19.10.15

Capítulo Trinta e Seis




Demi acordou com o som de gritos. Depois da conversa estranha com Joe, durante a qual teve ao menos oitenta por cento de certeza de que ele estava bêbado, ela havia fingido estar com dor de cabeça e fora para a cama, dispensando a sobremesa e a noite de jogos em família.
Com um gemido, pegou o celular e olhou a hora. Uma da manhã? Eles ainda estavam acordados?
Sem pensar, apoiou os pés no chão ao lado da cama, pisando em algo macio. A coisa gemeu, e então soltou um palavrão ao mesmo tempo que puxava os pés de
Demi, fazendo-a cair com um baque sobre si.
— Joe? — murmurou.
— Não, é algum outro lunático meio bêbado, meio faminto, que fala com gaivotas. Sim, sou eu, Joe.
Quem mais estaria dormindo no chão do seu quarto?
— É verdade.
— Já pode sair de cima de mim. — Ele grunhiu.
— Por que você estava falando com gaivotas?
— Essa foi a parte relevante do que eu disse, na sua opinião? Não vai nem mencionar essa história de eu estar bêbado e com fome? Vai direto para as gaivotas?
Demi se afastou do corpo quente de Joe e suspirou alto.
— Só simplifiquei as coisas.
— Como assim?
— Que elemento pareceu estranho, no que você disse?
A comida sempre acompanha o álcool. Mas falar com gaivotas? Isso não é muito comum.
— Ou você é um gênio ou está bêbada. Não consigo decidir. — Joe falava em um tom de voz grave. — Por que você resolveu andar sobre mim? Ou melhor, por que está fora da cama?
— Ouvi um barulho.
— Acho que isso se chama respirar, Demi. Algumas pessoas precisam disso para viver.
— Cale a boca, seu babaca. — Ela o empurrou e andou até a porta. — Foi mais que isso. Parecia um arranhão, ou algo assim.
— Então temos um esquilo por aí. — Ele parecia entediado.
— Você odeia esquilos.
— Deixe que venham atrás de mim! Ouviram isso, esquilos? Estou pronto para vocês! — Joe ergueu as mãos e suspirou.
— Quantas cervejas você tomou?
Praguejando, ele se pôs de pé — com alguma dificuldade.
— Óbvio que não o suficiente. Ou ainda estaria desmaiado, em vez de aqui, tendo esta conversa ridícula com você.
Ele ficou sob o luar.
A boca de Demi secou.
Aquele homem era um deus.
Como ela pôde esquecer?
O abdômen definido, com músculos que desciam até a parte coberta pelas calças do pijama. Cada pedaço dele era liso e bronzeado. Bonito demais para ser real. Ela deu um passo na direção de Joe. Era possível que um homem real tivesse sido editado no Photoshop? Ao vivo?
Pessoalmente?
Curiosa, ela tocou o tórax dele. Era tão quente e firme!
Droga, como o corpo dele era firme!
— Demi? — Ele estava rouco. — Tem certeza de que não está sonâmbula?
Afastando a mão com um sobressalto, Demi soltou uma risada nervosa.
— Pensei ter visto, hã, um arranhão. Bem aqui. — Ela apontou para a pele completamente lisa do peito dele.
— Um arranhão? — Joe ergueu as sobrancelhas. — Sério? Bem, se está tão preocupada, posso tirar as calças, e então você dá uma examinada geral. Afinal, não seria nada bom se eu não acordasse, amanhã. Ouvi dizer que arranhões podem infeccionar.
— Babaca. — Demi o empurrou e foi para a porta, abrindo uma fresta.
— Demi! — resmungou Joe. — Estou exausto. Como eu disse, não deve ter sido nada...
Reclamando, Demi o acertou bem na barriga e mandou que ficasse quieto. Então apontou para o corredor.
Lá estava Selena, atravessando o corredor em direção ao quarto de Nick. A porta do quarto dele estava aberta.
Nick mexia a boca, dando instruções silenciosas para a noiva e apontando para o chão. Será que queria que ela rastejasse? Então ele fez um gesto com as mãos e depois envolveu a orelha.
— Hum — sussurrou Demi. — O chão range?
— Sim. — Joe riu. Sua respiração saiu quente no pescoço de Demi.
— Você sabe quais são os pontos que fazem barulho?
— Claro. — Ele passou por Demi, indo para o corredor, e olhou de Nick para Selena com um sorriso presunçoso.
Selena estreitou os olhos e fez um gesto de cortar a garganta com as mãos; depois mostrou o dedo do meio.
Como se fosse um lunático, Nick fazia gestos obscenos para o irmão. Parecia que o estava ameaçando, mas Demi não teve certeza. Era como assistir a um mímico irritado: ele sacudia as mãos para todos os lados, e os gestos eram tão engraçados que ficava impossível tentar entender.
E vovó — bendita fosse! — estava em uma poltrona com encosto reclinável, bem no meio do corredor.
Dormia de boca aberta, roncando como uma britadeira.
O pijama com estampa de oncinha quase brilhava ao luar, e ela usava uma daquelas máscaras de dormir assustadoras, com olhos pintados no tecido, como se quisesse dizer que estava sempre atenta.
Joe deu um passo hesitante na direção de vovó.
Selena sacudiu as mãos freneticamente.
Demi cobriu a boca, tentando segurar o riso.
Selena olhou irritada para ela.
Um rangido alto ecoou no corredor. Joe deu mais um passo. O barulho dessa vez foi ainda mais alto.
Nick começou a bater a cabeça de leve na parede.
Selena parecia ter começado a rezar.
E então, de repente, vovó se mexeu. Sem retirar a máscara, pegou uma arma que estava embaixo de uma almofada e a apontou na direção de Nick.
— Está tentando sair de mansinho, meu filho?
Demi ficou boquiaberta enquanto Joe corria de volta para o quarto e se escondia em segurança.
— Eu, hã... — Nick fechou os olhos. — Vai. Me mata logo. Já estou infeliz o suficiente. Foi mal, Selena. Não consigo. Não aguento mais. Se isso faz de mim um homem fraco, então, que seja!
— Selena! — gritou vovó, levantando a máscara para ver o que estava acontecendo. — Só de pensar que eu estava culpando Nick por esse fiasco! Olha só para você, já está na metade do caminho! Sua diabinha!
Atrás de Demi, Joe deu uma risada.
— Vocês dois! — Vovó balançou a arma. Nick olhou para a arma, receoso, enquanto Selena se encolhia junto à parede. — Agora. — Vovó apontou a arma para Nick.
— Já para o quarto! Vá cada um para a sua cama. Em breve estarão casados, e aí poderão fazer todo o sexo que quiserem.
— Vovó acabou de falar “sexo” — disse Joe, nas costas de Demi. — Acho que esta é a melhor noite da minha vida.
— E você! — Vovó apontou a arma para Selena. — Pare de tentar o garoto! Ele é homem! Não consegue controlar os impulsos!
— Não, acho que “impulsos” é ainda melhor que “sexo” — comentou Joe.
— Agora, voltem os dois para o quarto. Vamos esquecer essa história de fornicação!
— Aí está — sussurrou Demi. — A melhor da noite.
— Fornicação. — Joe ergueu uma das mãos no ar, por trás de Demi. Ela bateu a mão na dele, em comemoração, antes de fecharem a porta bem devagarzinho.
Vovó chamou seus nomes.
— Rápido! — exclamou Demi. — Para o chão!
Atenção, isso não é um treino!
Joe mergulhou em direção ao travesseiro, caindo de cara nos cobertores arrumados no chão, ao mesmo tempo que Demi se jogou na cama. A porta se abriu.
Vovó suspirou.
— Ah, que crianças boazinhas! Tão bem comportadas!
Quando a porta se fechou, Demi suspirou alto.
— Essa foi por pouco.
— Fiquei curioso com uma coisa.
— O quê?
— Vovó estava com um apito, hoje de manhã... e, agora, uma arma. Tenho certeza de que meu pai deixa o armário de armas trancado justamente por isso. Ele até esconde a munição.
— Já parei de tentar entender o que vovó faz.
Joe riu. O som de sua voz produziu uma onda de calor que se agitou pelo corpo de Demi. Ela rolou para o lado, na cama, e olhou para o chão.
Ele olhou para cima.
— Que foi? Está procurando mais arranhões? A oferta ainda está de pé. — Joe levou as mãos ao cós da calça do pijama e começou a baixá-la.
Demi cobriu os olhos.
— Não tire as calças.
— Hum — murmurou Joe. — Acho que é a primeira vez que ouço isso de uma mulher que está comigo em um quarto escuro.
— E aí?
— Doeu.
Demi ainda estava de olhos fechados quando as mãos de Joe tocaram suas bochechas. Não tinha escolha a não ser abri-los e sentir o poder que aqueles olhos cor de mel exerciam sobre ela. Joe sorriu de um jeito sincero, sensual, verdadeiro, um sorriso daqueles que revelavam até a alma e a faziam desejar vender a própria avó para a Coreia do Norte — qualquer coisa para conseguir se casar com aquele homem!
— Mas sempre dói antes de ficar bom — completou ele.
— O-o quê? — Ela não conseguia falar direito. Não enquanto aquelas mãos tocavam seu corpo, não enquanto Joe, sem camisa, a encarava com seus olhos cor de mel como se ela fosse a mulher mais linda que ele já vira.
— Os arranhões, eles sempre doem antes de melhorar.
Dói ser rejeitado, mas acho que no final vai valer a pena.
— Você deveria beber com mais frequência — brincou Demi. — Fica todo sentimental.
— Não é a bebida — murmurou Joe, com os lábios tão próximos dos dela, que Demi quase podia sentir seu gosto... — Boa noite, Demi.
— Boa noite. — E Demi achou a própria voz estranha e distante enquanto Joe soltava seu rosto e descia de volta para a cama improvisada. — Tenha bons sonhos.
Ele se virou para o lado e deu outro de seus sorrisos brilhantes.
— Se você ouvir seu nome, já sabe o motivo.
E ela se derreteu.
Droga.
Demi conseguiu retribuir o sorriso antes de se deitar outra vez e começar a travar uma batalha interior. Será que Joe estava mesmo mudando? E se ele estivesse tentando e ela não tivesse reparado porque estava muito concentrada em Jace?
Jace estava interessado.
Joe era um risco.
Teve que acrescentar uma noite sem dormir à sua lista de incontáveis problemas. Sem mencionar o fato de que havia ignorado todas as ligações do trabalho.
Joe. Demi sempre o quisera, e agora que ele estava ali, bem na frente dela, vulnerável e tentando de verdade, tinha a obrigação moral de tentar também.
E era isso que faria.
Talvez perdesse o emprego e o coração, tudo outra vez, pela chance ínfima de que o garoto do acampamento da escola realmente quisesse beijá-la.

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To passando pra postar rapidinho porque to em semana de provas.. Só vou poder postar mais sexta a noite. Beijos, meus anjos.

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