peito.
— Ouvi falar do que você fez — digo abruptamente. — Sei que bateu em um cara. Sei que foi preso. Sei que, nesses dois dias desde que nos conhecemos, me deixou bastante apavorada pelo menos três vezes. E, como estamos sendo sinceros, também sei que se andou perguntando por aí sobre mim, então é claro que ouviu falar da minha reputação, assim é mais do que provável que só esteja gastando essa energia toda comigo por causa disso. Odeio ter de desapontá-lo, mas não vou transar com você. Não quero que fique achando que vai acontecer algo entre nós além do que já está acontecendo. Corremos juntos. Só isso.
Vejo que sua mandíbula está retesada, mas a expressão em seu rosto continua a mesma. Ele abaixa o braço e dá um passo para trás, dando espaço para que eu recupere o fôlego. Não entendo por que fico sem ar toda vez que ele entra no meu espaço pessoal. E entendo menos ainda por que gosto dessa sensação.
Pressiono os livros no peito e vou passando por ele, mas um braço cerca minha cintura e me puxa para longe de Jonas. Olho para o lado e vejo Zac observando Jonas de cima a baixo, segurando minha cintura com mais força.
— Jonas — diz Zac friamente. — Não sabia que ia voltar.
Jonas nem percebe a presença de Zac. Ele continua me encarando por vários segundos, desviando o olhar apenas para a mão de Zac agarrada à minha cintura. Ele balança um pouco a cabeça e sorri, como se tivesse acabado de perceber alguma coisa, e olha mais uma vez para mim.
— Pois é, estou de volta — diz ele secamente, sem olhar para Zac.
O que diabos é isso? De onde foi que Zac surgiu, e por que ele está com o braço em volta da minha cintura como se fosse seu direito?
Jonas desvia o olhar e se vira, mas para de repente. Gira o corpo de volta e olha para mim.
— Os testes para a equipe de atletismo acontecem na quinta depois das aulas — diz ele. — Você devia ir.
E então ele vai embora.
Pena que Zac não fez o mesmo.
— Tem alguma coisa para fazer no sábado? — diz Zac no meu ouvido, puxando-me para ele.
Empurro seu peito e afasto meu pescoço.
— Pare — digo, irritada. — Acho que fui bastante clara no fim de semana passado.
Bato a porta do armário e vou embora, me perguntando como diabos escapei desses dramas a vida inteira para agora conseguir material para um livro inteiro em apenas dois dias.
Nick senta-se na minha frente e me entrega um refrigerante.
— Não tinha café, mas consegui cafeína.
Sorrio.
— Obrigada, melhor amigo do mundo inteiro.
— Não me agradeça, trouxe isso com más intenções. Quero suborná-la para descobrir os podres de sua vida amorosa.
Rio e abro a latinha.
— Bem, vai ficar desapontado, pois minha vida amorosa é inexistente.
Ele abre o próprio refrigerante e sorri.
— Ah, duvido. Não com o bad boy ali encarando você daquele jeito. — Ele aponta com a cabeça para a direita.
Jonas está a três mesas de distância, olhando para mim. Está sentado com vários garotos do time de futebol, que parecem animados por tê-lo de volta. Estão dando tapinhas em suas costas e falando ao seu redor, sem perceberem, nem por um instante, que Jonas não está participando da conversa. Ele toma um gole d’água, sem desviar os olhos de mim. Depois pousa a bebida de volta na mesa, exagerando um pouco na força, e aponta com a cabeça para a direita ao se levantar. Olho para a direita e vejo a saída do refeitório. Ele está indo para lá, esperando que eu o siga.
— Hum — digo, mais para mim do que para Nick.
— Pois é. Hum. Vá ver o que diabos ele quer e depois venha me contar tudo o que aconteceu.
Tomo mais um gole de refrigerante e o coloco na mesa.
— Sim, senhor.
Meu corpo quer se levantar e ir atrás dele, mas deixo o coração na mesa. Tenho certeza de que ele pulou para fora do peito assim que vi Jonas me chamando. Posso esconder isso tudo de Nick o quanto quiser, mas, caramba, seria bom se eu fosse capaz de controlar meus órgãos; pelo menos um pouquinho.
Jonas está vários metros a minha frente. Ele empurra as portas, que se fecham após sua passagem. Coloco a mão nas portas ao alcançá-las, e hesito por um instante antes de sair para o corredor. Acho que preferia cumprir uma suspensão a ter de ir conversar com ele. Meu estômago está tão embrulhado que mais parece um presente.
Olho para os dois lados, mas não o vejo. Dou alguns passos até chegar ao fim dos armários e dar a volta. Ele está encostado num deles, com o joelho dobrado e o pé apoiado na porta. Os braços estão cruzados no peito, e ele está olhando direto para mim. O tom azul-claro de seus olhos não tem nem a bondade de disfarçar a raiva que há por trás deles.
— Você está saindo com Zac?
Reviro os olhos, vou até os armários na frente dele para me apoiar ali. Já estou cansando de suas variações de humor, e olha que acabei de conhecê-lo.
— Isso importa?
Estou curiosa para saber por que isso é da conta dele. Jonas faz aquela pausa silenciosa que, pelo que percebi, antecede quase tudo o que ele diz.
— Ele é um babaca.
— Às vezes você também é — digo depressa, sem precisar de tanto tempo quanto ele para responder.
— Ele não vai fazer bem para você.
Solto uma risada exasperada.
— E você vai? — pergunto, devolvendo o argumento dele imediatamente. Se estivéssemos marcando a pontuação, diria que está dois a zero para mim.
Ele abaixa os braços e se vira para os armários, batendo num deles com a palma da mão. O som da pele contra o metal reverbera pelo corredor, vindo parar direto no meu estômago.
— Não me inclua nisso — diz ele, virando-se de volta. — Estou falando sobre Zac, não sobre mim. Você não devia estar com ele. Não faz ideia do tipo de pessoa que ele é.
Eu rio. Não porque ele é engraçado... mas porque está falando sério. Esse cara que mal conheço está mesmo me dizendo com quem devo ou não sair? Encosto a cabeça no armário, sendo dominada pela frustração.
— Dois dias, Jonas. Conheço você há apenas dois dias. — Eu me distancio dos armários e vou até ele. — Nesses dois dias, já vi cinco personalidades diferentes suas, e somente uma delas era agradável. O fato de você achar que tem o direito até mesmo de dar sua opinião sobre mim ou minhas decisões é um absurdo. É ridículo.
Jonas cerra os dentes e fica me encarando, com os braços firmemente cruzados. Ele dá um passo desafiador em minha direção. Os olhos dele estão tão frios e intensos que estou começando a achar que o que estou vendo agora é uma sexta personalidade. Uma ainda mais furiosa, mais possessiva.
— Não gosto dele. E quando vejo coisas desse tipo? — Ele leva a mão até meu rosto e passa o dedo delicadamente embaixo do machucado chamativo em meu olho. — E depois o vejo com o braço a seu redor? Me desculpe se fico me comportando de uma maneira um pouco ridícula.
As pontas de seus dedos encostando em minha maçã do rosto me deixam sem ar. Preciso me esforçar bastante para não fechar os olhos e me inclinar em direção à palma da sua mão, mas continuo firme. Estou construindo uma certa imunidade contra esse garoto. Ou... pelo menos estou tentando. Enfim, essa é minha nova meta.
Dou um passo para longe até a mão dele deixar de encostar no meu rosto. Ele dobra os dedos, cerrando o punho, e deixa a mão ao lado do corpo.
— Você acha que devo ficar longe de Zac porque tem medo de que ele seja esquentado? — Inclino a cabeça para o lado e estreito os olhos para ele. — Isso é um pouco hipócrita, não acha?
Após mais alguns segundos me observando, ele solta um breve suspiro e revira os olhos quase imperceptivelmente. Desvia o olhar e balança a cabeça, segurando a nuca. Depois fica parado nessa posição por vários segundos, de costas para mim. Após se virar devagar, não me olha nos olhos. Cruza os braços mais uma vez e olha para o chão.
— Ele bateu em você — diz ele, sem nenhuma inflexão na voz e com a cabeça ainda direcionada para o chão, mas olha para mim por entre os cílios. — Ele já bateu em você alguma vez?
Lá vai ele de novo, induzindo minha submissão com uma simples mudança de comportamento.
— Não — digo baixinho. — E não. Já disse... foi um acidente.
Ficamos nos encarando em total silêncio até o sinal para o segundo almoço tocar e o corredor se encher de alunos. Sou a primeira a desviar o olhar.
Volto para o refeitório sem virar para trás.

*****

Happy Lovatic Day, princesas  
Bom, eu não vou fazer textinho porque, primeiro, não sou boa com palavras e, segundo, porque o que eu sinto pela Demi é algo tão grandioso, que eu não sei como expressar, seria como se eu me "despisse", expondo-me de uma forma muito profunda, então, por enquanto, prefiro guardar pra mim
Não querendo ser chata, mas eu to zangada pela falta de comentário, e se continuar assim a fic inteira, eu não vou postar mais nenhuma depois dessa, porque vocês já sabem de tudo isso e bla bla bla, acho que não tenho que ficar dando sermãozinho em vocês.
E obrigada a quem comenta, significa muito.
Amo vcs

22 comentários:

  1. Estou louca pra descobrir os mistérios do Joe...... ele tbém me assusta as vezes..... quando vai ter o primeiro beijo? Posta mais pfvrrr....... e pelo amor de Deus, não desista do blog!!!!!

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    1. O primeiro beijo vai.... demorar um pouquinho, ajsbniuas
      Sim, ele assusta, mas logo logo, vocês descobrem.
      Eu pretendo não desistir, amo tudo isso aqui, não quero largar <3
      Beijos.

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  2. Adoro as suas historias n para de postar.
    Quando eles vão dar o primeiro beijo? O Joe ta muito misterioso nessa fanfic quero saber o que acontece logo por favor posta logo to muito ansiosa bjs

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    1. Que bom, amor, eu sempre vou fazer o máximo possível pra não parar <3
      Logo você descobre, ajsaiosj
      Vai demorar um pouquinho (?) haushaius
      Beijos

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  3. to amando a fanfic estou ficando cada vez mais curiosa *-*
    posta mais.

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  4. Ai Gi, socorro q historia perfeita dndjd to amando ♥
    Posta logo!
    bjs ;*

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  5. Volteiii!! Poucos capitulos e eu ja estou amando!! Posta mais!

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    1. Guessss who's back!! ♥ asjaisj
      Que bom, mari <3
      Posto, beijos

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  6. Joseph cada vez mais sinistro, acho que ele está a perseguindo mesmo, deve ter algum motivo, quero saber logo.
    Bom, só sei que você não pode deixar de postar ou demorar muito, então, COMENTEM GENTE, NÃO VAI CAIR O DEDO!!!
    Continua, tá perfeito e Happy Lovatic Day ♥♥

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    1. Tem sim, e logo logo você vai saber, aguarde... muahahahaha
      Que amorrrrrr <3 pode ter certeza que mesmo se futuramente eu parar de postar, eu nunca vou deixar o blog no meio de uma fic, ok? Se eu parar de postar algum dia, vai ser com todas as fics concluídas ♥
      Beijos

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  7. O Joe Ta muito misterioso e esse Zac é chaaatooo e nessa história o Nick é gay... OI??
    Mas To amando muiito posta mais !!!

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  8. Caralhooooo To adorando tudo, serio !! O Joe e a Demi tem que se pegar logo kkkkkkk
    Posta mais logo por favooorrrr

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    1. Que bommmmmm, os pegas talvez demorem um pouco, mas vão ser %%!#$!%
      Posto sim, beijos ♥

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  9. Hey Gi não para de postar não , essa história é incrível , você tem que continuar!!
    O Joe é um mistério , que a Demi tem que desvendar logo por favoorr kkkkkk
    Posta logo To muito curiosa

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    1. Hey amor, se acalma, porque parar uma fic no meio é uma coisa que eu considero no mínimo.. chato.
      Na minha opinião, leitor nenhum merece passar dias, semanas, entrando num blog, atualizando, esperando pra ler, só pra no final a dona do blog ir lá e desistir de tudo, até por isso sou adepta até da idéia de que quem escreve fic original, a escreva inteira antes de resolver postar, pra saber se vai conseguir terminá-la, mas, vai de pessoa pra pessoa, né?
      Então, se um dia eu desistir do blog, eu não vou fechá-lo, pra que vocês possam reler as fics sempre que quiserem, e pode ter certeza que caso eu faça isso mesmo, futuramente, ok? calma, anbsjak, farei isso com todas as histórias concluídas..
      Posto, beijos

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