24.1.15

Capítulo Dois




Segunda-feira, 27 de agosto de 2012
15h55

No fim das contas, Nick foi o que salvou meu dia... e ele é mórmon de verdade. Temos muitas coisas em comum, e mais coisas ainda que não são comuns, o que o torna bem mais interessante. Ele também é adotado, mas é bem próximo da família biológica. Nick tem dois irmãos que não são adotados, e que não são gays, então os pais acham que sua gayzice (palavra dele, não minha) tem a ver com o fato de não terem nenhum parentesco biológico. Ele me disse que seus pais esperam que isso desapareça com preces e com a formatura do colégio, mas ele afirma que essa realidade só vai florescer mais.
Seu sonho é se tornar uma grande estrela da
Broadway um dia, mas ele diz que não sabe cantar nem atuar, então vai parar de sonhar tão alto e quer estudar administração. Eu disse que queria me formar em escrita criativa e passar o dia sentada, com calça de yoga, somente escrevendo livros e tomando sorvete. Ele me perguntou que gênero de livro eu queria escrever e eu respondi:
— Não importa, contanto que seja bom, não é?
Acho que esse comentário selou nosso destino.
Agora estou a caminho de casa, decidindo se devo contar a Miley os acontecimentos agridoces do dia ou se devo passar no mercado para comprar café e poder tomá-lo antes da minha corrida diária.
A cafeína fala mais alto, apesar da minha afeição por Miley ser um pouco maior.
Minha contribuição familiar mínima é fazer as compras da semana. Na nossa casa é tudo sem açúcar, sem carboidrato e sem sabor, graças ao estilo vegano e não convencional de Dianna, então realmente gosto de fazer as compras. Pego um pacote com seis refrigerantes e o maior saco de Snickers em miniatura que encontro e os coloco no carrinho. Tem um esconderijo ótimo no meu quarto para meu estoque secreto. A maioria dos adolescentes esconde cigarros e maconha — eu escondo alimentos com açúcar.
Ao chegar na fila, reconheço a garota do caixa. Ela faz aula de inglês no segundo horário, assim como eu. Tenho quase certeza de que o nome dela é Shayna, mas no seu crachá está escrito Shayla. Shayna/Shayla é tudo o que eu queria ser. Alta, voluptuosa e loura. Num dia bom, eu chego a ter 1,60m, e meu cabelo castanho sem graça está precisando de uma aparada — talvez até de algumas mechas. Que dariam um trabalho do cacete para manter considerando a quantidade de cabelo que tenho. Meu cabelo bate uns 15 centímetros abaixo do ombro, mas, na maior parte do tempo, fico com ele preso por causa da umidade da região sul.
— Você não está na mesma aula de ciências que eu? — pergunta Shayna/Shayla.
— Inglês — corrijo-a.
Ela lança um olhar condescendente para mim.
— Eu falei sim em inglês — argumenta ela defensivamente. — Eu disse: você não está na mesma aula de ciências que eu?
Caraca. Talvez eu não queira ser tão loura assim.
— Não — respondo. — Eu disse inglês no sentido de “a gente não está na mesma aula de ciências, a gente está na mesma aula de inglês”.
Ela olha para mim inexpressivamente por um instante e depois ri.
— Ah. — Pela expressão em seu rosto, ela parece enfim entender. Ela olha para a tela à sua frente e me diz o total. Coloco a mão no bolso de trás e pego o cartão de crédito, querendo ser rápida para evitar o que está prestes a se tornar uma conversa nada interessante.
— Ah, meu Deus — diz ela baixinho. — Veja só quem voltou.
Olho para cima e noto que ela está encarando alguém atrás de mim na fila do outro caixa.
Não, deixe-me corrigir. Ela está salivando por alguém atrás de mim na fila do outro caixa.
— Oi, Jonas — cumprimenta ela sedutoramente, abrindo o maior sorriso.
Será que ela acabou de piscar para ele? Isso mesmo. Tenho certeza de que ela acabou de piscar para ele. Para ser sincera, achei que só se fazia isso nos desenhos animados.
Olho para trás para ver quem é o tal Jonas que, por alguma razão, conseguiu fazer todo o amor próprio de Shayna/Shayla desaparecer. O rapaz olha para ela e balança a cabeça como resposta, aparentemente sem ter interesse algum.
— Oi... — Ele estreita os olhos na direção do crachá. — Shayla. — Ele se vira de volta para o caixa que o está atendendo.
Ele a está ignorando? Uma das garotas mais bonitas do colégio praticamente se joga em cima dele, e ele age como se aquilo fosse uma coisa chata? Será que é mesmo humano? Não é assim que os garotos que conheço reagiriam.
Ela bufa.
— Meu nome é Shayna — diz ela, irritada por ele não saber o nome dela. Eu me viro para Shayna e coloco o cartão na máquina.
— Desculpe — pede ele. — Mas você sabe que no seu crachá está escrito Shayla, não é?
Ela olha para baixo e levanta o crachá para poder ler.
— Hum — murmura ela, estreitando as sobrancelhas como se estivesse concentrada. Mas duvido que seja muito.
— Quando você chegou? — pergunta ela para Jonas, ignorando-me completamente. Acabei de passar meu cartão e tenho quase certeza de que ela devia fazer alguma coisa, mas está ocupada demais planejando o casamento com este sujeito para se lembrar da cliente.
— Semana passada — responde ele secamente.
— Então vão deixar você voltar para o colégio?
— pergunta ela.
De onde estou, consigo escutar ele suspirando.
— Não importa — responde ele entediado. — Não vou voltar.
A última frase faz Shayna/Shayla repensar o casamento na mesma hora. Ela revira os olhos e volta a prestar atenção em mim.
— Que pena que um corpo daquele não vem com cérebro — sussurra ela.
Claro que percebo a ironia contida nessa afirmação.
Quando ela finalmente começa a apertar as teclas da máquina para completar a transação, aproveito que está distraída para olhar para trás mais uma vez. Estou curiosa para dar outra olhada no sujeito que pareceu se irritar com a bonita menina loura. Ele está olhando para a própria carteira, rindo de algo que o caixa disse a ele. Assim que o vejo, percebo três coisas:

1. Os dentes incrivelmente brancos escondidos por trás do torto sorriso sedutor.
2. As covinhas que se formam entre os cantos dos lábios e as bochechas quando sorri.
3. Tenho quase certeza de que estou sentindo uma onda de calor.

Ou um frio na barriga.
Ou talvez esteja com algum vírus no estômago.
Essa sensação é tão nova para mim que nem sei direito o que é. Não sei o que ele tem de tão diferente a ponto de causar a primeira reação biológica que tive na vida em relação a outra pessoa. No entanto, acho que jamais havia visto alguém como ele antes. Ele é lindo. Não lindo do tipo garoto bonitinho. Nem do tipo garoto fortão. É uma mistura perfeita das duas coisas. Nem tão grande, nem tão magro. Nem tão rústico, nem tão perfeito. Ele está de calça jeans e camisa branca, nada de mais. O cabelo parece não ter sido penteado hoje e, provavelmente, está precisando de um bom corte, assim como o meu. Está tão comprido na frente que ele precisa afastá-lo do rosto ao olhar para cima e notar que o estou encarando completamente.
Merda.
Normalmente eu abaixaria o olhar assim que nossos olhos se encontrassem, mas tem alguma coisa estranha na maneira como ele reagiu ao olhar para mim que não me deixa desviar os olhos. Seu sorriso esvaece imediatamente, e ele inclina a cabeça. Um olhar de curiosidade surge e lentamente ele balança a cabeça, ou por incredulidade ou por... repugnância? Não dá para saber, mas com certeza não foi uma reação positiva. Olho ao redor, esperando que não tenha sido por minha causa que ele ficou tão incomodado. Quando me viro novamente, vejo que ainda mantém o olhar fixo.
Em mim.
Fico transtornada, para dizer o mínimo, então me viro depressa para Shayla. Ou Shayna. Sei lá qual é o maldito nome. Preciso me recuperar. Por alguma razão, durante sessenta segundos, este garoto conseguiu me deixar encantada e, depois, completamente apavorada. A mistura de sensações não faz bem para meu corpo sem cafeína. Seria melhor se tivesse me olhado com a mesma indiferença que usou com Shayna/Shayla do que ter lançado aquele olhar outra vez para mim. Pego a nota fiscal com a fulana de tal e a guardo no bolso.
— Oi — diz ele com uma voz grave, em um tom autoritário, me deixando sem ar no mesmo instante. Não sei se ele está falando comigo ou com a fulana de tal, então seguro as alças das sacolas do mercado, esperando ter tempo de chegar ao carro antes que ele termine de pagar.
— Acho que ele está falando com você — diz ela. Pego a última sacola e a ignoro, andando o mais rápido que consigo em direção à saída.
Ao chegar no carro, suspiro fundo ao abrir a porta de trás para guardar as compras. O que diabos há de errado comigo? Um cara bonito tenta chamar minha atenção, e eu saio correndo? Não fico constrangida perto de garotos. Na verdade, costumo ficar bem confiante. E, no único momento da minha vida em que chego a sentir uma possível atração por alguém, saio correndo.
Miley vai me matar.
Mas aquele olhar. Havia algo tão perturbador na maneira como ele olhou para mim. Aquilo conseguiu me deixar constrangida, envergonhada e lisonjeada ao mesmo tempo. Não estou acostumada a sentir essas coisas de jeito algum, muito menos todas elas de uma só vez.
— Oi.
Fico paralisada. Agora com certeza ele está falando comigo.
Ainda não consigo saber se é frio na barriga ou vírus estomacal, mas, de qualquer maneira, não gosto do jeito como a voz dele penetra no meu estômago até o fundo. Mesmo tensa, me viro lentamente, percebendo, de repente, que minha antiga confiança ficou quase toda para trás.
Ele está segurando duas sacolas com uma das mãos ao lado do corpo e com a outra está massageando a nuca. Já eu queria que o clima estivesse péssimo e chuvoso para que ele não ficasse parado ali naquele momento. Ele fixa os olhos nos meus, e o olhar desdenhoso que lançou para mim no mercado agora virou um sorriso torto que parece um pouco forçado. Quando olho melhor para ele, fica claro que meu desconforto estomacal não está sendo causado por nenhum vírus.
Está sendo causado por ele.
Por tudo que diz respeito a ele, desde o cabelo escuro despenteado, aos sérios olhos azuis, àquela... covinha, aos braços grossos que me fazem querer tocá-los.
Tocar? Sério, Demi? Controle-se!
Tudo nele faz meus pulmões pararem de funcionar e meu coração acelerar loucamente. Tenho a impressão de que se ele sorrisse para mim como Zac tenta fazer, minha calcinha estaria no chão em tempo recorde.
Assim que paro de observar seu corpo e nossos olhares se encontram, ele afasta a mão do pescoço e passa a sacola para a mão esquerda.
— Meu nome é Jonas — diz ele, estendendo a mão para mim.
Baixo o olhar para sua mão e dou um passo para trás, sem cumprimentá-lo. Toda aquela situação é constrangedora demais para que eu confie nessa apresentação inocente. Talvez se ele não tivesse lançado aquele olhar penetrante e intenso para mim no mercado, eu estivesse mais suscetível à sua perfeição física.
— O que você quer? — Tomo cuidado para olhá-lo com suspeita em vez de admiração.
A covinha dele reaparece junto a uma risada apressada, e ele balança a cabeça, desviando o olhar.
— Hum — diz ele com uma gagueira nervosa que não combina em nada com seu jeito confiante.
Seus olhos percorrem o estacionamento como se estivessem procurando uma maneira de escapar, e ele suspira antes de fixá-los em mim outra vez. Essas diferentes reações me deixam totalmente confusa. Num instante ele parece sentir certa repugnância à minha presença, no outro parece que não vai me deixar em paz. Costumo interpretar muito bem as pessoas, mas, se precisasse chegar a uma conclusão a respeito de Jonas com base nos últimos dois minutos, seria obrigada a dizer que ele sofre de transtorno de múltiplas personalidades. As mudanças bruscas entre impertinência e intensidade são enervantes.
— Talvez isso soe ridículo — diz ele. — Mas você me parece bem familiar. Posso saber seu nome?
Fico tão desapontada no instante em que a cantada escapa de seus lábios. Ele é esse tipo de garoto, sabe. O tipo incrivelmente gato que pode ficar com qualquer pessoa onde e quando quiser, e sabe muito bem disso. O tipo que só precisa abrir um sorriso torto ou formar uma covinha e perguntar o nome da garota para ela se derreter toda até se ajoelhar na frente dele. O tipo que passa as noites de sábado entrando pelas janelas dos quartos.
Estou extremamente desapontada. Reviro os olhos e estendo o braço para trás, puxando a maçaneta do carro.
— Tenho namorado — minto. Eu me viro, abro a porta e entro. Estendo o braço para fechá-la, mas não consigo. Ergo o olhar e vejo a mão dele segurando a porta, mantendo-a aberta. Há um desespero firme em seus olhos que faz os pelos dos meus braços se arrepiarem.
Ele olha para mim, e eu fico arrepiada? Quem sou eu, afinal?
— Seu nome. É tudo o que quero.
Fico em dúvida se devo ou não explicar que saber meu nome não vai ajudá-lo em suas investigações. É mais que provável que eu seja a única americana de 17 anos sem acesso à internet. Ainda segurando a maçaneta, lanço meu olhar fulminante de advertência.
— Você se importa? — digo secamente, indicando a mão que está me impedindo de fechar aporta. Meu olhar percorre a mão dele até a tatuagem em letra cursiva no antebraço.

Hopeless

Não consigo deixar de rir por dentro. Está na cara que hoje o carma está no modo retaliação. Finalmente conheço o único garoto que acho atraente, e ele abandonou o colégio e traz caso perdido tatuado no braço.
Fico irritada. Puxo a porta mais uma vez, mas ele não se mexe.
— Seu nome. Por favor.
A expressão de desespero em seus olhos ao d i z e r por favor causa uma reação surpreendentemente complacente em mim, algo bastante inesperado.
— Demi — revelo de repente, sentindo uma compaixão repentina pelo sofrimento que com certeza existe por trás daqueles olhos azuis. A facilidade com que cedo ao pedido por causa de um olhar me deixa desapontada comigo mesma. Solto a porta e ligo o carro.
— Demi — repete ele para si mesmo. E fica pensando nisso por um segundo, balançando a cabeça como se eu tivesse respondido errado. — Tem certeza? — Ele inclina a cabeça na minha direção.
Se eu tenho certeza? Ele pensa que sou Shayna/Shayla e que não sei meu próprio nome, é? Reviro os olhos e mudo de posição no banco, pegando minha identidade no bolso. Estendo-a diante de seu rosto.
— É claro que sei meu próprio nome.
Começo a puxar a identidade de volta, mas ele solta a porta e agarra o documento da minha mão, levando-o para perto de si para analisá-lo. Ele fica observando por alguns instantes, vira-o do outro lado e o devolve.
— Desculpe-me. — Ele dá um passo para trás, se distanciando do carro. — Foi engano meu.
Agora ele está inexpressivo e sério, e fica me observando guardar a identidade no bolso. Encaro-o por um instante, esperando por algo mais, mas ele só move a mandíbula para a frente e para trás enquanto coloco o cinto de segurança.
Ele vai desistir de me convidar para sair assim tão fácil? Sério? Coloco os dedos na maçaneta da porta, esperando que ele a segure outra vez e venha com mais uma de suas cantadas ridículas. Mas nada acontece. Ele se afasta mais ainda enquanto fecho a porta, e alguma coisa estranha começa a me consumir. Se ele realmente não me seguiu até aqui para me convidar para sair, então o que diabos foi isso?
Ele passa a mão pelo cabelo e murmura algo para si mesmo, mas não consigo escutar o quê, por causa da janela fechada. Engato a ré e fico olhando para ele enquanto saio da vaga. O garoto continua imóvel, me encarando o tempo inteiro. Quando começo a ir na direção oposta, ajusto o retrovisor para lhe dar uma última olhada antes de passar pela saída. Vejo-o se virar e ir embora, esmurrando o capô de um carro.
Tomou a decisão certa, Demi. Ele é esquentadinho.

Segunda-feira, 27 de agosto de 2012
16h47

Após guardar as compras, encho a mão com os chocolates que comprei, enfio-os no bolso e saio pela janela. Levanto a vidraça de Miley e entro em seu quarto. São quase 17 horas, e ela está dormindo, então vou nas pontas dos pés até sua cama e me ajoelho. Miley está de viseira, e o cabelo louro-escuro grudou na bochecha, pois ela baba muito enquanto dorme. Eu me aproximo o máximo possível do rosto dela e grito:
— MILEY! ACORDE!
Ela se levanta bruscamente e com tanta força que não tenho tempo de sair da sua frente. Seu cotovelo agitado acerta meu olho, e acabo caindo para trás. Na mesma hora, tapo com a mão a vista que está latejando e me espalho no chão do quarto de Miley.
Viro o olho ileso para ela e vejo que está sentada na cama segurando a própria cabeça, fazendo uma cara feia para mim.
— Você é uma vaca — diz ela gemendo. Miley joga as cobertas para longe, sai da cama e vai direto para o banheiro.
— Acho que vou ficar com o olho roxo por sua causa — resmungo.
Ela deixa a porta do banheiro aberta e senta-se no vaso.
— Ótimo. Você merece. — Ela pega o papel higiênico e chuta a porta para fechá-la. — Acho bom que tenha me acordado por um motivo válido. Passei a noite inteira sem dormir arrumando as malas.
Miley jamais gostou de acordar cedo e, pelo jeito, também não fica muito alegre de tarde. Para ser bem sincera, também não fica muito contente durante a noite. Se tivesse de adivinhar em qual horário Miley fica mais agradável, eu diria que é quando está dormindo. Vai ver é por isso que ela odeia tanto acordar.
O senso de humor e a personalidade sincera de
Miley são fatores importantíssimos para nos darmos tão bem. Garotas empolgadas e falsas me irritam para caramba. Acho que empolgação nem faz parte do vocabulário de Miley. Só faltam as roupas pretas para ela ser a típica adolescente melancólica. E falsa?
Impossível ser mais direta que ela, independentemente se a pessoa está a fim de ouvir aquilo ou não. Miley não tem nada de falso, além do nome.
Quando tinha 14 anos e seus pais decidiram se mudar do Maine para o Texas, ela se rebelou e passou a se recusar a atender pelo próprio nome. Seu verdadeiro nome é Destiny Cyrus, por isso ela passou a responder somente quando a chamavam de Miley para irritar os pais por a terem obrigado a se mudar. Eles ainda a chamam de Destiny, mas todas as outras pessoas a chamam de Miley. Isso mostra que ela é tão teimosa quanto eu, o que é um dos vários motivos pelos quais somos melhores amigas.
— Acho que vai ficar feliz por eu ter acordado você. — Saio do chão e vou para sua cama. — Hoje aconteceu algo monumental.
Miley abre a porta do banheiro e volta para a cama. Ela se deita ao meu lado e puxa as cobertas por cima da cabeça. Depois, rola para longe de mim, afofando o travesseiro até ficar confortável.
— Deixe eu adivinhar... Dianna assinou uma TV a cabo?
Giro para ficar de lado e me aproximo de Miley, colocando o braço ao seu redor. Apoio a cabeça no seu travesseiro, e ficamos de conchinha.
— Tente de novo.
— Você conheceu alguém no colégio hoje, engravidou e vai se casar, mas não vou poder ser madrinha do seu casamento porque vou estar lá do outro lado dessa porcaria de mundo?
— Chegou perto, mas não. — Batuco com os dedos no seu ombro.
— Então o que foi que aconteceu? — pergunta ela, irritada.
Eu me deito de costas e suspiro fundo.
— Vi um garoto no mercado depois do colégio e, puta merda, Miley. Ele era lindo. Assustador, mas lindo.
Miley rola imediatamente para ficar de frente para mim, conseguindo bater com o cotovelo justo no mesmo olho que golpeou alguns minutos atrás.
— O quê?! — grita ela bem alto, ignorando que eu esteja com a mão no olho, gemendo mais uma vez. Ela se senta na cama e afasta minha mão do rosto. — O quê?! — grita ela outra vez. — Sério?
Continuo deitada de costas e tento mandar a dor do meu olho latejante para o fundo da mente.
— Pois é. Assim que olhei para ele, foi como se meu corpo inteiro tivesse derretido no chão. Ele era... uau.
— Você falou com ele? Pegou o telefone dele? Ele a convidou para sair?
Nunca vi Miley tão entusiasmada. Está ficando animada demais para meu gosto, não sei se aprovo isso.
— Caramba, Miley. Calma aí.
Ela baixa o olhar e franze a testa.
— Demi, faz quatro anos que me preocupo com você, achando que isso jamais aconteceria. Por mim não teria problema algum se você fosse lésbica. Nem se só gostasse de caras magros, baixinhos e nerds. Até se só se sentisse atraída por homens bem mais velhos e enrugados, com pênis ainda mais enrugados, eu não veria problema algum. Só me preocupava que você nunca experimentasse a luxúria. — Ela volta a se deitar, sorrindo. — Luxúria é o melhor dos pecados capitais.
Eu rio e balanço a cabeça.
— Discordo. Luxúria é um saco. Acho que você tem exagerado sua importância durante todos esses anos. Ainda considero a gula o melhor de todos. — Após dizer isso, tiro um pedaço de chocolate do bolso e o coloco na boca.
— Preciso saber os detalhes.
Chego mais para trás até encostar na cabeceira.
— Não sei como descrever. Depois que olhei para ele, não queria mais parar. Podia ter passado o dia inteiro o encarando. Mas aí, quando ele olhou para mim, fiquei apavorada. Ele me olhou como se estivesse furioso só por eu ter percebido sua presença. Em seguida, me seguiu até o carro e fez questão de saber meu nome. Parecia até que estava com raiva de mim. Como se eu o estivesse incomodando. Perdi a vontade de lamber suas covinhas e passei a querer sair em disparada para longe dele.
— Ele seguiu você? Até o carro? — pergunta ela ceticamente.
Confirmo com a cabeça e conto todos os últimos detalhes da minha ida ao mercado, inclusive o fato de ele ter esmurrado um carro.
— Caramba, que bizarro — comenta ela, quando termino de falar. Ela se senta e fica na mesma posição que eu, encostada na cabeceira. — Tem certeza de que ele não estava dando em cima de você? Tentando conseguir seu telefone? Fala sério, já vi como você fica perto dos garotos, Demi. Você sabe fazer o joguinho, mesmo quando não está interessada no cara. Sei que você sabe interpretar o que os garotos querem, mas acho que por ter ficado atraída por ele, talvez isso tenha atrapalhado sua intuição. Não acha?
Dou de ombros. Pode ser que Miley tenha razão. Talvez eu tenha interpretado as ações dele da maneira errada, e minha própria reação negativa tenha feito com que desistisse de me convidar para sair.
— Pode ser. Mas independentemente do que era, se deteriorou com a mesma rapidez. Ele desistiu do colégio, é temperamental, esquentado e... simplesmente... é um caso perdido. Não sei qual é meu tipo de garoto, mas sei que não quero que Jonas faça meu tipo.
Miley aperta minhas bochechas, espremendo-as, e vira meu rosto para ela.
— Você acabou de dizer Jonas? — pergunta ela, com a sobrancelha extremamente bem-feita arqueada de curiosidade.
Meus lábios estão esmagados, pois ela continua apertando minhas bochechas, então faço que sim com a cabeça em vez de responder com palavras.
— Joseph Jonas? Cabelo castanho bagunçado? Ardentes olhos azuis? Tão esquentado que parece saído do Clube da luta?
Dou de ombros.
— Parexe xer ele xim — digo, com as palavras praticamente inaudíveis graças ao aperto em meu rosto. Ela me solta, e repito o que tinha dito: — Parece ser ele sim. — Levo a mão à face e massageio as bochechas. — Você o conhece?
Ela se levanta e joga as mãos no ar.
— Por quê, Demi? De todos os garotos que poderia achar atraentes, por que diabos Joseph Jonas?
Ela parece desapontada. Por que está tão desapontada? Nunca a ouvi falar de Jonas, então não é porque já ficou com ele. Por que diabos parece que isso deixou de ser algo empolgante para se tornar algo... muito, muito ruim?
— Preciso saber os detalhes — digo.
Ela vira a cabeça e põe as pernas para fora da cama. Vai até o armário e pega uma calça jeans de uma caixa, em seguida a veste por cima da calcinha.
— É um canalha, Demi. Estudava no colégio, mas foi preso assim que as aulas começaram no ano passado. Não o conheço muito bem, mas conheço o suficiente para saber que ele não é para namorar.
Sua descrição de Jonas não me surpreende. Gostaria de dizer que não fiquei desapontada, mas é mentira.
— E desde quando alguém é para namorar ou não? — Acho que Miley nunca teve um namoro que durou mais de uma noite.
Ela olha para mim e dá de ombros.
— Touché. — Miley veste uma camisa e vai até a pia do banheiro. Ela pega uma escova de dentes, espreme pasta por cima e volta para o quarto escovando os dentes.
— Por que ele foi preso? — pergunto, sem ter certeza se realmente quero saber a resposta.
Miley tira a escova da boca.
— Eles o prenderam por causa de um crime de ódio... bateu num garoto gay do colégio. Tenho certeza de que tinha antecedentes, e isso foi a gota d’água. — Ela coloca a escova de volta na boca e vai até a pia para cuspir.
Um crime de ódio? Sério? Sinto o maior frio do estômago, mas dessa vez não de um jeito bom.
Miley volta para o quarto após prender o cabelo num rabo de cavalo.
— Que merda — diz ela, mexendo em suas joias. — E se essa for a única vez em que você sentiu tesão por um cara e jamais experimentar isso de novo?
Faço uma careta devido à escolha de palavras dela.
— Não senti tesão por ele, Miley.
Ela balança a mão no ar.
— Tesão. Atração. É tudo igual — diz ela de um jeito desaforado, voltando para a cama. Ela deixa um brinco no colo e põe o outro na orelha. — Acho que devíamos estar aliviadas por descobrirmos que ainda há esperança para seu caso. — Miley estreita os olhos e se inclina na minha direção. Ela segura meu queixo, virando meu rosto para a esquerda. — O que diabos aconteceu com seu olho?
Rio e desço da cama, fugindo do perigo.
— Você aconteceu. — Vou para a janela. — Preciso espairecer um pouco. Vou correr. Quer vir comigo?
Miley enruga o nariz.
— Hum... não. Divirta-se.
Estou com uma perna por cima do peitoril da janela quando ela me chama.
— Depois vou querer saber todos os detalhes do seu primeiro dia de aula. E tenho um presente para você. Mais tarde passo na sua casa.

*****

Meninas, sobre o primeiro capítulo, vou explicar o que deixou vocês confusas:
Aquela introdução, é algo que vai acontecer em algum capítulo no decorrer da fic, e aquele "Dois meses antes" que aparece depois, é como se estivesse voltado na semana em que eles se conheceram, como se para explicar o que os levou àquele ponto do início.
To feliz que vocês estejam gostando, e assim que der, faço maratona, ok?
Respostas aqui.
Amo vocês, beijos

9 comentários:

  1. HAISOSLSKS Cara, essa fanfic é hilária.
    Joseph pareceu meio doidão, adoooro.
    Tomara que ele seja bem problema mesmo e mude conforme se aproxime de Demi.
    Acho que deve ter muita coisa ai porque ele ficou muito mexido ao saber o nome dela.
    Coitada da Demi, levou duas cotoveladas no mesmo olho kakakahsksdk
    Essa fanfic mal começou e eu já acho que vai ter muita treta, por causa da personalidade do Joe.
    Continua, babe.❤

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  2. Eu ameii, serio agr entendi ahahshhs bah sera q o gay q ele bateu é no nick? Humm!
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    1. Eu achei mto engraçado a parte do cotovelo no olhoa hsuhs bjss

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  3. Heeeeey essa história ta incrível. ... posta o próximo to com abstinência de mais um capítulo bjs

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  4. O Joe apareceu! Agora a coisa fica interessante!
    Tô doida para saber como vai ser agora que a Demi está estudando em uma escola normal e sem a Miley por perto para ajudar ela. Ri muito na parte do cotovelo no olho!
    E eu já to adorando a amizade do Nick e da Demi. E acho que o gay que o Joe bateu foi o Nick.

    Desculpe eu não ter comentado antes, a minha internet não tava pegando e eu não consegui entrar no blog esses dias.

    Quero saber logo como as coisas vão acontecer com esses dois e como eles vão ficar juntos.
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    Beijos.

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  5. To adorando essa nova hostoria !! <3
    Posta mais logo por favooorrrr kkkkkkk

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  6. Heyyy posta mais logo , To adorando e To muito curiosaaaa <3

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  7. Eu estou adorando essa fic
    E o Joseph esquentadinho? Adorei!
    . Ri muito na parte do cotovelo no olho!E eu já to adorando a amizade do Nick e da Demi. E acho que o gay que o Joe bateu foi o Nick.
    Desculpe eu não ter comentado antes, a minha internet não tava pegando e eu não consegui entrar no blog esses dias
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  8. Caralho,porra essa fic e simplesmente MARAVILHOSA💕💕💕💕💕✌

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