— Ei, babaca! — chamou uma voz
feminina irritante, que interrompeu seus sonhos. — Acorde! Está na hora de
pegar o avião! Precisamos embarcar agora!
— Por que está gritando? —
sussurrou Joe, levando as mãos às têmporas. — E que troço é esse que você está
usando?
Demi parou na frente dele, com as
mãos nos quadris. Usava um vestido rosa brilhante diretamente saído do catálogo
da Victoria’s Secret.
— Filha da mãe, apague as luzes!
— Ele cobriu os olhos com uma das mãos e continuou xingando.
— Ah, desculpe. — Demi continuou
a falar alto. — Meu vestido brilhante faz sua dor de cabeça piorar? Que tal um
shot de tequila, hem?
Só de pensar naquilo, Joe sentiu
o estômago revirar.
Ele tinha conseguido dispensar as
gêmeas, mesmo estando completamente bêbado, e ainda assim a mulher de quem ele
gostava parecia prestes a esfaquear suas partes íntimas!
— Não — respondeu, rouco. — Nada
de álcool.
— Você se divertiu ontem à noite?
— Demi cruzou os braços. Os olhos azuis brilhantes estavam límpidos como o céu
da manhã. Mas. Que. Merda. Ele agora era poeta?
Bateu no peito e pigarreou. Ah,
que bom. Estava batendo no peito. Tinha recorrido ao estilo dos homens das cavernas
para provar que ainda era macho.
Adeus, último resquício de
masculinidade! Joe sacudiu a mão no ar, como se acenasse uma despedida.
Então percebeu que ainda devia
estar bêbado.
— Levante-se logo daí. — Demi
chutou sua cadeira.
— Não. — Ele precisava de comida.
Como é que tinha chegado ao aeroporto? De táxi? Certo, um táxi, e ele pagou ao
taxista, pegou as passagens e passou pela segurança ainda tonto e cheirando à
festa da noite anterior.
Mas que engraçado. Exatamente
como na última vez que tinha voado.
— Por que você está sorrindo? —
Demi agarrou seu antebraço e o puxou, para que se levantasse. — E por que está
com cheiro de bunda? Pelo menos tomou banho?
Seu cérebro começou a funcionar
devagar enquanto ele relembrava os acontecimentos da manhã. Tinha se esquecido
de fazer as malas, então correu pela casa, tropeçando nos móveis, para
conseguir estar pronto a tempo, e quase não se lembrou de pegar o celular e ligar
para um táxi, mas não tomou banho.
— Hã... Não deu tempo.
— Você foi para casa às nove,
ontem à noite. Deve ter sido uma noite difícil, com a no 1 e a no 2.
Ele decidiu não responder. Em vez
disso, apoiou-se em Demi enquanto entregavam os cartões de embarque e seguiam
até o avião. Pelo menos não seria um voo longo.
Ele também sabia que vovó voaria
na primeira classe, então não haveria ameaças de bombas, reações alérgicas nem
prisões.
Aliás, onde vovó estava?
Quando entraram no avião, ele
olhou ao redor. Ela não estava na primeira classe, pelo que ele tinha visto.
Nem na econômica.
— Onde está vovó? — perguntou a
Demi, odiando a rouquidão ainda presente na voz.
— Ela foi ontem à noite. Alguma
coisa sobre uma emergência de casamento. Você usa o celular, ou só fica olhando
para ele e pede a Siri que leia as mensagens?
Joe olhou para o chão com uma
expressão culpada e decidiu não responder.
— Então — continuou Demi. Sério,
por que ela ainda estava falando? Não sabia que ele estava prestes a vomitar a
própria alma? Revirando os olhos, ela afivelou o cinto de segurança de Joe.
Ótimo, ele tinha virado um bebê de dois anos!
A melhor parte foi que, naquele
exato momento, sua masculinidade resolveu comparecer e se mostrar ao mundo. Mas
ele se sentia infeliz demais para ligar para o que quer que fosse.
— Como foi a noite? — Ela estava
furiosa. Sim, furiosa.
— Péssima — respondeu Joe, com
sinceridade. — Bebi demais e finalmente percebi algo que já devia saber há
muito tempo.
— Ah, é? — perguntou Demi, a voz
desprovida de qualquer emoção. — E o que é?
Dando de ombros, Joe respondeu:
— Odeio loiras.
O primeiro sorriso da manhã
inteira apareceu por um breve momento no rosto de Demi, antes que ela se virasse
para olhar pela janela.
— Isso não muda nada.
— Ah, é?
— É. — Ela se virou para ele. —
Você ainda está com cheiro de bunda.
Ele sentiu cada mínima
turbulência. Cada movimento. Um macaquinho tocando bateria se mudara para o interior
de seu crânio e um elefante possuído fora morar em seu estômago. Joe quase
vomitou cinco vezes antes do fim do voo.
Demi não ajudou em nada.
Ela se recusou a conversar com
ele, a olhar para ele e a tocá-lo.
Com certeza ele tinha aparecido
na TV. Era a única explicação possível. Lembrou-se vagamente de alguns flashes.
Como podia ser tão insensível?
Sabia o que estava fazendo, e, mesmo assim, seguira em frente. Para provar um
ponto. Para prová-lo a si mesmo.
E no momento parecia que ele
tinha sido atropelado por um caminhão. E mais de uma vez — como se o motorista
quisesse ter certeza de que ele estava morto.
Quando o avião pousou, ele se
arrastou pelo corredor e depois até a esteira de bagagens, torcendo para que,
ao menos desta vez, vovó tivesse sentido pena dele e mandado alguma coisa — um
carro, uma arma, ou mesmo uma aspirina. É, ele aceitaria uma aspirina.
Mas não teve essa sorte.
— Onde está todo o mundo? — Ele
deixou cair a bagagem de mão e sentiu outra onda de enjoo. O Jack Daniel’s
estava voltando para assombrá-lo. Seu estômago se revirou quando Joe fechou os
olhos e tentou se concentrar em respirar.
— Demi? — perguntou uma voz grave
e masculina.
Joe arregalou os olhos.
Um sósia enorme do super-herói
Thor andou na direção deles.
— Quem é você? — perguntou Joe,
irritado.
Reunindo as forças que restavam,
ele se endireitou para ficar mais alto e encarou o homem, de cara feia.
— Ah. — O homem sorriu, revelando
uma fileira de dentes brancos e perfeitos que reluziam em contraste com o rosto
bronzeado. Maldito. — Estou ajudando a família com as coisas do casamento. Nick
e eu somos bons amigos e...
— Jace? — A voz de Demi parecia
esperançosa e animada demais para o gosto de Joe.
— Você se lembra de mim? — O
homem sorriu, aproximando-se dela.
— Claro que lembro! — Ela aceitou
o abraço do homem e o retribuiu enquanto Joe se imaginava envolvendo o pescoço
de Jace com as mãos e estrangulando-o até a morte. — Não sabia que você estava
ajudando Nick e Selena.
— Ah, bem. — Ele se afastou e deu
de ombros. Tinha mesmo ficado corado? Sério? Aquele arrogantezinho com certeza
sabia ficar corado de propósito, só para impressionar as mulheres.
Colocando-se entre Demi e Thor,
Joe estendeu a mão.
— Sou Joe, padrinho e irmão do
noivo. — E Demi é minha. Minha. Era possível que tivesse mostrado os dentes,
e talvez grunhido. Só faltava fazer xixi para marcar território.
— Ah. — O olhar de Jace passou de
Demi para Joe.
— Já ouvi muito sobre você.
— Apenas coisas boas, tenho
certeza. — Joe estreitou os olhos.
Jace soltou um risinho
sarcástico.
— Se você diz...
De algum jeito, estavam com os
peitos praticamente colados. Thor era um pouquinho mais alto, apenas um centímetro.
Joe já o avaliara: embora Jace fosse um cara grande, ele ainda era mais
musculoso.
— Hã... Nós devíamos ir. — Joe
sentiu a mão de
Demi em seu peito. Ele olhou para
baixo, para seus olhos suplicantes, e se afastou. Mas apenas um centímetro: não
queria ser o primeiro a ceder.
— Você está certa. — Jace sacudiu
a cabeça e conseguiu parecer bastante humilde. O babaca. — Vamos? — Ele pegou a
mala de Demi e ofereceu o braço.
Por que Joe não tinha pensado em
carregar a mala dela? Ah, sim! Porque ele ainda sentia os efeitos da noite anterior:
estava bêbado e havia passado a maior parte do voo tentando manter todos os
fluidos corporais dentro de si. Não tinha pensado nisso, como também não tinha pensado
em deixar de ser babaca antes de falar besteira, ou de permitir que seu coração
se apaixonasse por ela.
Soltando um palavrão, seguiu os
dois até a saída.
Até a limusine que os esperava.
Claro.
— Então a família mandou a
limusine? — perguntou Joe, indiferente, enquanto entregava a mala ao motorista.
— Não. — Jace deu de ombros. —
Pensei que Demi pudesse estar cansada, então pedi um favor.
Então ele era pobre. Joe
conseguiria lidar com aquilo.
— Um favor? — perguntou Demi,
aceitando a mão de Jace, que a ajudava a entrar no banco de trás.
— É. — Jace segurou a porta e
deixou que Joe entrasse primeiro. — Não costumo usar limusines, ou carros, mas
achei que dessa vez valeria a pena, pois você provavelmente estaria cansada.
Joe revirou os olhos.
— Não costuma usar limusines e
carros porque vai a pé até o shopping em que trabalha? Conte, como vai a Abercrombie
& Fitch?
— Ótima. — Jace deu um sorriso
sarcástico. — Mas, pelas suas roupas, dá para ver que você esteve lá há menos
tempo que eu.
Babaca.
— Pronto para ir, senador? —
perguntou o motorista.
— Sim, Donald, obrigado.
— Sempre um prazer, senhor.
— Senador? — Demi franziu as
sobrancelhas.
Filho da mãe.
O sorriso de Joe ficou congelado
no rosto quando Jace deu de ombros e pegou uma garrafa d’água, antes de dizer:
— O mais jovem da história do
Oregon.
— Uau! — O sorriso de Demi se
alargou. — Você deve estar muito orgulhoso!
Lá estava aquele ar idiota de
humildade que Jace sabia fingir muito bem. Não era de admirar que fosse um bom ator,
afinal, o cara era um político! Não caia nessa, Demi! Ele é um
mentiroso, traiçoeiro...
Droga, era como se estivesse
olhando na droga de um espelho!
Onde Nick estava com a cabeça?
O carro começou a se mover e o
estômago de Joe se revirou mais uma vez. Não aguentaria os quinze minutos até a
casa.
E estar sentado de costas para o
motorista não estava ajudando.
Demi e Jace começaram a conversar
com naturalidade enquanto Joe abria a janela e se perguntava se seria muito
ruim saltar de um carro em movimento, ou mesmo planejar um homicídio. E se
contratasse alguém para fazer o que queria? Ainda seria preso?
O carro parou.
Joe gemeu, com o rosto ainda na
janela.
— Ei, camarada, está tudo bem?
Camarada? Jace o chamara de
camarada?
— Tudo fantástico — respondeu
Joe, entre os dentes.
O sorriso de Jace era tão
irritante que Joe jurou que, se fosse vomitar, iria mirar na camiseta preta e
nas calças brancas de linho do homem. Que espécie de homem usava calça de linho
em plena cidade? Não estavam na praia, e as calças eram praticamente transparentes.
Seria mais fácil dizer “Por favor, olhem para as minhas partes íntimas.”
— Joe, tem certeza de que está
bem? — Demi parecia sinceramente preocupada. Ele a encarou e teve vontade de
gritar. Não estava bem, longe disso. Mas precisava parecer forte. Sua
autoestima já sofrera o bastante.
Engolindo a bile na garganta, fez
que sim com a cabeça uma vez.
As bochechas de Demi assumiram um
belo tom de rosa, antes de seus olhos se desviarem de volta para Jace.
— Bem, como eu ia dizendo... —
Jace pigarreou e olhou irritado para Joe, antes de virar o sorriso brilhante de
volta para Demi.
Cheiro de fast-food entrou pela
janela. Joe tentou subir o vidro, mas era tarde demais. Já tinha sido nocauteado.
Todo o enjoo que estivera segurando alcançou de uma vez o fundo da garganta.
— Acho que vou vom...
Não teve tempo de terminar a
frase. Botou a cabeça para fora e deixou sair cada gota de álcool que tomara na
noite anterior — e talvez até no ano anterior.
Então ouviu as sirenes.
Sentindo-se completamente incapaz
de dizer qualquer coisa, Joe só conseguiu observar, horrorizado, enquanto o
policial mandava a limusine parar e se aproximava da porta suja de vômito.
— Senhor, não sabe que é contra a
lei...
— Está tudo bem, Jim — disse
Jace, por trás de Joe.
— Ele está comigo.
— Senador! Está um dia muito
agradável, não é mesmo? — Jim, um guarda atarracado, prestou continência. — Tem
certeza de que está tudo sob controle? Eu poderia levá-lo até a cadeia, dar uma
dura.
Você sabe que
está de ressaca quando ir para a prisão parece uma opção mais agradável que a
de ter de suportar as marteladas em sua cabeça.
— Não precisa. — Jace deu um tapa
nas costas de Joe e riu. — Parece que ele não consegue segurar a bebida no
corpo, só isso.
— Não são muitos os que conseguem
competir com o senhor, senador.
— Ah, vão arranjar um quarto! —
murmurou Joe.
— Como? — Jim colocou a mão na
arma de choque.
Ah, não.
Jace pigarreou.
— Precisamos ir, Jim. Diga que
mandei um “oi” para Linda e as crianças.
— Pode deixar! — Jim acenou,
então se inclinou para Joe. — Vou ficar de olho em você, seu arruaceirozinho.
Ótimo! Agora, além de camarada,
era também um adolescente rebelde e arruaceiro. Será que seria julgado como
menor infrator, caso fosse adiante com o plano de assassinato?
Ah, tinha muito no que pensar!
A limusine voltou a andar, e Joe
foi deixado de lado outra vez enquanto Demi e Jace riam e conversavam como se
já fizessem planos de morar juntos.
Maldição! Precisava recuperar o
jeito, e depressa. Pela primeira vez na vida, tinha competição à altura. E,
claro, já que o carma é uma droga, era também a primeira vez que corria o risco
de perder não apenas a disputa, mas também o coração.
*****
Fico feliz que vocês gostem dessa fic ♥
Caso eu continue postando depois que essa acabar, tenho uma adaptação bem legal pra postar, com uma vovó totalmente o oposto dessa, e 1000% menos amável.. Pra ser sincera, vocês podem chamá-la de cobra, bruxa ou qualquer coisa do tipo ajeijsdje se cuidem, beijos ♥
Por favor, diga que esse jace não dura no proximo capítulo. Joe e Demi forever!!!!!!!!!
ResponderExcluirEles tem que FICAR JUNTOS LOGOOO !
ResponderExcluirKkkkk adorei o Joe ciumento ..... acho ótimo a Demi dar o troco nele... será que o Joe vai pedir ajuda da vovó pra se livrar do Jace? Continuaaa....
ExcluirEita .. Esse Jace hein...
ResponderExcluirHmmm Joe ficou com ciúmes de Demi com Jace hmmm askfsj isso tem que continuar a Demi tem que dar troco no Joe por fazer ela de boba só para saber como doi ser rejeitado u.u mas mesmo assim Joe não deixa ela ficar com esse babaca.
ResponderExcluirTo com dó do joe, serio, e demi nem notou.
ResponderExcluirEsse jace vai levar sumiço se ficar se engraçando pra demi rum