Carma. Ah, como ele odiava o
carma! Era isso que estava acontecendo com ele. Afinal de contas, um cara só
pode galinhar pelo mundo até certo ponto: alguma hora Deus começa a castigar, a
matar ou, no caso de Joe, a lançar a praga das mulheres sentimentais.
— Eu não... — Joe limpou a
garganta e continuou, em um sussurro: — Não foi um acidente. Esta mulher aqui é
que me atacou. — Ele apontou para Demi.
A comissária de bordo olhou para
os dois:
— Com o quê, senhor?
— Água — respondeu vovó no lugar
dele. — Ela jogou água nele.
— Hã... — A moça se remexeu,
nervosa. — E por acaso o senhor... Quer dizer, o senhor quer apresentar queixa?
— A quem? — Demi riu. — A que
autoridade? E o que ele vai fazer? Usar uma arma de choque em mim, por eu ter
jogado água na parte do corpo favorita desse senhor? — Ela apontou para a cara
de Joe e riu. — Sério!? Não é como se eu tivesse dito “bomba”.
— Ah, droga! — Pressionando o
ponto entre os olhos, Joe se pôs a ouvir enquanto a palavra “bomba” era repetida
aos murmúrios nas várias poltronas atrás dele.
Em pouco tempo, como se
literalmente atingido por uma bomba, todo o avião ficou imerso em caos.
— Senhora! — A comissária de
bordo ergueu as mãos diante de Demi. — Fique calma. Preciso que a senhora fique
calma. Por acaso está com uma bomba?
— O quê? — Ela pareceu confusa. —
Por que eu estaria com uma bomba?
Bom. Ao menos Demi tinha o bom
senso de parar de falar quando...
— E se eu estivesse com uma, acha
que seria idiota a ponto de ficar gritando isso por aí?
Alarme falso. Aquela mulher não
tinha bom senso, nem fazia o menor sentido. Como ele pôde esquecer?
Estava falando de Demi.
Ela adotava cachorros cegos e chorava durante os comerciais idiotas da cantora
Sarah McLachlin sobre resgate de animais. Estava claro que bom senso não era um
de seus pontos fortes.
— Senhora! Preciso que pare de
gritar. — A comissária de bordo gesticulou para alguém atrás de si.
Em questão de segundos, surgiu um
homem de jeans e camisa branca. Bem, não parecia justo chamá-lo de homem,
apenas, já que era bem provável que o cara comesse criancinhas no jantar. Até
Joe se remexeu na poltrona, pouco à vontade, e evitou contato visual com o desconhecido.
— É você que está dizendo que vai
bombardear o avião? — perguntou o homem.
— O quê!? — Demi olhou para Joe,
pedindo ajuda. E, para ser sincero, ajudá-la parecia ser a coisa certa a fazer,
apesar de tudo.
Mas aquela mulher tinha acabado
de jogar água nele e de acusá-lo de ter sofrido um “acidente”.
E teve também aquela vez, ainda
no ensino médio, que ela espalhou o boato de que Joe não praticava esportes porque
tinha medo de que, quando estivesse nu no
vestiário, alguém descobrisse que
ele tinha partes íntimas femininas.
Então talvez ele não estivesse
muito propenso a ajudar.
— Joe! — Demi acertou-o no ombro.
— Ajude aqui!
Com um sorriso maldoso, ele ia
começar a responder, mas vovó tapou sua boca antes que desse tempo de falar.
— São esses dois. Os dois têm
bombas. — Assim que disse isso, vovó Nadine começou a chorar.
Lágrimas de verdade.
No instante imediato, Joe teve as
mãos atadas por um lacres de segurança e, na sequência, viu-se forçado a comer
amendoins, que lhe foram dados por um homem cujas mãos eram maiores que seu
rosto, porque ele quase desmaiou. Ah, que ótimo, um colapso nervoso!
Este era só mais um acontecimento
a somar aos que deviam estar sendo os piores meses de sua vida!
Antes do quase desmaio, a última
coisa de que se lembrava era de ter ouvido Demi falar alguma idiotice sobre ele
estar precisando de proteínas. E, por algum motivo — talvez porque tudo
estivesse girando —, Joe não conseguiu abrir a boca a tempo de dizer que odiava
amendoins.
Agora, ele tentava se decidir
sobre o que seria pior: o fato de haver um homem forçando algo para dentro de seu
corpo, ou o fato de os dedos desse homem serem mais macios que qualquer outra
coisa que ele já tenha sentido tocar seus lábios. O que trazia à tona a grande questão:
para começo de conversa, por que aqueles dedos estavam roçando seus lábios? E
por que pareciam tão...?
Mas que droga! Joe apertou os
apoios de braço do assento e fez uma careta. Será que ele estava mudando de
time?
— Chega desse amor.... Quer
dizer, amendoim! — Merda.
Demi espiou por cima do homem e
pareceu espantada.
— Você acabou de dizer “chega desse
am...”.
— Não! — Joe forçou uma risada e
tentou se afastar o máximo possível do homem, que estava sentado entre os dois.
— Eu disse “amendoim”.
— Não disse, não. — Demi abriu um
sorriso.
— Disse, sim.
— Não, não disse.
— Por favor, podem tirar esse negócio
de mim? — perguntou Joe, batendo nos descansos de braço. Os lacres não
afrouxavam de jeito nenhum e já estavam deixando marcas. — Não estamos
carregando bombas! Minha avó é louca! De verdade! Vocês não têm ideia do que
ela é capaz.
— E a fruta não caiu muito
longe da árvore — resmungou Demi.
— Você pode parar? — Joe espiou
por cima do agente de segurança. — Estou tentando tirar a gente dessa situação.
O mínimo que você podia fazer era ajudar, ou pelo menos se desculpar!
— Me desculpar? — Demi arregalou
os olhos. — Me desculpar? — Suas narinas inflaram quando ela se inclinou o
máximo que os lacres permitiram e lançou um olhar de fúria para Joe. — Estou
surpresa por você ao menos saber que essa palavra existe!
Joe bufou com desdém.
— Sei que existe, mas não sou eu
o culpado, aqui.
— Deus do céu! Tenho vontade de
dar um tapa no seu rosto com tanta força que...
— Dar um tapa no meu rosto? Que
idiota fala desse jeito? A velha Demi de sempre, que só fala, mas não faz nada.
Além disso, suas mãos estão literalmente atadas. Posso falar o que quiser, e
você vai ter que ficar aí sentada me ouvindo. Na verdade...
Joe parou de falar e direcionou
para Demi todo o efeito de seu sorriso de astro de cinema, brilhante como mil
sóis. Os dentes brancos e perfeitamente alinhados se destacaram no rosto quando
ele umedeceu o lábio inferior, lentamente, e se inclinou, provocador. Uma mecha
de cabelo escuro caiu sobre um de seus olhos.
Droga, aquele homem era tão
atraente que era quase um crime!
— Não me venha com essa, Joseph
Jonas! Não se atreva. Eu vou, eu vou...
Joe abriu um bocejo.
— Estou esperando.
— Eu vou...
Então foi isso que aconteceu: Joe
se virou para o agente de segurança e tentou pigarrear, mas, por algum motivo,
não conseguiu. De repente, foi como se ele tivesse engolido algodão, era o que
parecia.
— Dem... — Sua língua
parecia enorme. — Demi, eu...
— Meu Deus! — gritou Demi,
debatendo-se na poltrona. — Ah... Joe! Ah... Senhor Agente de Segurança!
— Randall. Eu me chamo Randall. —
O homem estendeu a mão e, ao perceber que Demi estava algemada, riu. O agente
de segurança não conseguia ver o que estava acontecendo com Joe. Estranho...
era quase como se ele não estivesse conseguindo respirar.
Talvez fosse por causa da
altitude. Ele tentou engolir a saliva outra vez. Merda. Estava cada vez mais
difícil respirar. Mas o que era aquilo?
— Joe! — gritou Demi, dessa vez
mais alto. Então deu um chute no agente, para conseguir sua atenção. — Veja
bem... Randall? Estamos com um problema. Você tem cinco segundos para evitar
que uma pessoa morra sob sua supervisão.
— Morror! — Fez Joe. Meu
Deus do céu! Demi ia matá-lo? O avião estava caindo? Bem, não era como se ele
tivesse muitos motivos pelos quais viver, agora que a avó ameaçara acabar com
sua carreira caso ele não tomasse jeito. Era morrer nas mãos dela ou, ao que parecia,
nas mãos de alguma outra mulher rejeitada.
Preferia tentar a sorte com Demi
a enfrentar a ira de uma mulher de 86 anos que usava batom suficiente para riscar
o contorno do cadáver do neto e poupar o trabalho da polícia.
Já até podia ver a manchete do
jornal: “Joseph Jonas, playboyzinho milionário, deserdado pela família, morre em
acidente de avião com migalhas de amendoim por todo o rosto.” Não que fossem
encontrar as migalhas, considerando que seu corpo provavelmente seria incinerado
e... Quando foi que sua vida tinha ficado tão deprimente?
Ele culpava o casamento iminente
do irmão. Tudo fora ladeira abaixo desde que seu irmão pedira em casamento sua
melhor amiga de infância.
— Perdão? — O agente de segurança
se endireitou, o que arrancou Joe do estado distraído de sonhar acordado. Ou, melhor
dizendo, de ter pesadelos acordado.
— Olhe! — Demi indicou Joe com a
cabeça.
Então era assim que ele ia
morrer? Pelas mãos de Demi, uma mulher rejeitada. Bem, na prática seria pelas mãos
perturbadoramente macias do agente de segurança aérea que o fizera comer
amendoins. Como será mesmo que sua vida tinha virado uma novela mexicana, hem?
— Senhor, acalme-se. — O agente
arregalou os olhos, levantou-se e bateu a cabeça no teto, então praguejou e saiu
correndo. Joe o seguiu com o olhar. Caramba.
Qual era o problema dele? Será
que estava assim tão preocupado com a ameaça de morte de Joe?
— Ha-ha — disse ele. — É
ixo aí. E ahora? Voxê vai me envenenar? Foi mal, gaota, eu meio que extou do
ado xerto da perfeixão.
Os lábios carnudos de Demi se
contorceram em um sorriso desdenhoso.
— É, lá se vão minhas desculpas.
— Por que motivo? — Joe se
endireitou no assento.
Mexendo-se um pouco, talvez
conseguisse respirar melhor.
Demi soltou um xingamento
abafado, deu de ombros e olhou para o outro lado.
Estava quente naquele avião? O
que estava acontecendo com sua boca? Suas mãos tinham começado a coçar muito.
Ele olhou para baixo e ficou atônito, encarando as mãos.
Elas estavam muito inchadas, como
as do Mickey Mouse.
— MAX QUE DROGA! — Ele se debateu
com violência. — Mia mon, mia mon!
— Mon? — Uma senhora se virou
para encarar os dois.
Demi assentiu solenemente.
— Por favor, perdoe meu amigo.
Ele acha que fala francês.
O pânico crescia à medida que
ficava mais difícil respirar. Será que ele estava sofrendo uma reação alérgica,
ou apenas surtando? Nunca antes passara por nada parecido com isto que sentia
agora. Olhou para o corredor e notou que vovó chegava trazendo alguma coisa.
Ótimo. Era só o que faltava: ser esfaqueado pela própria avó! Será que suas
experiências em aviões nunca seriam normais?
— Não se preocupe, Joe. — A velha
senhora apontou para ele e assentiu com a cabeça. — Vovó vai cuidar disso. —
Ela ergueu uma das mãos. Joe fechou os olhos. Talvez fosse só um pesadelo.
Talvez suas mãos não estivessem realmente algemadas. Talvez ele estivesse sofrendo
um colapso nervoso e...
— Fia da mõe! — gritou Joe
quando vovó cravou a agulha em sua coxa, aproveitando-se do buraco na calça jeans.
Bem, se não morresse, com certeza ele iria desmaiar de dor. Só coisas boas o
esperavam...
Quando a pressão diminuiu e a agulha
desapareceu — graças a Deus! —, ele abriu um olho, depois o outro, e viu que
vovó estava parada à sua frente, segurando o que só poderia ser descrito como
um instrumento de tortura.
— Ele era alérgico quando
criança. Acho que foi o estresse... — Ela fez um som que parecia querer dizer “Puxa
vida, tadinho!” e se virou para Demi. — Obrigada, querida. Não sei o que teria
acontecido se você não tivesse avisado a Randall que Joe estava prestes a morrer.
— Você salvou o dia, senhora. — O
lábio inferior de Randall tremia e ele assentia com a cabeça, olhando para o
chão.
Vocês só podem
estar de brincadeira.
Todos voltaram a atenção para
Joe.
Ele podia jurar que o avião
inteiro tinha mergulhado em um silêncio mortal. Um silêncio bem curto, na
verdade, já que o voo de Portland a Seattle durava menos de uma hora.
— Joe. — Vovó suspirou. — Não tem
nada que você queira dizer a Demi?
Você é louca?
Você quase me matou? Vou estrangular você? Resmungando, ele se virou para
olhar a mulher, olhá-la de verdade. Mas que droga! Ela ainda era irritantemente
linda. Joe quase podia sentir aquele cabelo sedoso correndo entre seus
dedos. E aquela boca? Era o bastante para distrair um homem. Até mesmo
agora, do modo mesmo como estava, queria tocar aqueles lábios e...
No que estava pensando?
Devia ser a
alergia.
O longo cabelo castanho-avermelhado
de Demi caía em ondas sobre os ombros. Ela arregalou os olhos castanhos um pouquinho
quando o olhar de Joe se fixou em seus lábios carnudos e rosados. Mas não foi
uma reação de preocupação. Quando muito, parecia que ela estava tentando não
rir.
— Não, nada que eu queira dizer.
— Joe lançou um olhar irritado para a mulher. — Acho que Demi sabe exatamente
como me sinto a respeito dela.
O sorriso da jovem se desfez ao
mesmo tempo que seus olhos ficaram gélidos.
— Ele está certo. — Demi voltou a
olhar para vovó. — Ele já disse tudo o que precisava na noite em que, depois de
dormir comigo, foi embora e deixou no travesseiro um bilhete de agradecimento.
Não foi, Joe?
Ele deveria ter imaginado que
aquele tapa viria. Mas a verdade é que ainda estava chocado com o fato de Demi ter
decidido lavar a roupa suja diante de todos os passageiros do avião.
Então, quando sentiu o ar
assobiar na orelha, fez o que qualquer homem teria feito: ele se curvou. Pena
que vovó não era de desistir facilmente.
O segundo tapa foi com as costas
da mão e doeu pra caramba.
— Não foi assim que criei você! —
Vovó Nadine enfiou o dedo na cara de Joe e sacudiu a cabeça.
Bufando, ela ajeitou o casaco e
ordenou que Randall, o agente de segurança chorão, soltasse Demi, explicando que
não tinha sido ela que causara o problema, e sim Joe. Sentindo-se injustiçado,
o neto começou a gritar com o agente, dizendo que fora Demi quem dissera “bomba”,
mas repetir a palavra só piorou a situação.
Mas o golpe final foi quando vovó
olhou Randall nos olhos e disse:
— Ela salvou a vida de Joe.
A hora seguinte foi a mais longa
de sua vida.
A respiração estava seca. O rosto
provavelmente continuava inchado, consequência tanto da reação alérgica quanto
do tapa da avó. Nunca se sentira menos homem que naquele momento. E era tudo
culpa de Demi.
*****
Eu to adorando postar essa fic jazjsxja
Respostas aqui.
Se cuidem, amo vcs, bjs ♥
Posta mais um hj por favor...... estou amando essa fic..... chorei de tanto rir.... se ele acha ela linda, pq que sempre desfez dela? Continua ....
ResponderExcluirDesculpa não postar antes, não passei o fds em casa :/
ExcluirEntão, não é que ele sempre se desfez dela, é que ele é galinha, não gosta de relacionamento sério, aí depois de eles passarem a noite juntos, ele simplesmente foi embora e deixou um bilhete dizendo "obrigada", e desde então ela passou a tratar ele assim e é isso aklxmlsnm
Continuo, beijos <3
posta mais um capítulo hoje por favor que mais porque ta muito legal e engraçada essa fic
ResponderExcluirDesculpa não postar. Mas to feliz que esteja gostando <3
ExcluirBeijo.
Ameeeeeeeeiiiiii...Posta logoooooooooooo
ResponderExcluirQue bom, anjo <3
ExcluirPosto sim, beijos.
e eu estou adorando ler! ❤
ResponderExcluirestá cada vez melhor, socorro
joe levou um tapa por não dizer obrigado KKKKK
esses dois vão acabar se matando... de amor 😍
amei! bjos e posta logo
Que bom, amor <3
ExcluirKkkkkkkkkkk, sim, eu morro com as coisas que a vovó faz com o, Joe, Deus!
Com certeza vão, akxnakjxn
Posto, beijo.
Omg o.o oahushwushushsus poste logo querida.agradeço 😚
ResponderExcluirPosto sim <3
ExcluirBeijo.
Posta mais
ResponderExcluirClaro, anjo. Beijo <3
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