1.2.15

Capítulo Seis




Sexta-feira, 31 de agosto de 2012
16h50

— Eddie vai com você? — Abro a porta do carro para Dianna poder jogar a última mala no banco de trás.
— É, vai sim. Nós voltamos... eu volto para casa no domingo — diz ela, corrigindo-se. Fica aflita quando diz “nós” se referindo a Eddie. Odeio que ela sinta isso, pois realmente gosto de Eddie e sei que ele ama Dianna, então não entendo sua preocupação. Ela teve alguns namorados nos últimos 12 anos, mas assim que começa a ficar sério, ela foge.
Dianna fecha a porta e se vira para mim.
— Sabe que confio em você, mas por favor...
— Não engravide — interrompo. — Eu sei, eu sei. Você disse isso cada vez que viajou nos últimos dois anos. Não vou engravidar, mãe. Só vou ficar dopada e doidona.
Ela ri e me abraça.
— Boa garota. E bêbada. Não se esqueça de ficar bem bêbada.
— Não vou esquecer, prometo. E vou alugar uma televisão pelo fim de semana para poder me sentar, tomar sorvete e ver porcarias nos canais a cabo.
Ela para e me fulmina com o olhar.
— Já isso não é engraçado.
Eu rio e dou outro abraço nela.
— Divirta-se. Espero que venda muitas coisinhas de ervas, sabonetes e tinturas e sei lá o que mais você faz.
— Amo você. Se precisar de mim, sabe que pode usar o telefone da casa de Miley.
Reviro os olhos ao ouvir as mesmas instruções que recebo toda vez que ela viaja.
— Tchau — digo.
Ela entra no carro e sai pela entrada da casa, deixando-me sem nenhum adulto por perto pelo fim de semana. A maioria dos adolescentes pegaria o telefone bem nesse momento e postaria um convite para a festa mais imperdível do ano. Mas eu não. Nada disso. Entro em casa e decido assar cookies, pois é a coisa mais rebelde que consigo pensar em fazer.
Adoro assar doces, mas não posso dizer que sou muito boa nisso. Normalmente acabo com mais farinha e chocolate no rosto e no cabelo que no próprio prato. Hoje não foi uma exceção. Já fiz uma fornada de cookies de chocolate, uma de brownies e outra de uma coisa que não sei exatamente o que é. Estou colocando farinha na mistura para preparar um bolo caseiro de chocolate alemão quando a campainha toca.
Tenho certeza de que era para eu saber o que fazer numa situação como essa. Campainhas tocam o tempo inteiro, não é? Mas não aqui em casa. Fico encarando a porta, sem entender o que estou esperando que ela faça. Quando a campainha toca pela segunda vez, deixo o copo de medidas no balcão, afasto o cabelo dos olhos e vou até a porta. Ao abri-la, nem fico surpresa ao ver Jonas. Tudo bem, estou surpresa. Mas não muito.
— Oi — cumprimento. Não consigo pensar em mais nada para dizer. Mesmo se conseguisse pensar em alguma outra coisa, provavelmente não seria capaz porque mal estou respirando, porra!
Ele está no último degrau da entrada, com as mãos nos bolsos da calça jeans. O cabelo continua precisando de um corte, mas, depois que Jonas ergue a mão e o afasta dos olhos, a ideia de ele cortar o cabelo começa a me parecer a pior do mundo.
— Oi.
Ele está sorrindo desajeitadamente, parece nervoso, e tudo é muito atraente. Também está de bom humor. Pelo menos por enquanto. Quem sabe quando ele vai ficar furioso e querer discutir mais uma vez.
— Hum — digo, constrangida.
Sei que o próximo passo é convidá-lo para entrar, mas só se eu realmente quisesse que ele entrasse na minha casa, e, para ser sincera, ainda não me decidi quanto a isso.
— Está ocupada? — pergunta ele.
Olho para a cozinha e para a bagunça impressionante que fiz.
— Mais ou menos. — Não é mentira. Estou meio que incrivelmente ocupada.
Ele desvia o olhar e balança a cabeça. Em seguida, aponta para seu carro mais atrás.
— OK. Acho que... vou embora. — Ele desce do último degrau.
— Não — digo, rápido demais e um decibel em excesso. É quase um não desesperado, e me contorço de vergonha. Por mais que eu não saiba por que ele está aqui ou por que continua se dando o trabalho de vir atrás de mim, minha curiosidade fala mais alto. Dou um passo para o lado e abro mais a porta. — Pode entrar, mas pode ser que precise me ajudar.
Jonas hesita e sobe o degrau novamente. Ele entra, e fecho a porta atrás de nós. Antes que a situação fique mais constrangedora, vou até a cozinha, pego o copo de medidas e volto a cozinhar, como se não houvesse um cara gato e temperamental parado no meio da minha casa.
— Vai fazer doces para vender? — Ele dá a volta na bancada e avista a enorme quantidade de sobremesas no balcão.
— Minha mãe vai passar o fim de semana fora. Ela é contra o consumo de açúcar, então dou uma enlouquecida quando não está aqui.
Ele ri e pega um cookie, mas primeiro olha para mim pedindo permissão.
— Pode se servir — digo. — Mas vou logo avisando: só porque gosto de assar doces não significa que sejam bons. — Peneiro o resto da farinha e coloco na tigela.
— Então fica com a casa inteira para você e passa a noite de sexta cozinhando? Que adolescente mais típica — diz ele, zombando de mim.
— O que posso dizer? — Dou de ombros. — Sou uma rebelde.
Ele se vira, abre um armário, vê o que tem dentro e o fecha em seguida. À esquerda, abre outro armário e pega um copo.
— Tem leite? — pergunta ele indo até a geladeira. Paro de mexer e o observo tirar o leite do gelo e se servir como se estivesse em casa. Ele toma um gole, vira-se, vê que o estou encarando e sorri. — Não devia oferecer cookies sem leite, sabia? É uma péssima anfitriã. — Ele pega mais um cookie, vai com o leite até a bancada e se senta.
— Tento guardar a hospitalidade para as pessoas que foram convidadas — digo sarcasticamente, virando-me para a bancada.
— Essa doeu. — Ele ri.
Ligo o mixer entre a velocidade média e alta, conseguindo uma desculpa para não precisar falar com ele por três minutos. Tento me lembrar da minha própria aparência, sem que fique claro que estou procurando uma superfície refletora. Tenho certeza de que tem farinha por todo o meu corpo. Sei que meu cabelo está preso com um lápis e que estou vestindo a mesma calça de moletom pela quarta noite seguida. Sem lavar. Tento limpar casualmente quaisquer vestígios visíveis de farinha, mas sei que sou uma causa perdida. Bem, pelo menos é impossível eu estar pior do que quando estava deitada no sofá com cascalho grudado na bochecha.
Desligo o mixer e aperto o botão para soltar as lâminas. Levo uma até a boca e a lambo, depois levo a outra para onde ele está sentado.
— Quer? É chocolate alemão.
Ele pega a lâmina da minha mão e sorri.
— Quanta hospitalidade.
— Cale a boca e lamba, ou vou ficar com isso para mim. — Vou até o armário e pego minha própria xícara, mas me sirvo de água. — Quer um pouco d’água ou prefere continuar fingindo que aguenta essa merda vegana?
Ele ri, enruga o nariz e empurra o copo pela bancada até mim.
— Estava tentando ser educado, mas não aguento nem mais um gole, seja lá o que isso for. Sim, água. Por favor.
Rio, lavo seu copo e lhe entrego um com d’água. Eu me sento na cadeira na frente dele e fico observando-o enquanto mordo um pedaço de brownie. Espero que explique por que está aqui, mas isso não acontece. Simplesmente fica sentado na minha frente, me vendo comer. Não pergunto por que ele está aqui porque eu meio que gosto do silêncio entre nós. As coisas funcionam melhor quando calamos a boca, pois todas as nossas conversas costumam acabar numa discussão.
Jonas levanta-se e vai até a sala sem dar maiores explicações. Olha ao redor com curiosidade, as fotos nas paredes chamando sua atenção. Ele se aproxima delas e analisa cada uma devagar. Eu me encosto na cadeira e fico observando ele dar uma de intrometido.
Ele nunca tem pressa com nada, e cada movimento parece ser cheio de segurança. É como se todos os seus pensamentos e ações fossem meticulosamente planejados com dias de antecedência. Consigo imaginá-lo no quarto dele, escrevendo as palavras que planeja usar no dia seguinte, pois é tão seletivo com elas.
— Sua mãe parece ser bem jovem — diz ele.
— Ela é.
— Você não se parece com ela. Se parece com seu pai? — Ele se vira para mim.
Dou de ombros.
— Não sei. Não me lembro da aparência dele.
Ele se vira de volta para as fotos e passa o dedo numa delas.
— Seu pai faleceu? — Ele fala de maneira tão franca que tenho quase certeza de que sabe que meu pai não está morto, caso contrário não teria perguntado desse jeito. Tão sem tato.
— Não sei. Não o vejo desde que tinha 3 anos.
Ele volta para a cozinha e se senta à minha frente.
— É só isso? Não vai me contar nenhuma história?
— Ah, tenho uma história, sim. Só não estou a fim de contá-la. Tenho certeza de que há uma história... só não sei qual é. Dianna não sabe nada sobre minha vida antes que me colocassem para adoção, e nunca tive motivos para tentar descobrir essas coisas. O que são alguns anos esquecidos quando se teve 13 anos maravilhosos?
Ele abre outro sorriso, mas é um sorriso cuidadoso, acompanhado de um olhar confuso.
— Seus cookies estavam bons — diz ele, mudando de assunto habilidosamente. — Não devia falar mal de sua habilidade culinária.
Ouço um bip e pulo da cadeira, correndo até o fogão. Eu o abro, mas o bolo não está nem perto de ficar pronto. Quando me viro, Jonas está segurando meu celular.
— Você recebeu uma mensagem. — Ele ri. — Seu bolo está bem.
Jogo a luva de cozinha por cima do balcão e volto para meu lugar. Ele está vendo as mensagens do meu celular sem nenhum pingo de respeito pela minha privacidade. Mas não me importo nem um pouco, então deixo ele fazer isso.
— Achei que você não podia ter telefone — diz ele. — Ou foi só uma desculpa ridícula para não me dar seu número?
— Eu não posso. Minha melhor amiga me deu isso há alguns dias. Ele não faz nada, só manda e recebe mensagens de texto.
Ele vira a tela para mim.
— Que tipo de mensagens são essas? — Ele vira o telefone e lê uma delas. — “Demi, você é linda. É bem possível que você seja a criatura mais encantadora de todo o universo e se alguma pessoa contestar isso, caio na porrada com ela.” — Ele ergue a sobrancelha e olha para mim, depois para o telefone. — Ai, meu Deus. São todas assim. Por favor não me diga que você manda essas mensagens para si mesma como uma espécie de motivação diária.
Acho graça, estendo o braço por cima da bancada e pego o celular da mão dele.
— Pare. Você está acabando com a graça da brincadeira.
Ele inclina a cabeça para trás e ri.
— Meu Deus, é sério? Foi você mesma que mandou todas essas mensagens?
— Não! — digo na defensiva. — São de Miley. Ela é minha melhor amiga e está do outro lado do mundo com saudades de mim. Não quer que eu fique triste, então me manda mensagens legais todos os dias. Acho meigo.
— Ah, não acha mesmo. Você acha irritante e provavelmente nem lê.
Como ele sabe disso?
Deixo o telefone na bancada e cruzo os braços.
— A intenção é boa — digo, ainda sem admitir que as mensagens estão me irritando para caramba.
— Elas vão arruinar você. Essas mensagens vão inflar tanto seu ego que você vai acabar explodindo. — Ele pega meu celular e tira o dele do bolso. Mexe nas telas dos dois e aperta alguns números no telefone dele. — Precisamos corrigir essa situação antes que você comece a ter ilusões de grandeza. — Ele me devolve o meu e digita alguma coisa no próprio celular, guardando-o no bolso em seguida.
Meu telefone toca, indicando uma mensagem nova. Olho para a tela e rio.

Seus cookies são péssimos. E você não é tão bonita assim.

— Melhorou? — diz ele, brincando. — O ego desinflou o bastante?
Eu rio, deixo o celular na bancada e me levanto. — Você sabe mesmo dizer o que uma garota quer ouvir. — Vou até a sala e me viro para ele. — Quer conhecer o resto da casa?
Jonas se levanta e me segue enquanto conto fatos entediantes e mostro bugigangas, cômodos e fotos, mas é claro que está assimilando tudo com lentidão, sem pressa em momento algum. Ele precisa parar e analisar cada detalhezinho, sem fazer comentário algum.
Finalmente chegamos no meu quarto, e abro a porta.
— Meu quarto — digo, fazendo minha pose de Vanna White. — Pode entrar e dar uma olhada, mas, como não tem ninguém de 18 anos ou mais na casa, fique longe da cama. Não posso engravidar esse fim de semana.
Ele para enquanto passa pela porta e inclina a cabeça na minha direção.
— Só nesse fim de semana? Está planejando engravidar no próximo, é?
Entro no meu quarto depois dele.
— Que nada. Provavelmente vou esperar mais algumas semanas.
Ele inspeciona o quarto, virando-se devagar até ficar de frente para mim.
— Eu tenho 18 anos.
Inclino a cabeça para o lado, sem entender por que ele quis ressaltar esse fato aleatório.
— Que legal?
Ele lança um olhar para a cama e depois para mim.
— Você disse que eu precisava ficar longe de sua cama porque não tinha 18 anos. Só estou confirmando que tenho 18 anos.
Não gosto da maneira como meus pulmões se comprimiram quando ele olhou para minha cama.
— Ah. Bem, na verdade eu quis dizer 19.
Ele vira-se e anda devagar até a janela aberta. Depois se abaixa e põe a cabeça para fora, trazendo-a em seguida de volta para dentro do quarto.
— Então essa é a famosa janela, hein?
Ele não olha para mim, o que provavelmente é algo bom, pois, se olhares matassem, ele estaria morto. Por que diabos tinha de dizer uma coisa dessas? Estava até gostando da sua companhia dessa vez. Ele se vira para mim, e vejo que a expressão brincalhona desapareceu, sendo substituída por outra desafiadora, que já vi vezes demais.
Suspiro.
— O que você quer, Jonas? — Ou ele explica por que está aqui ou então vai ter de ir embora. Ele cruza os braços por cima do peito e estreita os olhos para mim.
— Eu disse algo de errado, Demi? Ou alguma mentira? Talvez algo infundado? — Pelos comentários provocadores está na cara que ele sabia o que estava insinuando ao mencionar a janela. Não estou a fim de participar de seus joguinhos; tenho bolos para assar. E comer.
Vou até a porta e a seguro.
— Você sabe exatamente o que disse e conseguiu a reação que queria. Está contente? Agora pode ir embora.
Mas ele não vai. Abaixa os braços, vira-se e vai até a mesinha de cabeceira. Pega o livro que Nick me deu e o analisa como se os últimos trinta segundos nunca tivessem acontecido.
— Jonas, estou pedindo com o máximo de educação possível. Por favor, vá embora.
Ele põe o livro no lugar com delicadeza e, em seguida, deita-se na minha cama. Literalmente se deita na minha cama. Jonas está na minha maldita cama.
Reviro os olhos, vou até ele e puxo suas pernas para fora da cama. Se for preciso removê-lo fisicamente de casa, farei isso. Quando seguro seus punhos e os levanto, ele me puxa num movimento rápido demais para que minha mente compreenda o que está acontecendo. Ele me vira, me fazendo ficar deitada, e prende meus braços no colchão. Foi tudo tão inesperado que nem tive tempo de me debater. E, ao erguer o olhar para ele agora, percebo que metade de mim não quer se debater. Não sei se devo gritar por ajuda ou arrancar minhas roupas.
Ele solta meus braços e leva uma das mãos até meu rosto. Depois passa o dedo pelo meu nariz e ri.
— Farinha — diz ele, limpando. — Estava me incomodando.
Ele se senta encostado na cabeceira e põe os pés na cama novamente. Ainda estou deitada no colchão, encarando as estrelas do teto. Pela primeira vez, sinto alguma coisa enquanto as observo, em vez de um nada.
Não posso nem me mexer porque tenho um pouco de medo de que ele seja louco. Estou querendo dizer literal e clinicamente insano. É a única explicação lógica para sua personalidade. E o fato de que continuo achando-o tão atraente só pode significar uma coisa: também sou insana.
— Não sabia que era gay.
Isso mesmo, ele é louco.
Eu me viro para ele, mas não digo nada. O que se deve dizer afinal para um maluco que literalmente se recusa a ir embora de sua casa e depois começa a falar besteiras aleatórias?
— Bati nele porque ele era um babaca. Não fazia ideia de que era gay.
Ele está apoiando os cotovelos nos joelhos e olhando fixo para mim, esperando uma reação minha. Ou uma resposta. Mas não vai obter nada disso por alguns segundos, pois preciso de tempo para assimilar o que ele disse.
Olho para as estrelas outra vez, ganhando tempo para analisar a situação. Se ele não é louco, então com certeza está tentando provar alguma coisa. Mas o quê? Ele vem até minha casa, sem ser convidado, para defender a própria reputação e insultar a minha? Por que ele perderia tempo com isso? Sou só uma pessoa, por que minha opinião importa?
A não ser, é claro, que goste de mim. Esse pensamento literalmente me faz sorrir, e eu me sinto indecente e errada por querer que um lunático goste de mim. Mas isso já era previsto. Jamais devia ter deixado ele entrar aqui em casa estando sozinha. E agora ele sabe que vou passar o fim de semana inteiro assim. Se eu tivesse de pesar as decisões dessa noite, é provável que isso pendesse tanto para o lado das coisas erradas que a balança quebraria. Imagino que isso pode terminar de duas maneiras distintas. Ou vamos chegar a um acordo mútuo a respeito um do outro, ou ele vai me matar e cortar meu corpo em pedacinhos, e colocá-los para assar com os cookies. Seja como for, fico triste por toda a sobremesa que não está sendo comida agora.
— Bolo! — grito, pulando da cama.
Corro até a cozinha bem na hora de sentir o cheiro do meu último desastre. Pego a luva de cozinha, tiro o bolo do forno e o deixo no balcão, desapontada. Não está tão queimado assim. Provavelmente consigo salvá-lo se eu o afogar em calda.
Fecho o forno e decido que vou começar um hobby novo. Talvez possa fazer bijuterias. Não deve ser muito difícil. Pego mais dois cookies, volto para meu quarto e entrego um deles a Jonas. Em seguida, me deito ao seu lado.
— Acho que chamar você de babaca que bate em gays foi precipitado de minha parte então, não é? Você não é um homofóbico preconceituoso que passou o último ano na cadeia, é?
Ele sorri, aproxima-se de mim na cama e olha para as estrelas.
— Não. De jeito algum. Passei o último ano inteiro morando com meu pai em Austin. Não sei nem de onde tiraram essa história de que fui preso.
— Por que não se defende dos boatos se eles não são verdadeiros?
Ele vira a cabeça para mim em cima do travesseiro.
— Por que você não faz isso?
Aperto os lábios e balanço a cabeça.
— Touché.
Nós dois ficamos sentados em silêncio na cama, comendo os cookies. Algumas das coisas que ele disse nos últimos dias estão passando a fazer sentido, e começo a me sentir cada vez mais como as pessoas que desprezo. Ele me disse diretamente que responderia a qualquer coisa que eu perguntasse, e, mesmo assim, preferi acreditar nos boatos. Não é de surpreender que estivesse tão irritado comigo. Eu o estava tratando da mesma maneira como todo mundo me trata.
— E seu comentário mais cedo sobre a janela? — digo. — Estava apenas querendo provar essa questão dos boatos? Não estava tentando ser malvado?
— Não sou malvado, Demi.
— Você é intenso. Disso eu sei.
— Posso ser intenso, mas malvado, não.
— Bem, e eu não sou uma puta.
— Não sou um babaca que bate em gays.
— Então agora tudo ficou claro?
Ele ri.
— É, acho que sim.
Inspiro fundo e depois expiro, me preparando para fazer algo que não faço com muita frequência. Pedir desculpas. Se não fosse tão teimosa, até admitiria que nessa semana exagerei no meu julgamento, de uma maneira completamente vergonhosa, e ele estava com toda a razão do mundo de sentir raiva de mim por ter sido tão ignorante. Mas em vez disso, meu pedido de desculpas é breve e meigo.
— Desculpe-me, Jonas — digo baixinho.
Ele suspira pesado.
— Eu sei, Demi. Eu sei.
E assim ficamos sentados em silêncio pelo que parece uma eternidade, mas também não parece tempo suficiente. Está ficando tarde, e estou com medo de que ele diga que precisa ir embora por não termos mais nada a dizer, mas não quero que vá. Estar aqui com ele agora me parece certo. Não sei por quê, simplesmente parece.
— Preciso perguntar uma coisa — diz ele, finalmente interrompendo o silêncio.
Não respondo, porque não parece que ele está esperando por isso. Está apenas aproveitando um de seus momentos para preparar o que quer que queira me perguntar. Ele inspira e rola para o lado, ficando de frente para mim. Então apoia a cabeça no cotovelo, e sinto que está olhando para mim, mas continuo encarando as estrelas. Jonas está perto demais para que eu olhe para ele agora, e, a propósito, meu coração já está disparado no peito; tenho medo de que, se eu me aproximar mais, possa acabar morrendo. Não me parece possível que a luxúria seja capaz de fazer um coração bater tanto assim. É pior que correr.
— Por que deixou Zac fazer aquilo com você no estacionamento?
Quero ir para debaixo das cobertas e me esconder. Tinha esperança de que não tocasse nesse assunto.
— Já disse. Ele não é meu namorado e não foi ele que me deixou com o olho roxo.
— Não estou perguntando por causa de nada disso. Estou perguntando porque vi como você reagiu. Estava irritada com ele. Até parecia um pouco entediada. Só queria saber por que deixa ele fazer essas coisas se está na cara que não quer que ele encoste em você.
Suas palavras me deixam confusa e, de repente, me sinto claustrofóbica e suada. Não fico à vontade falando sobre isso. Ele me interpretar tão bem me deixa inquieta, mas não sou capaz de captar nada a seu respeito.
— Minha falta de interesse era tão óbvia assim?
— pergunto.
— Sim. E a 50 metros de distância. Só me surpreende ele não ter se ligado.
Eu me viro para ele sem pensar e apoio a cabeça no braço.
— É mesmo, não é? Eu o rejeitei tantas vezes, mas ele simplesmente não para. É muito ridículo. E nada atraente.
— Então por que deixa ele fazer isso? — pergunta ele, me olhando atento. Estamos numa posição comprometedora agora, um de frente para o outro na mesma cama. A maneira como está me encarando e direcionando o olhar para meus lábios me faz deitar de costas. Não sei se ele está sentindo isso também, mas faz o mesmo.
— É complicado.
— Não precisa explicar — diz ele. — Só estava curioso. Mas não é da minha conta.
Coloco as mãos atrás da cabeça e olho para as estrelas que contei incontáveis vezes. Estou na cama com Jonas há mais tempo que já estive com qualquer outro garoto, e percebo que em momento algum tive vontade de contar uma estrela sequer.
— Você já teve algum namoro sério?
— Já — responde ele. — Mas espero que não queira perguntar mais sobre isso, pois não toco nesse assunto.
Balanço a cabeça.
— Não é por isso que estou perguntando. — Paro por alguns segundos, querendo usar as palavras certas. — Quando você a beijava, o que sentia?
Ele faz uma breve pausa, provavelmente achando que é alguma pegadinha.
— Quer uma resposta sincera, não é? — pergunta ele.
— É tudo o que sempre vou querer.
Vejo-o sorrir pelo canto dos olhos.
— Tudo bem. Acho que me sentia... com tesão.
Tento parecer indiferente por ter ouvido aquelas duas últimas palavras saírem de sua boca, mas... caramba. Cruzo as pernas, esperando que isso minimize as ondas de calor que atravessam meu corpo.
— Então você sente frio na barriga, as palmas das mãos suadas, o coração acelerado e todas essas coisas?
Ele dá de ombros.
— Sinto. Não com todas as garotas com quem já fiquei, mas com a maioria.
Inclino a cabeça na sua direção, tentando não analisar a maneira como pronunciou a frase. Ele vira a cabeça para mim e sorri.
— Não foram tantas assim. — Ele sorri, e sua covinha é ainda mais charmosa de perto. Por um instante, me perco nela. — Onde quer chegar com isso?
Encontro seu olhar por um breve instante e viro o rosto para o teto mais uma vez.
— Estou querendo dizer que não sinto nada disso. Quando fico com garotos, não sinto absolutamente nada. Apenas apatia. Então, às vezes, deixo Zac fazer essas coisas comigo não porque curto, mas porque gosto de não sentir absolutamente nada. — Ele não responde, e seu silêncio me deixa constrangida. Não posso deixar de pensar que deve estar me achando louca. — Sei que não faz sentido, e, não, não sou lésbica. É só que nunca me senti atraída por ninguém antes de você, e não sei explicar isso.
Assim que digo isso, ele vira a cabeça na minha direção no mesmo segundo em que aperto os olhos e tapo o rosto com o braço. Não acredito que acabei de admitir, em voz alta, que me sinto atraída por ele. Eu toparia morrer bem agora e mesmo assim já seria tarde demais.
Sinto a cama se mover, e ele segura meu pulso, tirando meu braço de cima dos olhos. Relutante, abro os olhos e vejo que ele está apoiado na mão, sorrindo para mim.
— Você se sente atraída por mim?
— Ai, meu Deus — digo, gemendo. — Essa é a última coisa que seu ego precisa ouvir.
— É verdade. — Ele ri. — É melhor me insultar logo, antes que meu ego fique tão grande quanto o seu.
— Está precisando cortar o cabelo — digo depressa. — Urgentemente. Ele fica caindo nos olhos, e você os aperta e também fica afastando a franja deles, como se fosse o Justin Bieber. Isso distrai muito a pessoa.
Ele passa a mão no cabelo e franze a testa, em seguida cai de volta na cama.
— Caramba. Isso me magoou mesmo. E, pelo visto, você está com isso na cabeça há um tempo.
— Só desde segunda — admito.
— Você me conheceu na segunda. Então tecnicamente tem pensado no quanto odeia meu cabelo desde que nos conhecemos?
— Não o tempo inteiro.
Ele fica quieto por um instante e depois abre um sorriso.
— Não acredito que você me acha atraente.
— Cale a boca.
— Você provavelmente fingiu que desmaiou naquele dia só para ser carregada nos meus lindos braços másculos e suados.
— Cale a boca.
— Aposto que fica fantasiando comigo durante a noite, bem aqui nesta cama.
— Cale a boca, Jonas.
— Você já deve até...
Estendo o braço e tapo sua boca com a mão.
— Você é bem mais atraente quando não está falando.
Quando ele finalmente cala a boca, tiro a mão e a coloco atrás da cabeça mais uma vez. Ficamos de novo um tempo sem falar. Ele deve estar se gabando em silêncio do fato de eu ter admitido que me sinto atraída por ele enquanto fico me remoendo em silêncio por tê-lo deixado saber disso.
— Estou entediado — diz ele.
— Então vá para casa.
— Não quero. O que você faz quando fica entediada? Aqui não tem internet nem televisão.
Passa o dia inteiro pensando no quanto sou gostoso?
Reviro os olhos.
— Eu leio — digo. — Muito. Às vezes cozinho.
Outras vezes corro.
— Ler, cozinhar e correr. E fantasiar comigo.
Que vida empolgante.
— Gosto dela.
— Eu também meio que gosto dela — diz ele, rolando para o lado para pegar o livro na mesinha de cabeceira. — Tome, leia isso.
Pego o livro de suas mãos e abro onde está marcado, na página dois. Até onde li.
— Quer que eu leia em voz alta? Está tão entediado assim?
— Entediado para caramba.
— É um romance — aviso.
— Já disse. Estou entediado para caramba. Leia.
Levanto o travesseiro, apoiando-o na cabeceira para ficar mais confortável, e começo a ler.
Pela manhã, se alguém tivesse me dito que eu leria um romance para Joseph Jonas à noite, eu o chamaria de louco. Mas, pensando bem, quem sou eu para chamar alguém de louco.
Quando abro os olhos, imediatamente deslizo a mão até o outro lado da cama, mas está vazio. Eu me sento e olho ao redor. A luz está apagada, e eu, coberta. O livro repousa, fechado, sobre a cabeceira, então o pego. O marcador está quase em três quartos do livro.
Li até pegar no sono? Ah, não, peguei no sono. Tiro as cobertas de cima de mim e vou até a cozinha. Acendo a luz e olho ao redor, chocada. A cozinha inteira parece impecável, e todos os cookies e brownies estão embrulhados em papel filme. Localizo meu telefone no balcão e vejo uma nova mensagem ao pegá-lo.

Você pegou no sono bem na hora em que ela estava quase descobrindo o segredo da mãe. Como se atreve a fazer isso? Volto amanhã à noite para você terminar de ler para mim. E, a propósito, seu hálito é péssimo, e você ronca alto demais.

Acho graça. Também estou sorrindo como uma idiota, mas por sorte ninguém está por perto para testemunhar a cena. Olho para o relógio no fogão e vejo que são duas e pouco da manhã, então volto para o quarto e me deito, esperando que ele realmente apareça à noite. Não sei como esse caso perdido conseguiu entrar na minha vida de forma tão astuta nessa semana, mas tenho certeza de que não quero que ele saia dela.

*****

Oi gente, tudo bem?
Quem assistiu a luta ontem?
Eu levei tiro de todo lado, a volta do Spider, as reações da Demi, essa baixinha ajksnaois
Desculpa não postar ontem, não entrei aqui.
Respostas aqui.
Se tiver visualizações e comentários, posto hoje pra compensar, ok?
Amo vcs, bjs

25 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Eu amei o capítulo
    Pelo amor de Deus, como você para logo aí?!!!!
    Eu amei tudinho
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    Beijos e eu amo você

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  3. Ah eu amei esse capítulo!! <3
    Fique louca na parte em que o Joe puxa a Demi fazendo ela cair na cama com ele, parecia que ele ia beijar ela, mas eu já sabia que isso não aconteceria.
    E o final do capítulo foi perfeito, realmente amei esse capítulo. Foi perfeito do início ao fim.
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    Beijos.

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    1. Que bom, Vi <3
      Pois é, esse beijo que não sai, como lidar? kansoais
      Fico feliz que tenha amado sz
      Posto sim, beijos

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  4. Eu sabia que ele não era homofóbico!!!!
    Socorro, esse capítulo foi tão amorzinho heuheuehe.
    Joseph entende tudo perfeitamente bem, quase morri na hora que ela confessou que tem atração por ele hskakshaksksk Tomara que ele vá na casa dela todos os dias.
    Será que tem beijo a vista? Preciso de um porque esses dois são muito intensos, não vejo a hora dos dois estarem juntos para esfregarem na cara de toda aquela população medíocre da escola deles.
    Continua, beijos :*

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    1. Graças a Deus ele não é O/
      Sim, foi um amor, foi fofo e engraçado aosijaisj
      Pois é, Jemi junto é minha morte, aosjaoisj, mas o beijo... hm, vamos ver né ahsaaiojs
      Continuo, beijos

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  5. Amei amei ! O Joe foi tão intenso e fofo ao mesmo tempo <3
    Posta mais logo Giiiii

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  6. Caralho, eu li esse capítulo com um sorriso no rosto... Serio isso ? Kkkkkkkkkkk
    Eu To adorando que eles estão se conhecendo de verdade agr , e o Joe vai voltar de novo a noite <3

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  7. Wowwww agr sim a coisa Ta ficando intensa kkkkkkkkk o Joe vai voltar de novo em ? Só pra conversar ? Ahammm kkkkkkk
    Posta logo , To curiosissima!

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  8. você brincou com os meus sentimentos nesse capitulo. posta! posta! posta!

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  9. Amei o capitulo todo dedicado a Demi e Joe <3
    posta mais

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  10. Eu amei Gi! To cada vez mais apaixonada pela história, to louca p saber cmo vai ser a próxima noite, hmhm ♥
    Posta logo!
    Beijos!

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    1. Awn, que amore Bru <3
      A próxima noite.... hmmm, asnoais ♥
      Posto sz
      Beijos.

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  11. "Seus cookies são péssimos. E você não é tão bonita assim." ai Jesus, socorro!
    mil desculpas por não aparecer aqui antes, mas estava tão ocupada e quando vi já tinha um monte de capítulos para mim ler. agora, preciso dizer... Q ESTOU AMANDO! <3
    esse capítulo foi meu fim! e concordo com a coleguinha ali em cima, tão intenso e ao mesmo tão fofo.
    posta logo, viu? beijos.

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    1. Imagina, não tem pelo que se desculpar <3
      Que bommmm, Jéssie ♥
      To feliz por você estar acompanhando e gostando.
      Posto sim, beijos.
      sz

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  12. PELO AMOR DE DEUUUUUUUUSSSS COMO ELA DIZ PRA ELE QUE TEM ATRAÇÃO POR ELE ELEE NÃO FAZ NADA NEEM QUANDO ELA FALA QUE NUNCA SENTIU NADA PRA NINGUÉM??? Socooooooorrro você TEM que postar looooogo!

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    1. Ele é do tipo "come quieto", não faz nada de início, mas quando fizer, alguém me abana pfvr aojsajsasn
      Posto, amor.
      Beijos

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