24.2.15

Capítulo Treze




Sábado, 27 de outubro de 2012
20h20

Abraço Nick e Max no estacionamento da galeria. A exposição acabou, e Jonas e eu vamos voltar para a casa dele. Sei que devia estar nervosa pelo que pode acontecer entre nós, mas não estou nem um pouco. Com ele, tudo parece certo. Bem, tudo menos a frase que fica se repetindo na minha cabeça.
Amo você, Hope.
Quero perguntar o que foi isso, mas não consigo encontrar o momento adequado. Claro que não dava para mencionar o assunto durante a exposição. Agora parece ser uma boa hora, mas toda vez que abro a boca acabo fechando-a logo em seguida. Acho que tenho mais medo de saber quem ela é e qual sua importância na vida dele do que de criar coragem para falar sobre isso. Quanto mais adio, mais tempo tenho antes de ser obrigada a descobrir a verdade.
— Quer parar e comer alguma coisa? — pergunta ele, saindo do estacionamento.
— Quero — digo depressa, aliviada por ele ter interrompido meus pensamentos. — Um cheeseburger parece ótimo. E fritas com queijo. E quero também um milk-shake de chocolate.
Ele ri e segura minha mão.
— Não está sendo um pouco exigente, princesa?
Solto sua mão e me viro para ele.
— Não me chame assim — exclamo.
Ele olha para mim e é mais do que provável que esteja conseguindo ver a raiva no meu rosto, mesmo no escuro.
— Ei — diz ele para me acalmar, segurando minha mão de novo. — Não a acho exigente, Demi.
Foi uma piada.
Balanço a cabeça.
— Exigente, não. Não me chame de princesa.
Odeio essa palavra.
Ele me lança um olhar de soslaio e volta a prestar atenção na rua.
— Tudo bem.
Fico olhando para a janela, tentando tirar a palavra da cabeça. Não sei por que odeio tanto apelidos, só sei que é assim. E sei que minha reação agora foi exagerada, mas ele não pode me chamar disso nunca mais. Também não deve me chamar pelo nome de nenhuma ex-namorada. Ele devia me chamar somente de Demi... É bem mais seguro.
Dirigimos em silêncio, e fico cada vez mais arrependida por ter agido daquele forma. Acho até que devia estar mais chateada por ele ter me chamado do nome de outra garota do que de princesa. É quase como se eu estivesse depositando minha raiva em outra coisa por ter muito medo de mencionar o que realmente está me incomodando. Para ser sincera, tudo que quero hoje é uma noite sem drama algum. Vou ter tempo de sobra para perguntar sobre Hope algum outro dia.
— Desculpe-me, Jonas.
Ele aperta minha mão e a põe no colo, sem dizer mais nada.
Quando chegamos na entrada da casa dele, saio do carro. Não paramos para comer, mas nem estou a fim de mencionar isso agora. Ele me encontra perto da porta do carona, me abraça, e eu retribuo. Ele anda comigo até eu me encostar no carro, e pressiono a cabeça em seu ombro, inspirando seu cheiro. O constrangimento do caminho até aqui ainda está entre nós, então tento relaxar meu corpo encostado no dele para que saiba que não estou mais pensando naquilo. Ele está passando os dedos nos meus braços delicadamente, me deixando toda arrepiada.
— Posso perguntar uma coisa? — diz ele.
— Sempre.
Ele suspira, afasta-se e olha para mim.
— Eu a assustei demais na segunda? No meu carro? Pois, se assustei, peço desculpas. Não sei o que aconteceu comigo. Não sou um mariquinha, juro. Não choro desde que Less morreu, e nunca queria ter feito isso na sua frente.
Inclino a cabeça no peito dele e o abraço com mais força.
— Sabe ontem à noite, quando acordei com o pesadelo?
— Sei.
— Foi a segunda vez que chorei desde que tinha 5 anos. A única outra vez foi quando você me contou o que aconteceu com sua irmã. Chorei enquanto estava no banheiro. Foi só uma lágrima, mas já conta. Vai ver que quando estamos juntos nossas emoções ficam um pouco avassaladoras demais e nós dois viramos mariquinhas.
Ele ri e beija o topo da minha cabeça.
— Tenho a impressão de que em breve vou parar de gamar você. — Ele me dá outro beijo rápido e pega minha mão. — Está pronta para o grande tour?
Sigo ele até a casa, mas não consigo parar de pensar que ele acabou de dizer que em breve vai parar de me gamar. Se parar de me gamar, significa que vai começar a me amar. Ele acabou de confessar que está se apaixonando por mim sem dizer isso com todas as palavras. E o mais chocante nessa confissão é que eu a adorei.
Entramos na casa, que não é nada como eu imaginava. Não parece muito grande de fora, mas tem um vestíbulo. Casas normais não têm vestíbulos. À direita, uma arcada leva à sala de estar. Todas as paredes estão cobertas de livros e nada mais, e sinto como se eu tivesse morrido e ido para o céu.
— Uau — digo, olhando para as estantes da sala. Os livros estão agrupados em prateleiras do chão ao teto, em cada uma das paredes.
— Pois é — diz ele. — Minha mãe ficou furiosa quando inventaram o e-reader.
Eu rio.
— Acho que já estou gostando da sua mãe.
Quando vou poder conhecê-la?
Ele balança a cabeça.
— Não apresento garotas à minha mãe. — A voz dele está tão inexpressiva quanto suas palavras, e, assim que acaba de falar, ele percebe que acabou me magoando. — Não, não. Não é isso que quis dizer. Não estou dizendo que você é como as outras garotas que namorei. Eu me expressei errado.
Tudo bem, mas estamos namorando há um certo tempo e, ainda assim, ele não está convencido de que o que temos é real o bastante para me apresentar à mãe? Será que vai mesmo chegar o dia em que isso entre nós vai ser real o bastante para que me apresente à mãe?
— Hope a conheceu? — Sei que não devia ter dito isso, mas não consegui mais me segurar. Especialmente agora, quando o escutei falar sobre “outras garotas”. Não sou maluca; sei que ele namorou outras pessoas antes de me conhecer. Só não gosto de ouvi-lo falando sobre isso. Muito menos que me chame pelo nome de alguma delas.
— O quê? — pergunta ele, abaixando as mãos.
Está se afastando de mim. — Por que disse isso? — Ele está ficando pálido, e me arrependo imediatamente do que disse.
— Deixe para lá. Não é nada. Não preciso conhecer sua mãe. — Só quero que isso acabe logo. Sabia que não ia estar muito a fim de conversar sobre isso hoje. Quero voltar ao tour da casa e esquecer que essa conversa aconteceu.
Ele segura minha mão e repete:
— Por que disse isso, Demi? Por que disse esse nome?
Balanço a cabeça.
— Não é nada de mais. Você estava bêbado.
Ele estreita os olhos para mim, e fica claro que não vou ter como escapar dessa conversa. Suspiro e cedo relutante, limpando a garganta antes de falar.
— Ontem à noite, quando você estava pegando no sono... disse que me amava. Mas me chamou de Hope, então não era comigo que estava falando de verdade. Você tinha bebido e estava meio que adormecido, então não preciso de uma explicação. Não sei nem se realmente quero saber por que disse aquilo.
Ele leva as mãos até o cabelo e geme.
— Demi. — Ele se aproxima de mim, me abraçando. — Desculpe-me, de verdade. Deve ter sido algum sonho idiota. Eu nem conheço ninguém que se chame assim e, com certeza, nunca tive uma ex-namorada com esse nome, se é isso que estava pensando. Desculpe por isso ter acontecido. Nunca devia ter ido bêbado para sua casa. — Ele olha para mim, e, por mais que meus instintos digam que está mentindo, seus olhos parecem totalmente sinceros. — Precisa acreditar em mim. Vou ficar arrasado se você pensar por um segundo sequer que sinto alguma coisa por outra pessoa. Nunca senti isso por ninguém.
Todas as palavras que saem de sua boca estão cheias de sinceridade e honestidade. Considerando que nem lembro por que acordei chorando, é possível que o que ele falou dormindo tenha sido causado por um sonho aleatório. E escutar tudo o que acabou de dizer mostra o quanto as coisas estão ficando sérias entre nós.
Olho para ele, tentando preparar alguma espécie de resposta para tudo que confessou. Separo os lábios e espero as palavras saírem, mas isso não acontece. De repente sou eu que preciso de mais tempo para processar meus pensamentos.
Ele está com as mãos no meu rosto, esperando que eu interrompa o silêncio entre nós. A proximidade de nossas bocas sabota sua paciência.
— Preciso dar um beijo em você — diz ele como se pedisse desculpas, puxando meu rosto para perto.
Ainda estamos no vestíbulo, mas ele me ergue sem esforço algum e me põe na escada que vai dar nos quartos do primeiro andar. Eu me inclino para trás, ele volta a tocar meus lábios com os seus e põe as mãos nos degraus de madeira ao lado da minha cabeça.
Devido à nossa posição, ele é obrigado a abaixar o joelho entre minhas coxas. Não é nada de mais, a não ser que se leve em consideração o vestido que estou usando. Seria muito fácil ele me ter bem aqui na escada, mas espero que a gente pelo menos chegue ao seu quarto primeiro, antes que ele comece a tentar. Eu me pergunto se ele está esperando mesmo alguma coisa, especialmente depois da mensagem que enviei por acidente. Ele é um garoto, então claro que está esperando alguma coisa. Eu me pergunto se sabe que sou virgem. Será que devia contar? Acho que sim. Mas é provável que já tenha percebido.
— Sou virgem — digo sem pensar, encostada em sua boca. Imediatamente me pergunto o que diabos estou fazendo ao falar isso em voz alta bem agora. Não devia ter permissão de falar nunca mais na minha vida. Alguém devia me privar da voz, porque é óbvio que não sei controlá-la quando minha defesa sexual está inativa.
Na mesma hora, ele para de me beijar e afasta o rosto lentamente, olhando nos meus olhos.
— Demi — começa ele, sendo direto. — Estou beijando você porque, às vezes, não consigo não beijá-la. Você sabe o quanto sua boca mexe comigo. Não estou esperando nada além disso, OK?
Enquanto puder beijá-la, as outras coisas podem esperar. — Ele põe meu cabelo atrás das orelhas e olha para mim com sinceridade.
— Só achei que você devia saber. Acho que devia ter escolhido um momento melhor para contar isso, mas, às vezes, simplesmente falo as coisas sem pensar. É um hábito péssimo e que eu odeio porque costuma surgir nos momentos mais inoportunos e é sempre vergonhoso. Como agora.
Ele ri e balança a cabeça.
— Não, não pare de fazer isso. Adoro quando você fala as coisas sem pensar. E também quando solta tiradas longas, nervosas e ridículas. É meio sensual.
Eu coro. Ser chamada de sensual é mesmo... sensual.
— Sabe o que mais é sensual? — pergunta ele, inclinando-se para perto de mim mais uma vez.
O jeito brincalhão em sua expressão faz minha vergonha desaparecer.
— O quê?
Ele sorri.
— A gente tentar não se agarrar enquanto vemos um filme. — Ele se levanta, me ajuda a me levantar e me leva até o quarto lá em cima.
Ele abre a porta e entra primeiro. Depois se vira e pede para eu fechar os olhos. Em vez disso, eu os reviro.
— Não gosto de surpresas — digo.
— Você também não gosta de presentes e de certos termos comuns que só demonstram carinho. Estou aprendendo. Mas queria lhe mostrar uma coisa legal... não é nenhum presente. Então dê um jeito e feche os olhos.
Obedeço, e ele me puxa para dentro do quarto. Já estou adorando esse lugar porque tem o mesmo cheiro que ele. Jonas me acompanha por alguns passos e põe as mãos nos meus ombros.
— Sente-se — diz ele, empurrando-me para baixo. Eu me sento no que parece ser uma cama, mas de repente estou deitada e ele está levantando meus pés. — Continue de olhos fechados.
Sinto-o colocar meus pés na cama e me encostar num travesseiro. Sua mão segura a bainha do meu vestido, e ele o puxa para baixo, garantindo que vai ficar no lugar.
— Tenho de deixar você coberta. Não pode ficar me mostrando a coxa quando está deitada assim.
Eu rio, mas continuo de olhos fechados. De repente, ele começa a engatinhar do meu lado, tomando cuidado para não me dar uma joelhada. Sinto-o se acomodar ao meu lado no travesseiro.
— Pronto. Abra os olhos e prepare-se para ficar impressionada.
Estou com medo. Lentamente, abro os olhos. Hesito em adivinhar o que estou vendo, pois quase acho que é uma televisão. Mas normalmente as televisões não ocupam 2 metros da parede. Essa coisa é gigantesca. Ele aponta o controle remoto, e a tela se acende.
— Uau — digo, impressionada. — Mas que coisa enorme.
— É o que todas dizem.
Dou-lhe uma cotovelada na lateral do corpo, fazendo-o rir. Ele aponta o controle para a tela.
— Qual seu filme preferido de todos? Tenho Netflix.
Inclino a cabeça em sua direção.
— Net o quê?
Ele ri e balança a cabeça, desapontado.
— Sempre esqueço que você tem deficiências tecnológicas. É parecido com um e-reader, mas com filmes e programas de televisão em vez de livros. Dá para assistir praticamente qualquer coisa, é só apertar os botões.
— Tem comercial?
— Não — diz ele orgulhoso. — Então, o que vai ser?
— Você tem O panaca? Adoro esse filme.
Ele põe o braço em cima do peito, aperta um botão no controle e desliga a televisão. Ele fica em silêncio por vários longos segundos e depois suspira energicamente. Se vira para o lado, deixa o controle na mesinha de cabeceira e rola, ficando de frente para mim. — Não quero mais ver televisão.
Ele está fazendo bico? O que foi que eu disse de errado?
— Tudo bem. Não precisamos ver O panaca. Pode escolher outra coisa, bebezão. — Eu rio.
Ele fica um tempo sem responder e continua me encarando sem expressão. Depois levanta a mão, passando-a por minha barriga e cercando minha cintura. Em seguida, me segura com força e me puxa para ele.
— Sabe — diz ele, estreitando os olhos enquanto eles percorrem meu corpo meticulosamente. Jonas contorna a estampa do meu vestido com o dedo, alisando com delicadeza minha barriga. — Posso lidar com o que esse vestido provoca em mim. — Olha da minha barriga até minha boca. — Posso lidar até com ter de olhar para seus lábios o tempo inteiro, mesmo quando não posso beijá-los. Consigo lidar com o som da sua risada e com o quanto ela me dá vontade de cobrir sua boca com a minha e inspirar tudo.
Sua boca está se aproximando da minha, e a maneira como baixou o tom de voz, ficando numa espécie de oitava lírica e divina faz meu coração martelar dentro do peito. Ele leva os lábios até minha bochecha e a beija de leve, o hálito quente colidindo com minha pele quando ele fala:
— Sei lidar até com as milhões de vezes em que relembrei nosso primeiro beijo nesse último mês. Como você se sentiu. Como foi escutar você. Como me olhou logo antes de meus lábios encostarem nos seus.
Ele rola para cima de mim e põe meus braços acima da minha cabeça, segurando-os com as mãos. Estou prestando atenção em cada palavra que diz, sem querer perder um único segundo do que quer que esteja fazendo agora. Ele se senta em cima da minha cintura, apoiando-se nos joelhos.
— Mas sabe com o que não sei lidar, Demi? Sabe o que me deixa louco e me dá vontade de colocar as mãos e a boca em todos os centímetros do seu corpo? Você ter acabado de dizer que O panaca é seu filme preferido de todos. Isso? — Ele leva a boca até a minha, e nossos lábios se tocam. — Isso sim é incrivelmente sensual, e tenho certeza de que a gente precisa se agarrar agora.
Seu jeito brincalhão me faz rir, e sussurro de forma sedutora contra seus lábios.
— Ele odeia essas latas.
Ele geme, me beija e depois se afasta.
— De novo. Por favor. Ouvir você falar frases de filme é tão mais sensual que beijá-la.
Eu rio e falo outra frase.
— Fique longe das latas!
Ele geme no meu ouvido de uma maneira brincalhona.
— Essa é minha garota. Mais uma vez. Outra frase.
— É tudo de que preciso — digo brincando. — O cinzeiro, a raquete e o controle remoto e o abajur... e é tudo de que preciso. Não preciso de nenhuma outra coisa, nenhuma.
Agora ele está rindo em voz alta. Miley e eu vimos esse filme inúmeras vezes, então ele vai ficar surpreso quando descobrir que sei várias outras frases.
— É tudo de que precisa? — diz ele espirituosamente. — Tem certeza, Demi? — A voz dele está calma e sedutora, e, se eu estivesse em pé, com certeza minha calcinha estaria no chão.
Balanço a cabeça, e meu sorriso desaparece.
— E você — sussurro. — Preciso do abajur, do cinzeiro, da raquete, do controle remoto... e de você. É tudo de que preciso.
Ele ri, mas sua risada some assim que olha para minha boca mais uma vez. Ele a fica observando, mais do que provavelmente planejando o que vai fazer com ela pela próxima hora.
— Preciso beijá-la agora. — Sua boca colide com a minha, e, neste momento, ele é mesmo tudo de que preciso.
Ele está de quatro, beijando-me com intensidade, mas preciso que fique em cima de mim. Minhas mãos ainda estão acima da cabeça, e minha boca não consegue formar palavras quando está sendo provocada assim. A única coisa que consigo fazer é erguer o pé e chutar seu joelho para que ele caia em cima de mim, então é o que faço.
No instante em que sinto seu corpo no meu, solto o ar. Fazendo barulho. Não tinha considerado que, ao levantar a perna, a bainha do meu vestido subiria. Bastante. Isso somado ao tecido áspero da calça jeans fariam qualquer um arfar.
— Puta merda, Demi — diz ele entre os instantes sem ar em que extasia minha boca com a dele. Já está sem fôlego, e não estamos fazendo isso há mais de um minuto. — Nossa, como é incrível sentir você. Obrigado por usar esse vestido. — Ele está me beijando, murmurando esporadicamente dentro de minha boca. — Eu gosto... — Ele beija minha boca e baixa os lábios para meu queixo até chegar no meio do meu pescoço. — Gosto mesmo dele. Do vestido.
Está tão ofegante que mal consigo entender seus sussurros. Ele desce um pouco mais na cama para que seus lábios fiquem na altura do meu pescoço. Inclino a cabeça para trás para dar-lhe acesso total, pois agora seus lábios são muito bem-vindos em qualquer parte do meu corpo. Ele solta minhas mãos para poder levar a boca mais para perto do meu peito. Uma de suas mãos chega até minha coxa, mas ele sobe com ela devagar, afastando o que restou do vestido de cima das minhas pernas. Ao alcançar o topo da minha coxa, sua mão para, e ele aperta forte, como se estivesse obrigando os próprios dedos a não irem mais além.
Contorço o corpo debaixo dele, esperando que entenda a indireta de que sua mão pode ir aonde quiser. Não quero que duvide do que está fazendo nem que pense que estou relutando em seguir em frente, nem por um segundo. Só quero que faça o que quiser, pois preciso que continue. Preciso que conquiste quantas primeiras vezes puder hoje, pois, de repente, estou me sentindo gananciosa e quero que passemos por todas elas.
Jonas entende minhas indiretas físicas e aproxima a mão da parte interna da minha coxa. Só a expectativa de ele encostar em mim faz todos os músculos abaixo de minha cintura se contorcerem. Seus lábios finalmente descem da base do meu pescoço e chegam ao meu peito. Sinto que seu próximo passo vai ser remover meu vestido de uma vez para poder tocar o que está embaixo do tecido, mas, para isso, ele precisaria usar a outra mão, e estou gostando muito do lugar onde ela está agora. Preferiria se ela estivesse alguns centímetros além, mas não quero de jeito algum que ela se afaste.
Levo as mãos até seu rosto e o obrigo a me beijar com mais força, em seguida toco suas costas.
Ele ainda está de camisa.
Isso não é nada bom.
Ponho a mão na barriga dele e puxo a camisa por cima de sua cabeça, mas não percebo que, fazendo isso, ele é obrigado a afastar a mão da minha coxa. Pode ser que eu tenha resmungado um pouco, pois ele sorri e beija o canto da minha boca.
Ficamos nos olhando, e, delicadamente, ele alisa meu rosto com as pontas dos dedos, percorrendo todas as partes. Ele não desvia o olhar em instante algum e mantém os olhos grudados nos meus, mesmo quando abaixa a cabeça para beijar os cantos dos meus lábios. A maneira como me olha me faz sentir... tento procurar um adjetivo para completar esse pensamento, mas não encontro nenhum. Ele simplesmente me faz sentir. É o único garoto que já se importou se eu estava ou não sentindo alguma coisa, e, só por isso, deixo ele roubar mais um pedacinho do meu coração. Mas não parece o bastante, pois de repente quero dar meu coração inteiro para ele.
— Jonas — digo baixinho. Ele sobe a mão pela minha cintura e se aproxima mais.
— Demi — diz ele, com o mesmo tom de voz.
Sua boca encosta nos meus lábios, e ele enfia a língua no meio deles. Ela é doce e quente, e sei que não faz muito tempo que senti esse gosto, mas estava com saudade. Suas mãos estão nas laterais da minha cabeça, mas ele está tomando cuidado para não encostar em mim com as mãos nem com o corpo.
Apenas com a boca.
— Jonas — murmuro, me afastando. Levo a mão até a bochecha dele. — Eu quero. Hoje. Agora.
Sua expressão não muda. Ele fica me encarando como se não tivesse me escutado. Talvez não tenha me escutado, pois com certeza não está concordando com minha sugestão.
— Demi... — A voz está cheia de hesitação. — Não precisamos. Quero ter certeza absoluta de que é o que você quer. Está certo? — Ele começa a acariciar minha bochecha. — Não quero apressá-la.
— Sei disso. Mas estou dizendo que quero fazer isso. Jamais quis com ninguém, mas com você, sim.
Ele está com os olhos fixos nos meus, assimilando cada palavra que eu disse. Ou está em estado de negação ou em choque, e nenhum desses dois casos é bom para mim. Levo as mãos até seu rosto, aproximando em seguida seus lábios dos meus.
— Isso não sou eu dizendo sim, Jonas. Sou eu dizendo por favor.
Com isso, ele esmaga os lábios nos meus e geme. Escutar esse som vindo lá do fundo do peito dele me dá mais certeza ainda sobre minha decisão.
Preciso dele e preciso agora.
— Vamos mesmo fazer isso? — pergunta ele dentro da minha boca, ainda me beijando empolgado.
— É. Vamos mesmo fazer isso. Nunca tive tanta certeza de algo na vida.
Sua mão sobe pela minha coxa, em seguida ele a desliza entre meu quadril e minha calcinha, e começa a tirá-la.
— Só preciso que me prometa uma coisa primeiro — digo.
Ele me beija suavemente, afasta a mão da minha calcinha (droga) e concorda com a cabeça.
— Qualquer coisa.
Seguro a mão dele e a coloco bem onde estava antes, no meu quadril.
— Quero fazer isso, mas só se me prometer que vamos quebrar o recorde de melhor primeira vez na história das primeiras vezes.
Ele sorri para mim.
— Quando se trata de nós dois, Demi... não tem como ser diferente.
Ele serpenteia o braço por debaixo das minhas costas e me ergue com ele. Suas mãos chegam nos meus braços, e ele põe os dedos por baixo das alças finas do meu vestido, afastando-as dos meus ombros. Fecho os olhos com firmeza e pressiono a bochecha na dele, agarrando seu cabelo. Sinto sua respiração no ombro e, depois, seus lábios. Ele mal o beija, mas é como se tivesse ligado todas as partes do meu corpo de dentro para fora com esse único beijo.
— Vou tirar isso — informa ele.
Meus olhos continuam fechados, e não sei se ele está me avisando ou pedindo minha permissão para tirar meu vestido, mas balanço a cabeça de todo jeito. Ele levanta o vestido e o puxa por cima da minha cabeça — minha pele nua formigando debaixo de seu toque. Ele me encosta com delicadeza no travesseiro, e abro os olhos, encarando-o, admirando sua beleza incrível. Depois de me olhar intensamente por vários segundos, ele fita a mão que está ao redor da minha cintura.
Sem pressa, observa meu corpo inteiro.
— Puta merda, Demi. — Ele passa as mãos pela minha barriga, inclina-se e dá um beijo suave nela. — Você é incrível.
Nunca fiquei tão exposta na frente de alguém antes, mas a maneira como ele está me admirando só me dá mais vontade de ficar tão exposta assim. Ele desliza a mão até meu sutiã e passa o polegar bem embaixo dele, separando meus lábios e fazendo meus olhos se fecharem outra vez.
Meu Deus, como eu o desejo. Muito, muito mesmo. Seguro seu rosto e o puxo para perto, prendendo minhas pernas ao redor de seu quadril. Ele geme, afasta a mão do meu sutiã para colocá-la na minha cintura outra vez. Jonas desce minha calcinha, me obrigando a desvencilhar as pernas para que possa tirá-la de vez. Meu sutiã também é descartado logo depois, e, assim que todas as minhas roupas são removidas, ele afasta as pernas de cima da cama e meio que se levanta, inclinando-se por cima de mim. Ainda estou segurando-lhe o rosto, e continuamos nos beijando loucamente enquanto ele tira a calça e volta para a cama, abaixando-se em cima de mim. Agora estamos sentindo a pele um do outro pela primeira vez, tão perto que nem o ar passaria entre nós, e, ainda assim, não parece próximo o suficiente. Ele estende o braço, e sua mão mexe em alguma coisa na cabeceira. Tira uma camisinha da gaveta e a deixa na cama, abaixando-se em cima de mim mais uma vez. A rigidez e o peso dele fazem minhas pernas se abrirem mais. Estremeço ao perceber que a expectativa em minha barriga de repente começa a se transformar em pavor.
E náusea.
E medo.
Meu coração está acelerado, e minha respiração se transforma em curtas arfadas. Lágrimas brotam em meus olhos enquanto a mão dele se move ao nosso lado, procurando a camisinha. Ele a encontra, e eu o escuto abrindo o envelope, mas estou apertando os olhos. Consigo senti-lo se afastar e ficar de joelhos.
Sei que ele a está colocando e sei o que vem em seguida. Conheço a sensação, sei o quanto dói e que isso vai me fazer chorar quando acabar.
Mas como sei disso? Como sei se nunca fiz isso antes?
Meus lábios começam a tremer quando ele se coloca entre minhas pernas outra vez. Tento pensar em alguma coisa para afastar o medo, então visualizo o céu, as estrelas e o quanto são bonitos, tentando diminuir o pânico. Se eu me lembrar de que o céu sempre é bonito e focar nesse pensamento, posso esquecer o quanto isso é feio. Não quero abrir os olhos, então começo a contar em silêncio dentro da cabeça. Visualizo as estrelas em cima da minha cama, começo com as que ficam mais embaixo e vou subindo.
1, 2, 3...
Eu conto e conto e conto.
22, 23, 24...
Prendo a respiração e me concentro mais e mais nas estrelas.
57, 58, 59...
Quero que ele acabe logo. Só quero que saia de cima de mim.
71, 72, 7...
— Que droga, Demi! — grita Jonas.
Ele está afastando meu braço dos olhos. Não quero que me obrigue a olhar, então continuo segurando o braço em cima do rosto com firmeza, para que tudo fique escuro e eu possa continuar contando em silêncio.
De repente, minhas costas estão sendo erguidas, e não estou mais encostada no travesseiro. Meus braços estão moles, e os dele estão me abraçando com firmeza, mas não consigo me mover. Meus braços estão fracos demais, e estou soluçando muito. Estou chorando tanto, e Jonas está me movendo, mas não entendo o motivo e, então, abro os olhos. Estou indo para a frente e para trás e para a frente e para trás, e, por um segundo, fico em pânico e aperto os olhos, achando que ainda não acabou. Mas consigo sentir as cobertas ao meu redor e seu braço apertando minhas costas, além de estar tocando meu cabelo e sussurrando em meu ouvido.
— Linda, está tudo bem. — Ele está pressionando os lábios em meu cabelo, balançando-me para a frente e para trás com ele. Volto a abrir os olhos, e as lágrimas embaçam minha visão. — Desculpe-me, Demi. Desculpe-me de verdade.
Ele está beijando minha têmpora várias vezes seguidas enquanto me balança, pedindo desculpas. Está se desculpando por alguma coisa. Alguma coisa pela qual ele quer que eu o perdoe dessa vez.
Ele se afasta e vê que meus olhos estão abertos. Os dele estão vermelhos, mas não vejo nenhuma lágrima. Contudo, está tremendo. Ou talvez seja eu que estou tremendo. Acho que na verdade somos nós dois.
Ele está me olhando nos olhos, procurando alguma coisa. Me procurando. Começo a relaxar nos seus braços, pois quando estão ao meu redor não sinto como se estivesse despencando da face da Terra.
— O que aconteceu? — pergunto para ele. Não entendo de onde isso surgiu.
Ele balança a cabeça, com os olhos cheios de arrependimento, medo e aflição.
— Não sei. De repente você começou a contar, a chorar e a tremer, e fiquei tentando fazê-la parar, Demi. Mas você não parava. Estava apavorada. O que foi que eu fiz? Pode me dizer, porque estou muito arrependido. Estou tão, tão arrependido. Que merda eu fiz?
Balanço a cabeça, pois não tenho uma resposta.
Ele faz uma careta e encosta a testa na minha.
— Desculpe-me. Não devia ter deixado as coisas chegarem tão longe. Não sei o que diabos aconteceu, mas você ainda não está pronta, OK?
Ainda não estou pronta?
— Então a gente não... a gente não transou?
Ele me liberta de seu abraço, e sinto todo o seu comportamento mudar. A expressão em seus olhos é de frustração e confusão. As sobrancelhas se separam, e ele franze o rosto, segurando minhas bochechas.
— Onde você estava, Demi?
Balanço a cabeça, confusa.
— Bem aqui. Estou ouvindo.
— Não, quero dizer antes. Onde você estava? Comigo não era, pois, não, nada aconteceu. Dava para ver no seu rosto que tinha algo de errado, então não fiz nada. Mas agora precisa pensar bastante para descobrir em onde estava dentro dessa sua cabeça, porque você ficou em pânico. Estava histérica, e preciso saber o motivo para garantir que isso nunca mais aconteça.
Jonas beija minha testa e solta minhas costas. Ele se levanta, veste a calça jeans e pega meu vestido. Ele o sacode, vira do avesso e o desliza pelas mãos. Em seguida, se aproxima de mim e o coloca por cima da minha cabeça. Ergue meus braços e me ajuda a colocá-los dentro do vestido, puxando-o depois para baixo, me cobrindo.
— Vou pegar um pouco d’água para você. Já volto.
Ele me beija com relutância, quase como se estivesse com medo de encostar em mim. Após sair do quarto, encosto a cabeça na parede e fecho os olhos.
Não faço ideia do que acabou de acontecer, mas o medo de perdê-lo por causa disso é justificável. Acabei de transformar uma das coisas mais íntimas imagináveis num desastre. Fiz com que ele se sentisse um nada, como se tivesse feito algo de errado, e agora ele está se sentindo mal por causa disso. Provavelmente quer que eu vá embora, e não o culpo. Não o culpo nem um pouco. Também quero fugir de mim mesma.
Afasto as cobertas e me levanto, abaixando o vestido em seguida. Nem me dou o trabalho de procurar a calcinha e o sutiã. Preciso encontrar o banheiro e me recompor para que ele possa me levar para casa. É a segunda vez nesse fim de semana que caio em prantos sem nem saber o porquê — e nas duas vezes ele precisou me resgatar. Não vou fazer isso com ele de novo.
Quando passo pela escada procurando o banheiro, olho para a cozinha por cima do corrimão e o vejo inclinado para a frente com os cotovelos na bancada, o rosto enterrado nas mãos. Está simplesmente parado, parecendo arrasado e chateado. Não consigo mais olhá-lo, então abro a primeira porta à minha direita, presumindo que seja o banheiro.
Mas não é.
É o quarto de Lessie. Começo a fechar a porta, mas desisto. Em vez disso, eu a abro mais, entro e a fecho. Não importa se estou num banheiro, quarto ou closet... só preciso de paz e silêncio. Tempo para me recompor do que diabos está acontecendo comigo. Estou começando a achar que talvez seja mesmo louca. Nunca perdi a noção das coisas de forma tão grave, e isso me apavora. Minhas mãos ainda tremem, então eu uno ambas à frente do corpo e tento me concentrar em alguma outra coisa para me acalmar.
Dou uma olhada ao redor e acho o quarto um tanto perturbador. A cama não está feita, o que me parece estranho. A casa inteira de Jonas é impecável, mas a cama de Lessie não está arrumada. Há duas calças jeans no meio do chão, e parece que ela acabou de tirá-las. Fico observando ao redor, e esse é um quarto típico de uma adolescente. Maquiagem na cômoda, iPod na cabeceira. Parece que ainda mora aqui. Pela aparência do quarto, não parece de jeito nenhum que ela se foi. Está na cara que ninguém encostou aqui desde que ela morreu. As fotos ainda estão penduradas nas paredes e coladas no espelho. Todas as roupas ainda estão no closet, algumas empilhadas no chão. Segundo ele, já faz mais de um ano que ela faleceu, e aposto que ninguém da família aceitou isso.
É estranho estar aqui dentro, mas assim minha mente não pensa no que está acontecendo. Vou até a cama e olho para as fotos penduradas na parede. A maioria é de Lessie com seus amigos, e, só em algumas, ela aparece com Jonas. É muito parecida com o irmão, tem olhos azul-claros e intensos, e cabelo castanho-escuro. O que mais me surpreende é o quanto parece feliz. Parece tão alegre e cheia de vida em todas as fotos que é difícil imaginar o que estava realmente se passando por sua cabeça. Não surpreende que Jonas não fizesse ideia do quanto ela se sentia desolada. É mais que provável que não tenha deixado ninguém saber disso.
Pego uma foto abandonada na mesinha de cabeceira. Ao virá-la para mim, fico boquiaberta. Na foto, ela aparece beijando Zac na bochecha, e os dois estão abraçados. A foto me deixa perplexa e preciso me sentar na cama para me recompor. É por isso que Jonas o odeia tanto? É por isso que ele não queria que Zac encostasse em mim? Fico me perguntando se ele não culpa Zac pelo que Less fez.
Estou segurando a foto, ainda sentada na cama, quando a porta do quarto se abre. Jonas aparece no vão.
— O que está fazendo? — Ele não parece bravo comigo por estar ali. No entanto, parece constrangido, provavelmente por causa do que fiz ele sentir há pouco.
— Estava procurando o banheiro — respondo baixinho. — Desculpe. Só precisava de um minuto sozinha.
Ele se encosta no batente e cruza os braços enquanto os olhos percorrem o quarto. Está assimilando tudo, assim como eu. É como se para ele tudo fosse novo.
— Ninguém entrou aqui? Desde que ela...
— Não — diz ele apressado. — De que adiantaria? Ela se foi.
Balanço a cabeça e deixo a foto de Lessie e Zac de volta na cabeceira, virada para baixo assim como a garota a havia deixado.
— Estavam namorando?
Ele dá um passo hesitante para dentro do quarto e se aproxima da cama. Ele se senta ao meu lado e apoia os cotovelos nos joelhos, unindo as mãos na frente do corpo. Lentamente, dá uma olhada no quarto, sem responder minha pergunta de imediato.
Olha para mim, põe o braço ao redor do meu ombro e me puxa para perto. O fato de estar sentado aqui comigo agora, ainda querendo me abraçar, me dá vontade de chorar.
— Terminou com ela na véspera de ela ter feito isso — diz ele baixinho.
Tento não soltar uma arfada, mas suas palavras me deixam chocada.
— Acha que foi por causa dele que ela fez isso?
É por isso que o odeia tanto?
Ele balança a cabeça.
— Já o odiava antes de Zac terminar com ela. Ele a fez passar por muita merda, Demi. E não, não acho que foi por causa dele. Talvez tenha sido a gota d’água para ela tomar uma decisão que estava querendo há muito tempo. Less tinha seus problemas bem antes de Zac aparecer. Então não, não o culpo. Nunca o culpei. — Ele se levanta e segura minha mão. — Vamos. Não quero mais ficar aqui.
Dou uma última olhada no quarto e me levanto para segui-lo. No entanto, paro antes de chegar à porta. Ele se vira e me flagra analisando as fotos na cômoda dela. Há uma de Jonas e Lessie num porta-retratos, de quando os dois eram crianças. Pego-a para observá-la mais de perto. Vê-lo tão novinho me faz sorrir por alguma razão. Ver os dois tão novos... é revigorante. É como se houvesse uma inocência neles, antes que as realidades feias da vida os atingisse. Estão na frente de uma casa de estrutura branca, e Jonas colocou o braço ao redor do pescoço dela, apertando-a. Ela está com os braços ao redor da cintura dele, e os dois sorriem para a câmera.
Meus olhos vão dos rostos dos dois para a casa atrás deles. É uma casa branca com detalhes amarelos, e, se desse para ver o interior, a sala apareceria pintada de dois tons diferentes de verde.
Fecho os olhos no mesmo instante. Como sei disso? Como sei a cor da sala?
Minhas mãos começam a tremer e tento inspirar, mas não consigo. Como conheço essa casa? Mas conheço a casa como se conhecesse as crianças da foto. Como sei que tem um balanço verde e branco nos fundos? E a 3 metros do balanço há um poço seco que precisa ficar coberto porque o gato de Lessie caiu ali uma vez.
— Você está bem? — pergunta Jonas. Ele tenta tirar a foto de minhas mãos, mas eu a agarro e olho para ele. Seu olhar transmite preocupação, e ele dá um passo para mais perto de mim. Dou um passo para trás.
De onde eu o conheço?
De onde conheço Lessie?
Por que sinto como se tivesse saudade deles? Balanço a cabeça, olhando para a foto, em seguida para Jonas, e depois outra vez para a foto. E agora o pulso de Lessie chama minha atenção. Ela está usando uma pulseira. Uma pulseira idêntica à minha.
Quero perguntar sobre a pulseira mas não consigo. Tento, mas não emito palavra alguma, então só ergo a foto. Ele balança a cabeça, e o rosto fica sério, como se seu coração estivesse se partindo.
— Demi, não — diz ele, implorando.
— Como? — Minha voz falha, e mal dá para escutá-la. Olho outra vez para a foto em minhas mãos. — Há um balanço. E um poço. E... seu gato. Ficou preso no poço. — Lanço um olhar para ele, e os pensamentos surgem um atrás do outro. — Jonas, conheço aquela sala de estar. É verde, e a cozinha tem um balcão que era alto demais para nós e... sua mãe. O nome dela é Denise. — Faço uma pausa e tento respirar, pois as lembranças não param. Elas não param de surgir, e não consigo respirar. — Jonas... o nome de sua mãe é Denise?
Jonas franze o rosto e passa a mão pelo cabelo.
— Demi... — diz ele, mas não consegue nem olhar para mim. A expressão está dividida e confusa, e ele... ele tem mentido para mim. Está escondendo alguma coisa e tem medo de me contar seja o que for.
Ele me conhece. Mas afinal como me conhece e por que não me contou?
De repente, me sinto nauseada. Passo correndo por ele e abro a porta do outro lado do corredor, que por acaso é um banheiro, graças a Deus. Tranco a porta, jogo o porta-retratos na bancada e caio direto no chão.
As imagens e lembranças começam a inundar minha mente como se tivessem rompido os diques. Lembranças dele, dela, de nós três juntos. Lembranças de nós três brincando, eu jantando na casa deles, eu e Lessie inseparáveis. Eu a amava. Eu era tão nova e tão pequena, e nem sei como os conhecia, mas eu os amava. Os dois. A lembrança surge junto com o luto por saber que a Lessie que eu conhecia e amava quando criança se foi. De repente fico triste e depressiva por ela ter morrido, mas não por minha causa. Não por Demi. Fico triste pela garotinha que fui, e, de alguma forma, o luto pela perda de Lessie está surgindo dentro de mim.
Como é que eu não sabia? Como não me lembrei dele na primeira vez que o vi?
— Demi, abra a porta, por favor.
Eu me encosto na parede. É demais. As lembranças, as emoções e o luto... é coisa demais para assimilar de uma só vez.
— Linda, por favor. Precisamos conversar, e não posso fazer isso daqui de fora. Por favor, abra a porta.
Ele sabia. Sabia desde a primeira vez que me viu no mercado. E quando viu minha pulseira... sabia que eu a tinha ganhado de Lessie. Ele me viu usando, e sabia disso.
Meu luto e minha confusão logo se transformam em raiva, e eu me levanto do chão e vou rapidamente até a porta do banheiro, que destranco e escancaro. As mãos dele estão nos dois lados do caixilho, e ele está olhando fixo para mim, mas sinto como se nem sequer soubesse quem ele é. Não sei mais o que é real entre nós e o que não é. Não sei quais sentimentos são por causa de sua vida comigo agora, nem quais são por causa da vida que tinha com a garotinha que eu era.
Preciso saber. Preciso saber quem ela era. Quem eu era. Engulo o medo e faço a pergunta cuja resposta temo já saber.
— Quem é Hope?
Sua expressão insensível não muda, então pergunto de novo, mais alto dessa vez:
— Quem diabos é Hope?
Ele mantém o olhar fixo no meu, e as mãos firmes no batente, mas não responde. Por alguma razão, não quer que eu saiba. Ele não quer que eu lembre quem eu era. Respiro fundo e tento conter as lágrimas. Estou com muito medo de dizer o que acho, porque não quero saber a resposta.
— Sou eu? — pergunto, com a voz trêmula e cheia de trepidação. — Jonas... eu sou Hope?
Ele expira rapidamente ao olhar para o teto, quase como se estivesse se segurando para não chorar. Fecha os olhos e encosta a testa no braço, depois inspira fundo antes de olhar de volta para mim.
— É.
O ar ao meu redor fica espesso. Denso demais para ser inspirado. Fico parada, bem na frente dele, incapaz de me mexer. Tudo fica quieto, exceto dentro da minha cabeça. Há tantos pensamentos, perguntas, lembranças e tudo tenta ficar em primeiro plano ao mesmo tempo, e não sei se preciso chorar, gritar, correr ou dormir.
Preciso sair. Sinto como se Jonas, o banheiro e toda essa maldita casa estivessem me sufocando, então preciso sair daqui para ter espaço para que tudo dentro de minha cabeça possa sair. Quero que tudo escape.
Empurro-o para trás, e ele tenta segurar meu braço, mas eu o empurro.
— Demi, espere — grita ele atrás de mim. Continuo correndo até alcançar a escada e desço o mais rápido que posso, dois degraus por vez. Escuto-o me seguindo, então acelero, e meu pé vai mais para a frente do que eu pretendia. Solto o corrimão e caio para a frente, aterrissando na base da escada. — Demi! — berra ele.
Antes que possa tentar me levantar, ele me alcança e fica de joelhos com os braços ao meu redor. Dou um safanão, querendo que ele me solte para que eu simplesmente possa sair da casa. Mas ele não se mexe.
— Lá fora — digo, ofegante e fraca. — Só preciso ir lá para fora. Por favor, Jonas.
Sinto-o se debatendo interiormente, sem querer me soltar. Relutante, me afasta de seu peito e olha para mim, procurando meus olhos.
— Não corra, Demi. Saia, mas por favor não vá embora. Precisamos conversar.
Concordo com a cabeça, ele me solta e me ajuda a levantar. Quando saio da casa e piso na grama, uno as mãos por trás da cabeça e inspiro fundo o ar frio. Inclino a cabeça para trás e olho para as estrelas, desejando mais que tudo estar lá em cima e não aqui em baixo. Não quero que as lembranças continuem voltando, porque cada lembrança confusa vem junto com uma pergunta ainda mais confusa. Não entendo como o conheço. Não entendo por que escondeu isso de mim. Não compreendo como meu nome pode ter sido Hope se só me lembro de ser chamada de Demi. Não sei por que Dianna me diria que Demi é meu nome de nascença se isso não é verdade. Tudo que eu achava que entendia após todos esses anos está se desemaranhando, revelando coisas que nem quero saber. Estão mentindo para mim, e estou morrendo de medo de descobrir o que é que as pessoas estão escondendo.
Fico lá fora pelo que parece uma eternidade, tentando compreender isso sozinha sendo que nem faço ideia do que estou tentando compreender. Preciso conversar com Jonas para descobrir o que sabe, mas estou magoada. Não quero vê-lo após compreender que, durante todo esse tempo, ele estava guardando esse segredo. Isso faz com que tudo o que achei que estava acontecendo entre nós não passe de uma ilusão.
Estou exaurida emocionalmente e tive todas as descobertas que aguento em uma só noite. Tudo que quero é ir para casa e me deitar. Preciso dormir antes que comecemos a discutir por que ele não me contou que me conhecia quando criança. Não entendo por que isso era algo que achou que devia esconder de mim.
Eu me viro e vou andando de volta para a casa. Ele está na entrada, me observando e se afasta para eu passar. Vou até a cozinha e abro a geladeira. Pego uma garrafa d’água, abro-a e tomo vários goles. Minha boca está seca, e ele acabou não trazendo para mim a água que disse que ia buscar.
Deixo a garrafa na bancada e olho para ele.
— Me leve para casa.
Ele não protesta. Jonas se vira, pega a chave na mesa do hall e gesticula para que o siga. Deixo a água na bancada e o acompanho em silêncio até o carro. Depois que entro, ele dá ré e segue para a rua sem dizer nada.
Passamos pelo meu entroncamento, e fica na cara que ele não tem a menor intenção de me levar para casa. Olho para ele, que está concentrado na rua.
— Me leve para casa — repito.
Ele olha para mim com uma expressão determinada.
— Precisamos conversar, Demi. Tem perguntas para fazer, sei que tem.
Tenho. Tenho um milhão de perguntas, mas tinha esperança de que ele fosse me deixar dormir para que pudesse tentar compreendê-las e responder sozinha quantas conseguisse. Mas está na cara que a essa altura ele não se importa com o que prefiro. Relutante, tiro o cinto e me viro no banco, encostando na porta para ficar de frente para ele. Se não quer me dar tempo para assimilar melhor tudo isso, vou jogar todas as perguntas de uma só vez. Mas vou fazer isso depressa pois quero que me leve para casa.
— Está bem — concordo por teimosia. — Vamos resolver logo isso. Por que passou esses dois meses mentindo para mim? Por que minha pulseira o deixou tão furioso a ponto de não conseguir falar comigo por semanas? Ou por que não me disse quem achava que eu realmente era no dia em que nos encontramos no mercado? Porque você sabia, Jonas. Você sabia quem eu era, e, por alguma razão, achou que seria engraçado ficar me iludindo até que eu descobrisse a verdade. Você sequer gosta de mim? Valeu a pena me magoar, mais do que já fui magoada a vida inteira, só por causa desse joguinho que está fazendo? Pois foi isso que aconteceu — digo, tão furiosa que chego a tremer.
Finalmente me rendo às lágrimas porque essa é só mais uma coisa que está tentando sair de mim e cansei de lutar contra elas. Enxugo-as com o dorso da mão e abaixo o tom de voz.
— Você me magoou, Jonas. Tanto. Prometeu que sempre seria sincero comigo. — Não estou mais erguendo a voz. Na verdade, estou falando tão baixinho que nem sei se ele consegue me escutar.
Ele continua encarando a rua como o babaca que é. Aperto os olhos, cruzo os braços e volto a me sentar direito no banco. Fico olhando pela janela do carona e xingo o carma. Xingo o carma por ter trazido esse caso perdido para minha vida só para que ele a arruinasse.
Quando ele continua dirigindo sem responder a nenhuma palavra que fiz, tudo que sou capaz de fazer é soltar uma pequena risada ridícula.
— Você é mesmo um caso perdido — murmuro.

Treze anos antes

— Preciso fazer xixi — diz ela, rindo.
Estamos agachadas debaixo do pórtico, esperando que Joe nos encontre. Gosto de brincar de pique esconde, mas gosto de me esconder. Não quero que saibam que ainda não sei contar, e sempre me pedem para fazer isso. Joe sempre diz para eu contar até vinte quando vão se esconder, mas não sei fazer isso. Então só fico de olhos fechados fingindo que estou contando. Os dois já estão na escola, e eu só vou entrar ano que vem, então não sei contar tão bem quanto eles.
— Ele está vindo — avisa ela, engatinhando um pouco para trás.
A terra debaixo do pórtico está fria, então tento evitar encostar ali com as mãos como ela está fazendo, mas minhas pernas estão doendo.
— Less! — grita ele. Ele se aproxima do pórtico e segue direto para os degraus. Estamos nos escondendo há um bom tempo, e parece que ele se cansou de nos procurar. Ele se senta nos degraus, que estão quase bem na frente da gente. Quando inclino a cabeça, consigo ver seu rosto. — Cansei de procurar!
Eu me viro e olho para Lessie para ver se está preparada para sair correndo. Ela balança a cabeça e leva o dedo aos lábios.
— Hope! — grita ele, ainda sentado nos degraus. — Desisto!
Ele dá uma olhada no pátio e suspira em silêncio. Depois murmura e chuta o cascalho, o que me faz rir. Lessie me dá um murro no braço, me dizendo para ficar quieta.
Ele começa a rir, e na hora acho que é porque está ouvindo a gente, mas depois percebo que está apenas falando sozinho.
— Hope e Less — diz ele baixinho. — Hopeless. — Ele ri de novo e se levanta. — Estão me ouvindo? — grita ele, pondo as mãos ao redor da boca. — Vocês duas juntas são um caso perdido (hopeless)!
Escutá-lo fazer essa brincadeira com nossos nomes faz Lessie rir, e ela sai de baixo do pórtico. Vou atrás dela e me levanto no instante em que Joe se vira e a vê. Ele sorri e olha para nós duas, que estamos com os joelhos cobertos de terra e temos teias de aranha no cabelo. Ele balança a cabeça e repete:
— Um caso perdido.

*****

Os comentários de vocês :o
Vocês tão no caminho pra descobrir tudo aosjaoi minhas espertinhas
Amanhã posto mais, beijos, amo vcs.

8 comentários:

  1. Eu não sei o que pensar, estou sem palavras
    Eu estava desconfiando que o Joe, tinha alguma coisa a ver com Demi, acho que foi alguma coisa que Diana fez, mas ainda não sei o que
    Eu preciso de outro capítulo
    Posta logo e eu amo você

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Ahhhhhhh Isso mencheu comigo, estou confusa. E isso está ficando cada vez mais perfeito.
    Querooo Mais, posta logo
    Beijos..

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  4. Eu realmente não esperava por essa quero as respostas para as perguntas dela ,quero saber por que ele não contou pra ela que a conhecia , preciso de outro capítulo pra poder entender melhor tudo isso , posta logo Bjs.

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  5. Ok, eu estou chocada!! Tipo, todas as fics q eu li eu ja conseguia prever o q ia acontecer, ate agora! Juro q nao esperava isso. Preciso de mais

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  6. Que capítulo foodaaa!!
    Serio , eu pensei que iria rolar umas coisinhas e tal kkkkkkkkkk mas acabou acontecendo tudo beeeeemmmm diferente.
    To muito curiosa , nunca pensei que eles se conheceram desde a infância!
    Posta mais logo , to amando <3

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  7. Uii amei <3
    Aconteceram coisas que eu não pensei que iriam acontecer e não aconteceu oque eu pensava que iria kkkkkkkkk
    Posta mais !!

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  8. MEU DEUS, ISSO TÁ FICANDO CADA VEZ MELHOR!
    eu estou no chão aqui, mas vou ficar bem rsrsrs :)
    desculpa não comentar nos anteriores... já estou cheia de trabalhos da escola pra fazer
    #TRÁGICO :( mas enfim, estou esperando ansiosamente pelo próximo O/
    beijos e posta logo

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