5.2.15

Capítulo Nove




Segunda-feira, 3 de setembro de 2012
07h20

Não a pego com muita frequência, mas por alguma razão quero olhá-la hoje. Acho que falar sobre o passado com Jonas, no sábado, me deixou um pouco nostálgica. Sei que disse a ele que jamais procuraria meu pai, mas, às vezes, ainda sinto certa curiosidade. Não consigo deixar de pensar em como um pai pode criar a filha por vários anos e depois, simplesmente, dar a criança. Nunca vou entender e talvez não precise fazer isso. É por isso que nunca forço nada. Nunca faço perguntas a Dianna. Nunca tento separar as lembranças dos sonhos e não gosto de tocar no assunto... porque, afinal, não preciso falar dele.
Tiro a pulseira da caixa e a coloco no pulso. Não sei quem me deu isso, e não me importo. Tenho certeza de que ganhei muitas coisas dos meus amigos nos dois anos que vivi com uma família de acolhimento. Mas o que esse presente tem de diferente é que está relacionado com minha única lembrança daquela vida. A pulseira torna a lembrança algo verdadeiro. E saber que ela é verdadeira valida o fato de que eu era outra pessoa antes de ser eu mesma. Uma garota totalmente diferente de quem sou hoje.
Um dia vou jogar fora a pulseira porque é necessário. Mas hoje estou a fim de usá-la.
Ontem Jonas e eu decidimos dar uma respirada um do outro. E digo uma respirada porque, depois da noite de sábado, ficamos um bom tempo na minha cama sem respirar. Além disso, Dianna vai voltar para casa e a última coisa que quero é apresentá-la novamente ao meu novo... seja lá o que ele for. Não chegamos a definir o que está acontecendo entre nós.
Parece que não o conheço há tempo suficiente para chamá-lo de namorado, considerando que nem nos beijamos ainda. Mas, caramba, como fico furiosa ao pensar em seus lábios beijando outra pessoa. Então, independente de estarmos saindo ou não, declaro que estamos namorando. É possível namorar sem nem beijar primeiro? E sair com a pessoa e namorar são coisas mutuamente exclusivas?
Às vezes rio em voz alta de minhas próprias bobagens. Ou seja, lol.
Quando acordei ontem de manhã, tinha recebido duas mensagens. Estou mesmo gostando dessa história de mensagens. Fico toda contente quando recebo uma e não consigo imaginar o quanto viciante devem ser os e-mails, o Facebook e todas as outras coisas relacionadas à tecnologia. Uma das mensagens era de Miley, falando sem parar sobre minhas impecáveis habilidades culinárias e, depois, dando instruções rigorosas para eu ligar da casa dela no domingo à noite a fim de atualizá-la a respeito de tudo. Foi o que fiz. Conversamos por uma hora, e ela ficou tão chocada quanto eu por Jonas não ser mesmo como esperávamos que fosse. Perguntei sobre Lorenzo, e ela nem sabia sobre quem estava me referindo, então ri e mudei de assunto. Sinto sua falta e odeio o fato de ela estar longe agora, mas como está se divertindo por lá, fico feliz.
A segunda mensagem que recebi foi de Jonas. Tudo que dizia era: A última coisa que quero é vê-la no colégio na segunda. Última mesmo.
Correr costumava ser a melhor parte do meu dia, mas agora é receber as mensagens com insultos de Jonas. E, por falar em correr e em Jonas, não vamos mais fazer isso. Pelo menos juntos, não. Depois de trocarmos várias mensagens, decidimos que, provavelmente, é melhor se não corrermos juntos todos os dias, porque talvez seja cedo demais para tanta intensidade. Disse a ele que não queria nada estranho entre nós. Além disso, fico bem constrangida quando estou suada, arfando, com o nariz escorrendo e fedendo, então prefiro correr sozinha.
Agora estou encarando meu armário, numa espécie de transe, meio que enrolando porque não quero ir à aula. É a primeira aula, a única que tenho em comum com Jonas, então estou bem nervosa para saber o que vai acontecer. Tiro o livro de Nick, e os outros dois livros que trouxe para ele, da mochila e guardo o resto das coisas no armário. Entro na sala e vou para meu lugar, mas Nick não chegou ainda, nem Jonas. Eu me sento e fico olhando para o chão, sem saber por que estou tão nervosa. É só que é tão diferente vê-lo aqui e não em casa. O colégio público é... público demais.
A porta se abre e Jonas entra, e, logo atrás, vem Nick. Os dois começam a vir para o fundo da sala. Jonas sorri para mim, andando por um corredor. Nick também sorri para mim, vindo pelo outro corredor, segurando dois copos de café. Jonas chega à carteira ao meu lado e começa a colocar ali a mochila na mesma hora em que Nick a alcança e começa a pousar os cafés em cima dela.
Olham um para o outro e, depois, olham para mim.
Que constrangedor.
Faço a única coisa que sei fazer em situações constrangedoras — encho-as de sarcasmo.
— Parece que temos um grande dilema aqui, meninos. — Sorrio para os dois e olho para o café nas mãos de Nick. — Estou vendo que o mórmon trouxe sua oferenda de café para a rainha. Muito impressionante. — Olho para Jonas e ergo a sobrancelha. — Você vai mostrar sua oferenda, garoto-caso-perdido, para que eu possa decidir quem irá me acompanhar no trono da sala de aula hoje?
Nick olha para mim como se eu tivesse enlouquecido. Jonas ri e tira a mochila da carteira.
— Pelo jeito alguém está precisando de uma mensagem para diminuir esse ego aí. — Ele leva a mochila para a carteira vazia na frente de Nick e se senta.
Nick ainda está parado, segurando os dois cafés com um olhar incrivelmente confuso no rosto.
Estendo o braço e pego os copos.
— Parabéns, cavalheiro. Hoje você é o escolhido da rainha. Pode se sentar. O fim de semana foi bem movimentado.
Nick começa a se sentar, coloca o café na carteira e tira a mochila do ombro, olhando-me de forma suspeita o tempo inteiro. Jonas está sentado de lado, me encarando. Faço um gesto na direção de Jonas.
— Nick, esse é Jonas. Jonas não é meu namorado, mas, se eu o encontrar tentando quebrar o recorde de melhor primeiro beijo com outra garota, logo vai virar meu não-namorado morto.
Jonas ergue a sobrancelha, e um sutil sorriso aparece no canto de sua boca.
— Igualmente. — Suas covinhas estão me provocando, e tenho de me obrigar a olhar direto para seus olhos, caso contrário seria forçada a fazer algo que me faria ser suspensa.
Faço um gesto para Nick.
— Jonas, esse é Nick. Nick é meu novo melhor amigo de todos no mundo inteiro.
Nick lança um olhar para Jonas, que sorri de volta e estende a mão. Nick aperta a mão de Jonas relutantemente, a afasta e se vira para mim, estreitando os olhos.
— O seu não-namorado sabe que sou mórmon?
Faço que sim com a cabeça.
— Na verdade, Jonas não tem nenhum problema com mórmons. Só com babacas.
Nick ri e se vira para Jonas.
— Bem, nesse caso, bem-vindo à Aliança.
Jonas dá um meio sorriso para ele, mas fica encarando o café na carteira de Nick.
— Achava que mórmons não podiam tomar cafeína.
Nick dá de ombros.
— Decidi desobedecer essa regra na manhã em que acordei gay.
Jonas ri, e Nick abre um sorriso, e tudo está bem no mundo. Ou pelo menos no mundo da primeira aula. Eu me encosto na cadeira e sorrio. Isso não vai ser nada difícil. Na verdade, acho que estou começando a adorar o colégio.
Jonas me acompanha até o armário depois da aula. Não dizemos nada. Pego uns livros e deixo outros enquanto ele arranca mais insultos da porta. Havia apenas dois post-its depois da aula, o que me entristece um pouco. Estão desistindo tão facilmente, e é apenas a segunda semana de aula.
Ele esmaga os papéis e dá um peteleco neles. Fecho o armário e me viro para ele. Nós dois estamos encostados nos armários, de frente um para o outro.
— Você cortou o cabelo — digo, percebendo pela primeira vez.
Ele passa a mão pelos fios e sorri.
— Pois é. Uma garota aí não parava de reclamar dele. Estava ficando bem irritante.
— Eu gostei.
Ele sorri.
— Que bom.
Pressiono os lábios e fico me balançando para a frente e para trás nos calcanhares. Ele está sorrindo para mim com uma aparência encantadora. Se não estivéssemos num corredor com várias outras pessoas agora, agarraria sua camisa e o puxaria para perto de mim para poder demonstrar o quanto o estou achando encantador. Em vez disso, afasto essas imagens da cabeça e sorrio.
— Acho que temos de ir para a aula.
Ele balança a cabeça devagar.
— Pois é — diz ele, sem ir embora.
Ficamos parados por mais uns trinta segundos até que dou uma risada, desencosto do armário e começo a me afastar. Ele agarra meu braço e me puxa para trás tão depressa que me faz suspirar. Antes que perceba, estou colada ao armário, e ele está na minha frente, bloqueando-me com os braços. Ele lança um sorriso diabólico para mim e inclina meu rosto na direção do dele. Jonas leva a mão direita até minha bochecha e a desliza por debaixo do meu queixo, me envolvendo o rosto. Delicadamente, acaricia meus lábios com o dedo, e preciso lembrar mais uma vez que estamos em público e que não posso agir com base em meus impulsos. Pressiono o corpo nos armários, tentando emprestar alguma solidez para compensar a falta de suporte de meus joelhos.
— Queria ter beijado você no sábado à noite — diz ele, baixando o olhar até meus lábios, o polegar ainda os acariciando. — Não consigo parar de pensar em como deve ser seu gosto. — Ele pressiona o polegar com firmeza no centro de meus lábios e depois, por um breve instante, encosta a boca na minha sem tirar o dedo da frente. Seus lábios somem, e o polegar some, e tudo acontece tão rápido que só percebo que ele sumiu quando o corredor para de girar e consigo endireitar a postura.
Não sei quanto tempo mais vou aguentar essa história. Eu me lembro da minha explicação nervosa no sábado, quando queria que ele simplesmente resolvesse logo o assunto e me beijasse na cozinha. E não fazia a menor ideia do que me aguardava.
— Como?
É apenas uma palavra, mas, assim que coloco a bandeja na frente de Nick, sei exatamente tudo que engloba. Rio e decido vomitar todos os detalhes antes que Jonas apareça na nossa mesa. Se ele aparecer na nossa mesa. Além de não discutirmos a definição do nosso relacionamento, também não discutimos onde vamos sentar na hora do almoço.
— Ele apareceu na minha casa na sexta, e, depois de vários mal-entendidos, acabamos concordando que tínhamos uma visão distorcida um do outro. Então assamos uns doces, li indecências para ele, que depois foi para casa. Voltou no sábado à noite e cozinhou para mim. Então fomos para meu quarto e...
Paro de falar quando Jonas se senta ao meu lado.
— Pode continuar — diz Jonas. — Adoraria ouvir o que fizemos em seguida.
Reviro os olhos e volto a me virar para Nick.
— Em seguida, quebramos o recorde de melhor primeiro beijo da história dos primeiros beijos sem nem nos beijarmos.
Nick concorda com a cabeça de forma cuidadosa, ainda me observando com olhos cheios de ceticismo. Ou curiosidade.
— Impressionante.
— Foi um fim de semana insuportavelmente entediante — diz Jonas para Nick.
Eu rio, mas Nick olha para mim como se eu tivesse enlouquecido mais uma vez.
— Jonas adora o tédio — asseguro-lhe. — O comentário foi algo positivo.
Nick fica olhando para nós dois, balança a cabeça e se inclina para a frente, pegando o garfo.
— Poucas coisas me deixam confuso — diz ele, apontando o talher para nós. — Vocês dois são uma dessas coisas.
Balanço a cabeça, concordando totalmente.
Continuamos almoçando e nós três interagimos de uma maneira bastante normal e educada. Jonas e Nick começam a falar sobre o livro que ele me emprestou, e só o fato de Jonas estar discutindo um romance já é divertido, mas estar conversando sobre o enredo com Nick é nauseantemente encantador. De vez em quando, ele põe a mão na minha perna, massageia minhas costas ou beija minha têmpora, e faz essas coisas como por instinto, mas percebo cada uma delas.
Estou tentando processar a mudança da semana passada para a atual e não consigo deixar de lado a impressão de que talvez o que nós temos seja bom demais. O que quer que seja, o que quer que a gente esteja fazendo, parece bom demais, certo demais e perfeito demais, e assim fico pensando em todos os livros que li e em como, quando as coisas ficam boas demais, certas demais e perfeitas demais, é só porque alguma reviravolta horrorosa ainda não se
infiltrou na situação maravilhosa e, de repente...
— Demi — diz Jonas, estalando os dedos na minha frente. Olho para ele, que está me observando cuidadosamente. — Onde você estava?
Balanço a cabeça e sorrio, sem saber o que foi que iniciou meu miniataque interno de pânico. Ele desliza a mão até embaixo da minha orelha e passa o polegar na maçã de meu rosto.
— Precisa parar de ficar viajando assim. Isso me deixa um pouco assustado.
— Desculpe-me — digo, dando de ombros. — É que me distraio fácil. — Ergo a mão e afasto a dele do meu pescoço, apertando seus dedos para tranquilizá-lo. — É sério, estou bem.
Ele olha para minha mão, torce-a e puxa minha manga. Depois fica virando meu pulso para cima e para baixo.
— Onde arranjou isso? — diz ele, olhando para meu pulso.
Olho para baixo para ver do que ele está falando, e percebo que ainda estou com a pulseira que coloquei de manhã. Ele olha para mim, e dou de ombros. Não estou muito a fim de explicar. É complicado, ele vai querer fazer perguntas, e o almoço está quase acabando.
— Onde arranjou isso? — repete ele, dessa vez de um jeito um pouco mais autoritário. Aperta meu pulso com mais força e fica me olhando friamente, esperando uma explicação. Afasto o braço, sem gostar do rumo que a conversa está tomando.
— Acha que foi um garoto que me deu? — pergunto, confusa com sua reação. Não achei que fizesse o tipo ciumento, mas isso não me parece ciúmes. E sim insanidade.
Ele não me responde. Continua me fulminando com o olhar como se eu tivesse uma grande confissão a fazer, e não quisesse. Não sei o que ele está esperando, mas o mais provável é que seu comportamento acabe me fazendo dar-lhe um tapa em vez de uma explicação.
Nick muda de posição no banco, constrangido, e limpa a garganta.
— Jonas. Calma aí, cara.
A expressão de Jonas não muda. Pelo contrário, se torna ainda mais fria. Ele se inclina para a frente alguns centímetros e abaixa o tom de voz ao falar.
— Quem lhe deu essa maldita pulseira, Demi?
As palavras dele se transformam num peso insuportável em cima do meu peito, e os mesmos sinais de alerta que apitaram na minha cabeça assim que o conheci começam a apitar outra vez, só que agora estão bem mais barulhentos. Fico boquiaberta, de olhos arregalados, mas me sinto aliviada por saber que a esperança não é algo concreto, pois senão todos ao meu redor veriam a minha se despedaçando.
Ele fecha os olhos e se vira para a frente, colocando os cotovelos na mesa. Pressiona as palmas na testa e respira fundo. Não sei se inspirou para se acalmar ou para se distrair e não gritar comigo. Ele passa a mão no cabelo e segura a nuca.
— Merda! — diz ele. Sua voz é rude, e me faz vacilar.
Ele se levanta e vai embora inesperadamente, deixando a bandeja na mesa. Meus olhos o acompanham pelo refeitório, e ele não se vira nenhuma vez. Espalma as portas do refeitório com ambas as mãos e desaparece. Não pisco nem respiro, até que as portas param de balançar e de se mexer.
Eu me volto para Nick e só consigo imaginar a expressão de choque em meu rosto. Fico piscando, balançando a cabeça e relembrando os últimos dois minutos na minha cabeça. Nick estende o braço por cima da mesa e segura minha mão sem dizer nada. Não há nada a ser dito. Ficamos sem palavras no instante em que Jonas desapareceu por aquelas portas.
O sinal toca, e o refeitório vira um turbilhão de comoção, mas não consigo me mexer. Todos ao meu redor estão andando pelos cantos, esvaziando bandejas e limpando mesas, mas o mundo da nossa mesa continua paralisado. Nick finalmente solta minha mão, recolhe nossas bandejas e depois volta para buscar a de Jonas, esvaziando a mesa. Ele pega minha mochila e segura minha mão de novo, me levantando. Põe minha mochila por cima do ombro e me acompanha até sairmos do refeitório. Ele não me acompanha até meu armário nem até minha sala de aula. Em vez disso, segura minha mão e vai me puxando até deixarmos o colégio. Atravessamos o estacionamento, e ele abre a porta e me empurra para dentro de um carro desconhecido. Nick se senta no banco do motorista, liga o carro e se vira na minha direção.
— Não vou nem contar minha opinião sobre o que acabou de acontecer lá dentro. Mas sei que foi uma merda e não entendo como não está chorando agora, mas sei que está magoada, talvez até com o orgulho ferido. Então foda-se o colégio. Vamos tomar sorvete. — Ele dá ré e sai da vaga.
Não sei como foi capaz de fazer isso, porque eu estava prestes a cair em prantos, soluçar e sujar todo seu carro, mas depois que essas palavras saíram de sua boca até esboço um sorriso. — Adoro sorvete.
O sorvete ajudou, mas acho que não muito, pois Nick acabou de me deixar no meu carro e estou sentada no banco do motorista, sem conseguir me mexer. Estou triste, com medo, furiosa e sentindo todas as coisas que tenho direito de sentir depois do que acabou de acontecer, mas não estou chorando.
E não vou chorar.
Ao chegar em casa, faço a única coisa que sei que vai me ajudar. Corro. No entanto, quando volto e entro no chuveiro, percebo que, assim como o sorvete, a corrida também não ajudou muito.
Faço as mesmas coisas que faria em qualquer outra noite da semana. Ajudo Dianna com a comida, janto com ela e Eddie, faço o dever de casa, leio um livro. Tento me comportar como se aquilo não me chateasse nem um pouco, pois queria muito que isso fosse verdade, mas, no instante em que deito e apago a luz, minha mente começa a fazer algumas perguntas. Dessa vez ela não faz muitas perguntas — na verdade, é só uma coisa, uma única coisa. Por que diabos ele não pediu desculpas?
Eu meio que esperava que ele estivesse me aguardando no meu carro quando Nick e eu voltamos da sorveteria, mas não. Quando cheguei em casa, esperava que estivesse ali na frente, pronto para se humilhar, implorar e me dar pelo menos uma simples explicação, mas não. Fiquei com o telefone escondido no bolso (porque Dianna ainda não sabe que tenho um celular) e o conferi toda vez que pude, mas a única mensagem que recebi foi de Miley, e ainda nem a li.
Então agora estou na minha cama, abraçando meu travesseiro, incrivelmente culpada por não sentir vontade de jogar ovos na casa dele nem de furar os pneus de seu carro ou de chutar seu saco. Pois sei que é o que eu queria estar sentindo. Queria estar furiosa, rancorosa e revoltada, porque seria bem melhor que me sentir desapontada por perceber que o Jonas que esteve comigo no fim de semana... não era o Jonas de jeito algum.

Terça-feira, 4 de setembro de 2012
06h15

Abro os olhos e só saio da cama após contar a estrela número 76 do teto. Tiro as cobertas e visto a roupa de corrida. Mas ao sair pela janela, paro.
Ele está na calçada, de costas para mim. As mãos estão juntas no topo da cabeça, e consigo ver os músculos de suas costas se contraindo devido à respiração ofegante. Está no meio de uma corrida e não sei se está me esperando ou se decidiu descansar um pouco, então continuo parada na frente da janela, aguardando, torcendo para que ele volte a correr.
Mas isso não acontece.
Após alguns minutos, finalmente crio coragem para ir até o jardim. Ao ouvir meus passos, ele se vira. Paro de andar quando nossos olhares se encontram, e sustento o olhar. Não estou com raiva nem franzindo a testa, muito menos sorrindo. Estou apenas o encarando.
A expressão em seus olhos é nova para mim, e a única palavra que posso usar para descrevê-la é arrependimento. Mas ele não diz nada, o que significa que não pede desculpas, o que significa que não tenho tempo agora para tentar entender o que fez. Tudo que preciso é correr.
Passo por ele, indo até a calçada, e começo a correr. Após alguns passos, escuto-o correndo atrás de mim, mas continuo olhando para a frente. Ele não passa a correr ao meu lado, e faço questão de não desacelerar porque quero que continue atrás de mim. Em algum momento, começo a correr cada vez mais rápido até ficar a toda velocidade, mas ele segue meu ritmo, sempre algumas passadas atrás. Quando chegamos ao local onde costumo parar e voltar, faço questão de não olhar para ele. Eu me viro, passo por ele e volto para casa, e toda a segunda metade da corrida é exatamente como a primeira. Silenciosa.
Estamos a menos de duas quadras de minha casa. Sinto raiva só de ele ter aparecido aqui hoje e mais raiva ainda por ainda não ter me pedido desculpas. Começo a correr cada vez mais rápido, provavelmente o mais rápido que já corri na vida, e ele continua acompanhando minha velocidade, passo a passo. Isso me deixa ainda mais irritada, então, quando chegamos à minha rua, consigo de alguma maneira aumentar mais a velocidade e corro para casa o mais rápido possível, o que ainda não é rápido o suficiente, pois ele continua atrás de mim. Meus joelhos estão cedendo, e estou ficando tão exaurida que mal consigo respirar, mas faltam só uns 5 metros até minha janela.
Só consigo percorrer três.
Assim que meus tênis tocam a grama, caio de quatro e respiro fundo várias vezes. Nunca, nem mesmo quando corria 6,5 quilômetros, fiquei tão exausta. Rolo para deitar de costas na grama ainda úmida de orvalho, mas é uma sensação gostosa na pele. Meus olhos estão fechados, e estou arfando tão alto que mal consigo ouvir a respiração de Jonas.
Mas consigo escutá-la, está por perto, e sei que está no relvado ao meu lado. Nós dois ficamos deitados, imóveis e ofegantes, e me lembro de algumas noites atrás, quando estávamos na mesma posição em minha cama, nos recuperando do que provocou em mim. Acho que ele também se lembra disso, pois sinto seu dedo mindinho entre nós, enroscando-se no meu. Mas dessa vez, quando ele faz isso, não sorrio. Estremeço.
Afasto a mão, rolo para o lado e me levanto. Ando os 3 metros restantes até minha casa, entro no quarto e fecho a janela.

Sexta-feira, 28 de setembro de 2012
12h05

Hoje completam quatro semanas. Ele nunca apareceu para correr comigo outra vez nem pediu desculpas. Não se senta perto de mim na sala de aula nem no refeitório. Não me manda mensagens com insultos nem aparece na minha casa no fim de semana como uma pessoa diferente. A única coisa que faz, ou pelo menos acho que é ele que faz, é remover os post-its do meu armário. Estão sempre amassados no chão do corredor, aos meus pés.
Continuo existindo, e ele continua existindo, mas não existimos juntos. Só que os dias se passam independentemente de com quem eu existo. E, quanto mais dias se passam entre o presente e aquele fim de semana com ele, as perguntas em minha cabeça só aumentam, mas sou teimosa demais para perguntar.
Quero saber por que ele perdeu a cabeça naquele dia. Quero saber por que ele não simplesmente deixou para lá em vez de sair furioso como fez. Quero saber por que ele nunca me pediu desculpas, porque tenho quase certeza de que eu teria dado a ele pelo menos mais uma chance. O que fez foi uma maluquice, algo estranho e um pouco possessivo, mas, se fosse para colocar aquilo numa balança junto com todas as coisas maravilhosas, sei que aquele incidente não teria tanta relevância.
Nick nem tenta mais analisar o que aconteceu, e também tento não fazê-lo. Mas a verdade é que faço sim, e o que mais me corrói é que tudo o que aconteceu entre nós está começando a parecer algo surreal, como se tivesse sido apenas um sonho. Às vezes me surpreendo pensando se aquele fim de semana realmente aconteceu ou não, ou se é apenas mais uma lembrança invalidada que talvez não tenha sido real.
Durante todo o mês, o que ocupou minha cabeça mais que tudo (e sei que isso é bastante ridículo) foi que nunca cheguei a beijá-lo. Estava com uma vontade tão grande de beijá-lo que saber que não vou me dá uma sensação de que há um buraco gigante em meu peito. A facilidade com que interagimos, a maneira como ele me tocou como se fosse o que devia fazer, os beijos que dava em meu cabelo — eram pequenas partes de algo tão maior. De algo grande o suficiente para merecer que ele admita que aconteceu, apesar de não termos nos beijado. Que mereça certo respeito. Ele trata o que quer que estivesse prestes a acontecer entre nós como algo errado, e isso me magoa. Porque sei que ele sentiu aquilo. Sei que sim. E se ele sentiu a mesma coisa que eu, sei que o sentimento ainda existe.
Não estou de coração partido e ainda não derramei uma lágrima sequer por causa de toda essa situação. Não consigo ficar de coração partido porque, por sorte, ainda não tinha dado a ele essa parte de mim. Mas não sou orgulhosa demais para admitir que estou um pouco triste com tudo isso, e sei que vou precisar de um tempo porque eu gostava muito, muito dele. Resumindo, estou bem. Um pouco triste e imensamente confusa, mas bem.
— O que é isso? — pergunto para Nick, olhando para a mesa. Ele acabou de colocar uma caixa na minha frente. Uma caixa muito bem embrulhada.
— Apenas um pequeno lembrete.
Olho para ele com uma expressão interrogativa.
— De quê?
Ele ri e empurra a caixa para perto de mim.
— É um lembrete de que amanhã é seu aniversário. Agora abra.
Suspiro, reviro os olhos e empurro-a para o lado.
— Tinha esperança de que você pudesse esquecer.
Ele pega o presente e o empurra de volta para mim.
— Abra o maldito presente, Demi. Sei que odeia receber presentes, mas eu amo dar, então para de ser essa vaca depressiva e abra o presente, goste dele, me dê um abraço e me agradeça.
Curvo os ombros, empurro a bandeja vazia para o lado e puxo a caixa para minha frente.
— Você embrulha bem — comento. Desamarro a fita e abro um lado da caixa, em seguida tiro o papel. Olho para a imagem na caixa e ergo uma sobrancelha. — Você comprou uma televisão para mim?
Nick ri e balança a cabeça, erguendo a caixa em seguida.
— Não é uma televisão, boba. É um e-reader.
— Ah — digo. — Não faço ideia do que seja um e-reader, mas tenho quase certeza de que não devia ter um. Aceitaria da mesma maneira que aceitei o celular que Miley me deu, mas isso é grande demais para eu conseguir esconder no bolso.
— Está brincando, não é? — Ele se inclina para mim. — Não sabe o que é um e-reader?
Dou de ombros.
— Para mim parece uma televisão em miniatura.
Ele ri ainda mais alto e abre a caixa, tirando o e-reader. Ele o liga e o entrega para mim.
— É um aparelho eletrônico capaz de armazenar mais livros do que você jamais vai conseguir ler.
Ele aperta um botão, e a tela se acende, em seguida ele desliza o dedo na frente, pressionando-o em alguns lugares até toda a tela se acender com dúzias de pequenas imagens de livros. Toco numa das imagens, e a tela muda, e então a capa do livro enche a tela inteira. Ele desliza o dedo por cima dela fazendo com que a página vire virtualmente e, com isso, posso olhar para o capítulo um.
Na mesma hora, começo a tocar a tela e observo cada página passar sem nenhum esforço, uma após a outra. É com toda a certeza a coisa mais incrível que já vi. Aperto mais botões, clico em mais livros, passo por mais capítulos e, para ser sincera, não sei se já vi alguma invenção mais magnífica e prática.
— Uau — sussurro.
Continuo encarando o e-reader, na esperança de que não esteja tentando fazer alguma brincadeira cruel comigo, pois, se ele ameaçar tirar isso das minhas mãos, vou sair correndo.
— Gostou? — pergunta ele, orgulhoso. — Baixei cerca de duzentos livros gratuitos, então você tem o suficiente por um bom tempo.
Ergo o olhar para ele, que está com um sorriso de orelha a orelha. Coloco o e-reader na mesa, me jogo por cima dela e aperto seu pescoço. É o melhor presente que já ganhei e estou sorrindo e o apertando com tanta força que não estou nem ligando se sou péssima em receber presentes. Nick retribuiu o abraço e me dá um beijo na bochecha. Quando solto seu pescoço e abro os olhos, olho involuntariamente na direção da mesa para a qual tenho evitado dirigir o olhar há quase quatro semanas.
Jonas está virado, observando nós dois. Ele está sorrindo. Não é um sorriso louco, sedutor ou assustador. E sim um cativante, e, logo quando percebo isso, as ondas de tristeza se esmagam em meu âmago, e desvio o olhar de volta para Nick.
E volto a me sentar e pego o e-reader de novo.
— Sabe, Nick. Você é mesmo incrível.
Ele sorri e pisca para mim.
— É meu lado mórmon. Somos um povo fantástico.


*****

Amores, desculpa postar só agora, é que meu pai tava mexendo na internet e não liberava logo :(
Li todos os comentários, e to muito feliz por vocês estarem gostando, só não respondi porque demoraria mais ainda pra postar, mas amanhã respondo todos, ok?
Meio estranho esse ataque do Joe, não? aiosjpans
Luaaaaa, que saudade amorrr s2, e bem-vinda minha nova leitora, mesmo que esteja em anônimo
É isso gnt.
Beijos, amo vcs

12 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  2. como você para assim logo no momento que eles tão brigados preciso sabe oque acontece.
    Sera que o Joe vai dar um presente pra ela? toma que sim assim eles se acertam logo.
    To adorando a historia posta logo !!!! Bjs

    ResponderExcluir
  3. Eita dois cabeça dura..... até eu já estou entediada com esse primeiro beijo....... Que mistério todo é esse? Tem maratona no fim de semana? Cobtinua.......

    ResponderExcluir
  4. To jogadah, e esse momento louco do Joe ai kkk Muito legal Posta logo!! Beijos gata:*

    ResponderExcluir
  5. Oiiii nova leitora !!!!!!!!!!!!!! Muito bom !!! Super hiper mega ultra incrível !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Posta logo <3

    ResponderExcluir
  6. Será que você pode divulgar meu blog wwwlovaticforevers2.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
  7. Joe sempre FODIDAMENTE Joe 😍😍😍😍😍😍😍😍😍😍😍
    Que raiva dele MANOOOO depois do capítulo passado eu fiquei passada! Hahahah tem que ter um romance perto ou então o porquê dele estar assim com ela! Meeeeeuuuuuu Jesus apaga a luz que ta bom demais

    ResponderExcluir
  8. Agora eu tenho certeza que o menino dos treze anos antes e o Joe e a menina é a irmã dele, porque não teria como ele reconhecer a pulseira sem alguma vez ter visto ela. Quando ele viu a pulseira ele lembrou da irmã dele, pois foi ela quem fez a pulseira e deu ela para a Demi. Por isso ele deu aquele ataque e ficou perguntando pra ela quem havia lhe dado a pulseira.
    Bom, eu espero estar certa.
    E eu adoro o Nick! É um dos meus personagens favoritos.
    Posta logo
    Beijos <3

    ResponderExcluir
  9. Eita oque foi que deu no Jonas ? Muito estranho!
    To triste que eles não estão mais juntos....
    Posta mais Gi !

    ResponderExcluir
  10. Poxa oque foi que aconteceu ? Por que o Joe teve esse ataque repentino ? Tadinha da Demi , ficou perdidinha!
    To bem curiosa agora
    Posta mais logo
    Bjs

    ResponderExcluir
  11. Estranho esse ataque do Jonas
    Fiquei com pena da Demi
    Eu amei o capítulo
    Desculpe não ter postado antes
    Posta logo
    Beijos e eu amo você

    ResponderExcluir