21.4.15

Capítulo Dez




— Puta merda, ela está de sacanagem! — Joe olhou para o prédio com um misto de horror e confusão. — Espero muito que a gente esteja com o endereço errado.
Demi arrancou o pedaço de papel das mãos de Joe.
— Deixe-me ver.
— Eu sei ler, sabia?
Revirando os olhos, ela examinou o papel.
— Inacreditável.
— O quê? — Ele se inclinou por cima do ombro dela, olhando o papel mais uma vez. O perfume de Demi o atraía, e isso o deixava tenso.
— Você saber ler.
— Muito engraçado!
— É o endereço certo. — Demi bateu no peito dele com o papel e andou até a porta escura. — Acho que devíamos... Devíamos entrar?
— Claro que não. — Joe cruzou os braços. — Sem chance.
— A lista diz que a Madame nos espera à uma da tarde! Vamos nos atrasar se não entrarmos.
Joe umedeceu os lábios e olhou outra vez para o prédio. Nas vitrines havia imagens de casais dançando.
As mulheres riam e jogavam confetes para o ar. Parecia um desses comerciais toscos sobre absorventes internos.
— Não. E quem é chamada de Madame, hoje em dia?
Demi revirou os olhos.
— É o nome dela. Por quê? Está com medo de desenvolver um par de peitos? Tem medo de que suas bolas desapareçam?
Joe bufou com desdém.
— Tudo bem, vamos lá. — Irritado, ele agarrou o braço de Demi com a mão esquerda e abriu a porta com a direita.
Lá dentro estava escuro.
— Viu? Endereço errado. — Joe soltou o braço de Demi e pegou o celular no instante em que uma música começou a ser ouvida no ambiente. Então alguns refletores se acenderam e o cegaram momentaneamente.
— Que porra é essa?
Foi aí que começou a cantoria.
Demi, ao seu lado, ficou tensa. Mais luzes foram acesas, embora Joe não tivesse nem ideia de onde elas vinham. Ainda estava um pouco cego por conta do primeiro clarão. Tentou dar um passo para o lado, mas bateu em uma mesa. Apoiando as mãos no tampo, olhou para baixo.
E viu fotos de strippers do sexo masculino sem blusa.
Ele se endireitou rapidamente, mas então esbarrou em alguma coisa dura, que oscilou. Joe se virou, tentando estabilizar o objeto.
Era uma estátua nua.
De um homem.
Como é que ele ia tocar naquilo? A escultura tinha sido colocada na mesa de um jeito que deixava as pessoas frente a frente com o órgão sexual masculino. Esticou a mão para segurá-la pela cintura, quando sentiu Demi esbarrar nele. Ela parecia travar a própria batalha contra um enxame de balões na forma de... é... partes íntimas.
— Mas que droga! — Demi segurou a mão dele. — Precisamos correr.
— Parece o inferno, só que pior — concordou Joe, agarrando-a pelo braço.
— Bem-vindos, bem-vindos! — cumprimentou uma voz amplificada por um alto-falante.
— Meu Deus. É oficial: estamos nos Jogos Vorazes! — Joe segurou Demi e a empurrou para trás de si. — Só deixe que eu morra primeiro, Senhor! Por favor, deixe que eu morra primeiro.
— Estava esperando vocês! — anunciou a voz feminina, alegremente.
— Não me sinto melhor com esse seu pedido, não, Joe — sussurrou Demi, atrás dele. — Aliás, só é romântico se sacrificar por outra pessoa quando a morte não é a melhor opção, pezinho de valsa!
Joe parou.
— Você jurou que levaria esse segredo para o túmulo!
— Ops? — Demi deu de ombros. — Por quantos anos você fez balé mesmo, hem? Um, dois?
— Não me venha com esse seu “ops”! — Por que tinha mencionado aquele apelido antigo? Ainda mais naquele momento? Será que tinha ideia de como aquilo feria sua masculinidade?
— Só fique quietinho...
— Posso ver e ouvir vocês — disse a voz. — E não tenho o dia todo. Agora, preciso examinar vocês.
— Saímos dos Jogos Vorazes e entramos nos Jogos Mortais. — Joe sacudiu a cabeça e gritou para a voz: — Poderia ao menos apagar as luzes? Não conseguimos ver você!
— Ah, meu querido! E não é esse o objetivo? — respondeu a voz, rindo.
— Hã... não? — Demi soltou uma risada nervosa.
— Não tenho o dia inteiro! — gritou a voz. — Agora, separem-se! Preciso examinar o material com que terei de trabalhar.
Devagar, Demi saiu de trás de Joe e parou ao seu lado, de cabeça erguida. Joe foi obrigado a admirar a coragem da garota. Qualquer outra teria saído correndo dali. Ele era homem e ainda assim teria pesadelos com aquilo.
— Nada mau — comentou a voz, com frieza. — Nada mau mesmo.
— Obrigada. — Demi sorriu.
Joe revirou os olhos.
— Ela só a está elogiando para que você fique bem gorda e feliz antes do abate.
— Esse aí tem uma língua afiada — comentou a voz. — Mas dá para o gasto. Joe, você vai servir. Diga, você se sente à vontade no palco?
— Nem um pouco — soltou Joe, tossindo. — Nem um pouco mesmo. Tenho um joelho ruim e...
— O joelho dele é ótimo! — interrompeu Demi, com uma piscadela.
Ele investiu contra ela, mas naquele instante as luzes se acenderam e a sala voltou ao normal.
Iluminada, não era um lugar tão assustador. Parecia uma mistura de estúdio de dança e loja de artigos esquisitos para festas.
— Olá! — Uma mulher surgiu em uma sacada acima dos dois. — Desculpe deixá-los sob os refletores desse jeito, mas sua querida avó disse que vocês precisavam de uma boa risada.
— Ha-ha. — Joe ia estrangular a avó.
— De qualquer jeito, imagino que já tenham recebido instruções sobre a dança de vocês.
— Dança? — perguntou Joe.
— Nossa? — indagou Demi.
— Mas é claro! Sou Madame, a melhor professora de dança da cidade.
Joe duvidava do que a mulher dissera. Ela era, no mínimo, da idade de sua avó, e descia as escadas tão devagar que ele tinha certeza de que naquele exato momento, ali, bem diante de seus olhos, a desconhecida estava envelhecendo.
— Ah, acho que minha avó deve ter se confundido. — O olhar de Joe estava fixo nas pernas trêmulas da mulher, que descia lentamente os degraus. Bom Deus!
Aqueles saltos deviam ter pelo menos 15 centímetros, e a saia... Não cobria nada. Para ser sincero, as pernas dela eram bem-torneadas. Ele inclinou a cabeça, na tentativa de ver melhor.
— Acho que foi Joe que se confundiu. — Demi o cutucou. — Ou isso, ou foi enfeitiçado por um longo par de pernas.
Madame sorriu ao descer o último degrau.
— Isso sempre acontece. O que eu posso fazer? Sou mesmo um presente para os olhos. — Ela ajeitou a postura e deu uma piscadela para Joe.
— Quero ir para casa — sussurrou ele, buscando a mão de Demi.
A jovem afastou a mão de Joe e se aproximou de Madame.
— Como Joe disse, acho que vovó se confundiu. Veja bem, temos uma lista de pendências a resolver antes do casamento. Este era o compromisso da vez. Nós precisamos pegar alguma coisa, ou...
— Silêncio! — gritou Madame. — Não quero saber dessa conversinha. Vovó disse que apresentariam uma dança, então dancem!
— Dançar? — grasnou Joe.
— Dancem! — Madame deu um giro diante de Joe, estalando os dedos acima da cabeça. — Vou ensinar a vocês a dança do amor. Vocês irão apresentá-la na cerimônia. Essa dança é um ritual de acasalamento.
— Ah, merda. — Joe respirou fundo algumas vezes. — Não vamos acasalar na pista de dança.
Madame riu.
— Mas é claro que não! Vocês vão dançar! É um ritual, não o ato em si, safadinho. — Ela ergueu a mão e pegou o queixo de Joe, virando-o para si. — Nossa, você é mesmo bonito.
Joe ia matar a avó. Mas estava traumatizado demais, chocado demais, para fazer qualquer coisa que não fosse olhar de volta para aqueles olhos de loba e rezar para que a mulher não o amarrasse e o jogasse em uma jaula.
Madame rosnou e soltou seu queixo.
— Agora, assumam seus lugares no meio do salão. Lembrem que essa dança traz boa sorte ao casamento. Se fizerem besteira, a possível infelicidade de seu irmão no casamento será culpa de vocês.
— Sem pressão — comentou Demi.
Madame apertou um botão e, de repente, as luzes diminuíram outra vez. Uma música suave começou a tocar ao fundo, uma melodia que lembrava tango.
— Vão para o meio da pista — instruiu Madame.
Joe foi até lá e estendeu a mão para Demi.
— Vamos lá. Quanto antes acabarmos com isso, mais rapidamente poderemos ir embora e entrar em coma alcoólico.
Os olhos de Demi foram da mão para o rosto de Joe antes que ela, com má vontade, aceitasse dar-lhe a mão e se aproximar de seu corpo.
— Certo, mas não quero saber de mão-boba.
— Ah, por favor. — Joe bufou. — Como se seu corpo fosse tentador para um homem como eu.
Demi deu um sorriso doce.
— Esqueci, você prefere os artificiais... Erro meu.
— Eu...
— Agora! — Madame bateu palmas. — Fechem os olhos. Eu os guiarei pelos movimentos da dança, mas vocês precisam confiar em mim. E precisam confiar um no outro, também.
Demi sentiu que suas mãos estavam suadas. Era aquela palavra: confiar. Ela reacendeu as lembranças daquele dia no acampamento, durante o exercício de confiança, quando Joe — que tinha prometido segurá-la — a deixou cair.
Quando foi chamada de gorda. E ele se recusou a defendê-la.
A mãe de Demi costumava dizer que um dia a filha riria daquilo, que as coisas que aconteciam na escola não influenciavam a vida adulta. Mas ela estava errada...
Quando se é magoado em uma idade tão vulnerável, é impossível esquecer a dor. Ainda mais se o episódio leva a dois anos de problemas com bulimia e pílulas para emagrecer.
Então, era preciso confiar? Não, ela não confiava em Joseph Jonas, porque, nas últimas duas vezes, ele a deixara na mão.
— Confiem — repetiu Madame — e sigam as minhas mãos. — Demi sentiu mãos em seus ombros, que a empurraram para os braços de Joe. Ela sentiu que a respiração do homem ficou acelerada quando sua bochecha encostou no peito rijo dele.
— Joe, vamos lá, dê um passo para trás — instruiu Madame. — E faça um... Ah, você sabe dançar, né?
Demi abriu os olhos no instante em que Joe a empurrou e a fez girar, para depois puxá-la de costas de volta para perto dele, inclinando-a sobre uma de suas pernas.
— Confie em mim — sussurrou Joe ao seu ouvido enquanto a trazia novamente a seus braços, de costas, e a mantinha firmemente apoiada em seu corpo.
Era bom demais tocá-lo.
Outro giro deixou Demi de frente para ele.
— Agora você deve jogá-la sete vezes — continuou Madame. — Não se esqueça de girá-la, incliná-la para um lado e... Ah, meu Deus, filho! Você já fez a dança do acasalamento?
Joe corou.
Demi abriu a boca para fazer a mesma pergunta, mas então ele a inclinou sobre uma das pernas e depois a levantou e girou, quase fazendo com que ela perdesse o equilíbrio, até que, com um puxão, Joe a deixou firmemente apoiada em seus braços outra vez, sem tocar o chão.
Ele a soltou bem devagar, fazendo-a deslizar por seu corpo, o que permitiu que Demi sentisse cada músculo de sua barriga de tanquinho. Sabia que eram seis, porque os contara enquanto ele a soltara devagar.
A música parou.
Demi olhou bem nos olhos de Joe.
Ele tinha os lábios semiabertos ao inclinar-se para a frente.
— Maravilhoso! — Madame aplaudiu.
Demi se sobressaltou e esfregou as mãos no jeans.
— Já fez isso antes, não foi, querido? — Madame deu uma piscadela para Joe e um tapinha em sua bunda, então se virou para Demi. — É só deixar que ele a conduza, e vai dar tudo certo no dia do casamento.
Demi assentiu com a cabeça.
— Então acabamos?
— Dançar é parte da vida. A dança nunca termina.
— Ou o acasalamento — completou Joe, solícito.
Madame corou e abanou o rosto com as mãos.
— Gostaria de beber alguma coisa?
Demi parecia invisível. Joe agarrou seu braço e a puxou para mais perto de si.
— Ah, não, obrigado. É melhor eu levar minha namorada para casa.
Madame fez beicinho.
— Namorada?
Joe agarrou a cintura de Demi com mais força.
— É, Joe, namorada? Quer dizer... — Demi se virou para encará-lo. — Não sabia que tornaríamos o relacionamento oficial...
As narinas de Joe inflaram e seus olhos correram de Madame a Demi.
— Então vamos oficializar com um beijo, que tal?
Antes que Demi pudesse protestar, os lábios dos dois estavam colados.
Mas que droga.
Joe tinha um sabor viril. A língua passou pelos lábios de Demi e mergulhou em sua boca. Seus lábios eram como veludo, perfeitamente encaixados nos dela, que não ofereciam nenhuma resistência — pelo contrário, estavam participativos.
Com um gemido, Demi envolveu o pescoço dele com os braços — perdendo totalmente a compostura — e retribuiu o beijo. Joe fez um som baixo no fundo da garganta e a apertou ainda mais.
— Isso aqui... não é um bordel — interrompeu Madame, friamente.
— Ah, é? Poderia ter me enganado — respondeu Joe, ainda colado aos lábios de Demi.
Com uma risadinha, Demi se afastou.
— Obrigada por tudo, Madame. Mas, como a senhora viu, eu e meu namorado precisamos comemorar!
— Bem, então vão logo. — A voz de Madame soou aguda, e sua expressão era de desagrado, como se ela tivesse acabado de chupar um limão.
Eles saíram da loja e entraram correndo no BMW de Joe. Assim que Demi bateu a porta, os dois caíram na gargalhada.
Joe ligou o carro.
— E eu que pensei que vovó fosse louca.
— Né? — Pela voz, Demi parecia um pouco sem fôlego. Que ótimo, tinha perdido a capacidade de falar como um ser humano normal na frente de Joe! Fora apenas um beijo — um maldito beijo! — para despistar a loba, nada mais.
— Obrigado... — O carro parou no sinal vermelho. — Por me ajudar. Se eu estivesse sozinho, tenho certeza de que acabaria nas manchetes dos jornais.
— Doce. — Demi assentiu com a cabeça.
— O quê?
O sinal ficou verde.
— Seria assim que ela o atrairia para o quarto. Faria uma trilha de doces até a porta. É assim que as lobas fazem. Aí, quando você estivesse lá dentro, ela iria embebedá-lo. E você deixaria, faria qualquer coisa para destruir a memória daquela noite... E fim. Viraria um escravo sexual. Sairia no jornal.
Joe bufou e sacudiu a cabeça.
— Sua imaginação me assusta.
— Ei! — Demi ergueu as mãos. — Só estou dizendo.
Joe deu de ombros e pegou o caminho para o centro da cidade.
— Então, que tal um drinque? Eu prometi e tenho certeza de que lhe devo um favor.
Depois daquele beijo? Não, era ela quem devia a ele. A dor da rejeição, familiar demais, a invadiu. Claro, ela até podia aceitar e beber um drinque com ele, e depois cair em todas as armadilhas que a maioria das garotas caíam.
Ele ficaria bêbado o bastante para convidá-la para casa.
Dividiriam um táxi. Ela diria que ficaria apenas para mais um drinque. Acabariam na cama dele.
E ela acordaria e no travesseiro haveria um bilhete de agradecimento e uma nota de vinte dólares para o táxi.
Não, obrigada.
— Na verdade... — Demi olhou para o relógio de pulso. — Ainda consigo uma boa tarde de trabalho no escritório. Pode me deixar lá, no prédio da Komo?
Joe coçou a cabeça, nervoso, e deu de ombros.
— Beleza. Se é o que você quer... Acho que margaritas são melhores que qualquer dia de trabalho.
— É. — Demi colocou os óculos escuros. — Mas você está desempregado, então...
— Obrigado por me lembrar disso — resmungou ele, pegando a saída para o centro. — Eu, hã... Vou ver o que mais tem na lista da vovó e qualquer coisa ligo para você.
— Você precisaria do meu número.
— Pego com a vovó. — Ele deu de ombros.
Homem maldito. Não podia nem pedir o número dela?
Sério, isso?
— Bem. — Demi abriu a porta depois que ele parou o carro. — Não podemos correr o risco de você salvar meu número no seu celular e acabar ocupando o espaço destinado aos telefones das suas vagabundas.
— Demi, calma...
Ela bateu a porta antes que ele conseguisse terminar a frase e saiu caminhando determinada em direção ao edifício.

*****

Eu JURAVA que não ia ter 4 comentários até 23:30, OMG zjdcnjd
To feliz que estejam gostando tanto assim.
LUAAAAA, VOCÊ APARECEU, ANJO, QUE SAUDADE!
To bem, e você?
Me manda seu número pelo e-mail pra gente conversar, ahbnakjn
Se cuidem, beijos. 

10 comentários:

  1. Please, amanhã poste mais, pelo menos uns dois ou três, a historia ta ficando cada vez melhor *-*
    Jemi :3
    Beijos~

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  2. Quero mais!! To viciadaaa!! Posta mais hj por favor!!!

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  3. Sério. Vai mesmo parar ai e deixar com vontade de mais? Você é maldosa ein menina.
    Posta logo, viciei ��

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  4. Adoro suas historias! Poste mais, please! Reagente anciosa aqui! 😍

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  5. Posta mais,não sei mais o que falar dessa fic

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  6. Gente esse cap foi top. Quero mais quero mais. O q o Joe ia dizer p Demi?

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  7. como vc para nessas horas me deixando curiosa isso n se faz n viu posta logo to doida pra ver oq acontece bjs

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  8. Meu Deus tá muito boaaaaaa essa FIC é o que foi esse beijo hein? De tirar o fôlego de qualquer um!! Posta looooogo

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  9. Amei que teve 2 hoje tô tão feliz. Aiii sua fic e tão maravilhosamente maravilhosa tão perfeita que nem tem como explicar
    Então pelo amor de Deus continue

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