— Dá para ir mais rápido? —
perguntou Demi, um pouco irritada por estarem demorando tanto para voltar à cidade.
Tinha exatamente quarenta minutos para se arrumar e chegar ao trabalho.
— Claro. Só que serei multado —
respondeu Joe.
— Acho que você pode pagar.
— Qual é o seu problema? — Ele
trocou de faixa. — Estava tudo bem ontem à noite e, de repente, você começou a
agir como uma p...
— Se tem amor à vida, não termine
essa frase.
— ... como uma peste. — Joe abriu
um sorriso e ultrapassou um carro.
Demi ignorou o sorriso
ridiculamente brilhante e olhou pela janela.
— Está tudo bem, tudo ótimo. Só
tenho muito trabalho a fazer, se quiser tirar todo esse tempo de folga para o
casamento.
Eles ficaram em silêncio.
Depois de alguns minutos, Joe
perguntou:
— Foi alguma coisa que eu fiz?
Alguma coisa que ele tenha feito?
Será que ele era assim tão burro? Estava brincando com os sentimentos dela,
fazendo com que ela se apaixonasse por ele mesmo que ele não tivesse qualquer
interesse além da amizade!
— Não — mentiu. — Só estou
cansada.
— Desculpe. — Ele entrou com o
carro pelo bairro Queen Anne Hill. — Sabe, se foi culpa minha. Não quis chatear
você por causa dos seus pais nem fazer com que todos quase fôssemos presos,
nem...
— Joe — interrompeu Demi. — Foi o
melhor aniversário de todos. Eu juro. Só preciso voltar à vida real, sabe?
Meu Deus, como aquilo tinha soado
deprimente! Voltar à vida real, na qual Demi não era uma princesa, Joe com toda
a certeza não era seu príncipe e ela trabalhava em um lugar onde todos riam
dela por trás das pranchetas.
Ele pareceu satisfeito com a
resposta, já que não disse mais nem sequer uma palavra. Joe apenas estacionou o
carro e deixou que ela fosse sem ao menos se despedir.
Era melhor assim.
Tinha de ser.
Quando chegou ao trabalho, Demi
já estava dez minutos atrasada e não tinha tomado café da manhã. Algumas
pessoas começaram a sussurrar quando ela passou, o que não era assim tão
incomum. Ela caminhava até a mesa de trabalho sob os olhares dos colegas. Por
favor! Ela não tinha voltado com as mesmas roupas do dia anterior, depois de
uma noite de sexo, nem nada! E não porque a ideia lhe tivesse desagradado, na
véspera. Argh! Como podia ser tão idiota? Aquele cara era sua kriptonita: um
beijo, e ela ficava sem forças! Ele deveria vir com uma placa de “Perigo!”, ou
um aviso do Governo, de alerta às mulheres inocentes.
— Oi. — Um homem que ela nunca
tinha visto entrou em seu caminho. — Feliz aniversário, Demi. Espero que tenha
sido maravilhoso.
— Ah, sim, obrigada. —
Sentindo-se desconfortável, Demi olhou ao redor e notou que todas as atenções estavam
voltadas para ela. Mantendo a cabeça baixa, foi direto para sua mesa.
Estava coberta de rosas.
Centenas de rosas amarelas.
Pegou o cartão com as mãos
trêmulas. Dentro dele havia um bilhete: “Sinto muito por você ter chorado. Espero
que tenha tido um ótimo aniversário. Passo para pegá-la às cinco, para
terminarmos a lista. Joe.”
— Caramba.
— De quem são? — Seu chefe, Mark,
se aproximou por trás dela e sorriu. — E por que não nos disse que era seu
aniversário?
— Eu, hã...
— Não precisa dizer. Mas quero
que você vá à minha sala, está bem? Quando estiver pronta. — Ele ergueu a caneca
no ar, fazendo-a sentir o cheiro da cafeína de que ela tanto precisava, e se
afastou.
Demi guardou a bolsa e foi até a
sala de Mark. Fechou a porta e se sentou.
— Você não disse que estaria no
casamento de Jonas
— começou ele. Nada de “Olá,
Demi!” ou de um “Oi, tudo bem?”. Nada. Apenas essa afirmação. De que ela se esquecera
de mencionar que iria ao casamento do século. Ops?
— Eu, hã... estava tentando
respeitar a privacidade do casal. — A mentira veio naturalmente. Na verdade, só
queria afastar o foco dela e de Joe outra vez. A notícia acabaria vazando, e ela
não queria ser cercada pelas colegas de trabalho, todas perguntando como era o cheiro
dele.
— Quero que você faça a
cobertura.
— Mas sou uma convidada.
— Exatamente. — Ele se inclinou
para a frente e juntou as mãos na mesa. Seus olhos cinzentos brilhavam, e as
luzes fluorescentes faziam sobressair uma veia em sua testa. — Desde aquele
incidente... — Era assim que ele o chamava. O incidente em que ela aparecera
para dar as notícias completamente bêbada, depois de uma noite com o infame
solteirão de Seattle.
Nunca permitiriam que ela
esquecesse aquilo?
Mark fez uma pausa e pigarreou.
— Você cobriu algumas histórias
aqui e ali, mas ainda não recuperou o posto de âncora do jornal. Não é só você.
É nossa reputação que está em jogo. Não podemos permitir que uma garota com seu
tipo de...
Ah, isso seria interessante!
— ... reputação... seja o rosto
da Komo News. Mas estou disposto a lhe dar uma segunda chance se você fizer um
bom trabalho na cobertura desse casamento.
Todos os jornais querem publicar
essa matéria, mas somos os únicos que têm uma vantagem: você.
— Eu precisaria pedir permissão,
Mark. Sabe disso.
Ele deu de ombros.
— Peça ou não peça. Você decide.
Mas, mesmo que neguem, quero que faça a reportagem.
— Mas...
— É sua carreira que está em
jogo, Demi. Quer outra chance ou não? Porque, se não quiser, a porta da rua é a
serventia da casa. — Ele se virou para o computador e não olhou para ela uma
segunda vez. — Está dispensada.
Ela se levantou com cuidado.
— Sim, senhor.
— Ah, Demi?
Ela se virou.
— Quero que pense bem sobre seu
futuro. Talvez a Komo News não seja o lugar certo para você. Temos diversos
outros graduados ansiosos para assumir seu posto.
Lutando contra as lágrimas, Demi
saiu da sala e seguiu direto para a mesa. O cheiro de rosas a deixou sufocada.
Ou talvez fosse o medo. Não sabia
ao certo.
Com as mãos trêmulas, pegou o
celular e ligou para Selena.
Caixa postal.
É claro. Eles deviam estar no
avião.
O problema era que Demi sabia que
Selena queria privacidade. Esta era uma das principais razões de ela ter escolhido
fazer o casamento em Jonas Abbey, em vez de em uma grande igreja. A casa era
propriedade particular, então conseguiriam manter os paparazzi sob controle.
Tudo bem que Nick não era tão
famoso quanto Joe, mas a família era dona de metade de Seattle, praticamente, e
tinha sido citada na Forbes mais vezes do que Demi poderia contar. O
casamento era uma notícia das grandes. Os Jonas eram magnatas, donos de empresas
milionárias. E as pessoas eram quase tão obcecadas pelos irmãos Jonas quanto
pelos Seahawks, o time de futebol americano.
Foi um mau começo para o dia de
Demi. Ela trabalhou durante o almoço e, quando o relógio deu cinco horas, estava
tão desesperada para ir embora que quase saiu correndo pela porta no instante
exato em que o ponteiro grande chegou ao doze.
— Pronta? — perguntou uma voz
atrás de Demi.
Mais sussurros e murmúrios de
surpresa, alguns palavrões, e então um gemido. Sim, uma das mulheres tinha
gemido em voz alta.
— Joe. — Demi engoliu em seco e
se virou, pronta para encarar o deus grego. Ele vestia camiseta branca e uma
calça jeans apertada e rasgada. Santa Mãe de Deus, estava lindo!
Entendeu finalmente o gemido.
Fingindo não estar intimidada
quando aqueles olhos cor de mel esverdeados encontraram os dela, Demi pegou a
bolsa e se levantou.
— Estou pronta, se você também
estiver.
Alguns celulares foram erguidos,
virados para eles. O sorriso de Joe não chegou aos olhos. Na verdade, ele parecia
quase... irritado. Umedecendo os lábios, acenou de leve para as pessoas que
estavam em pé ao redor deles e se virou. Algumas mulheres começaram a conversar
em voz alta perto do cubículo de Demi.
— Ótimo. — Ele sorriu e colocou
uma das mãos em suas costas enquanto seguiam pelo corredor.
Mais algumas risadinhas de deboche
foram ouvidas quando passaram pelas salas.
E então uma cantada.
A mão de Joe parecia queimar as
costas de Demi. Ela não deixou de notar que, quando passaram pela sala de Mark,
seu chefe tinha um brilho de satisfação no olhar.
Maldito. Estavam quase livres.
Demi apertou o botão do elevador
e rezou para que ele fosse mais rápido. Daria para ouvir se um alfinete caísse.
O departamento ficava
estranhamente silencioso sem o burburinho e as risadas habituais.
— Joe? Joseph Jonas? — Uma mulher
pigarreou.
Demi e Joe se viraram.
Michelle Klike era a repórter que
substituíra Demi no jornal das cinco. Tinha cabelos loiros brilhosos e era magra
como uma modelo. Seu apelido era Barbie.
— Oi? — O homem umedeceu os
lábios e deu aquele sorriso falso outra vez.
— Michelle Klike. Tenho certeza
de que já me viu no jornal. — Ela balançou o cabelo platinado e deu uma piscadela.
— A gente devia marcar um almoço. Adoraria conhecê-lo melhor.
Aham, claro. Demi bufou com
desdém. Michelle a olhou, irritada, e voltou a atenção para Joe outra vez.
— Eu, hã... — Joe sacudiu a
cabeça e passou um braço ao redor de Demi. — Estou ocupado.
O sorriso de Michelle se tornou
algo mais parecido com um rosnado quando ela voltou os olhos para a colega de
trabalho, depois para Joe e de volta para a outra mulher, com a testa franzida,
parecendo confusa.
— Bem... — Ela pegou um cartão. —
Me avise quando tiver acabado com Demi, e a gente marca.
Acabado? Demi ergueu
tanto as sobrancelhas que provavelmente se perderam em seus cabelos, e ela deu um
passo na direção de Michelle.
— Obrigado, mas já escolhi a
repórter com quem falo.
— Por enquanto. — Michelle abriu
aquele maldito sorriso outra vez e foi embora.
As portas do elevador se abriram,
graças a Deus.
Joe apertou o botão de fechar
portas pelo menos dez vezes antes de elas obedecerem, então uma música brega encobriu
o silêncio constrangedor.
— Desculpe — ele disse,
finalmente, com a voz rouca. — Não costuma ser tão ruim. Quer dizer...
— Joe. — Demi levantou a mão, com
a intenção de fazê-lo calar-se. — Não precisa se explicar. Sei quem e o que
você é, está bem? Vamos deixar isso pra lá. E pense comigo: ao menos você não
vai precisar ir à boate para arrumar a próxima.
As narinas de Joe se inflaram e
seus olhos ficaram frios por um breve momento antes de ele os desviar e sacudir
a cabeça. Quando as portas do elevador enfim se abriram outra vez, ele deixou
que Demi saísse na frente e de novo pôs a mão em suas costas. O que ele estava fazendo?
Ela havia acabado de tentar afastá-lo de novo, e ele continuava a ser legal?
Ela o encarou, desconfiada.
— O que você está tentando fazer?
Ele deu de ombros enquanto
caminhavam pelo estacionamento.
— Pensei em comermos alguma coisa
antes de resolvermos o presente de casamento e os bonecos do bolo — explicou
Joe, destravando as portas de um BMW branco. Sério, quantos carros aquele cara
tinha?
— Pode ser. — Demi entrou no
carro e mais uma vez se deu conta de que era delírio dela até mesmo imaginar ficar
com um cara como Joe. Ele estava brincando com ela, só podia ser isso. No
instante em que ela fosse embora, ele ligaria para Barbie. — Para onde vamos primeiro?
— Bem... — Ele deu partida no
carro. Jesus, o que ele estava usando? Que tipo de perfume era aquele? Ela se inclinou
para a frente e sentiu o rosto corar quando estremeceu ao aspirar o cheiro
dele.
— O que você está fazendo? —
perguntou Joe. O carro estava em ponto morto outra vez. Os olhos dele brilhavam
de divertimento.
— Hã... — Demi se afastou de
repente. — Só ajudando a ver.
— Ver?
— O trânsito. — Ela apontou para trás,
para os carros inexistentes que não transitavam pelo estacionamento.
— Acho que vou conseguir me virar
sozinho. — Ele deu uma piscadela e continuou a dar ré enquanto Demi rezava para
que o carro a engolisse.
— Então, esse seu restaurante...
— Mudando de assunto, ela procurou um batom na bolsa. — Ele fica perto do lugar
onde resolveremos a questão do bolo?
— É.
— Legal.
Mas que droga. Será que o clima
ficaria desconfortável assim o tempo inteiro?
— Obrigada pelas flores. Eram bem
bonitas. — Pronto, ela fizera as pazes.
— Eram amarelas — comentou Joe
enquanto manobrava o carro para pegar a Third Street.
— Eram — concordou Demi, devagar.
— São a cor do perdão.
— Está certo.
— Só achei que devesse saber. —
Ele deu de ombros.
— Joe, você não fez nada de errado.
Ele não respondeu. Apenas
continuou a dirigir enquanto Demi tentava não parecer uma cadela no cio ao sentir
o cheiro que continuava a emanar dele.
Joe estacionou em uma vaga perto
de um pequeno restaurante e contornou o carro para ajudá-la a sair.
— Sei que parece um botequim, mas
é muito bom.
Juro.
O prédio de tijolos era velho,
como a maioria dos edifícios do centro de Seattle. A porta do restaurante era
vermelha, e, ao lado dela, pintado com tinta spray, o nome do restaurante:
Fork. Hum. Ela deu de ombros e o seguiu porta adentro.
Havia algumas pessoas lá. As
mesas eram de diferentes modelos, todas cobertas com toalhas quadriculadas,
sobre as quais havia gigantescas taças de vinho. Hum, talvez ela gostasse do
lugar, afinal. Joe segurou sua mão, levou-a até uma mesa no canto e puxou a
cadeira para que ela se sentasse.
— Você já pediu? — Demi apontou
para uma taça de vinho que, servida, estava sobre a mesa.
— Não. — Ele sorriu. — As mesas
daqui são assim.
O vinho está incluso. Pode beber
à vontade, sempre. A primeira taça é sempre do vinho da casa, depois eles trazem
o que for de sua preferência.
— Meu Deus. — Demi lançou um
olhar de cobiça para a taça de vinho. — Você me trouxe ao paraíso.
O sorriso que ele deu foi tão
grande que Demi engasgou antes de olhar para o cardápio. Era escrito à mão em
um pequeno quadro-negro disposto ao lado dos talheres.
— Gostou? — perguntou Joe.
— Amei. — Demi o encarou e
sorriu.
*****
Gente, não postei antes porque mal fiquei na casa da minha vó, então tava sem not.. Mas ta aí, um capítulo maior que o de costume.. Beijos.
Amei .. Esses 2 hein!
ResponderExcluirPosta logoo
adorei posta logo
ResponderExcluirFINALMENTEEEEE POSTA LOGOO O RESTOOOO!
ResponderExcluirQue ódio desse chefe!!! Que fofo o Joe mandar flores e leva-la pra jantar!!! Por favor não demora a postar!!!!
ResponderExcluir