30.4.15

Capítulo Doze




Dallas estalou os dedos na frente do rosto de Demi.
— Ei, você ouviu alguma coisa do que eu disse?
Demi sentiu as bochechas ficarem coradas enquanto tomava um longo gole do vinho.
— Claro, você estava falando sobre o trabalho. — Não era nenhuma novidade. O trabalho de Dallas, que era química em um laboratório médico, sempre rendia histórias sem graça.
— E?
Demi pôs a taça na mesa, pegou o garfo e espalhou um pouco da salada pelo prato.
— E? Continue!
Dallas suspirou.
— Sério? Acabei de listar os elementos da tabela periódica, e você ainda quer mais?
Demi soltou uma risada curta e se inclinou para a frente.
— Não me surpreende o fato de eu ter parado de ouvir.
— Onde você está com a cabeça? Hoje é a noite das garotas! Lembra? Comida? Bebida? Diversão?
Ah, você sabe! Onde a cabeça de qualquer outra garota estaria. Beijando Joe, tocando seu peito musculoso, passando a língua por seu lábio inferior e...
— Alguém disse “noite das garotas”? — Uma voz conhecida se fez ouvir no restaurante. Demi se virou e deu de cara com vovó. Bem, vovó e uma jaqueta dourada ofuscante, com pele de leopardo no colarinho. A calça jeans skinny era realçada por sapatos de salto com estampa de oncinha.
— Como você...?
— Ah. — Vovó a calou com um gesto e se sentou à mesa. — Hoje em dia existem aplicativos para tudo. Sabia?
— Sim, mas...
— De qualquer forma... — Vovó acenou para um garçom e pediu três shots de tequila. Era melhor ela beber aquilo sozinha: de jeito nenhum Demi tomaria shots com a avó de Joe! — Tem um aplicativo muito útil que se chama “Encontre Meus Amigos”!
Demi pegou o celular.
— Nem sabia que tinha isso no telefone. Nem que você era...
Vovó deu de ombros como se estivesse querendo disfarçar um segredo.
— É assim que vigio as vagabundas de Joe.
Dallas engasgou com a bebida, molhando toda a mesa, e então começou a tossir.
Vovó bocejou e examinou as unhas, sem se deixar abalar pela reação de Dallas. Demi olhou de cara feia para a irmã e se virou outra vez para vovó.
— Tenho certeza de que o aplicativo foi criado para que ninguém se preocupasse com os amigos e os familiares, não para que as pessoas fossem perseguidas.
— Ah, bem. Cada um usa como quiser. — Vovó pôs o telefone na mesa e clicou na tela com um dedo. Depois clicou outra vez, e outra.
Dallas tentou dizer alguma coisa à irmã apenas mexendo os lábios, mas Demi não conseguiu entender.
O garçom serviu os shots no instante em que vovó se endireitou, batendo palmas.
— Eu sabia!
Dallas parecia estar entorpecida enquanto via a velha senhora bater palmas e erguer o celular no ar.
— Ele vai chegar logo.
— Desculpe, mas quem é você, mesmo? — perguntou Dallas.
— Sou a vovó. — Aquilo foi dito com tanta normalidade, que Demi teve de admirá-la. Quer dizer, será que havia outro jeito de descrever aquela mulher?
Dizer “sou a vovó” devia cobrir todos os pecados. — Saúde! — Vovó pegou seu shot, ergueu-o no ar e então olhou para as duas irmãs.
Demi bebeu um grande gole de água, pegou seu shot e o ergueu no ar, copiando vovó.
— Um brinde — propôs vovó. — À música que cantarei no casamento do meu neto!
— Claro. — Dallas bateu o copo no dela. — Posso beber a isso.
Demi deu de ombros e tomou seu shot no instante em que Joe entrava no restaurante e seguia direto até a mesa delas.
Ela estava acostumada a tomar shots. Mas, por alguma razão, o modo como os jeans rasgados de Joe envolviam suas coxas musculosas a afetou de alguma maneira. A tequila desceu queimando e ameaçou voltar, ainda mais quando ele deu uma piscadela para ela e se inclinou para beijar a avó na bochecha.
Demi tossiu.
Dallas suspirou.
Demi chutou a irmã por baixo da mesa.
Vovó pediu mais shots.
— Hã... — Demi soltou uma risada nervosa. — Estamos comemorando alguma coisa?
— A noite das garotas! — anunciou vovó, sacudindo os seios para a frente e para trás, alegre.
Joe desviou os olhos e corou.
Era estranho que um homem como ele, que não tinha moral alguma, fosse capaz de corar.
— Mas Joe está aqui. — Demi apontou para o homem pecaminosamente cheiroso e rezou para que ele se inclinasse só um pouquinho para a frente, de modo que ela pudesse sentir o calor que emanava de seu corpo sem parecer uma doida no cio.
Vovó olhou o neto de cima a baixo.
— Ele não conta.
— Obrigado, vovó — respondeu Joe, tenso.
— Oi. Eu sou Dallas. — A irmã de Demi estendeu a mão sobre a mesa e o cumprimentou. — Teria me apresentado no avião, mas você estava todo inchado.
— Agradeço a lembrança.
— Não há de quê. Bem-vindo à noite das garotas.
— Tenho certeza de que essas foram as últimas palavras de muita gente. — Joe apertou a mão de Dallas, depois se virou para a avó. — Bem, dá para ver pelas suas roupas que você não foi atropelada por um caminhão nem está sofrendo uma concussão ou de escarlatina. Essa é nova, aliás. — A última frase fora dirigida a Demi. — Ela costuma deixar as doenças raras para pessoas mais ingênuas, como meu irmão. — Então se dirigiu outra vez à avó. — Que foi que houve?
Vovó ergueu um dedo e começou a procurar alguma coisa na bolsa gigante.
— Tenho certeza de que tem crianças perdidas dessa bolsa. Dá para contar logo, para não precisarmos esperar? — Joe reclamou.
Vovó fez um gesto pedindo a Joe que ficasse quieto.
Ele pegou dois shots na mesa e os virou.
Demi deu tapinhas consoladores em suas costas.
Coitado. Ela quase sentia pena dele. Vovó levaria qualquer um a beber demais.
— Achei! — Vovó puxou um pedaço de papel e, com as mãos trêmulas, começou a lê-lo. — Vocês dois ainda precisam completar algumas tarefas da lista que lhes entreguei hoje mais cedo, aliás. — Ela colocou o papel na mesa. — Onde será que está?
Vovó começou a revirar a bolsa outra vez, da qual puxou um par de óculos com diamantes incrustados.
— Onde será que está o quê? Sua cabeça? — perguntou Joe. — Deve estar na bolsa.
Dallas limpou a garganta para esconder a risada.
— Não, seu idiota! — retrucou vovó.
Demi pediu mais drinques. Ofensas. Isso não era nada bom.
— A lista que eu dei a vocês hoje de manhã! Tinha um monte de pendências a ser resolvidas antes do casamento. Onde está?
— No carro — respondeu Joe.
— Perdemos — explicou Demi, falando ao mesmo tempo que Joe.
Os dois trocaram olhares irritados.
— Eu vou só... — Dallas se levantou da mesa.
— Sente-se! — gritou Demi.
Dallas obedeceu.
— A lista está com Joe. — Demi apontou para Joe e sorriu de um jeito doce.
Um músculo da mandíbula dele tremeu quando ele se inclinou sobre a mesa e respirou fundo algumas vezes.
— Certo, ela está... em segurança.
— Em segurança. — Vovó bufou com desdém. — Tudo bem. Só não se esqueça de cuidar das últimas tarefas.
— Por que você mesma não faz isso? — perguntou Joe. — Está aposentada, não pode... sair por aí com um dos meus carros e resolver tudo?
Vovó fez silêncio, muito concentrada na própria respiração. Então virou a cabeça bem discretamente na direção de Joe. Um sorriso frio surgiu em seu rosto antes de ela pegar a lista com cuidado e colocá-la na bolsa.
— Se você não fosse um idiota, saberia: vou jogar cartas com as meninas.
— Todos os dias? — perguntou Joe.
— Todos os dias. Pelo menos durante a manhã — Vovó deu uma risadinha, parecendo recobrar o bom humor.
— Ótimo. Então consegue cuidar das tarefas à tarde.
— Ah, Joe! — Ela deu tapinhas no braço do neto. — Você é tão inocente!
Foi a vez de Demi se engasgar com a bebida.
— Reservo as tardes para outras... atividades.
— Meu Deus do céu! Ao menos tente esconder o fato de que você sai por aí fazendo... coisas.
— Que coisas? — perguntou Dallas de repente, inclinando-se para a frente, demonstrando interesse.
— Não pergunte. — Joe olhou de cara feia para Dallas e sacudiu a cabeça.
Vovó deu uma risadinha.
— Ah, você sabe! Coisas. — Ela pronunciou “coisas” com grande ênfase, como se a palavra tivesse um significado muito importante, então voltou a dar risadinhas. — Adoro as minhas tardes! Ah, e como adoro! — Seu olhar ficou distante.
— Vamos precisar de mais álcool — sussurrou Demi para Joe.
— E de “Boa noite, Cinderela” — acrescentou o homem. — Quero apagar esta conversa da minha memória. Para sempre.
— Amanhã. — Vovó se afastou da mesa e se levantou. — Joe, me leve para casa. Estou cansada. Mas amanhã você pode encontrar Demi... Que tal na hora do almoço, lá em casa? E vocês podem terminar o restante da lista antes de a gente viajar, na quinta-feira.
— Quinta-feira? — gritaram Joe e Demi.
Vovó deu uma piscadela.
— Mas é claro! Vocês precisam chegar pelo menos uma semana antes do casamento! O que é que há de errado com os jovens, hoje em dia? — Ela tirou uma nota de 50 dólares da bolsa e a colocou na mesa com um tapa. — Divirtam-se, garotas. Não façam nada que eu não fosse fazer.
— Ótimo, vovó. — Joe praguejou. — Só falta dar permissão para que elas sejam presas.
— Foi uma vez só! — argumentou vovó.
— Você esteve em uma prisão mexicana. Tem sorte de estar viva.
— Ah, aquele Pablo era mesmo uma coisa! — Vovó apertou o colar e começou a acariciar as pérolas.
Dallas ficou boquiaberta.
Demi precisou chutar a irmã por baixo da mesa outra vez, para que ela fechasse a boca.
— Bem, tchauzinho! — Vovó acenou  e puxou Joe pela camisa até a saída do restaurante.
A mesa mergulhou em silêncio.
Havia shots de tequila por todos os lados.
Dallas olhou para Demi.
Demi olhou para a mesa.
— Então — disse Dallas, chupando um pedaço de limão. — Foi divertido.
Demi gemeu e bateu a cabeça na mesa.
— Como vou sobreviver às próximas semanas com esses dois?
Dallas riu.
— Fácil.
— Como?
— Calmante.
— Muito engraçado.

*****

Desculpem todo esse tempo pra postar, mas como eu já tinha adiantado, tava (e ainda estou) em semana de provas, foram 9 provas em 4 dias e ainda faltam mais 7 até quarta-feira, quando, finalmente, acaba. Por isso, não sei se vou postar esses dias, mas, pra compensar, como hoje é feriado e to em casa, a cada 4 comentários, um capítulo novo, ok?
É isso, beijos, amo vcs, saudades 

10 comentários:

  1. Ai meu Deus essa vovó está demais, e o je e a demi até esqueceram que se odeiam kkkkkk

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  2. Eu Deus a vovó não tem limites kkkkkk to rindo muito desses 3 só quero ver o que a vovo vai aprontar

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  3. Continua..... ansiosa pra saber o restante dessa listaa.... posta mais....

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  4. Essa vovó é o máximo!!! Louca pra saber o que ela esta preparando para essa viagem deles kkkkkkk posta logo!!!!

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  5. Opa eu sou a n° 5. GENTE N TEM COMO N RIR ESSA VOVÓ É FANRASTICA

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  6. Posta mais amore, estou surtando aqui flor. Por favor sem tortura. A vovó é minha inspiração de vida agora kkkkkk

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  7. Morri de rir nesta parte : — Ah, aquele Pablo era mesmo uma coisa! — Vovó apertou o colar e começou a acariciar as pérolas.
    Dallas ficou boquiaberta.
    Demi precisou chutar a irmã por baixo da mesa outra vez, para que ela fechasse a boca.
    KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK SOCORRO SENHOR KKKKKKK ATÉ IMAGINEI A CARA QUE A DALLAS DEVE TER FEITO KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
    Ai Jesus, muito bom posta logo gi beijos ❤

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  8. AAAAAAAAI MUITO BOMMMMM POSTA TAVA COM SAUDADES JÁ

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  9. Continua que tá perfeito! A vovó e mesmo doidona kkkkk Continua....

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  10. Sério, eu adoro suas fics. Mas essa é fantástica. Nunca ri tanto, simplesmente maravilhosa. Parabéns

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