14.3.15

Capítulo Dezoito




Segunda-feira, 29 de outubro de 2012
17h29

Entramos no quarto de hotel como zumbis. Nem me lembro de sair do carro e entrar no quarto. Ao alcançar a cama, Jonas se senta e tira os sapatos. Só consegui andar alguns metros, parando na porta do quarto. Minhas mãos estão ao lado do corpo, e minha cabeça está inclinada. Fico olhando para a janela do outro lado do quarto. As cortinas estão abertas, deixando à mostra apenas a paisagem deprimente de um prédio de tijolos que fica a alguns metros do hotel. Só uma parede inteira feita de tijolos, sem janelas ou portas. Apenas tijolos.
Olhar pela janela e ver a parede de tijolos é como me sinto em relação à minha vida. Tento enxergar o futuro, mas não consigo ver mais nada depois desse momento. Não faço ideia do que está por vir, com quem vou morar, do que vai ser de Dianna, se vou contar para a polícia o que acabou de acontecer. Não consigo nem dar um palpite. Há apenas uma parede entre esse momento e o seguinte, não existe sequer uma pista pichada de spray.
Nos últimos 13 anos, minha vida não passou de uma parede de tijolos que dividia os primeiros anos do restante. Uma barreira sólida, separando minha vida como Demi de minha vida como Hope. Já ouvi falar de pessoas que bloqueiam lembranças traumáticas, mas sempre achei que isso era mais uma escolha. Nos últimos 13 anos, não tinha mesmo a mínima ideia de quem eu era antes. Sabia que era nova quando me tiraram daquela vida, mas mesmo assim era de se esperar que guardasse algumas lembranças. Acho que, no instante em que fui embora com Dianna, de alguma maneira tomei uma decisão consciente, mesmo sendo tão nova, de nunca me lembrar daquelas coisas. Depois que Dianna começou a me contar histórias da minha “adoção”, deve ter sido mais fácil para minha mente aceitar as mentiras indefesas do que se lembrar da verdade terrível.
Sei que na época eu não era capaz de explicar o que meu pai estava fazendo comigo, pois eu não tinha certeza. Só sabia que odiava aquilo. Quando não se tem certeza do que é aquilo que você odeia ou por que sequer odeia alguma coisa, é difícil se ater aos detalhes... a pessoa se prende somente aos sentimentos. Sei que nunca tive muita curiosidade de investigar meu passado. Nunca tive muita curiosidade de descobrir quem era meu pai ou por que ele “me colocou para adoção”. Agora sei que é porque, em algum canto da minha mente, eu ainda guardava ódio e medo daquele homem, então era mais fácil erguer a parede de tijolos e nunca mais olhar para trás.
Continuo sentindo ódio e medo dele, mesmo sabendo que não pode mais encostar em mim. Ainda o odeio e ainda morro de medo dele e, mesmo assim, estou arrasada por ele ter morrido. Eu o odeio por inserir acontecimentos tão terríveis na minha memória e ainda assim conseguir fazer com que eu sofra sua perda no meio de todas essas coisas ruins. Não quero sofrer a perda. Quero ficar alegre com isso, mas não consigo.
Meu casaco está sendo removido. Desvio o olhar da parede de tijolos que me provoca do lado de fora da janela, viro a cabeça e vejo Jonas atrás de mim. Ele deixa meu casaco na cadeira e tira minha camisa manchada de sangue. Uma tristeza intensa me consome ao perceber que tenho os mesmos genes do sangue sem vida que cobre meu rosto e minhas roupas. Jonas vem para minha frente, encosta no botão da minha calça e a desabotoa.
Está de cueca boxer. Nem percebi que tirou a roupa. Meus olhos se erguem até seu rosto, que tem pequenas manchas de sangue na bochecha direita, a que estava virada para meu pai no momento de seu ato covarde. Os olhos estão tristes, focados na calça enquanto ele a desce pelas minhas pernas.
— Preciso que você dê um passo para fora delas, linda — diz ele baixinho ao chegar aos meus pés.
Eu me seguro nos ombros dele e tiro um pé de dentro da calça, depois o outro. Mantenho as mãos nos seus ombros e os olhos fixos no sangue espalhado por seu cabelo. Mecanicamente, estendo o braço e passo os dedos por uma mecha de cabelo, em seguida aproximo a mão para analisá-la. Esfrego o sangue entre as pontas dos dedos, mas agora está grosso. Está mais grosso do que sangue deveria ser.
É porque não é apenas o sangue do meu pai que está nos cobrindo.
Começo a passar os dedos na barriga, tentando desesperadamente tirar isso de mim, mas acabo espalhando mais. Minha garganta se fecha e não consigo gritar. É como os sonhos que tive em que uma coisa era tão apavorante que eu perdia toda minha capacidade de emitir sons. Jonas ergue o olhar, e eu quero gritar, berrar e chorar, mas só consigo arregalar os olhos, balançar a cabeça e continuar limpando as mãos no meu corpo. Ao me ver em pânico, ele se levanta, me ergue e me carrega depressa até o chuveiro. Ele me deixa do lado oposto do boxe, entra comigo e abre a torneira.
Depois, fecha a cortina quando a água fica quente, vira-se para mim e segura meus pulsos que continuam tentando limpar as manchas vermelhas. Ele me puxa para perto de si e nos vira na direção do jato quente de água. Quando a água bate nos meus olhos, solto o ar, inspirando fundo depois.
Jonas estende o braço para a lateral da banheira e pega o sabonete, rasgando a embalagem de papel encharcada. Ele se inclina para fora da banheira e volta para dentro segurando uma pequena toalha. Meu corpo inteiro está tremendo, mesmo com a água quente. Ele passa sabão e água na toalha e depois a pressiona na minha bochecha.
— Shh — sussurra ele, encarando meus olhos cheios de pânico. — Vou tirar isso de você, está bem?
Ele começa a limpar meu rosto com delicadeza, e aperto os olhos, fazendo que sim com a cabeça. Fico de olhos fechados, pois não quero ver a toalha manchada de sangue quando ele a afastar do meu rosto. Coloco os braços ao redor do meu corpo e fico o mais imóvel possível, mas os tremores ainda se espalham pelo meu corpo. Ele leva vários minutos para limpar o sangue do meu rosto, dos meus braços e da minha barriga. Quando termina, põe a mão atrás da minha cabeça e tira meu elástico de cabelo.
— Olhe para mim, Demi. — Eu obedeço e ele põe os dedos de leve no meu ombro. — Vou tirar seu sutiã agora, está bem? Preciso lavar seu cabelo e não quero que nada o deixe sujo.
Que nada o deixe sujo?
Quando percebo que ele está se referindo ao que provavelmente está espalhado pelo meu cabelo, começo a ficar em pânico outra vez, abaixo as alças do sutiã e acabo tirando-o por cima da cabeça.
— Tire logo — digo baixinho e depressa, inclinando a cabeça na direção da água, tentando encharcar meu cabelo passando os dedos nele debaixo da água. — Tire logo isso de mim. — Minha voz soa mais em pânico dessa vez.
Ele segura meus pulsos de novo, afasta-os do meu cabelo e os coloca ao redor de sua cintura.
— Vou tirar. Segure-se em mim e tente relaxar.
Já vou tirar.
Pressiono a cabeça em seu peito e me seguro com mais firmeza. Consigo sentir o cheiro do shampoo enquanto ele o coloca na mão e leva o líquido até meu cabelo, espalhando-o com as pontas dos dedos. Ele nos aproxima um pouco mais da água até esta cair na minha cabeça, que está pressionando seu ombro. Jonas massageia e esfrega meu couro cabeludo, enxaguando-o várias vezes seguidas. Nem pergunto por que ele o enxágua tantas vezes; só permito que enxágue quantas vezes precisar.
Quando termina, nos vira para ficarmos debaixo da água e passar shampoo no próprio cabelo. Solto sua cintura e me afasto para evitar sentir outras coisas em cima de mim. Baixo o olhar para minha barriga e para minhas mãos, e não vejo resquício algum do meu pai em mim. Olho de novo para Jonas, que está esfregando o rosto e o pescoço com uma toalha limpa. Fico parada, observando-o limpar os indícios do que aconteceu com a gente há menos de uma hora.
Ao terminar, ele abre os olhos tristes e focaliza-os em mim.
— Demi, preciso que confira se tirei tudo, OK? Preciso que você me limpe se tiver alguma coisa que eu não tenha visto.
Está falando comigo com tanta calma; parece que está tentando evitar que me descontrole. É sua voz que me faz perceber que é isso que está tentando fazer. Ele tem medo de que eu esteja prestes a perder o controle, surtar ou entrar em pânico.
Temo que possa estar certo, então pego a toalha das suas mãos e me obrigo a ser forte e investigar-lhe o corpo. Ainda tem um pouco de sangue acima da orelha direita, então pego a toalha e limpo. Afasto-a e olho para a última mancha de sangue que sobrou em nós dois, passo-a debaixo da água e vejo-a desaparecer.
— Foi tudo embora — sussurro. Nem sei se estou me referindo ao sangue.
Jonas pega a toalha da minha mão e a joga na beirada da banheira. Olho para ele, que está com os olhos mais vermelhos que antes, mas não sei se está chorando, pois a água escorre por seu rosto da mesma maneira que lágrimas escorreriam. É nesse momento então, após todos os vestígios físicos do meu passado terem sido levados pela água, que me lembro de Lessie.
Meu coração se parte completamente de novo, dessa vez por Jonas. Um soluço sai de mim, e cubro a boca com a mão, mas os ombros continuam tremendo. Ele me puxa para perto de seu peito e pressiona os lábios no meu cabelo.
— Jonas, sinto muito. Meu Deus, sinto muito mesmo.
Estou chorando e me abraçando a ele, desejando que a falta de esperança pudesse ser levada pela água assim como o sangue. Ele me abraça tão forte que mal consigo respirar. Mas ele precisa disso. Precisa que eu sinta seu sofrimento agora, da mesma forma preciso que sinta o meu.
Penso em todas as palavras que meu pai me disse hoje e tento chorar para que saiam de mim. Não quero me lembrar do seu rosto. Não quero me lembrar da sua voz. Não quero lembrar o quanto eu o odeio e, mais que tudo, do quanto eu o amava. Não existe nada como a culpa que sentimos quando percebemos que nosso próprio coração é capaz de amar o mal.
Jonas leva a mão até a parte de trás da minha cabeça e puxa meu rosto de encontro ao ombro. Sua bochecha pressiona o topo da minha cabeça, e agora consigo escutar seu choro. É baixinho, e ele está se esforçando muito para contê-lo. Jonas está sofrendo tanto por causa do que meu pai fez com Lessie, e não consigo evitar um pequeno sentimento de culpa. Se eu estivesse por perto, ele nunca teria encostado em Lessie e ela nunca teria sofrido. Se eu nunca tivesse entrado naquele carro com Dianna, Lessie talvez ainda estivesse viva.
Curvo as mãos atrás dos braços de Jonas e seguro seus ombros. Ergo a bochecha e viro a boca na direção do seu ombro, beijando-o suavemente.
— Desculpe-me. Ele nunca teria tocado nela se eu...
Jonas segura meus braços e me afasta com tanta força que meus olhos ficam arregalados, e eu me contorço quando ele fala:
— Nem se atreva a dizer isso. — Ele me solta e, depressa, leva as mãos até meu rosto, segurando-me com firmeza. — Não quero nunca que peça desculpas pelo que aquele homem fez. Está me escutando? Não é culpa sua, Demi. Prometa que nunca mais vai deixar esse pensamento passar pela cabeça. — Seus olhos estão desesperados e cheios de lágrimas.
Concordo com a cabeça.
— Juro — digo com sinceridade.
Ele não desvia o olhar e fica investigando meus olhos para tentar descobrir se estou dizendo a verdade. Sua reação fez meu coração acelerar de tão chocada que fiquei ao ver a rapidez com que descartou a possibilidade de que eu pudesse ter qualquer culpa. Queria que descartasse a culpa que acha que tem com a mesma rapidez, mas isso ele não faz.
Não posso tirar a culpa em seu olhar, então jogo os braços ao redor de seu pescoço e o abraço. Ele retribui meu abraço com mais força, com um desespero sofrido. A verdade sobre Lessie e a realidade do que acabamos de testemunhar atingem nós dois, e ficamos nos abraçando com todas as forças que temos. Ele não está mais tentando ser forte por mim. O amor que tinha por Lessie e a raiva que está sentindo por causa do que aconteceu emanam dele com intensidade.
Sei que Lessie precisaria que ele sentisse o sofrimento dela, então nem tento consolá-lo com palavras. Nós dois choramos por ela agora, pois naquela época Less não tinha ninguém para chorar por ela. Beijo sua têmpora, minhas mãos segurando seu pescoço. Cada vez que meus lábios encostam nele, ele me aperta com um pouco mais de força. Sua boca roça pelo meu ombro, e logo estamos nos beijando para tentar nos livrar de todo esse sofrimento que nenhum de nós merece. Sinto a determinação de seus lábios enquanto beija meu pescoço com mais força e mais velocidade, tentando desesperadamente encontrar alguma forma de escapismo. Ele se afasta e me olha nos olhos, os ombros subindo e descendo a cada vez que respira com dificuldade.
Em um rápido movimento, ele leva os lábios para cima dos meus com uma urgência intensa, agarrando meu cabelo e minhas costas com mãos trêmulas. Ele empurra minhas costas na parede do banheiro enquanto desliza as mãos pelas minhas coxas. Posso sentir seu desespero ao me erguer e colocar minhas pernas ao redor da sua cintura. Ele quer que essa dor desapareça e precisa da minha ajuda para isso. Assim como precisei dele ontem.
Coloco os braços ao redor do seu pescoço, puxando-o para mim e deixando-o me consumir para que passe um tempo sem sentir aquela mágoa. Permito isso, pois sei que preciso desse tempo tanto quanto ele. Quero esquecer de todo o resto.
Não quero que essa seja nossa vida hoje.
Com seu corpo me pressionando na parede do banheiro, ele agarra as laterais do meu rosto, segurando-me, enquanto nossas bocas procuram desesperadamente na outra qualquer consolo para nossa realidade. Estou segurando suas costas enquanto sua boca desce empolgada pelo meu pescoço.
— Me diga que não tem problema — diz ele, ofegando na minha pele. Ele ergue o rosto para o meu, procurando, nervoso, por meus olhos enquanto fala. — Me diga que não tem problema querer ficar dentro de você agora... porque, depois de tudo que passamos hoje, parece errado desejá-la como estou fazendo agora.
Agarro seu cabelo e o puxo mais para perto de mim, cobrindo sua boca com a minha, beijando-o com tanta convicção que nem preciso dizer nada. Ele geme, me afasta da parede do banheiro, me leva para a cama, e vou enroscada nele durante todo o caminho. Ele não está sendo nada delicado ao arrancar as duas peças de roupa que sobraram nos nossos corpos e ao se apoderar da minha boca com a dele, mas, para ser sincera, não sei se meu coração seria capaz de aceitar delicadeza nesse momento.
Ele está em pé na beirada da cama, com a boca grudada na minha. Ele se separa por um instante para colocar a camisinha, agarra minha cintura e me empurra para a beirada da cama junto a ele. Ergue minha perna por trás do joelho e a leva para o lado, em seguida, desliza a mão por baixo do meu braço e agarra meu ombro. Assim que seus olhos encontram os meus, ele me penetra sem nenhuma hesitação. Solto o ar ao sentir sua repentina força, chocada com o prazer intenso que substitui a dor momentânea. Coloco os braços ao seu redor e me mexo com ele enquanto aperta minha perna com mais força e cobre minha boca com a sua. Fecho os olhos e deixo minha cabeça se afundar mais no colchão enquanto usamos nosso amor para amenizar temporariamente a angústia.
As mãos dele alcançam minha cintura, e ele me puxa para ele, enfiando os dedos no meu quadril a cada movimento frenético e ritmado. Seguro seus braços e relaxo o corpo, permitindo que me guie da maneira que for ajudá-lo. Sua boca se separa da minha, e ele abre os olhos no mesmo instante em que abro os meus. Os olhos ainda estão lacrimosos, então o solto e levo as mãos até seu rosto, tentando amenizar o sofrimento em suas feições com meu toque. Ele continua olhando para mim, mas vira a cabeça para beijar a palma da minha mão e sai de cima de mim, parando de repente.
Estamos ofegantes, e consigo senti-lo dentro de mim, ainda precisando de mim. Ele mantém os olhos fixos nos meus enquanto passa os braços por baixo das minhas costas e me puxa para perto, erguendo nós dois. Não nos separamos enquanto nos vira e desliza até o chão encostando-se à cama, comigo por cima. Ele me puxa para perto e me beija. Um beijo delicado dessa vez.
A maneira como está me abraçando, de forma protetora agora, beijando meus lábios e queixo — é quase como se fosse um Jonas diferente daquele que estava comigo trinta segundos atrás, mas igualmente apaixonado. Num minuto, é alvoroçado e intenso... no outro, carinhoso e lisonjeador. Estou começando a apreciar e a amar sua imprevisibilidade.
Consigo sentir que quer que eu assuma o controle agora, mas estou nervosa. Nem tenho certeza se sei fazer isso. Ele sente meu constrangimento e leva as mãos à minha cintura, guiando-me devagar, movendo-me de maneira bem sutil em cima dele. Fica me observando atentamente, conferindo se ainda estou aqui com ele.
E estou. Estou totalmente presente neste momento e não consigo pensar em mais nada.
Ele leva a mão para meu rosto, ainda me guiando com a outra mão na minha cintura.
— Sabe o que sinto por você — diz ele. — Sabe o quanto a amo. Sabe que eu faria de tudo para acabar com seu sofrimento, não é?
Faço que sim com a cabeça, pois sei, sim. E, ao olhar nos olhos dele agora, ao ver a honestidade intensa que há neles, sei que sentia isso por mim há muito tempo.
— Estou precisando tanto disso, Demi. Preciso saber que você também me ama assim.
Tudo a respeito dele, desde a voz até a expressão em seu rosto, é tomado pela aflição. Eu faria qualquer coisa que pudesse para tirar isso de dentro dele. Entrelaço nossos dedos e cubro nossos corações com nossas mãos, reunindo coragem para mostrar o tamanho incrível do amor que sinto por ele. Fico olhando-o bem nos olhos enquanto me levanto um pouco, voltando a me abaixar depois em cima dele.
Ele geme profundamente, fecha os olhos e inclina a cabeça para trás, deixando-a encostar no colchão atrás dele.
— Abra os olhos — sussurro. — Quero que fique me olhando.
Ele levanta a cabeça e me observa com os olhos semicerrados. Continuo a assumir o controle devagar, querendo mais que tudo que ele escute, sinta e veja o quanto é importante para mim. Estar no controle é uma sensação completamente diferente, mas não deixa de ser boa. A maneira como está me observando me faz sentir que ele precisa de mim de tal forma que nunca senti antes com ninguém. De certa maneira, me faz sentir necessária. Como se só minha existência fosse necessária para sua sobrevivência.
— Não desvie o olhar de novo — digo, me erguendo. Quando me abaixo outra vez em cima dele, sua cabeça se vira sutilmente por causa da intensidade da sensação e deixo um gemido escapar, mas ele mantém os olhos aflitos bem fixos nos meus. Não estou mais precisando de sua orientação, e meu corpo se transforma num reflexo ritmado do dele. — Sabe a primeira vez que me beijou? — pergunto. — Aquele instante em que seus lábios encostaram nos meus? Você roubou um pedaço do meu coração naquela noite. — Mantenho o ritmo enquanto ele me observa ardentemente. — Na primeira vez que disse que me gamava porque ainda não estava pronto para dizer que me amava? — Pressiono minha mão com mais força no peito dele e me aproximo, querendo que sinta todas as partes do meu corpo. — Aquelas palavras roubaram mais um pedaço do meu coração.
Ele abre a mão que está tocando meu peito até a palma estar toda encostada na minha pele. Faço o mesmo com ele.
— Na noite em que descobri que era Hope? Disse que queria ficar sozinha no meu quarto e, quando acordei e vi que você estava lá comigo na cama, tive vontade de chorar, Jonas. Queria chorar porque precisava tanto de você ali. Foi naquele momento que percebi que estava apaixonada por você. Estava apaixonada pela maneira como você me amava. Quando pôs os braços ao meu redor e me abraçou, soube que, independentemente do que acontecesse com minha vida, meu lar era você. Você roubou a maior parte do meu coração naquela noite.
Abaixo a boca até a dele e beijo-o delicadamente. Ele fecha os olhos e começa a encostar a cabeça na cama outra vez.
— Fique com eles abertos — sussurro, afastando-me dos lábios dele. — Ele os abre, olhando-me com uma intensidade que bate direto no centro do meu ser. — Quero que fique de olhos abertos... porque preciso que veja eu lhe entregar a última parte do meu coração.
Ele exala fundo, e é quase como se eu pudesse literalmente ver a dor escapar dele. Suas mãos apertam mais as minhas enquanto a expressão em seus olhos muda imediatamente de um desespero intenso para um desejo ardente. Ele começa a se mover junto comigo, e nos olhamos. Aos poucos, viramos um só ao expressarmos em silêncio com nossos corpos, mãos e olhos o que palavras são incapazes de demonstrar.
Continuamos numa cadência sintonizada até o último instante, quando os olhos dele ficam sérios. Ele joga a cabeça para trás, consumido por tremores que dominam sua ejaculação. Quando seu coração começa a se acalmar, ainda encostado na minha palma, ele consegue me olhar nos olhos de novo, então afasta as mãos das minhas, segura a parte de trás da minha cabeça e me beija com uma paixão implacável. Ele se inclina para a frente enquanto me deita no chão, passando a assumir o controle outra vez e me beijando, completamente entregue ao momento.
Passamos o resto da noite alternando nossas expressões de amor sem dizer uma única palavra. Quando enfim ficamos exaustos, abraçados, começo a pegar no sono, sendo dominada por uma onda de incredulidade. Acabamos de nos entregar completamente um ao outro, de coração e alma. Jamais achei que seria capaz de confiar em um homem a ponto de compartilhar meu coração, muito menos de entregá-lo por completo.

Segunda-feira, 29 de outubro de 2012
23h35

Jonas não está do meu lado quando rolo para o lado e tateio em busca dele. Eu me sento na cama, e está escuro lá fora, então estendo o braço para acender o abajur. Seus sapatos não estão onde os deixou após tirá-los, então me visto e saio atrás dele.
Passo pelo pátio, sem avistá-lo em nenhuma das cadeiras. Estou prestes a me virar e voltar para o quarto quando o vejo deitado no concreto ao lado da piscina, com as mãos atrás da cabeça, encarando as estrelas. Parece estar tão em paz que prefiro ficar numa das cadeiras e não atrapalhar o momento.
Eu me sento e coloco os braços dentro do moletom, jogando a cabeça para trás enquanto o observo. A lua está cheia, então ele está sendo iluminado pelo suave luar, que o deixa com uma aparência quase angelical. Ele está concentrado no céu com uma expressão de serenidade no rosto, me fazendo sentir gratidão por ele ter encontrado um pouco de paz dentro de si para superar o dia de hoje. Sei o quanto Lessie era importante para ele e sei pelo que seu coração está passando nesse dia. Sei exatamente o que está sentindo porque agora nosso sofrimento é compartilhado. Tudo pelo que ele passar vou sentir. Tudo pelo que eu passar ele vai sentir. É o que acontece quando duas pessoas viram uma só: elas passam a compartilhar mais do que amor. Também compartilham todo o sofrimento, mágoa, dor e aflição.
Apesar da calamidade que está minha vida neste momento, há uma sensação cálida de conforto me cercando após ter ficado com ele há pouco. Não importa o que acontecer, tenho certeza de que Jonas estará do meu lado durante cada segundo, talvez até me ajudando a seguir em frente de vez em quando. Ele provou que nunca mais vou sentir que minha esperança se esgotou enquanto ele estiver na minha vida.
— Venha deitar comigo — diz ele, sem desviar os olhos do céu.
Sorrio, me levanto e vou até ele. Ao chegar perto, Jonas tira o casaco e o coloca por cima de mim enquanto me deito no concreto frio e me aconchego em seu peito. Ele alisa meu cabelo enquanto ficamos encarando o céu, observando em silêncio as estrelas.
Partes de uma memória começam a surgir em minha mente, então fecho os olhos, querendo mesmo me lembrar dessa vez. Parece ser uma memória feliz, e essas sempre vou aceitar. Abraço-o com firmeza e me entrego completamente a ela.

Treze anos antes

— Por que você não tem televisão? — pergunto para ela.
Já faz vários dias que estamos juntas. Ela é bem legal, e eu gosto daqui, mas sinto falta de ver televisão. Mas sinto mais falta ainda de Joe e Lessie.
— Não tenho televisão porque as pessoas acabaram ficando dependentes da tecnologia e se tornaram preguiçosas — diz Dianna.
Não sei o que ela quer dizer, mas finjo que sei. Gosto muito de sua casa e não quero dizer nada que possa fazer com que ela queira me levar de volta para minha casa e para meu papai. Ainda não estou pronta para voltar para lá.
— Hope, você se lembra de que uns dias atrás eu disse que tinha algo bem importante para lhe falar?
Não lembro, mas faço que sim com a cabeça e finjo que não esqueci. Ela aproxima a cadeira da minha na mesa, chegando mais perto de mim.
— Quero que preste atenção em mim, está certo? Isso é muito importante.
Balanço a cabeça. Espero que não me diga que vai me levar para casa. Não estou pronta para isso. Estou com saudade de Joe e Lessie, mas não quero de jeito nenhum voltar para casa e para meu papai.
— Você sabe o que adoção significa? — pergunta ela.
Nego com a cabeça porque nunca ouvi essa palavra.
— Adoção é quando alguém ama tanto uma criança que quer que ela seja seu filho ou filha. Então a pessoa adota essa criança para virar sua mamãe ou seu papai. — Ela segura minha mão e a aperta. — Amo tanto você que vou adotá-la para que seja minha filha.
Sorrio para ela, mas na verdade não entendo o que está dizendo.
— Você vai morar comigo e com papai?
Ela balança a cabeça.
— Não, querida. Seu papai a ama muito mesmo, mas ele não pode mais cuidar de você. Ele precisa que eu cuide de você de agora em diante, pois quer ter certeza de que você será feliz. Então, em vez de morar com seu papai, você vai morar comigo e eu vou ser sua mamãe.
Acho que estou com vontade de chorar, mas não sei o motivo. Gosto muito de Dianna, mas também amo meu papai. Gosto da casa dela, gosto da comida dela e gosto do meu quarto. Quero muito mesmo ficar aqui, mas não consigo sorrir porque minha barriga está doendo. Começou a doer quando ela disse que meu papai não podia mais cuidar de mim. Será que ele ficou bravo comigo? Mas não pergunto se ele ficou bravo comigo. Fico com medo de que pense que ainda quero morar com meu papai, que ela me leve de volta para morar com ele. Eu o amo de verdade, mas morro de medo de voltar a ter de morar com ele.
— Está feliz porque vou adotá-la? Quer morar comigo?
Quero morar com ela, mas estou triste porque demorou muitos minutos ou horas para chegarmos até aqui. O que significa que estamos longe de Joe e Lessie.
— E meus amigos? Vou ver meus amigos de novo?
Dianna inclina a cabeça para o lado, sorri para mim e põe meu cabelo atrás da orelha.
— Querida, você vai fazer muitos outros amigos.
Sorrio para ela, mas minha barriga dói. Não quero novos amigos. Quero Joe e Lessie. Estou com saudade deles. Sinto meus olhos ardendo e tento não chorar. Não quero que ela ache que não estou feliz com ela me adotando, pois estou.
Dianna se aproxima e me abraça.
— Querida, não se preocupe. Um dia você vai voltar a ver seus amigos. Mas agora não podemos voltar, então vamos fazer novos amigos aqui, está bem?
Concordo, e Dianna beija o topo da minha cabeça enquanto olha para a pulseira na minha mão. Toco o coração na pulseira e espero que Lessie saiba onde estou. Espero que saibam que estou bem, pois não quero que se preocupem comigo.
— Tem mais uma coisa — diz ela. — Você vai adorar.
Dianna se encosta na cadeira e coloca um pedaço de papel e um lápis bem na frente dela.
— A melhor parte de ser adotada é que pode escolher seu próprio nome. Sabia disso?
Balanço a cabeça. Não sabia que as pessoas podiam escolher os próprios nomes.
— Antes de escolhermos seu nome, precisamos saber quais nomes não podemos usar. Não podemos usar o nome que você tinha antes nem apelidos. Você tem algum apelido? Seu pai chama você de alguma coisa?
Faço que sim com a cabeça, mas não falo nada.
— Ele a chama de quê?
Olho para as mãos e limpo a garganta.
— Princesa — digo baixinho. — Mas não gosto desse apelido.
Ela parece ficar triste quando digo isso.
— Bem, então a gente nunca mais vai chamar você de Princesa, está certo?
Concordo com a cabeça. Fico feliz por ela também não gostar do apelido.
— Quero que me diga algumas coisas que a deixam contente. Coisas bonitas e que você ama. Talvez a gente possa escolher um nome entre essas coisas.
Nem preciso que ela anote, pois só me sinto assim em relação a uma coisa.
— Amo o céu — digo, pensando no que Joe falou que eu devia lembrar para sempre.
— Então você vai se chamar Demi — diz ela, sorrindo. — Adorei esse nome. Acho perfeito. Agora vamos pensar em mais um nome, pois todo mundo precisa de dois. O que mais você ama?
Fecho os olhos e tento pensar em alguma outra coisa, mas não consigo. O céu é a única coisa que amo que é bonita e que me alegra. Abro os olhos e a encaro.
— O que você ama, Dianna?
Ela sorri e segura o queixo com a mão, apoiando o cotovelo na mesa.
— Amo muitas coisas. Mas o que mais amo é pizza. Podemos chamá-la de Demi Pizza?
Eu rio e balanço a cabeça.
— Esse nome é bobo.
— Está bem, me deixe pensar — diz ela. — Que tal ursinhos de pelúcia? Podemos chamá-la de Ursinho de Pelúcia Demi?
Rio e balanço a cabeça novamente.
Ela tira o queixo da mão e se inclina para perto de mim.
— Quer saber o que eu amo de verdade?
— Quero — respondo.
— Amo ervas. Ervas são plantas medicinais, e eu amo cultivá-las para encontrar maneiras de fazer as pessoas se sentirem melhor. Um dia quero poder vender minhas próprias ervas. Talvez, para dar sorte, a gente possa escolher o nome de uma erva. Há centenas delas, e algumas têm nomes bem bonitos. — Ela se levanta, vai até a sala, pega um livro e o traz até a mesa. Ela o abre, aponta para uma das páginas e pergunta, dando uma piscadela.
— Que tal tomilho?
Eu rio e balanço a cabeça.
— E... calêndula?
Balanço a cabeça de novo.
— Nem consigo dizer essa palavra.
Ela enruga o nariz.
— Bem lembrado. Você precisa ser capaz de dizer o próprio nome. — Ela olha mais uma vez para a página e lê mais alguns nomes em voz alta, mas não gosto deles. Ela vira a página de novo e diz: — Que tal Devonne? É mais uma árvore do que uma erva, mas as folhas têm formato de coração. Gosta de corações?
Faço que sim com a cabeça.
— Devonne — digo. — Gostei desse nome.
Ela sorri, fecha o livro e se aproxima de mim.
— Bem, então vai ser Demetria Devonne Lovato. E acho que devia saber que agora tem o nome mais bonito do mundo. Não vamos pensar nunca mais nos seus nomes antigos, está bem? Me prometa que, de agora em diante, só vai pensar no seu belo nome novo e na sua bela vida nova.
— Prometo — digo. E prometo mesmo. Não quero pensar nos meus nomes antigos, nem no meu quarto antigo nem em todas as coisas que meu papai fazia comigo quando eu era a princesa dele. Amo meu novo nome. Amo meu quarto novo, onde não tenho de me preocupar se a maçaneta vai girar.
Estendo o braço para cima, dando um abraço em Dianna, e ela retribui. Sorrio, pois é exatamente assim que eu achava que ia me sentir toda vez que desejava que minha mamãe estivesse viva para me abraçar.

*****

Vou deixar capítulos programados pra semana que eu não conseguir postar, ok? Mas eu vou acompanhar pra ver se tem comentário, porque sim, eu leio todos, com muito carinho
Amo saber que vocês estão gostando da história, só que mal to tendo tempo pra postar, pra responder comentário fica mais difícil ainda, desculpa. Mas eu leio TODOS
Beijos, amo vcs.

6 comentários:

  1. Ainw que fofos Jemi
    Apenas uma coisa de olho na Diana rum
    Comigo não hein
    Kkkkkkkk
    Beijos Gi
    Obrigada pelo capítulo

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  2. Puta merda cara digamos que peguei uma raiva da Diana to doida pra saber porque diabos ela sequestrou a Demi... Awn cara to cada vez mais apaixonada pelo Joe e a Demi eles são tão fofos juntos que da vontade de por num potinho e nao soltar nunca mais...
    amei o capítulo Gi continua postando pq to doida pra ver o final da fic ❤

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  3. Cara Jemi são muito fofos! Um amor ♥
    Eu estou curiosa pra saber por que a Diana, sequestrou a Demi
    Posta quando tiver tempo, okay?
    Adeus férias! Último dia de férias pra mim, as aulas começam amanhã e eu estou meio nervosa pra isso
    Beijos e eu amo vc

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  4. Eles são perfeitos juntos!!! Acho que a Demi vai acabar perdoando a Diana...... ansiosa pra saber o que vai acontecer...... posta.....

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  5. Aiii nao sei o q pensar sobre Diana!! Ao mesmo tempo q eu acho errado ela ter sequestrado a Demi, eu fico feliz por ela ter feito isso e ajudado a Dems. Acho q ela teve um bom motivo ( e acho q ela é parente da demi, tipo tia) Jemi taaaaao fofos!! Posta maaais

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  6. Ta cada vez melhor , não demore pra postar por favooor <3
    Bjs

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