8.6.14

Dirty Talk (parte 2)


Créditos à Sah Oliveira

                       Dirty Talk (parte 2)

Joseph’s POV

Mulheres... Tão complexas e tão difíceis de conviver. Quem diria que a primeira mulher que eu conheci na emissora e que havia me odiado à primeira vista estaria aos meus pés precisando de minha grandiosa ajuda para conquistar outro cara? Bom... Eu diria. Eu sabia que Demetria reconheceria meu valor. E agora, tudo que eu tinha planejado desde quando a conheci estava prestes a acontecer. Eu me aproximaria mais, invadiria seus sentimentos e a entenderia melhor do que qualquer homem nesta terra. Com essas circunstâncias, ela não poderia fugir. 
Ela se renderia e esqueceria os seus sonhos de príncipes encantados para encontrar um sapo. Mas um sapo que tinha se encantado com a sua personalidade cheia de defeitos e nutria algo por ela. Sim, não estranhe. Depois de três meses trabalhando com a cabeça-dura da minha produtora, eu encontrei nela algo que não via nas outras mulheres que me relacionei. Ela não me queria arduamente. E eu, nesse contexto segui o velho ditado: “Casa de ferreiro, espeto de pau.” Sim, eu sempre disse que conhecia tudo o que os homens queriam e caí na maior armadilha: Quanto mais desprezado, mais amarrado. 
Demetria me amarrou de uma maneira que nem eu, o maior expert, pude evitar. Sua inteligência, a dedicação com o trabalho, suas peculiaridades. Além de ser uma puta gostosa. Mas aí eu já vou partir para a minha atração física expressa em frases sarcásticas que ela nunca entendia, nunca se tocava. Ah, se Demetria soubesse... Mas eu estava disposto a mostrar. Só precisava sair do meu carro e entrar no seu prédio. Bom, esse era o primeiro passo.
Abri a porta e saí, travando o carro e caminhando pela rua estreita. Cheguei ao prédio e empurrei o portão que estava encostado, passei pelo hall, cumprimentei o porteiro, perguntando o apartamento de Demi. Segui para o elevador e ele estava vazio. Demorou somente alguns segundos e já estava no quarto andar. Fui até a porta do apartamento 402 e toquei apenas uma vez a campainha. Ouvi alguns barulhos vindo de dentro e logo depois, a porta se abriu devagar, relevando Demetria, ou melhor, só sua cabeça.
- Merda, Jonas! – ela puxou meu braço, me levando para dentro rapidamente e eu fiquei sem entender. – Poderia ter mandado uma mensagem avisando que estava aqui. Achei que fosse o Philip. Imagina se ele me vê assim? – olhou exaltada para mim e indicou as suas vestimentas. Eu comecei a correr os olhos pelo corpo dela e foi quando eu finalmente vi que Demetria estava de roupão. Só que o substantivo estava no diminutivo. Ele só cobria até o meio da coxa e o seu nó amarrava na sua cintura, delineando-a mais do que o normal. 
Qual o problema dos homens que davam foras nessa mulher? Bom, eu acho que sabia a resposta, mas eu ainda não conseguia acreditar que o corpo não pudesse compensar a sua mania de querer tudo milimetricamente do seu jeito. 
E voltando à pergunta dela, eu não via problema algum no tal advogado encontrá-la daquele jeito. Estava ótima e por mais que os homens se importassem com o visual, ela estava em casa! Podia vestir roupão e continuar tendo chances com ele. Mas não era isso que eu passava para Demetria, na verdade, eu dizia totalmente o contrário. Que se ela se vestisse fatalmente, vestida para matar de tesão todos os homens que ela encontrasse no seu caminho. 
Mirei o rosto dela e ela me encarava estranha.

- O que tanto você olha no meu corpo, Joseph? – ela juntou suas sobrancelhas.
- Preciso gravar essa cena. Minha chefa me recebendo em sua casa, de roupão.
- E o que há de relevante nisso? – Demetria pôs as mãos na cintura.
- O fato de que você está sem roupa alguma por debaixo dele. – dei um sorriso insinuante para ela e comecei a me aproximar mais, à medida que ela ia andando para trás, tentando bloquear qualquer proximidade. – E que só um laço me impede de te ver nua, Demi. Isso não é relevante para você?
Pude ver que Demetria estava imersa na conexão visual que nós dois fazíamos. As palavras rudes e cortantes que eu esperava sobre meus comentários picantes não vieram. Ela só me olhava e andava para trás, até se chocar na parede da sala. Estava cercada e eu pus meus braços em volta dela, enquadrando-a. O que aconteceu em seguida foi muito rápido. Demetria me olhou profundamente, como se tivesse saído de um transe e percebido a situação que ocorria ali. Ela simplesmente levantou a mão e deu um tapa na minha cara.

- É melhor você parar de me assediar. – ela disse me fuzilando com os olhos. Eu a desprendi, colocando uma mão na face e ela saiu de perto da parede.
- Eu só estava testando a sua reação nesses casos. Vai que o advogado te intercepta assim? Você tem que estar preparada! – eu disse cínico para Demetria, mentindo novamente, escondendo as minhas intenções. – Definitivamente, você não sabe seduzir um homem, Demetria. O que se seguia era um beijo ardente e cheio de desejo. Não uma agressão.
- Eu sei como seduzir, eu só bati em você porque eu tinha esse desejo reprimido. – ela falou e logo se tocou o sentido que as palavras davam à sua frase.
- Desejo reprimido por mim? A gente resolve na cama, não aqui. E lá você pode me bater quando quiser. – sorri de canto. Demetria não me respondeu, só fez lançar um olhar de desafio e rumou para outro cômodo que eu supus ser seu quarto. Deixando-me sozinho na sala com meus pensamentos.

Depois de esperar alguns minutos e nada de Demetria aparecer, me permiti sentar no sofá enorme da sala dela e liguei a televisão. Rolei pelos canais, sem achar nenhum programa interessante e então abaixei o volume, só deixando a imagem passando.
Um barulho que eu reconhecia ecoou na sala. Saltos batendo no chão. Aqueles saltos que batiam nervosos quando eu tirava minha produtora do sério. Agora o barulho era leve, mas não foi inaudível. Virei meu pescoço e encontrei Demetria, com os cabelos soltos e caídos em ondas nos seus ombros e usando um vestido vermelho que realçava seus seios e suas pernas. Ela continuava com sua face de desafio, mas esperava um veredicto meu.

- Bem mais sensual, só que com mais roupas. Nada legal. – eu fiz movimento de negação com a cabeça.

- Mas é só para chamar a sua atenção, mais tarde você pode tirá-lo. – Demetria disse sedutora e eu não pude evitar que minhas sobrancelhas levantassem incrédulas, assim como eu levantei do sofá.
- Ora, ora... Agora ela está fazendo piadas eróticas. Que evolução. – exclamei e Demetria veio andando devagar na minha direção, sem tirar os olhos de mim. Aquilo era estranho, mas eu gostava.
- Estranho seria se eu não evoluísse com um professor tão renomado. – agora era a vez de Demetria se aproximar de mim, me deixando estático. Ela levou sua mão esquerda até meu pescoço e começou a alisar a região. Eu não pude evitar que um arrepio surgisse por todo o meu corpo e eriçasse meus pelos, mostrando a minha reação corporal para ela – Hum, você gosta disso?
- Quem é você e o que você fez com Demetria Lovato? – eu disse baixo e Demetria estava mais próxima, com nossos narizes a poucos centímetros de distância.
- Não mude de assunto. Você gosta não é? – a mão dela desceu pelo meu peitoral, arranhando o local com suas unhas – Isso te excita.
- Talvez. Não é muito difícil me deixar vulnerável assim. – eu apontei para baixo, indicando o volume na minha calça.
- Eu gosto de te deixar assim. – sussurrou, deixando sua respiração bater em minha boca. 
Não sei se Demetria tinha realmente entrado numa personagem ou estava falando a verdade. Se for a primeira opção, além de produtora, ela era uma ótima atriz. E eu estava caindo no joguinho sedutor dela. Foi como eu mesmo disse, não é muito difícil me sentir excitado e louco por Demetria. Ainda mais daquele jeito, tão perto.
- Sério? – eu perguntei, envolto na situação. Demetria me analisou de cima a baixo e começou a criar um sorriso.
- Bobinho! – ela disse gargalhando e minhas esperanças se esvaíram com o repentino afastamento do corpo quente de Demetria e o toque da campainha. Ela foi correndo até a porta, mandando eu me esconder. Concordei chateado, fui para o corredor e antes que ela pudesse abrir a porta, eu sussurrei:
- Não seja fácil demais. – ela balançou a cabeça em afirmação, puxando a maçaneta no mesmo momento em que eu me escondi, apurando meus ouvidos, tentando decifrar a conversa.
Coloquei minha cabeça um pouco para fora e vi um homem, deveria ser o tal cara que Demetria queria pegar. Bufei e voltei ao meu lugar, porém ouvindo outra voz de homem. Eram dois homens! Como assim? Ela iria fazer um ménage e não me chama? Calma... Demetria nunca pensaria numa coisa dessas, ainda mais sem ter saído com ele. Então porque tinha outro homem lá? Comecei a pensar e devanear, mas depois de alguns minutos, ouvi a porta batendo e Demetria se jogando no sofá, toda largada. Saí do meu esconderijo e fui até ela.
- Dois homens, né? Achei que a mulher fatal era só uma personagem. – ri fraco.
- É o fim, Joseph. – Demetria ignorou a minha insinuação e falou desanimada.
- Por que essa desanimação? Até alguns minutos atrás, você era uma mulher sexy, segura e decidida. Voltou à realidade?
- Qual o sentido de ser sexy se eu não vou pegar homem nenhum? – ela me olhou indignada.
- O que foi que o maldito advogado disse para você, Demetria? – eu me exaltei, perguntando exacerbado. 
- Ele não me disse nada. Eu vi e percebi. – ela me olhou, cansada – Bem que você disse, não é? Sempre me surpreendo com a exatidão de suas palavras.
- Espera um momentinho... – eu gesticulei e pensei por um milésimo, já descobrindo o que era e fazendo uma cara de entendimento – Ele é realmente gay?
- Além de gay, ainda é comprometido. – eu segurei um riso, porém Demetria percebeu e me fuzilou com seus olhos castanhos. – Ele tem uma aliança! Como eu não vi a maldita?
- Provavelmente, quando você está cega pela vontade de desencalhar, sua neurose e percepção vão para o espaço. – eu comentei, mas não dei nenhum sorriso, como se aquela frase fosse algo sério, mas não passava de uma piada. Demetria sorriu sem humor e se levantou do meu lado.
- Vá para casa, Joe. Obrigada por toda sua disposição em me ajudar, mas acho que não preciso mais de conselhos masculinos. – eu nunca tinha visto minha produtora daquele jeito, acho que estava cansada de ver seus planos amorosos e irreais indo novamente por água abaixo. Eu a ouvi me chamando pelo meu apelido, coisa que ela nunca tinha feito. Era um sinal de fragilidade, obviamente. Um pedido de arrego, desistência. Ou um pedido sutil para que eu a consolasse.
- Hey, Demi – levantei rapidamente, ficando na frente dela – Você está muito desanimada. Caramba! Vocês nem tinham saído ainda, só são vizinhos há alguns dias e ele já te deixa nesse estado... 
- Você não entende, Joseph. Você diz em alto e bom som que conhece os homens e mulheres e que sabe tudo sobre relacionamentos, mas você nunca vai saber de verdade.
- Não vou saber de quê? Que você espera demais dos homens e quando encontra um que se encaixe no seu perfil, perde a razão e se joga com tudo em algo que não passou de um fruto da sua imaginação? – ela ficou sem palavras porque eu tinha tocado na sua ferida novamente, mas de uma maneira mais invasiva e direta. 
- Você se perde no seu mundo onde os homens são perfeitos e cheios de estereótipos que você cria e para de enxergar a realidade. Existe um homem que não é do seu tipo, mas que gosta da sua maneira de ser, Demetria! Que te aceitaria sem essas malditas aulas que eu te dou. Exatamente do jeito que você é.
- É mesmo? E onde está ele? Por que eu ainda não o conheci? – ela me mirou questionadora.
- Se você abrisse seus olhos para aquilo que está bem na frente de sua fuça, não estaria se perguntando isso, Demi – eu disse, acusando-a e ela arregalou os olhos. Ficou procurando palavras, gaguejou algumas, mas nada saiu da sua boca - Será que você nunca percebeu nada diferente quando nós dois ficamos juntos? Será que nunca se tocou do que eu sinto por você?
- Do que você está falando? 
- Estou falando das vezes que eu jogava indiretas para você, dizendo que queria algo. Das vezes que eu me esforçava para estar nos locais que você estava.
- Você me manda indiretas porque você é um homem sem papas na língua, Joseph. Além de adorar brincar com sexo, principalmente comigo, que desprezava esse seu comportamento.
- Desprezava? Então não despreza mais? – indaguei, levantando uma sobrancelha.
- Eu simplesmente me acostumei. – Demetria disse, porém não parecia segura de suas palavras.
- Você se acostumou, porque gosta disso. Gosta das minhas insinuações, do meu machismo desmedido. 
- É uma piada? – ela riu e botou as mãos na cintura.
- Não... Porque isso te faz bem. Aumenta seu ego, mas você é muito orgulhosa para assumir e ceder. Só que eu estou desistindo nesse exato momento. Não dá mais para fingir, Demi.
- Eu não... – coloquei meu dedo indicador sobre os lábios vermelhos e carnudos dela.
- Não fale, apenas ouça. – encostei mais nossos corpos – Eu venho esse tempo inteiro escondendo meus sentimentos. Fingindo te ajudar e te dando conselhos pra encontrar outro homem. Só que não daria certo, porque você estava moldando outra mulher e não você mesma. Um dia, a máscara cairia e aquele que estivesse ao seu lado correria na primeira oportunidade. Você também correria, Demi. Mas sabe para onde você iria? – esperei ela refletir e vi nos seus olhos, o entendimento.
- Para você. – ela disse baixo, quase inaudível e não olhou para mim. Eu levantei seu queixo e ela me encarou, mesmo relutante.
- Sim, para mim. E isso não é falta de modéstia, é apenas a verdade. Você sabe que eu te daria a melhor direção a se seguir. Porque eu te conheço, Demi. Aprendi a te entender porque eu simplesmente me apaixonei por você.
- Você está equivocado, Joe.
- Não estou não. Você encontrou em mim um lugar para se apoiar, algo que nem a Sel te dava. – eu alisei sua bochecha levemente com meu polegar – Olha só, você até me chama pelo apelido. Quer mais sinais de que você também está se envolvendo? Deixe o momento te levar... – e então encostei nossos lábios levemente e antes que Demetria pudesse me repelir, findei o beijo. Nos primeiros segundos, foi lento, ficamos apenas provando o gosto um do outro, mas logo depois, eu pedi permissão para que nossas línguas se encontrassem, fazendo nossas bocas se encaixarem, junto com os nossos corpos quentes. Não durou muito tempo até que ela se afastasse e empurrasse meu peito.
- Por favor, Joseph. – ela me olhou, com um olhar suplicante e ainda com a respiração falha – Vá embora.
Tocado com as palavras dela, afastei-me, mas não quebrei nosso contato visual.
- Eu vou, Demetria. – eu virei às costas para ela, mas quando cheguei à porta, voltei para sua direção de novo – Espero que seu orgulho e o seu medo sejam seus conselheiros sexuais essa noite. E nas outras que vierem.
Saí sem olhar outra vez para trás e bati forte a porta da sua casa.

Joseph’s POV

Duas semanas tinham se passado desde aquela noite em meu apartamento. Joseph tinha ido embora deixando milhões de pensamentos confusos dentro de minha mente e eu não consegui organizá-los muito bem. Aquilo me matava, eu odiava as coisas fora do lugar, sem uma definição. Era exatamente dessa maneira que eu me sentia. Indefinida. Não sabia o que queria, o que sentia, só sabia que era intenso. O toque do corpo dele no meu era intenso, tudo que nos cercava era assim.
Era quase impossível evitar o meu comentarista, afinal eu tinha que ordenar o programa, entregar seus scripts, participar de reuniões. E cada vez que eu me encontrava com Joseph, eu evitava olhar nos seus olhos, evitava qualquer toque e ele me tratava igualmente. Como se nada tivesse acontecido, como se a tensão sexual entre nós não estivesse lá, viva e presente.
Eu a ignorava e reprimia. Parecia uma adolescente se descobrindo na puberdade. Orgulhosa, porém curiosa. Meu orgulho era a coisa mais terrível na minha personalidade, pior até mesmo que minha mania de controle. Só que eu percebi, depois desses 15 dias, que ele não me levaria a lugar nenhum. Só para longe de Joseph e o meu inconsciente gritava para que eu não deixasse isso acontecer. Eu queria a sua presença, sua risada sarcástica, seus comentários, suas cantadas. Eu não podia deixar que ele esvaísse pó entre meus dedos. Joseph me fazia bem, um bem que eu nunca imaginaria sentir com homem algum. Só com ele. Talvez ele fosse a pessoa certa e eu estivesse aqui, enganando a mim mesma e sofrendo com algo que poderia ser evitado. Sou mesmo a maior idiota do planeta.
Estava no estúdio, caminhando de um lado para outro, indicando onde as câmeras deveriam focar e botando o comercial nas horas devidas. O quadro de culinária estava acabando e logo depois, seria a vez da previsão de tempo, com o novo apresentador. Estava nervosa, mas não por esse motivo. Após o tempo, seria The Ugly Truth. Aí morava o problema: Joseph não tinha chegado ainda e eu já estava me estressando com isso. O cozinheiro desceu do palco e a atenção das câmeras voltou-se para os apresentadores principais que chamaram a previsão do tempo. 

- Vamos esperar mais dois minutos, se Joseph não chegar, colocamos o comercial e cortamos o quadro de hoje. – falei instruções para meu assistente no microfone preso na gola da minha blusa. No mesmo momento, o comentarista entrou no enorme estúdio, sendo seguido pela maquiadora. Não pude descrever minhas emoções, uma mistura de raiva com alegria e uma vontade de esganá-lo. Joseph praticamente se jogou na cadeira do camarim, de frente a um espelho e a mulher começou a limpar o suor de sua testa. Fui andando rapidamente até ele e me pus na sua frente.
- Com licença, Demetria. Estou me olhando no espelho. – ele falou cínico e eu sorri irônica.
- Onde você estava? – apertei os papéis do roteiro dele em minha mão com raiva.
- Resolvendo alguns problemas com o diretor. – o homem falou, me encarando profundamente.
- E que problemas são esses que não passam por mim? Ou esqueceu que eu ainda produzo a merda desse programa? – eu falei, segurando a voz para não me alterar.
- Olha só, senti falta do seu ódio. Porque ultimamente, você não vem demonstrando seus sentimentos por mim, não é? – ele soltou e me olhou desafiante. – Só indiferença. 
- Tenho meus motivos, mas eu ainda sou profissional o suficiente para debater com você problemas relacionados à emissora.
- Não esse problema, Demetria. – Joseph me encarou e sua expressão relaxou, mas não deixou de ser irônica – Pare de querer dominar tudo à sua volta.
Ouvi o chamado pelo fone de ouvido, indicando que a previsão acabara e mandei chamar o comercial.
- Você tem um quadro para apresentar. – entreguei os papéis com o script e ele pegou, tocando nossas mãos, causando uma reação em nós dois. Ele me olhou e eu pude ver vários sentimentos ali, mas o pior deles foi a tristeza. Desviei o olhar e soltei as folhas. Joseph olhou as páginas e depois, largou as mesmas em cima da bancada cheia de escovas, algumas maquiagens e afins.
- Hoje não, Demetria. O quadro é por minha conta. – ele levantou e saiu rumo às cadeiras do set, sentando próximo aos apresentadores. Não sorriu como sempre fazia, apenas ficou esperando a filmagem começar. Eu andei para o fundo do estúdio, onde ficavam as televisões com vários ângulos das câmeras. Sentei perto do Taylor, meu assistente de dezoito anos que estava estagiando. O jornal voltou e os apresentadores falaram algumas coisas e enfim, chamaram por Joseph.
- Coloque a imagem da logomarca de The Ugly Truth no telão, Taylor. – ele assentiu e clicou em alguns botões.
Eu comecei a assistir o quadro intrigada, pois a expressão divertida do comentarista não estava lá, nem a sua pompa. Ele estava estranho. Então ele começou a falar.

“Bom dia, queridos espectadores. Vocês devem estar estranhando a minha cara de desânimo, mas como esse é um quadro sobre a verdade e somente ela, eu não poderia fingir meus sentimentos para toda a cidade. Até porque eu cansei de esconder as coisas que eu sinto. E se isso eu fizesse, seria uma tamanha hipocrisia. Hoje não haverão frases feitas, nem conselhos sexuais. Teremos uma pequena conversa e algumas ponderações. Olhem só, como o bruto e grosso está falando bonito, hein? Tudo muda, meus caros amigos.”

Sentia de alguma forma que isso não estava indo por um bom caminho. Continuei a assistir e ouvir suas palavras.

“Há poucos minutos, eu estava com o diretor da emissora. Tivemos uma conversa franca e ele me ordenou que não fizesse isso que estou fazendo agora. Mas eu farei! Eu estou me demitindo. Na frente de toda a população que assiste o jornal. Não se perguntem o porquê ainda, eu explicarei.”

O que era aquilo? Eu não conseguia acreditar no que estava ouvindo. Demissão? Então esse era o grande problema dele? E porque ele não havia me informado disso?

“Acreditem se quiser, o motivo é uma mulher. Especificamente, a minha produtora. O cara machista e pervertido que se permitiu ser laçado pela mulher neurótica e iludida por caras que nem existem. Eu não tenho mais que fingir isso para ninguém e posso falar mal dela para todos, já que agora não temos mais nenhum vínculo, além de um sentimento muito bonito, mas que a mesma insiste em ignorar.”

Minha face ficou vermelha quando todos que estavam no mesmo recinto que eu, me lançaram olhares surpresos e alguns, furiosos. Eu não esperava que o Joseph fizesse aquilo. Fiquei boquiaberta e logo me levantei, indo para frente das inúmeras telas de TV e assistindo tudo, estagnada.

“Um dia, vocês me perguntaram, o que tinha acontecido para eu me tornar tão rude e sarcástico quando o assunto era a ala feminina. Eis que eu explico para vocês: decepções. Vagabundas que me passaram a perna porque pensaram que na minha testa tinha algo escrito como ‘Cabeça disponível para chifres’. Fui quebrando a cara e acreditem, passei um bom tempo da minha vida parecendo essas mulheres que precisam de livros de auto-ajuda para seguir com suas relações amorosas. É ridículo, não? Mas é a verdade.”

Joseph soltou um suspiro de cansaço e olhou diretamente para a câmera, transparecendo as emoções que se seguiam após tais palavras proferidas.

“Mas ela me deu uma esperança. Via nela uma faísca. E eu realmente não sabia porque ela me passava essa convicção. Talvez por ser inteligente e esforçada. Por ter uma beleza incomum e principalmente, por sua fragilidade escondida numa máscara perfeita. Máscara essa que não conseguia me enganar. Eu sentia que ela precisava de alguém fora dos padrões, mas que a entendesse melhor que a sua própria melhor amiga. Ela encontrou isso em mim. Assim como eu encontrei nela alguém que me mudou por dentro. Continuo sendo um grosso, pervertido. Afinal qual homem não é? Mas um pervertido apaixonado. Que infelizmente, não é levado a sério. Essa é a minha última carta na manga: me declarar na frente de todos e por fim, me demitir. Tomara que desse jeito, minhas ações e palavras surtam efeito dentro da cabeça-dura da minha produtora. Que agora, não é nada mais do que apenas a mulher que conquistou Joseph Jonas.”

Olhei para Taylor e mandei-o cortar as filmagens ao vivo, porque por um instinto maluco, eu comecei a andar freneticamente em direção ao set e invadi as câmeras, com uma expressão indecifrável até para mim mesma.

- Joseph... – eu caminhei na sua direção e parei em pé do lado dele – Você enlouqueceu?
Eu não estava gritando, por incrível que pareça e nem nervosa. Eu só estava afetada com toda aquela declaração.
- Só se for por você, Demi. – ele disse diretamente, arrancando alguns suspiros das mulheres que trabalhavam no set. Arregalei um pouco meus olhos, mas já esperava algo como isso de resposta. – Você me deixa louco e sabe disso. Desde aquele dia na sua casa, quando nos beijamos, eu te mostrei o que você causava em mim.
- Eu também devo estar louca. – balancei a cabeça negativamente.
- Por quê? Por sentir o mesmo por esse homem que não é seu príncipe encantado e perfeito?
- Por ter deixado tudo chegar a esse estado. Você se demitindo, por minha causa. Eu sou a causadora do fiasco desse quadro.
- Sério que você está se importando com esse maldito programa, enquanto eu me declaro para você? – ele me olhou decepcionado e eu percebi a besteira que tinha dito. Pensei que meus sentimentos eram muito íntimos para se conversar na frente de todos os empregados da emissora e imaginei uma maneira melhor de resolver nosso caso. A sós.
- Joe, - olhei-o, implorando para que me entendesse e falando baixo – Será que nós podemos conversar isso em minha sala?
- Não, Demetria. – ele se levantou da cadeira e ficou de frente para mim. – A palhaçada acabou. Você não quer assumir que me ama. Eu posso superar isso. 
Então, ele saiu do estúdio, com passos largos e sem olhar para trás uma única vez.
- Mas eu amo... – disse baixo o suficiente para que apenas eu pudesse ouvir.

xXxXx


Continua...

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