6.9.15

Capítulo Vinte e Nove




— Ei, babaca! — chamou uma voz feminina irritante, que interrompeu seus sonhos. — Acorde! Está na hora de pegar o avião! Precisamos embarcar agora!
— Por que está gritando? — sussurrou Joe, levando as mãos às têmporas. — E que troço é esse que você está usando?
Demi parou na frente dele, com as mãos nos quadris. Usava um vestido rosa brilhante diretamente saído do catálogo da Victoria’s Secret.
— Filha da mãe, apague as luzes! — Ele cobriu os olhos com uma das mãos e continuou xingando.
— Ah, desculpe. — Demi continuou a falar alto. — Meu vestido brilhante faz sua dor de cabeça piorar? Que tal um shot de tequila, hem?
Só de pensar naquilo, Joe sentiu o estômago revirar.
Ele tinha conseguido dispensar as gêmeas, mesmo estando completamente bêbado, e ainda assim a mulher de quem ele gostava parecia prestes a esfaquear suas partes íntimas!
— Não — respondeu, rouco. — Nada de álcool.
— Você se divertiu ontem à noite? — Demi cruzou os braços. Os olhos azuis brilhantes estavam límpidos como o céu da manhã. Mas. Que. Merda. Ele agora era poeta?
Bateu no peito e pigarreou. Ah, que bom. Estava batendo no peito. Tinha recorrido ao estilo dos homens das cavernas para provar que ainda era macho.
Adeus, último resquício de masculinidade! Joe sacudiu a mão no ar, como se acenasse uma despedida.
Então percebeu que ainda devia estar bêbado.
— Levante-se logo daí. — Demi chutou sua cadeira.
— Não. — Ele precisava de comida. Como é que tinha chegado ao aeroporto? De táxi? Certo, um táxi, e ele pagou ao taxista, pegou as passagens e passou pela segurança ainda tonto e cheirando à festa da noite anterior.
Mas que engraçado. Exatamente como na última vez que tinha voado.
— Por que você está sorrindo? — Demi agarrou seu antebraço e o puxou, para que se levantasse. — E por que está com cheiro de bunda? Pelo menos tomou banho?
Seu cérebro começou a funcionar devagar enquanto ele relembrava os acontecimentos da manhã. Tinha se esquecido de fazer as malas, então correu pela casa, tropeçando nos móveis, para conseguir estar pronto a tempo, e quase não se lembrou de pegar o celular e ligar para um táxi, mas não tomou banho.
— Hã... Não deu tempo.
— Você foi para casa às nove, ontem à noite. Deve ter sido uma noite difícil, com a no 1 e a no 2.
Ele decidiu não responder. Em vez disso, apoiou-se em Demi enquanto entregavam os cartões de embarque e seguiam até o avião. Pelo menos não seria um voo longo.
Ele também sabia que vovó voaria na primeira classe, então não haveria ameaças de bombas, reações alérgicas nem prisões.
Aliás, onde vovó estava?
Quando entraram no avião, ele olhou ao redor. Ela não estava na primeira classe, pelo que ele tinha visto. Nem na econômica.
— Onde está vovó? — perguntou a Demi, odiando a rouquidão ainda presente na voz.
— Ela foi ontem à noite. Alguma coisa sobre uma emergência de casamento. Você usa o celular, ou só fica olhando para ele e pede a Siri que leia as mensagens?
Joe olhou para o chão com uma expressão culpada e decidiu não responder.
— Então — continuou Demi. Sério, por que ela ainda estava falando? Não sabia que ele estava prestes a vomitar a própria alma? Revirando os olhos, ela afivelou o cinto de segurança de Joe. Ótimo, ele tinha virado um bebê de dois anos!
A melhor parte foi que, naquele exato momento, sua masculinidade resolveu comparecer e se mostrar ao mundo. Mas ele se sentia infeliz demais para ligar para o que quer que fosse.
— Como foi a noite? — Ela estava furiosa. Sim, furiosa.
— Péssima — respondeu Joe, com sinceridade. — Bebi demais e finalmente percebi algo que já devia saber há muito tempo.
— Ah, é? — perguntou Demi, a voz desprovida de qualquer emoção. — E o que é?
Dando de ombros, Joe respondeu:
— Odeio loiras.
O primeiro sorriso da manhã inteira apareceu por um breve momento no rosto de Demi, antes que ela se virasse para olhar pela janela.
— Isso não muda nada.
— Ah, é?
— É. — Ela se virou para ele. — Você ainda está com cheiro de bunda.
Ele sentiu cada mínima turbulência. Cada movimento. Um macaquinho tocando bateria se mudara para o interior de seu crânio e um elefante possuído fora morar em seu estômago. Joe quase vomitou cinco vezes antes do fim do voo.
Demi não ajudou em nada.
Ela se recusou a conversar com ele, a olhar para ele e a tocá-lo.
Com certeza ele tinha aparecido na TV. Era a única explicação possível. Lembrou-se vagamente de alguns flashes.
Como podia ser tão insensível? Sabia o que estava fazendo, e, mesmo assim, seguira em frente. Para provar um ponto. Para prová-lo a si mesmo.
E no momento parecia que ele tinha sido atropelado por um caminhão. E mais de uma vez — como se o motorista quisesse ter certeza de que ele estava morto.
Quando o avião pousou, ele se arrastou pelo corredor e depois até a esteira de bagagens, torcendo para que, ao menos desta vez, vovó tivesse sentido pena dele e mandado alguma coisa — um carro, uma arma, ou mesmo uma aspirina. É, ele aceitaria uma aspirina.
Mas não teve essa sorte.
— Onde está todo o mundo? — Ele deixou cair a bagagem de mão e sentiu outra onda de enjoo. O Jack Daniel’s estava voltando para assombrá-lo. Seu estômago se revirou quando Joe fechou os olhos e tentou se concentrar em respirar.
— Demi? — perguntou uma voz grave e masculina.
Joe arregalou os olhos.
Um sósia enorme do super-herói Thor andou na direção deles.
— Quem é você? — perguntou Joe, irritado.
Reunindo as forças que restavam, ele se endireitou para ficar mais alto e encarou o homem, de cara feia.
— Ah. — O homem sorriu, revelando uma fileira de dentes brancos e perfeitos que reluziam em contraste com o rosto bronzeado. Maldito. — Estou ajudando a família com as coisas do casamento. Nick e eu somos bons amigos e...
— Jace? — A voz de Demi parecia esperançosa e animada demais para o gosto de Joe.
— Você se lembra de mim? — O homem sorriu, aproximando-se dela.
— Claro que lembro! — Ela aceitou o abraço do homem e o retribuiu enquanto Joe se imaginava envolvendo o pescoço de Jace com as mãos e estrangulando-o até a morte. — Não sabia que você estava ajudando Nick e Selena.
— Ah, bem. — Ele se afastou e deu de ombros. Tinha mesmo ficado corado? Sério? Aquele arrogantezinho com certeza sabia ficar corado de propósito, só para impressionar as mulheres.
Colocando-se entre Demi e Thor, Joe estendeu a mão.
— Sou Joe, padrinho e irmão do noivo. — E Demi é minha. Minha. Era possível que tivesse mostrado os dentes, e talvez grunhido. Só faltava fazer xixi para marcar território.
— Ah. — O olhar de Jace passou de Demi para Joe.
— Já ouvi muito sobre você.
— Apenas coisas boas, tenho certeza. — Joe estreitou os olhos.
Jace soltou um risinho sarcástico.
— Se você diz...
De algum jeito, estavam com os peitos praticamente colados. Thor era um pouquinho mais alto, apenas um centímetro. Joe já o avaliara: embora Jace fosse um cara grande, ele ainda era mais musculoso.
— Hã... Nós devíamos ir. — Joe sentiu a mão de
Demi em seu peito. Ele olhou para baixo, para seus olhos suplicantes, e se afastou. Mas apenas um centímetro: não queria ser o primeiro a ceder.
— Você está certa. — Jace sacudiu a cabeça e conseguiu parecer bastante humilde. O babaca. — Vamos? — Ele pegou a mala de Demi e ofereceu o braço.
Por que Joe não tinha pensado em carregar a mala dela? Ah, sim! Porque ele ainda sentia os efeitos da noite anterior: estava bêbado e havia passado a maior parte do voo tentando manter todos os fluidos corporais dentro de si. Não tinha pensado nisso, como também não tinha pensado em deixar de ser babaca antes de falar besteira, ou de permitir que seu coração se apaixonasse por ela.
Soltando um palavrão, seguiu os dois até a saída.
Até a limusine que os esperava.
Claro.
— Então a família mandou a limusine? — perguntou Joe, indiferente, enquanto entregava a mala ao motorista.
— Não. — Jace deu de ombros. — Pensei que Demi pudesse estar cansada, então pedi um favor.
Então ele era pobre. Joe conseguiria lidar com aquilo.
— Um favor? — perguntou Demi, aceitando a mão de Jace, que a ajudava a entrar no banco de trás.
— É. — Jace segurou a porta e deixou que Joe entrasse primeiro. — Não costumo usar limusines, ou carros, mas achei que dessa vez valeria a pena, pois você provavelmente estaria cansada.
 Joe revirou os olhos.
— Não costuma usar limusines e carros porque vai a pé até o shopping em que trabalha? Conte, como vai a Abercrombie & Fitch?
— Ótima. — Jace deu um sorriso sarcástico. — Mas, pelas suas roupas, dá para ver que você esteve lá há menos tempo que eu.
Babaca.
— Pronto para ir, senador? — perguntou o motorista.
— Sim, Donald, obrigado.
— Sempre um prazer, senhor.
— Senador? — Demi franziu as sobrancelhas.
Filho da mãe.
O sorriso de Joe ficou congelado no rosto quando Jace deu de ombros e pegou uma garrafa d’água, antes de dizer:
— O mais jovem da história do Oregon.
— Uau! — O sorriso de Demi se alargou. — Você deve estar muito orgulhoso!
Lá estava aquele ar idiota de humildade que Jace sabia fingir muito bem. Não era de admirar que fosse um bom ator, afinal, o cara era um político! Não caia nessa, Demi! Ele é um mentiroso, traiçoeiro...
Droga, era como se estivesse olhando na droga de um espelho!
Onde Nick estava com a cabeça?
O carro começou a se mover e o estômago de Joe se revirou mais uma vez. Não aguentaria os quinze minutos até a casa.
E estar sentado de costas para o motorista não estava ajudando.
Demi e Jace começaram a conversar com naturalidade enquanto Joe abria a janela e se perguntava se seria muito ruim saltar de um carro em movimento, ou mesmo planejar um homicídio. E se contratasse alguém para fazer o que queria? Ainda seria preso?
O carro parou.
Joe gemeu, com o rosto ainda na janela.
— Ei, camarada, está tudo bem?
Camarada? Jace o chamara de camarada?
— Tudo fantástico — respondeu Joe, entre os dentes.
O sorriso de Jace era tão irritante que Joe jurou que, se fosse vomitar, iria mirar na camiseta preta e nas calças brancas de linho do homem. Que espécie de homem usava calça de linho em plena cidade? Não estavam na praia, e as calças eram praticamente transparentes. Seria mais fácil dizer “Por favor, olhem para as minhas partes íntimas.”
— Joe, tem certeza de que está bem? — Demi parecia sinceramente preocupada. Ele a encarou e teve vontade de gritar. Não estava bem, longe disso. Mas precisava parecer forte. Sua autoestima já sofrera o bastante.
Engolindo a bile na garganta, fez que sim com a cabeça uma vez.
As bochechas de Demi assumiram um belo tom de rosa, antes de seus olhos se desviarem de volta para Jace.
— Bem, como eu ia dizendo... — Jace pigarreou e olhou irritado para Joe, antes de virar o sorriso brilhante de volta para Demi.
Cheiro de fast-food entrou pela janela. Joe tentou subir o vidro, mas era tarde demais. Já tinha sido nocauteado. Todo o enjoo que estivera segurando alcançou de uma vez o fundo da garganta.
— Acho que vou vom...
Não teve tempo de terminar a frase. Botou a cabeça para fora e deixou sair cada gota de álcool que tomara na noite anterior — e talvez até no ano anterior.
Então ouviu as sirenes.
Sentindo-se completamente incapaz de dizer qualquer coisa, Joe só conseguiu observar, horrorizado, enquanto o policial mandava a limusine parar e se aproximava da porta suja de vômito.
— Senhor, não sabe que é contra a lei...
— Está tudo bem, Jim — disse Jace, por trás de Joe.
— Ele está comigo.
— Senador! Está um dia muito agradável, não é mesmo? — Jim, um guarda atarracado, prestou continência. — Tem certeza de que está tudo sob controle? Eu poderia levá-lo até a cadeia, dar uma dura.
Você sabe que está de ressaca quando ir para a prisão parece uma opção mais agradável que a de ter de suportar as marteladas em sua cabeça.
— Não precisa. — Jace deu um tapa nas costas de Joe e riu. — Parece que ele não consegue segurar a bebida no corpo, só isso.
— Não são muitos os que conseguem competir com o senhor, senador.
— Ah, vão arranjar um quarto! — murmurou Joe.
— Como? — Jim colocou a mão na arma de choque.
Ah, não.
Jace pigarreou.
— Precisamos ir, Jim. Diga que mandei um “oi” para Linda e as crianças.
— Pode deixar! — Jim acenou, então se inclinou para Joe. — Vou ficar de olho em você, seu arruaceirozinho.
Ótimo! Agora, além de camarada, era também um adolescente rebelde e arruaceiro. Será que seria julgado como menor infrator, caso fosse adiante com o plano de assassinato?
Ah, tinha muito no que pensar!
A limusine voltou a andar, e Joe foi deixado de lado outra vez enquanto Demi e Jace riam e conversavam como se já fizessem planos de morar juntos.
Maldição! Precisava recuperar o jeito, e depressa. Pela primeira vez na vida, tinha competição à altura. E, claro, já que o carma é uma droga, era também a primeira vez que corria o risco de perder não apenas a disputa, mas também o coração.

*****

Fico feliz que vocês gostem dessa fic 
Caso eu continue postando depois que essa acabar, tenho uma adaptação bem legal pra postar, com uma vovó totalmente o oposto dessa, e 1000% menos amável.. Pra ser sincera, vocês podem chamá-la de cobra, bruxa ou qualquer coisa do tipo ajeijsdje se cuidem, beijos

6 comentários:

  1. Por favor, diga que esse jace não dura no proximo capítulo. Joe e Demi forever!!!!!!!!!

    ResponderExcluir
  2. Respostas
    1. Kkkkk adorei o Joe ciumento ..... acho ótimo a Demi dar o troco nele... será que o Joe vai pedir ajuda da vovó pra se livrar do Jace? Continuaaa....

      Excluir
  3. Hmmm Joe ficou com ciúmes de Demi com Jace hmmm askfsj isso tem que continuar a Demi tem que dar troco no Joe por fazer ela de boba só para saber como doi ser rejeitado u.u mas mesmo assim Joe não deixa ela ficar com esse babaca.

    ResponderExcluir
  4. To com dó do joe, serio, e demi nem notou.
    Esse jace vai levar sumiço se ficar se engraçando pra demi rum

    ResponderExcluir