— Ela tem muito tempo livre — comentou Joe, quando
entraram na cozinha. Demi não precisava de vinho, ainda estava tonta com
aquelas horas na cama. Precisava de comida, isso sim.
— Vovó não tem culpa de o passatempo dela ser
justamente os netos. — Demi encontrou as taças e trouxe duas para o balcão no
meio da cozinha enorme e luxuosa. Joe pegou uma garrafa de vinho tinto e serviu
os dois.
— Ei — ele mordeu o lábio inferior —, que tal a gente
ir para a casa da árvore? Quero lhe mostrar uma coisa.
— Nossa, que garanhão! Aposto que dizia isso a todas,
no colégio.
Joe revirou os olhos.
— Só pegue sua taça. Vamos lá.
Ela o seguiu, meio boba de felicidade, até a noite
fria. Era ridículo, mas sua forma de ver a vida tinha mudado.
Talvez fosse porque finalmente estava com o homem que
sempre quis. E casada, para ser mais precisa. Não apenas saindo com ele. Haviam
invertido o processo? Sem problema.
— Vamos. — Joe pegou a taça das mãos de Demi e a
colocou no chão da casa da árvore enquanto a ajudava a subir. Quando estavam no
pequeno cômodo, Joe acendeu uma vela e soprou o fósforo. — Pronta para a
surpresa?
— Depende. — Demi tomou um gole de vinho. — Você vai
me contar uma história de terror ou está mesmo planejando uma surpresa?
— Pronta ou não? — Ele se inclinou para a frente e
beijou sua boca com vontade.
— Pronta.
— Ah, corpo traidor! Feche os olhos.
Ela fez biquinho.
— Feche!
— Está bem! — Ela fechou os olhos e ouviu alguma coisa
ser revirada. Parecia que ele estava segurando um embrulho ou uma sacola.
— Abra a boca.
— Não sei se quero fazer isso, não — respondeu.
— Confie em mim — sussurrou Joe.
E, como ele dissera que a amava, e ela finalmente
confiava nele, Demi obedeceu. Abriu a boca. A primeira coisa que sentiu foi o
gosto do creme doce. Abriu os olhos.
— Um Twinkie! — Rindo, ela pegou o bolinho com as
mãos. — Por que você guarda Twinkies aqui em cima?
Joe pareceu corar. Ele mordeu o lábio inferior e se
sentou ao lado dela.
— E agora é hora da história...
Ela encostou a cabeça no ombro de Joe.
— Era uma vez um garoto que conheceu uma garota. Ele a
ofendeu por tê-la encarado, então a garota deu um soco na cara dele. — Demi
riu, e Joe continuou: — Então, um dia, a garota deu a ele um Twinkie. Parece
que, no primário, comida é considerada uma oferta de paz. O garoto não teve
coragem de dizer à bela garota que não gostava de Twinkies, então os guardou.
Cada vez que ela lhe dava um bolinho, ele corria para casa e o escondia na casa
da árvore.
Os olhos de Demi se encheram de lágrimas.
— Como um esquilo?
— Como um esquilo idiota. — Joe riu. — Até que, um
dia, acabaram os Twinkies. Você sabe, às vezes os garotos crescem e viram uns
idiotas. Pensam que, como cresceu um pelo em seus queixos ou descobriram um
músculo no braço, de repente não precisam mais das garotas com Twinkies. Pensam
que deviam ter muitas garotas, não apenas uma. E aí estragam tudo... — Ele se
virou para Demi e engoliu em seco. — Estraguei as coisas com você tantas
vezes... Eu era tão apaixonado por você no ensino fundamental, e de repente foi
como se nós dois tivéssemos parado de tentar. Foi a primeira vez que fui
embora, meu primeiro erro.
Demi piscou para conter as lágrimas.
— E qual foi o segundo?
— Abandonar você outra vez, na noite em que fui
egoísta e a usei para me sentir melhor comigo mesmo. — Joe suspirou. — E o
terceiro e último erro na minha história trágica...
— Qual foi?
— Não beijar você no instante em que a vi outra vez,
não pedir desculpas por ter lhe deixado... por ter lhe abandonado, mesmo que,
lá no fundo, eu soubesse que era você, que sempre foi você, Demi.
Ela limpou algumas lágrimas que escorriam pelo rosto.
— Mas e Selena? Quer dizer, você e ela foram...
— Não era assim, nunca foi. — Joe sacudiu a cabeça. —
Nunca. — Ele ficou sério e virou o queixo de Demi na direção de seus lábios. —
Isto é indescritível.
— Ah.
— Uau! Depois de tudo isso, você só responde “ah”?
Demi sorriu e apoiou a cabeça no ombro dele outra vez.
— Bem, estou um pouco cansada depois de toda aquela
mímica.
— Que pena. — Joe deu uma risadinha. — Tinha mais
alguns truques na manga.
— Claro que tinha, bonitão!
Ouviram um barulho no chão perto da casa da árvore.
Gesticulando para que Demi ficasse quieta, Joe olhou por cima da cerca e viu
vovó atravessando o gramado até a casa do vizinho.
— O que ela está fazendo? — sussurrou Demi.
— Parece que está indo para um... joguinho da
madrugada — sugeriu Joe.
— Com?
— O vizinho. Um velho maluco que só usa camisas
havaianas e belisca a bunda da vovó durante os jantares em família. Ele a ama.
É obcecado. Planeja suas manhãs de acordo com as caminhadas da vovó.
— Uau, quanta dedicação!
— Com certeza, ela está fazendo alguma coisa certa.
Demi deu risada.
— Ela é uma Jonas.
— Bem lembrado. — Umedecendo os lábios, ele a puxou
para outro beijo. — Eu não a beijei, sabia? Não queria. Nunca quis.
— Quem?
— Amy.
— Ah, ela. — Demi bufou. — Minha inimiga da escola e
típica menina malvada. Eu sei. Deixa pra lá. Juro que eu tinha esquecido, até
que vi aquelas garras de acrílico perfurando seu peito.
— Aquilo dói. — Joe riu. — Pra caramba. E não é uma
dor boa. É uma dor que faz os caras se afastarem devagar, para não serem
devorados.
As luzes da varanda da casa do sr. Casbon se acenderam
e, com uma risadinha estridente, Vovó foi puxada lá para dentro.
— Bem. — Joe estendeu a mão para ela. — Sabe o que
isso significa.
Demi aceitou a mão dele.
— Podemos voltar para a cama?
Gemendo, ele a puxou para seus braços e a beijou.
— Sem ter que nos preocupar com vovó abrindo a porta.
Mordendo o lábio inferior, Demi virou a cabeça para o
lado.
— Acho que vi chantilly na geladeira.
— Sério? Vamos! — Rindo, Joe a ajudou a descer a
escada e os dois voltaram correndo para a casa. Já na cozinha, Joe encontrou as
frutas e o chantilly e Demi pegou o vinho. Eles subiram as escadas, dois
degraus por vez, mas congelaram ao ouvir um rosnado baixo. — Merda.
*****
Mds kkk o cachorro. Kkk
ResponderExcluirPosta logoo
O CACHORRO KKKKKKKKKKKKKK
ResponderExcluir